Jovens sino-norte-americanos exibem uma dança do dragão nas ruas da Chinatown de São Francisco.
Jovens sino-norte-americanos exibem uma dança do dragão nas ruas da Chinatown de São Francisco.
Cantores de origem chinesa animam o Festival da Lua com temas chineses populares e épicos.
Mãe incentiva as filhas, prestes a actuar numa exibição de música tradicional chinesa.
Vendedor de Pinturas tem, em destaque, o retrato do então Presidente chinês Hu Jintao.
Ancião exibe a sua longa teoria que explica aos transeuntes a eleição de Barack Obama.
Multidão percorre as ruas da Chinatown durante o Moon Festival de São Francisco.
Casal coloca autocolantes com a bandeira dos E.U.A em embalagens de gengibre.
Jovens sino-norte-americanos exibem uma dança do dragão nas ruas da Chinatown de São Francisco.
Mural Político e Controverso decora uma rua da Chinatown.
Pequenos sino-americanos acompanham a actuação de um artista durante o Moon Festival de São Francisco.
Arquitectura típica da Chinatown de São Francisco, também decorada com bandeiras chinesas e dos E.U.A.
Vendedores de uma pastelaria chinesa, num coração adocicado da Chinatown de Frisco.
Jovens músicas tocam instrumentos tradicionais para uma assistência comovida.
Jovens sino-norte-americanos exibem uma dança do dragão nas ruas da Chinatown de São Francisco.
São Francisco, E.U.A.
Chega a Setembro e os chineses de todo o mundo celebram as colheitas, a abundância e a união. A enorme sino-comunidade de São Francisco entrega-se de corpo e alma ao maior Moon Festival californiano.
Marco C. Pereira
(texto)
e
Marco C. Pereira-Sara Wong
(fotos)
A tarde vai a meio e as ruas do grande bairro vermelho revelam-se movimentadas como nunca. Homens de baixa estatura mas grande vigor descarregam caixotes sem fim para as mãos de senhoras de porcelana que os recebem sem aparente dano e arrumam nas profundezas das suas lojas e armazéns. Repete-se, ali, a vida chinesa de todos os dias, impelida pela vocação já profundamente genética de perseguir o lucro quase sem descanso.
Chegamos a Setembro e aproxima-se o 15º dia do oitavo mês do calendário lunisolar, um prenúncio do equinócio outonal. A vasta população na diáspora responde ao apelo milenar da comemoração da prosperidade que, em tempos, contemplava quase só os proveitos rurais mas, hoje, por evolução da economia, tem também em conta os seus inúmeros negócios – por alguma razão assim ficaram conhecidos – da China.
Investigamos a acção numa das ruas centrais do bairro quando damos com um casal entretido a colocar autocolantes com a bandeira dos Estados Unidos em embalagens de plástico, sobre grandes barris abertos, repletos de gengibre. Aproximamo-nos e acompanhamos o procedimento que os óculos escuros do chefe de família nos fazem parecer ainda mais intrigante. Por esta altura, a nação yankee continua em crise e os apelos para consumir americano e rejeitar os produtos chineses chegam um pouco de todo o lado mas principalmente em onda-curta e através do satélite e do cabo por activistas ultra-conservadores, Tea Party e Fox Channel como os incorrigíveis Michael Savage, Rush Limbaugh, Mike Levine, entre outros.
De início, Li Chin mostra-se atrapalhado mas logo percebe que não lhe queremos causar danos e assume a trapaça. “Eles querem comprar nacional, nós damos-lhes o nosso nacional. Acredite que a maior parte não é suficientemente esperta para perceber a diferença. Algum deste gengibre até de cá, outro é da China, os autocolantes, esses, são todos patriotas. Se pomos à venda embalagens com letras chinesas, boicotam-nos. Aqui está o produto americano que tanto defendem.”
Não nos custa a perceber que apesar dos quase 200 anos de presença em São Francisco, a integração da sua Chinatown continua por completar. A cultura chinesa – principalmente da etnia predominante Han – sempre foi suprema e não se entrega de vez em lugar nenhum, nem na velha Califórnia que, mesmo endividada até ao pescoço, contempla o resto dos Estados Unidos e o mundo do cimo de um pedestal. Passamos junto a uma parede em que está pintada uma enorme Stars and Stripes com a inscrição esperada de God Bless America. Mas o autor omitiu o B da frase e, malgrado a correcção posterior, a mensagem permanece adulterada, para contemplação e reflexão dos residentes e forasteiros.
