Venezuelanos usam adereços e máscaras e divertem-se a bordo do barco que liga a Ilha Margarita à de Coche.
Venezuelanos usam adereços e máscaras e divertem-se a bordo do barco que liga a Ilha Margarita à de Coche.
Tripulante de um barco percorre o pontão que conduz à Ilha de Cubágua.
Tabuleta indica o fim de um trilho repleto de cactos na ilha de Cubágua.
Uma das muitas iguanas que habitam a ilha El Faro, parte do PN Mochima.
Declive da ilha El Faro repleto de cactos baixos.
Rapaz de um povoado piscatório da ilha Margarita dá um salto mortal a partir da proa de um barco.
Mais festa a bordo de um barco que ruma à ilha Coche, ao largo da ilha Margarita.
Snorkelers exploram o mar das Caraíbas em redor de um barco que se incendiou.
Uma ilha rochedo do PN Mochima ocupada por aves marinhas.
Uma rapariga de uma aldeia piscatória descontrai dentro de uma boia.
Um barco percorre o mar cristalino ao largo de Punta Ballena.
Auxiliar corre para ajudar na manobra de acostagem na ilha de Coche.
Dois passageiros falam a bordo de uma das lanchas que faz viagens entre a ilha Margarita e a de Coche.
Pontão da Ilha de Coche entra pelo mar das Caraíbas adentro.
Venezuelanos usam adereços e máscaras e divertem-se a bordo do barco que liga a Ilha Margarita à de Coche.
Costa Caribenha, Venezuela
A exploração do litoral venezuelano justifica uma festa náutica de arromba. Mas, estas paragens também nos revelam a vida em florestas de cactos e águas tão verdes como a selva tropical de Mochima.
Marco C. Pereira
(texto)
e
Marco C. Pereira-Sara Wong
(fotos)
Estamos em contagem decrescente para o fim de semana mas centenas de habitantes da Ilha Margarita fazem questão de o aproveitar até ao último segundo. Subimos os derradeiros metros da rampa que dá acesso ao miradouro Juan Griego em passo de quase corrida e, no topo, dentro da fortificação, uma multidão em alegre convívio ocupa toda a extensão das muralhas, virada para o Mar das Caraíbas em que o sol está prestes a assentar.
Dois vendedores de gelados concorrentes carregam caixas de esferovite e apregoam o seu produto, o que adornam com o soar de pequenas campainhas, despertadores do desejo das crianças que por ali infernizam a vida dos pais.
A assistência em êxtase acompanha e regista o desvanecer do astro. Passam alguns minutos de contemplação adicional e a paz civil submete-se a uma cerimónia político-militar. Aparecem dois soldados que, de acordo com a coreografia pré-encenada, fazem descer a enorme bandeira venezuelana amarela-azul-vermelha que esvoaça, altiva, contra o céu quase limpo. Esticam-na, dobram-na a preceito e levam o símbolo da pátria bolivariana nos braços, carregado com mil cuidados, como se de um recém-nascido se tratasse.
Escurece em três tempos. A manhã seguinte é de trabalho e muitas famílias debandam. Mas certos clãs de jovens permanecem e bailam ritmos tropicalientes que brotam dos seus pequenos telemóveis.
A comitiva internacional de que fazemos parte, admira-os com fascínio e alguma inquietude. Recebemos, no entanto, ordem de partida e deixamos os nativos entregues à sua festa.
Umas horas depois de nova alvorada, seguimos instruções e esperamos, com o pequeno-almoço já tomado, pelo transporte que nos há-de levar a uma doca próxima e, dali, à Playa de la Punta, uma enseada tranquila da Isla de Coche, algumas milhas ao largo.
Um anfitrião humorista a bordo dá as boas-vindas aos passageiros em castelhano hiper-rápido e, logo, com a embarcação já em movimento, num inglês com forte sotaque ianque.
Pouco depois, o bar abre e o DJ tripulante atrás do balcão passa os primeiros temas caribenhos a altos berros. É assim inaugurada uma rumba que se haveria de arrastar e repetir.
A viagem para a ilha secundária é longa. Sentados nos bancos do convés, os passageiros furtam-se ao protagonismo de inaugurar a pista de dança, cada vez mais óbvia e reclamante. Mas, além, do anfitrião e do DJ, há um MC a bordo que os recruta, por vezes agrupados por países, para os mais distintos exercícios e passatempos sem fronteiras. São-lhes atados balões cheios e de diversas cores aos tornozelos. Com um sinal do animador e ao ritmo da música, os participantes forçados pulam e saltam que nem loucos para rebentar os dos adversários e se manterem “vivos”. Carlos, o MC, constata a rapidez com que aquela alegria infantil toma conta da lancha, reforçada pelos efeitos do rum sob as mais distintas receitas. Lança, então, outros desafios que potenciam o fenómeno e planeia prosseguir com a sua função a 100% mesmo depois do desembarque na Playa de la Punta.
