Panorâmica de Upolu a partir da elevação em que foi sepultado R. Louis Stevenson.
Panorâmica de Upolu a partir da elevação em que foi sepultado R. Louis Stevenson.
A casa que Robert Louis Stevenson construiu em Vailima com a ajuda de muitos samoanos.
Detalhe de uma das divisões da mansão Villa Vailima.
Fotografias e recortes numa das salas de Villa Vailima.
Samoano recupera da subida ao Mount Vaea, onde foi sepultado Robert Louis Stevenson.
Texto na sepultura de Robert Louis Stevenson.
Família de Robert Louis Stevenson em convívio com samoanos, alguns que trabalhavam em Villa Vailima.
Autocarro chega a aldeia de Vailima.
Corredor desce do topo do Monte Vaea, em direcção a Vailima.
Sala da mansão de Robert Louis Stevenson, em Vailima.
Vista sobre o litoral florestado de Upolu, a partir do cimo do Monte Vaea.
Quarto da mansão de Robert Louis Stevenson, em tons do mar menos profundo do oceano Pacífico.
Ilustração mostra Robert Louis Stevenson a ensinar história ao filho Austin Strong.
Panorâmica de Upolu a partir da elevação em que foi sepultado R. Louis Stevenson.
Upolu, Samoa Ocidental
Aos 30 anos, o escritor escocês começou a procurar um lugar que o salvasse do seu corpo amaldiçoado.Em Upolu e nos samoanos, encontrou um refúgio acolhedor a que entregou a sua vida de alma e coração
Marco C. Pereira
(texto)
e
Marco C. Pereira-Sara Wong
(fotos)
As eleições gerais de Samoa tinham terminado havia quatro dias, mas o processo estava longe de ser encerrado. Ao passarmos pela longa Mulinu’u Road que percorre o istmo da cidade até à ponta homónima, deparamo-nos com um comité de delegados trajados ao rigor da nação que fazem a recontagem dos votos e preenchem meticulosamente os resultados em grandes quadros de ardósia. Apuraram-se 45 lugares para o 15º termo do Fono, a Assembleia Legislativa e o Human Rights Protection Party conquistou 36, numa vitória inequívoca que, como é frequente por aqueles lados, logo se envolveu em controvérsia.
Os anos passaram desde a chegada dos primeiros descobridores europeus, Samoa Ocidental tornou-se no primeiro território do Pacífico a conquistar a sua independência e, desde 1962, que vai resolvendo problemas que são só seus.
Mas mais de um séculos antes, por volta de 1890, os nativos contaram com o apoio tão inesperado como entusiástico de Robert Louis Stevenson, um escritor recém-chegado de uma viagem fascinante pelo Pacífico: Havai, Taiti e Arquipélago da Sociedade, Ilhas Gilbert, Nova Zelândia e Samoa.
Encantados com a sua generosidade mas também com o carisma do escocês, chamaram-lhe Tusitala ou contador de estórias, no dialecto polinésio samoano. “A Ilha do Tesouro” e “O Médico e o Monstro” (“Doctor Jekyll and Mister Hyde”) foram algumas das que criou e contou ao mundo e que lhe granjearam fama mundial.
A influência que exerceu sobre a política e os destinos da ilha depressa se tornou desafiadora e provocou sucessivas ondas de choque: durante a sua estada, Stevenson constatou que os oficiais europeus apontados para governar os samoanos eram incompetentes. Depois de várias tentativas infrutíferas de resolver os problemas, publicou “A Footnote to History” um manifesto que resultou na desmobilização de dois oficiais das potências coloniais e que o autor receou vir a provocar a sua extradição.
Esses temores não se comprovaram. Stevenson tornou-se inclusivamente amigo de políticos poderosos e das suas famílias, com destaque para a do comissário americano Henry Clay Ide. Ao mesmo tempo, aprofundou as suas raízes na ilha.
Villa Vailima, a mansão de madeira que construiu na propriedade que adquiriu e acolheu a maior parte do seu retiro, resistiu incólume à reacção da administração de então. E, para alivio dos samoanos, também ao grande sismo que abalou o arquipélago em 2009, com uma intensidade de 8.1 da escala de Richter. Hoje, Villa Vailima é um dos lugares mais respeitados e apreciados de Upolu, um símbolo do seu multiculturalismo exuberante que fazemos questão de visitar.
À chegada, o guia Anthony apresenta-nos a anfitriã do museu, de nome Margaret Silva. A cor da sua pele, o perfil do rosto e o apelido deixam-nos intrigados mas uma vez que nem Anthony, nem Margaret nos dão alguma pista, vemo-nos obrigados a indagar sobre as origens da senhora. “Silva? O seu apelido deve ser português ou espanhol, não? E, não leve a mal, mas não parece 100% samoana.”