Na loja de doçaria ao lado, não há tempo a perder com análises filosóficas. A época é de festa e nem os donos nem os empregados têm descanso com tanto pedido de bolos lua, sponge cupcakes e outras iguarias. Feitos de gemas de ovos, feijão, sésamo e jujuba, os pequenos pastéis oficiais do festival são densos e pesados, tão maciços como deliciosos. Devoramos dois cada um sem esforço e desvendamos ainda o destino irrisório ditado pelos papelitos escondidos nos fortune cookies, satisfeitos, acima de tudo, pela sorte palpável de os donos nos terem oferecido uma pequena caixa sortida de pastelaria cantonesa.
A tarde avança e os cable cars que sobem e descem as colinas de São Francisco em redor despejam mais gente no bairro. Esta Chinatown formou-se como a própria cidade, quando a Febre do Ouro de 1849 atraiu gente de todo o território norte-americano e de outros países. Sobreviveu a uma eclosão de peste bubónica e ao tremor de terra e mega-incêndio de 1906. A sua população sempre crescente resistiu também ao preconceito e à agressão dos clãs criminosos que, entre 1870 e 1900 geriram bordéis, salões de ópio, casas de jogos e antros de escravatura a partir das mesmas ruas inclinadas porque aspiravam milhões de compatriotas por chegar. Pouco depois do grande sismo, as autoridades planearam expulsar os residentes e urbanizar a área com propriedades valiosas. Para o evitar, um núcleo de homens de negócio chineses liderados por Look Tin Ely recolheu fundos suficientes entre os compatriotas para reinventar o bairro como a atracção turística que é hoje. Contrataram arquitectos para criar as linhas Chinatown Deco que preserva, com telhados em estilo pagode e lanternas dragão alinhadas nas ruas comerciais. O fim foi atingido mas não acabou com a descriminação e com legislações que proibiam a emigração, como a Exclusion Act. Os chineses da cidade reforçaram então sua unidade política e económica e contornaram os novos obstáculos. Hoje, muitos sobrevivem com menos de 10 mil dólares por ano, numa das cidades mais dispendiosas dos E.U.A. mas, uma vez estabelecidos no coração empresarial do Golden State, melhores oportunidades hão de surgir e têm, acima de tudo, razões para celebrar.
Chegamos a um ponto em que a multidão torna complicado circular. Grupos de anciãos defrontam-se ao mahjong e outros desafios sobre mesas de jogo decoradas com faixas com o programa da festa. Curiosos espreitam os movimentos das peças sobre os ombros dos protagonistas e, de quando em quando, atrevem-se a sugerir melhores soluções. Ao mesmo tempo, uma procissão de longos dragões e leões felpudos e garridos animados por jovens serpenteiam no espaço reconquistado pelos agentes de segurança que servem o festival. Abre-se, assim, caminho para a Grand Avenue onde está prestes a começar um recital de música. Vários grupos tocam temas e hinos tradicionais com sons de guzheng e outros instrumentos típicos de corda e percussão suplantados por um casal de cantores em dueto e trajes típicos que arrepiam a assistência com a potência das suas vozes contrastantes.
O dia está para durar e surpreende-nos com mais e mais emoções orientais. Sobre um balde, numa esquina já à sombra, um velhote desdentado e de chapéu cónico saúda os transeuntes e faz questão de promover as suas. Continua aparentemente comovido com a eleição de Baraka Obama para a Casa Branca e, num cartaz coberto de texto impresso enuncia uma longa teoria tresloucada que explica porque Deus o conduziu à presidência.
A sua conjectura começa por introduzir a Guerra do Ópio e a invasão britânica de um Tibete que o anunciante considera, sem qualquer dúvida chinês, como Taiwan. Defende que ninguém deveria acusar o governo de Pequim porque cada país deve ter um regime adequado à sua população e passa para vários outros pressupostos que envolvem Hitler, Bush, Sarah Palin, 666 o número da besta e a disciplina espiritual Falun Gong que diz ser, na realidade, um grupo terrorista. Menciona ainda um tigre do zoo de São Francisco, a acusação de que os ocidentais desejaram chuva e outros desastres naturais para prejudicar a China e os seus Jogos Olímpicos etc. etc. etc. Termina a chantagear a nação que o acolheu: “Por favor desculpem-me por ter sido escolhido por Deus como seu descodificador. E, por favor, rezem também pela minha longevidade porque se eu morrer, os E.U.A. morrem. Se eu morrer cedo, os E.U.A. morrem cedo.”