A comitiva deleita-se com o mar quente e suave e aproveita para descomprimir do stress do dia-a-dia e do cansaço dos jogos no convés. Mas o MC volta ao ataque e chama-os para novas actividades, agora aquáticas. Alguns dos veraneantes do velho mundo torcem o nariz mas, perante a adesão crescente, acabam por se render. Até que chega a hora do almoço e a refeição num restaurante popular na proximidade da praia resgata o grupo daquele animador tentacular, não necessariamente das bebidas alcoólicas que lhe continuam a facilitar a missão.
Para o fim da tarde, no regresso, nenhum dos passageiros está em condições de oferecer resistência. A música toca cada vez mais alto. O MC impõe outros desafios. Desta feita, a equipa de imprensa venezuelana que acompanha a comitiva assume as honras. E chega a vez de Rogel, em particular.
Com ajuda de um outro tripulante, o mestre de cerimónias coloca uma peruca ruiva sobre a cabeça desta sua última cobaia. E balões bem cheios por dentro de um biquíni que lhe veste, a condizer com um saiote curto. Carlos anuncia então ao microfone: “Senhoras e senhores, vinda da Colômbia, a exuberante Shakira”.
Incitado pelo público, e ao som de um dos êxitos da cantora, o jovem bamboleia-se e exibe uma sensualidade tomada de empréstimo para riso descontrolado dos convidados da viagem e colegas que não tardam a invadir o “palco” para abusar da improvável vedeta.
Seguem-se outros números do género. Parte dos presentes a bordo, perde a voz de tanto gritar e gargalhar. Salva-os então, o fim da tarde e o regresso ao porto de que tinha zarpado aquela epopeia náutica de diversão.
Entra em cena um novo dia. A rumba é interrompida por um périplo madrugador em que nos são mostrados o Castelo de San Carlos, a Igreja de Buen Viaje, o Valle del Espiritu Santo e restantes pontos panorâmicos e históricos relevantes da ilha. À imagem da de Coche, Margarita foi visitada por Cristóvão Colombo na sua segunda incursão pelas Américas. Tornou-se no único estado insular da Venezuela e um dos territórios pioneiros a declarar a independência da Coroa Espanhola, em 1810. Consta que o descobridor comparou aquelas paragens com uma pequena Veneza. Mas, à época, os indígenas não eram amigáveis como os de agora ou proporcionaram ao séquito do genovês a farra que nos estava a ser imposta.
Mudamo-nos para a costa caribenha continental e instalamo-nos em Puerto de la Cruz, de onde está programado partimos para perscrutar o Parque Nacional Mochima e o seu litoral selvagem mas acolhedor.
Duas pequenas lanchas partem das traseiras marítimas do hotel. Os passageiros preenchem na totalidade os rebordos almofadados das embarcações. Ao centro, como era já de suspeitar, vão grandes geleiras com cervejas sem fim subsumidas num frio efémero e desenquadrado. A marca, Polar, condiz na perfeição com o que é pretendido da bebida e alguns dos venezuelanos mais nacionalistas a bordo torcem o nariz quando lhes são passadas latas intrusivas: “Brahma?? Muito inconveniente terem trazido isto!” exclama um deles com ironia.
Contornamos ilhéus colonizados por corvos-marinhos, pelicanos e outras aves náuticas, acompanhados por cardumes de golfinhos saltitantes. Desembarcamos na ilha El Faro que exploramos por entre cactos verdejantes e em comunhão com enormes iguanas. Por fim, desembarcamos numa baía luxuriante da ilha Arapo. Ali, integramo-nos numa versão balnear bem mais tranquila de celebração da vida.
Centenas de famílias e grupos de venezuelanos partilham o areal exíguo e a água quase imóvel e quente do Mar das Caraíbas. Muitos, trouxeram as suas bandas sonoras particulares para a praia. Enquanto conversam e piquenicam em volta das inevitáveis neveras coloridas ou semi-submersos numa água tão verde como a selva tropical em redor, um zunido latino-americano embala a comunidade de banhistas. Nós, os envergonhados europeus, limitamo-nos a seguir o seu exemplo e recuperamos para a rumba a sério que receamos ainda estar para vir.
A Terra não pára.