Anthony apercebe-se do que se está a passar e valida a suspeita. “Ah, claro. Vocês são portugueses! Margaret? Tu também és meio portuguesa, certo? Margaret confirma e acrescenta alguma informação histórica deslumbrante. “Sim, sou meio portuguesa. Já não falo quase nada da língua mas a minha avó aprendeu com o meu avô e ainda fala um pouco. O que aconteceu, de uma forma resumida, foi que ele trabalhava num cruzeiro neozelandês que parava regularmente em Apia. Num período de folga, conheceu a minha avó na cidade e já não quis voltar ao navio.“
Assim teve início a saga dos Silvas em Samoa, uma família que Anthony nos assegura ser das mais abastadas e influentes da nação, proprietária de vários negócios entre os quais uma construtora, mercearias e gasolineiras. Mas o guia nativo explica-nos mais. A presença do agora enorme clã Silva é para ele e para os samoanos completamente normal, ao ponto de poucos se lembrarem da sua origem e diferença genética. E, lembrando-se do apelido do autor deste texto, acrescenta ainda, para risada geral: “Não são só os Silvas. Agora que penso nisso, também temos uma grande família Pereira. Devem ser quase tantos como os Silvas. Duas das suas filhas que moram junto à aldeia dos meus pais são lindas. Agradam-me mesmo muito.”
Entretanto, Margaret recorda-nos que o museu fecha dentro em pouco e sugere que comecemos a volta pela mansão. Enquanto o fazemos, descreve os aspectos mais importantes ou simplesmente curiosos da vida de Robert Louis Stevenson em Upolu.
Durante a sua estada, Stevenson escreveu de uma forma prolífica também sob a vida em Samoa e outras ilhas do Pacífico. Em 1894, passou por tempos de depressão e inactividade a que respondeu com “Weir of Hermiston” com que se voltou a entusiasmar ao ponto de se convencer que era o melhor romance que já tinha produzido. Mas, na noite de 3 de Dezembro desse ano, depois de ter trabalhado arduamente no romance, abria uma garrafa de vinho quando caiu junto à esposa. Foi declarado morto ao fim de algumas horas, alegadamente devido a uma hemorragia cerebral. Tinha 44 anos.
Os samoanos honraram os desejos fúnebres do respeitado Tusitala. Transportaram-no em ombros até ao cume do vizinho monte Vaea, onde o sepultaram com vista para o mar.
O seu sepulcro é hoje o destino de uma peregrinação desportiva pela saúde que Stevenson nunca teve. À medida que subimos a encosta, passam por nós dezenas de samoanos de Apia, e até de expatriados em Upolu, entregues a um jogging extenuante e repetitivo com início nas imediações da Villa Vailima e término no topo da elevação.
Enquanto recuperamos do cansaço a observar o túmulo e a ler o Requiem conformado mas elegante do escritor, também ali deixamos o nosso suor, gerado pelo calor e pela humidade que revigoram a paisagem luxuriante em redor. E sumido na ilha que Robert Louis Stevenson tanto amou.
A Terra não pára.
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VISTOS E OUTROS PROCEDIMENTOS
É necessário apenas um passaporte com validade para mais seis meses e um bilhete válido de regresso ao destino de origem ou para outro destino. À chegada, é concedido um visto de 60 dias aos visitantes.
CUIDADOS DE SAÚDE
As autoridades exigem certificado da vacina da febre amarela a todos os visitantes com mais que um ano de idade que provenham de um destino com risco de transmissão do país ou que tenham transitado durante mais de 12 horas em aeroportos desses países.
Não existe risco de transmissão de malária mas proteja-se ao máximo das picadas de mosquito para evitar contrair febre de Dengue.
Para mais informações sobre saúde em viagem, consulte o Portal da Saúde do Ministério da Saúde e Clínica de Medicina Tropical e do Viajante. Em FitForTravel encontra conselhos de saúde e prevenção de doenças específicas de cada país (em língua inglesa).
VIAGEM PARA SAMOA OCIDENTAL
A Star Alliance voa de Lisboa para Apia com TAP (tel.: 707 205 700), a Thai Airways e a Air New Zealand, via Londres, Banguecoque e Auckland. Este percurso para o outro lado do mundo vai ter garantidamente custos bastante elevados. Conte com um mínimo absoluto de 1.500€ mas dificilmente vai conseguir chegar a Samoa por tão pouco.
