Silhuetas do templo Batu Bolong e, à distância, a do vulcão Gunung Agung, no leste de Bali.
Silhuetas do templo Batu Bolong e, à distância, a do vulcão Gunung Agung, no leste de Bali.
Senhor Mindra segura um cesto com oferendas.
Família Mindra sobe a uma plataforma rochosa do templo Batu Bolong.
Sacerdote à porta de um santuário do templo hindu Pura Meru, de Mataram.
Família Mindra sobrevoada por centenas de libelinhas no santuário Batu Bolong, nos arredores de Senggigi.
Crente hinduísta balinês.
Pagodas hindo-balinesas no templo Pura Meru de Mataram, capital de Lombok.
Filha do casal Mindra observa os preparativos levados a cabo pelos pais.
Fiel desce de um santuário do templo Batu Bolong.
Os Mindra reunidos no templo Batu Bolong
Silhuetas longínquas do templo Batu Bolong e do vulcão Gunung Agung, na ilha vizinha de Bali.
Um religioso marca presença no templo Pura Meru de Mataram.
Mulher carrega sobre a cabeça um tabuleiro com oferendas para uma cerimónia hinduísta balinesa da sua família.
Senhora Mindra purifica o marido e os filhos no templo Batu Bolong.
Sacerdote consulta um livro sob o olhar de uma estátua do templo Pura Meru.
Silhuetas do templo Batu Bolong e, à distância, a do vulcão Gunung Agung, no leste de Bali.
Lombok, Indonésia
A fundação da Indonésia assentou na crença num Deus único. Este princípio ambíguo sempre gerou polémica entre nacionalistas e islamistas mas, em Lombok, os balineses levam a liberdade de culto a peito
Marco C. Pereira
(texto)
e
Marco C. Pereira-Sara Wong
(fotos)
Bali soava a destino merecedor mas demasiado explorado e, em viagem pelo sudeste asiático havia já algum tempo, precisávamos de uma calma revigorante que a província vizinha de Nusa Tenggara prometia.
Bastou um voo curto com aterragem em Mataram, capital da sua ilha mais ocidental para nos mudarmos. E umas poucas horas de descanso depois, já estávamos em plena descoberta de Lombok.
Senggigi revela-se uma povoação ansiosa, com problemas económicos causados pelos conflitos étnicos de 2000, pelos casos horríficos de terrorismo da concorrente Bali e, ao mesmo tempo, do seu rápido regresso à ribalta.
“Onde é que vão? “Quais são os vossos planos?” Posso ajudar-vos?”. Em cada saída do hotel quase vazio, somos abordados por vários “agentes” turísticos e pretensos guias que, em nítido desespero financeiro, tudo fazem para vender os seus serviços.
Precisamos apenas de uma scooter e dois capacetes que nos entregam em três tempos a preços que, apesar de estarmos na Indonésia e se contarem em milhares de rupias, são tão baixos que nem justificam regatear.
Aproveitamos de imediato a liberdade concedida pela motoreta e escapamo-nos para o litoral tropical e recortado da ilha. Curva atrás de curva, seguimos a meia-encosta e cruzamo-nos com camponeses de chapéus cónicos que conduzem cabras e vacas através dos campos verdejantes à beira do asfalto.
Ao nível do mar, vemos pescadores a bordo de pequenos perahus (barcos artesanais) junto às suas aldeias estendidas sobre os areais.
Constatamos que abundam praias perfeitas, em Lombok, e com recurso a um mapa básico até os seus nomes vamos descobrindo.
Na costa noroeste, entre Senggigi e Pemenang destacam-se a Malimbu e a Mangsit. Mais para norte, a de Sira e, ao lado, a Medana. Encontramo-las, no entanto, desertas e intrigam-nos os reais motivos de tanto desperdício.
Em conversa com outros forasteiros, concluímos que em termos turísticos, Lombok é, ainda hoje, a Bali de há vinte anos atrás. E, à medida que exploramos mais da ilha, apercebemo-nos de como se preservou genuína, protegida por uma população, ao contrário da de Bali, maioritariamente muçulmana ou tradicionalista que inibe alguns comportamentos ocidentais “pagãos” como as vestes diminutas próprias da inactividade balnear.
Actualmente, a etnia islâmica Sasak perfaz 90% da população enquanto os balineses preenchem os restantes 10% mas, estes, destacam-se da multidão e são por ela respeitados.
Como as restantes cidades e povoações menores da ilha, Senggigi - a mais turística - desperta ao chamamento do “Allah hu Akbar” madrugador cantado pelos muezins e rege-se pelos quatro apelos seguintes. Isso não impede que, ao mesmo tempo, no Pura (templo) Batu Bolong, a família Mindra, trajada a preceito de sash (lenço) e sarong coloridos leve a cabo os rituais elegantes do hinduísmo balinês.