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Como ir:
VISTOS E OUTROS PROCEDIMENTOS
Cidadãos portugueses e brasileiros não necessitam de visto para visitar a Venezuela até 90 dias. É suficiente que apresentem passaporte com validade para 6 meses após a data da chegada.
CUIDADOS DE SAÚDE E SEGURANÇA
Existe um risco moderado a alto de contracção de malária durante todo o ano nas regiões de Amazonias, Anzoategui, Bolivar e Delta Amacuro. O risco de contracção de malária severa restringe-se a Amazonas e Bolivar. Proteja-se das picadas de mosquito também para diminuir o risco de contracção de febre de Dengue.
Para mais informações sobre saúde em viagem, consulte o Portal da Saúde do Ministério da Saúde e Clínica de Medicina Tropical e do Viajante. Em FitForTravel encontra conselhos de saúde e prevenção de doenças específicas de cada país (em língua inglesa).
Segurança
À data de criação deste texto a Venezuela vivia um situação política de grande instabilidade e muitos países aconselhavam os seus cidadãos a não visitarem a Venezuela até que se verificasse alguma acalmia. Muitos dos serviços, incluindo voos internos foram suspensos devido a protestos contra os governantes.
Para que possa tomar a decisão de visitar ou não a Venezuela em consciência, deve ter em consideração que, até quando se encontra politicamente estável, se trata de um país com elevados riscos contra a segurança do visitante, principalmente no que diz respeito a Caracas - Caracas tem, por exemplo, um dos índices de homicídios mais elevados do Mundo.
VIAGEM PARA A VENEZUELA
A TAP (tel.: 707 205 700) voa de Lisboa directamente ou via Funchal (Madeira) para a capital venezuelana Caracas a partir de 800€. À data de criação deste texto verificava-se um enorme afluxo de cidadãos venezuelanos aos voos de Caracas para Portugal e de Portugal para Caracas, causado pela urgência de trocarem Bolívares (moeda venezuelana) por Euros cuja cotação se encontrava há algum tempo em queda livre. Por este motivo, acontecia com enorme frequência os voos da TAP de e para a Venezuela terem lotação esgotada com enorme antecedência e preços sobrevalorizados.
Explorar o destino:
VOOS INTERNOS
São seis as principais companhias aéreas que servem a Venezuela com vários voos domésticos:
Aeropostal, Aserca, Avior, Laser, Rutaca, SBA Airlines
Do aeroporto mais importante do país, Maiquetia, na capital Caracas, partem inúmeros voos, os mais frequentes para Porlamar, Maracaibo e Puerto Ordaz (Ciudad Guayana), Mérida, Ciudad Bolívar e Canaima.
O preço dos voos oscila substancialmente de companhia para companhia, pelo que vale a pena comparar os valores de várias delas antes de comprar os bilhetes.
AUTOCARRO
Perante a inexistência de uma rede ferroviária, a forma mais popular de viajar é o autocarro até porque, devido ao combustível ser quase gratuito, as passagens têm dos preços mais acessíveis da América do Sul, 1€ a 2€ ou até menos por hora de viagem.
Os melhores autocarros da Venezuela são os bus cama com assentos reclináveis até à posição de cama. Os ejecutivos, como os bus cama, têm ar condicionado normalmente demasiado poderoso, TV e frequentemente casa de banho a bordo.
Rotas mais curtas são servidas por puesto por velhos autocarros dos Estados Unidos, repintados e por vezes até reconstruídos e "kitados" de forma excêntrica (mais raramente minibuses) que funcionam na base de só partirem quando cheios. Podem ser mais dispendiosos que os piores autocarros mas também mais rápidos e, nalguns casos, até mais confortáveis.
BARCO
A Venezuela tem uma série de ilhas ao largo da sua costa caribenha. Destas, só a ilha Margarita é regularmente servida por ferries - de Caracas e Puerto de La Cruz - e outras embarcações menores.
ALUGUER DE VIATURA
Alugar viaturas venezuelanas através de sites populares de serviços turísticos (estilo expedia.com e afins) prova-se desafiante senão impossível. A maioria dos sites não mostram resultados quando se faz busca de viaturas, por exemplo, em Caracas. De qualquer maneira, poderá sempre alugar carro após chegada por valores que rondarão os 40€ a 60€ por dia com seguro incluído. Para compensar este valor - elevado face a muitos países europeus e os Estados Unidos - o combustível é praticamente gratuito - em redor de 0,02€ a 0,04€ por litro, consequência de a Venezuela ser um dos maior produtores de petróleo do Mundo e uma nação de governo socialista.