A festa, essa, está para durar. Mudamo-nos para a praça em que será lançado o incontornável fogo de artifício de encerramento e ficamos à espera que o anoitecer nos traga a grande lua mentora do festival e de quase tudo o que tínhamos visto acontecer.
A Terra não pára.
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VISTOS E OUTROS PROCEDIMENTOS
Os cidadãos portugueses estão isentos da requisição de visto para entrarem nos E.U.A, com fins turísticos e até 90 dias. Devem, no entanto, completar, com a devida antecedência, um pedido de Autorização Electrónica de Viagem ESTA. Cidadãos brasileiros têm que requerer um visto para visitas turísticas aos E.U.A. Mais informações em US Passports & International Travel - Brazil
CUIDADOS DE SAÚDE
Nenhum risco de saúde permanente digno de registo.
Para mais informações sobre saúde em viagem, consulte o Portal da Saúde do Ministério da Saúde e Clínica de Medicina Tropical e do Viajante. Em FitForTravel encontra conselhos de saúde e prevenção de doenças específicas de cada país (em língua inglesa).
VIAGEM PARA OS E.U.A
A TAP (tel.: 707 205 700) voa directamente de Lisboa para Nova Iorque/Newark e para Miami. Outros parceiros da Star Alliance incluindo a United voam de Lisboa e de outros destinos europeus para várias outras cidades dos E.U.A. por a partir de 500€ ida-e-volta.
Explorar o destino:
VOOS INTERNOS
Existem dezenas de companhias aéreas a operar em todo o território dos Estados Unidos. As principais são:
United, US Airways, Delta Airlines, Southwestern Airlines, Spirit Airlines (costa leste e Florida), Republic Airways, Jet Blue (ligações sem escalas entre cidades da costa Oeste e da costa Leste) Frontier Airlines, American Airlines, Air Tran.
Os preços dependem da distância e da época do ano. No principal domínio do capitalismo, a concorrência, o enorme fluxo de voos e de passageiros fazem com que os voos domésticos dos Estados Unidos tenham preços muito competitivos.
COMBOIO
A companhia nacional AmTrak gere uma rede ferroviária muito abrangente que com o complemento dos autocarros da Amtrak ThruWay estabelece ligações estratégicas a centros urbanos, parques nacionais e outros pontos estratégicos do país. Aos preços dos voos nos Estados Unidos, raramente as viagens de comboio serão a solução mais rápida e barata mas existem outras possíveis vantagens, como a possibilidade de apreciar a paisagem e de conviver a bordo.
AUTOCARRO
Raramente serão considerados uma opção mais económica e prática face aos voos mas, como o comboio, permitem contemplar os cenários e favorecem o convívio. A GreyHound é a companhia com mais itinerários nos E.U.A.
ALUGUER DE VIATURA
Caso queira deixar as maiores cidades e explorar os estados em redor, alugar um carro é quase obrigatório. Os Estados Unidos têm uma oferta inesgotável, altamente concorrencial e tecnológica de veículos para aluguer. Procure os melhores preços na internet antes de viajar para evitar pagar as taxas de serviço e outros custos dos balcões de aeroporto. Por norma, o valor diário para carros de pequena dimensão vai de 25€ a 40€, conforme a época do ano. Alugueres semanais ou mais longos podem ficar por 140€ a 240€, por norma com quilometragem ilimitada.
Outros veículos muito utilizados nos E.U.A. são os RV, grandes caravanas que beneficiam de infraestruturas disseminadas pelo país para as acolher. Como é lógico, os RV's têm preços muito superiores aos dos pequenos utilitários e consomem combustível em doses quase industriais.
O combustível é, nos Estados Unidos, significativamente mais barato que na maior parte da Europa e são raras as portagens nas estradas do país. A maior parte das empresas requerem que o condutor tenha mais de 25 anos, carta de condução válida e cartão de crédito válido com valor disponível para caução. Algumas companhias alugam a condutores entre os 21 e 24 anos por um valor extra.
Meteorologia / Quando Ir:
Num país com a dimensão dos Estados Unidos é sempre boa altura para visitar nalguma parte, ainda mais se tivermos em conta que fazem parte do país o Alasca, o Havai e a Samoa Americana, entre outros territórios.