Passam pelo candi bentar (pórtico da divisão) carregando um cesto com fruta, flores e doces que colocam sobre o altar de pedra. Rezam no primeiro santuário e avançam em direcção ao mar, junto ao qual atravessam novo candi bentar para aceder ao segundo.
Ali, antes de passarem à sua purificação com água, deixam outra oferenda, ao lado de duas pequenas torres vermelhas, protegidas por nagas e três estátuas de kalas, os demónios feios e barrigudos do tempo, devoradores insaciáveis de tudo e de todos que os balineses tentam apaziguar, ainda mais com a chegada da lua cheia ou da nova que acreditam influenciar a mente humana, provocando agressividade. E este ritual processa-se depois do pôr-do-sol, durante o instalar do lusco-fusco já que os balineses acreditam que é nessa altura que os demónios kala andam à procura de comida.
O hinduísmo balinês está mais distante do indiano que Lombok da Índia. Como os hindus do sub-continente, os balineses crêem na trindade Brahma, Shiva e Vishnu, mas acreditam também num deus supremo, Acintya ou Sanghyang Widi Wasa que não pode ser pensado, concebido ou imaginado e, de acordo, só muito raramente é venerado.
Ao contrário do que acontece na Índia, em que proliferam imagens quase livres e invariavelmente garridas destes deuses, em Lombok, como em Bali, a trindade nunca é vista.
A génese da cultura e religião balinesas está na era Majapahit, um reino de influência indiana que, de 1293 a 1500, dominou várias ilhas indonésias e a península malaia e acabou por se refugiar, em Bali, da invasão dos Sultanatos de Malaca e Demak.
Uma das crenças pré-Majapahit que os balineses preservaram foi o kaja, a orientação dos templos de frente para montanhas, o mar ou o nascer do sol, em deferência aos seus espíritos animistas.
É por respeito a esta crença que o ritual da família Mindra se faz sob a supervisão longínqua e sagrada do Gunung Agung, o maior vulcão de Bali. A sua fé tem, neles, efeitos óbvios que caracterizam os crentes balineses. A tranquilidade de espírito que partilham é incomum e sente-se, como a disponibilidade e a simpatia. Têm um discurso em inglês quase fluente que é altivo mas, ao mesmo tempo, humilde. E combinam as falas elegantes com sorrisos naturais contagiantes.
Bastam algumas palavras para nos autorizarem a fotografar um momento que é íntimo e, malgrado não resistirmos a abusar em nome da fotografia, nem por uma vez perdem a compostura ou sequer a paciência. Ao invés, ignoram-nos o mais que podem e, sem pressas, completam as suas preces e oferendas.
Mas nem sempre a expressão do hinduísmo balinês é de auto-controlo. Entre os seu cerimoniais contam-se exibições de dramas dançados em noites de lua cheia como a eterna batalha entre o bem e o mal, respectivamente representados pelo leão ou dragão Barong e pela viúva bruxa Rangda, em que os actores entram em transe e se tentam ferir com punhais, por acção de Rangda, mas são protegidos por Barong.
Em Bali, as exibições do hinduísmo balinês são sempre sagradas mas não deixam, por isso, de ser realizadas versões comerciais que ajudam a promover o turismo. Já em Lombok, continuam a realizar-se quase só por motivos religiosos. Têm a sua maior expressão na parada Ogoh Ogoh, com lugar na capital Mataram no dia anterior ao feriado Nyepi – pôr do sol de 15 de Março a pôr do sol de 16 de Março -, o dia do silêncio e do retiro que marca o início do novo ano hindu.
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Como ir:
VISTOS E OUTROS PROCEDIMENTOS
Pode requerer o seu visto na embaixada da Indonésia mais próxima. Em alternativa, pode obter um visto à chegada a qualquer um dos destinos de entrada mais populares - Jacarta e Bali - por cerca de 20€.
CUIDADOS DE SAÚDE
O risco de contrair malária existe em todo o país e durante todo o ano. É menor em cidades, e nas zonas mais turísticas de Java e Bali mas acentua-se noutras ilhas ao largo de Java e Sumatra, também em Lombok e na província de Papua Ocidental. É recomendável a medicação prévia para a malária.
Para mais informações sobre saúde em viagem, consulte o Portal da Saúde do Ministério da Saúde e Clínica de Medicina Tropical e do Viajante. Em FitForTravel encontra conselhos de saúde e prevenção de doenças específicas de cada país (em língua inglesa).
VIAGEM PARA A INDONÉSIA
As companhias aéreas KLM e Emirates voam de Lisboa para Jacarta, com uma única escala, por a partir de 800€. A KLM opera um voo para Denpasar (Bali), com escala única em Amesterdão por em redor de 1.200€.