Explorar o destino:
ALUGUER DE VIATURA
Carro alugado à chegada à capital Apia é a forma mais prática de descobrir a ilha de Upolu, também a de Savai'i para onde poderá passar por ferry. As estradas são bastante aceitáveis e o trânsito escasso. Circule a baixa velocidade. Várias zonas em redor de Apia têm limites de 40km/h ou até menos e a polícia faz o seu controlo esporádico. Nas povoações em redor de Upolu e Savai'i o limite passa a ser 50 ou 55 km/h. Se a baixa velocidade não fosse aconselhada só por esta razão, saiba que são muitos e distintos os animais - cães, cabras, porcos, vacas etc - que se vão atravessando na estrada, principalmente nas povoações rurais, mas não só.
Os preços, para o aluguer de um carro económico, começam nos 20€, 30€ por dia e, devido ao tamanho da ilha, nunca gastará mais que um ou dois depósitos de combustível.
AUTOCARRO
Autocarros coloridos que se costumam reunir num terminal junto ao mercado novo de Apia percorrem grande parte da ilha de Upolu. Nem os seus horários nem o serviço em geral são de confiança. Recorra a esta solução apenas se tiver um orçamento realmente apertado mas bastante tempo para dedicar a Samoa Ocidental.
OUTROS
Samoa Ocidental poderia ser um óptimo destino para descobrir calmamente de bicicleta não fossem o calor e humidade tropical, - principalmente durante o Verão Austral - e a quantidade de cães que se entretêm a perseguir veículos de duas rodas. Não espere encontrar bicicletas de grande qualidade para alugar, nem lojas com peças modernas ou de qualidade para resolver problemas mais que esperados na sua bicicleta. Pode esperar sim pela ocasional oficina habituada a prestar reparos simples em bicicletas pouco evoluídas.
Meteorologia / Quando Ir:
A melhor altura para visitar Samoa Ocidental é a época menos quente e mais seca que vai de meio de Junho até Outubro. De Novembro a Maio, as temperaturas mantêm-se na casa dos 30ºC e a humidade é bastante elevada. Esta é também a época dos ciclones e as ilhas de Samoa costumam ser afectadas, todos os anos, no mínimo, por algumas tempestades tropicais.
Dinheiro & Custos:
A moeda de Samoa Ocidental é o Tala (WST). Existem caixas ATM no aeroporto e bancos da capital Apia: ANZ, Westpack e outros bancos locais. Os pagamentos com cartão de crédito são possíveis apenas nos estabelecimentos mais sofisticados da ilha. Prepare-se para gastar um mínimo absoluto de 60€/dia, por pessoa, com carro alugado, estadias intercaladas em fale e quartos duplos de hotéis médios, refeições em restaurantes. Só poderá reduzir este valor sacrificando a mobilidade e o conforto.
ALOJAMENTO
As soluções mais básicas e menos dispendiosas em Samoa Ocidental são as fales, cabanas típicas com telhados de vegetação seca, por norma, disponíveis na proximidade das praias e equipadas com colchões e redes mosquiteiras. Estas fales podem custar cerca de 25€ por noite, enquanto um quarto duplo numa guest house da capital Apia, deve custar o dobro e as fales e quartos duplos mais requintados dos melhores hotéis da ilha terão preços a partir dos 75€ por noite.
ALIMENTAÇÃO
Muito devido ao relativo isolamento insular, os produtos alimentares são pouco diversificados (e muito enlatados e preservados) nas lojas e mini-mercados de Apia e nas pequenas lojas de beira de estrada em redor de Upolu e Savai'i. Têm preços algo inflacionados mas não escandalosos. Conte com refeições completas a partir dos 10€ para duas pessoas, isto em restaurantes mais humildes. Apia e outras povoações de maior dimensão tem os seus próprios mercados de peixe e de fruta, bem mais aconselháveis para se abastecer de produtos locais frescos.
INTERNET
Quase só os hotéis e resorts têm ligações Wi-fi usáveis por quem possui portátil, tablet ou smartphone próprio. A maior parte destes estabelecimentos incluem o uso da internet nos seus preços de estadia. Em alternativa, algumas casas de internet de Apia (Upolu), Salelologa e Manase (Savai'i) cobram pelo uso dos seus computadores. Cerca de 1,50€ à hora em Upolu, praticamente o dobro em Savai'i.
OUTROS
Grande parte das praias e outras atracções de Samoa Ocidental são privadas e os donos ou estão presentes para cobrar entradas ou têm alguém que as cobra por eles. Os preços costumam estar tabelados. Tente regatear com paciência cortesia, pode ser que consiga desconto.