No que diz respeito aos E.U.A. continentais, as estações do ano são equivalente às europeias mas longe de ser simultâneas a todos os estado do país com diferenças substanciais provocadas pela latitude, pela altitude e pela orografia, exposição aos oceanos, entre outros factores. Na Flórida, por exemplo, raramente é Inverno a sério. Em certas secções das Montanhas Rochosas, o Inverno quase só chega em Junho.
De qualquer maneira, salvo se a razão da sua viagem forem os desportos de neve, em geral, a melhor altura do ano para visitar a maior parte do país é o Verão, do meio de Maio a Meio de Setembro mas tenha em conta que as zonas mais próximas dos desertos têm, nessa altura, temperaturas muito elevadas, facilmente de 35ºC a 45ºC durante boa parte do dia.
Um certo período variável do Outono traz a várias zonas florestadas, paisagens de folhagem amarela de grande beleza.
Dinheiro & Custos:
A moeda dos E.U.A. é o dólar americano (USD). As caixas ATM são abundantes em quase todo o país. Pagamentos com cartões de crédito são banais por todo o território.
ALOJAMENTO
Há absolutamente de tudo nos Estados Unidos mas os tipos de alojamento mais disseminados pelo país são o motel e o business hotel. Vai encontrá-los por todo o lado - principalmente à beira das estradas e auto-estradas - alguns identificados por sinalizações de neon muito elevadas, visíveis a grande distância. Podem custar de 20€ a 150€ por noite dependendo do lugar, da época e de se existe algum evento importante por perto.
Os business hotels estão em plena expansão por todos os estados. Têm preços intermédios entre os motéis e os hotéis convencionais. Também são muito frequentes à beira das auto-estradas.
Os hotéis são mais comuns nas zonas centrais das cidades que os motéis e os business hotels. São mais caros mas também oferecem mais conforto e mais serviços. Alojamento mais acessível, normalmente para jovens surge, também nos E.U.A. como hostels e youth-hostels muitos deles afiliados a organizações como a American Youth Hostel. Estadia, nestes hostels, custa entre 10€ a 50€ por noite em quarto duplo, dependendo da cidade e da altura do ano.
Fora das cidades e principalmente nas zonas costeiras e rurais, surgem inúmeros B&B (Bed & Breakfast), em casas de campo adaptadas a funções de hotelaria. Podem custar de 50€ a 500€ por noite, como o nome indica, com pequeno-almoço incluído no preço.
Estas e outras zonas estarão provavelmente equipadas de vários parques de campismo que acolhem clientes em tendas ou, frequentemente nos seus próprios RV's. Custam entre 5€ a 25€ por carro.
ALIMENTAÇÃO
Na pátria capitalista da fast e junkfood, os restaurantes fast estão praticamente por toda a parte e dão acesso a refeições bastante acessíveis - 3,50€ a 6€ menu completo do estilo Big Mac dependendo do lugar - mas com os defeitos de nutrição que lhes são normalmente apontados.
À parte deste tipo de alimentação e similares, em certas cidades mas não só, é possível encontrar restaurantes com gastronomias de quase todo o mundo, quer a servir refeições à mesa quer buffets e de take-out.
Um nível acima dos restaurantes fast food, estão os fast casual onde a comida é substancialmente de melhor qualidade, preparada no instante com preços entre 5€ a 9€.
Como muitos dos restaurantes anteriores, os diners surgem à beira das estradas mas igualmente nas grandes cidades. Também estão abertos 24horas por dia e têm preço mais elevados que os de fast food e fast casual, com as refeições completas a chegarem facilmente aos 10€ a 20€.
Nos restaurantes dos Estados Unidos mais sofisticados do que estes atrás, é provável que possa encontrar refeições mais cuidadas, inclusivamente com peixes e carnes frescos de grande qualidade, saladas elaboradas, cartas de vinhos de várias partes do mundo etc etc. Espere pagar de 20€ a 50€ por refeição nos mais acessíveis. Nos realmente exclusivos e upscale, 50€ podem não pagar sequer as entradas.
INTERNET
Como é sabido, poucos países são mais tecnológicos. Vai encontrar internet quase de certeza gratuita em todo o tipo de alojamentos, em inúmeros cafés, bibliotecas públicas e até em zonas inteiras das principais cidades. Também já é possível comprar sticks USB (pens) de várias marcas para ter internet consigo para onde levar o seu portátil.
Contratos mais duradouros e complexos com as principais operadores ainda se podem revelar complicados devido à exigência de um número de segurança social norte-americano.