Explorar o destino:
VOOS INTERNOS
Se tem bastante tempo e conta viajar por diferentes zonas do vasto arquipélago indonésio, vai ter que recorrer às companhias aéreas que estabelecem ligações dentro do país. A companhia nacional e a mais popular é a Garuda. O panorama das companhias aéreas a operar na indonésia é bastante instável mas, à data deste texto, funcionavam ainda a Lion Air a Air Asia, a Tiger Air e a CitiLink, além de dezenas de outras mais pequenas com serviço de nível regional. Dependendo da distância percorrida, os voos internos podem custar de 40€ a 250€ (só ida).
AUTOCARRO
Os autocarros rodam por todo o lado e são o sustento de muitas famílias. Por regra, funcionam na base de "só parte quando estiver cheio ou sobrelotado" mas em compensação, têm preços irrisórios e são perfeitos para conviver com os indonésios. A grande maioria são velhos veículos-museu barulhentos, fumarentos e sem ar condicionado. Em Java, Sumatra e em Bali, algumas empresas asseguram viagens de médio e longo curso em autocarros mais modernos e confortáveis.
ALUGUER DE VIATURA
As cidades indonésias podem revelar-se lugares exasperantes para conduzir carros ou motas. Se, mesmo assim estiver determinado a explorar as ilhas do arquipélago ao volante saiba que deve conduzir com extrema paciência e cuidado para compensar, os engarrafamentos, a má qualidade de muitas estradas, o permanente desrespeito dos condutores locais pelas regras e pelo próximo e, em certas zonas, o atravessamento eminente de pedestres, carroças, animais e sabe-se lá que mais.
O aluguer de motorizadas e motas é bastante mais popular do que o de carros. É normal os indonésios com pequenos negócios de aluguer abordarem os estrangeiros para os convencerem a alugar as suas motas ou até carros, por regra, a preços muito baixos, tão pouco como 3€ por dia para uma simples motorizada. Um carro custa significativamente mais se alugado numa multinacional num aeroporto indonésio (20€ ou 30€ ao dia) mas, assumindo os riscos decorrentes, pode conseguir alugar carro por metade a um pequeno negócio. Se o fizer, examine com atenção tudo o que envolva seguros e cauções.
COMBOIO
A rede ferroviária está limitada às ilhas de Java e Sumatra. Em Java, os comboios são uma excelente alternativa a viagens de carro ou autocarro mais longas e garantidamente mais desconfortáveis. Em Sumatra, a rede ferroviária é mais limitada que em Java.
BARCO
Enquanto nação-arquipélago, a Indonésia é servida por uma enorme frota de ferries mas os registos de segurança estão longe de ser os melhores. A empresa PELNI (site desactualizado e pouco funcional para passageiros) tem os melhores barcos mas também os preços mais elevados. As viagens de ferry vão dos 9€ por dia em 4ª Classe (simples cama num dormitório abafado) aos 30€ por dia em primeira classe (em cabine com apenas duas camas, ar condicionado, TV, casa de banho privada).
Meteorologia / Quando Ir:
O clima é tropical. A estação seca começa em fins de Abril e termina por volta de Novembro. É a época ideal para visitar a indonésia, quando chove menos. Certas regiões da Indonésia, como as ilhas de Kalimantan e o norte de Sumatra são significativamente mais chuvosas e registam pouca variação climática ao longo do ano.
Já em Bali e todo o arquipélago de Nusa Tenggara, a diferença da época das chuvas para a seca é marcada, com algumas ilhas a entrarem em longos períodos sem chuva. Durante a monção, de Dezembro a fins de Abril, o céu está frequentemente nublado e pode chover vários dias de seguida.
Dinheiro & Custos:
A moeda nacional é a Rupia indonésia (IDR). As caixas ATM só existem nas maiores cidades. Nem todas aceitam cartões internacionais e só os estabelecimentos (por norma os resorts) mais sofisticados do país estão preparados para pagamentos com cartões de crédito. A Indonésia é um dos países mais acessíveis da Ásia.
ALOJAMENTO
As estadias têm preços de todos os tipos, quase sempre nivelados por baixo e ainda mais em época baixa. Desde 6€ ou 7€, por noite, por pessoa em quarto duplo nos hotéis mais básicos de lugares menos turísticos a muitas centenas de euros por noite nos resorts mais requintados de Bali.
ALIMENTAÇÃO
Uma garrafa de água custa cerca de 0,25€. Com excepção para os lugares mais populares de Bali, uma refeição tradicional completa em restaurantes e bares médios pode custar menos de 5€. Em contrapartida, se não quiser abdicar de algum requinte poderá gastar muito mais nos melhores restaurantes e resorts de Java, Bali e Lombok, por exemplo.
INTERNET
Não espere encontrar muitos hotspots gratuitos enquanto anda pelas ruas. Hotéis médios e resorts incluem o acesso à internet nos preços. Se não for o caso daquele que reservar, não deve ter dificuldade em encontrar um internet café com velocidades aceitáveis, salvo se se afastar demasiado para o leste do país (oriente de Nusa Tenggara, Papua Ocidental etc.)