A Venezuela tem uma rede ampla de estradas (82.000km) na maioria em condições muito aceitáveis o que não quer dizer que não venha a necessitar de um veículo 4WD robusto para certas zonas mais remotas, principalmente durante e logo após a época das chuvas.
Em hora de ponta mas não só, o trânsito em Caracas e nas estradas de acesso à capital pode deter-se em filas intermináveis. Os condutores são agressivos e ignoram as regras sempre que lhes é mais conveniente. Também acontecem assaltos repentinos perpetrados por motociclistas ou peões armados.
Vai encontrar postos de controlo militares ao longo de quase todos os itinerários do país.
Meteorologia / Quando Ir:
A Venezuela surge no mapa logo acima do equador. Mesmo tendo em conta as recentes anomalias, tem duas estações climáticas bem definidas: uma seca que vai de Dezembro a Abril e uma chuvosa que dura o resto do ano. Visite, de preferência, durante a época seca e, se não é de confusões, tente evitar os períodos de férias dos venezuelanos, como o Natal e a passagem de ano, o Carnaval e a Semana Santa.
Dinheiro & Custos:
A moeda da Venezuela é o Bolivar Forte (VEF). Devido à inflação galopante, à data de criação deste texto, estava há já algum tempo em queda livre contra a maior parte das restantes moedas. Além disso, tem um valor oficial substancialmente superior ao que é praticado no mercado negro.
Nos anos 90, a Venezuela era uma das nações mais dispendiosas da América do Sul. Hoje, a forte desvalorização do Bolivar fez com que se tenha tornado numa das mais acessíveis do continente. Existem caixas ATM nas principais cidades e o pagamento com cartões de crédito é generalizado nos estabelecimentos mais sofisticados. Não espere, todavia, encontrar caixas ATM ou terminais de pagamento nos cenários selvagens do Parque Nacional Canaima ou de Amazonas.
ALOJAMENTO
Caracas, a ilha Margarita e alguns poucos outros pontos nevrálgicos do turismo venezuelano têm os seus hotéis de 4 e 5 estrelas. Apesar de responsável pelo inflacionar dos preços - de 120€ a 400€ por noite - esta cotação por norma inflacionada não garante as infra-estruturas, o requinte e qualidade de serviço dos melhores hotéis europeus ou norte-americanos.
Os hostels e youth hostels, tal como os conhecemos, são raros como os parques de campismo. Noutros lugares turísticos, as melhores soluções de estadia são frequentemente as posadas, que existem em grande quantidade e normalmente com vagas, com excepção para os fins de semana prolongados em redor de feriados importantes. Algumas posadas têm estilos próprios, por vezes, adequados aos lugares ou edifícios em que surgem, outras são meros caixotes de cimento. As posadas de nível inferior podem ter condições de higiene e conforto lastimáveis. Escolha o lugar em que vai ficar com atenção e tenha também em conta que abundam, na Venezuela, os bordéis, e os motéis sexuais que alugam quartos à hora mas podem não se escusar a alugar por uma ou mais noites a turistas que os visitem por engano.
Os preços das posadas variam em grande ordem, dos 7€ a 10€ por quarto duplo para as mais espartanas e incaracterísticas a 80€ a 90€ por noite em posadas históricas requintadas.
ALIMENTAÇÃO
Os restaurantes abundam, na Venezuela. Servem uma variedade de pratos e petisco que testemunham bem da riqueza étnica do país, que ao longo do tempo foi acolhendo imigrantes de todas as partes: espanhóis, italianos, portugueses, alemães, do Médio Oriente, chineses etc.
A forma menos dispendiosa de almoçar é pedir, num restaurante popular, um menu ejecutivo ou del dia, que inclui sopa e prato principal por 3€ a 5€. Como noutros lugares da América do Sul, algumas bancas de mercados têm para venda estes mesmos tipos de refeição ainda mais baratos.
Em qualquer restaurante, se pedir refeições à la carte, supostamente cozinhadas só para si, vão-lhe custar bastante mais. A Venezuela têm a sua dose de restaurantes independentes ou parte de hotéis mais sofisticados em que poderá encontrar buffets abastados mas dificilmente irá encontrar menu ejecutivo ou del dia. Nestes restaurantes, espere pagar de 20€ a 80€ por refeição completa, dependendo da reputação do lugar.
INTERNET
Nem todas as guest houses asseguram Wi-fi mas deve esperá-lo dos hotéis mais dispendiosos do país. Caso não tenha acesso gratuito onde ficou alojado, não deve ter dificuldade em achar um internet café com acesso a uma internet bastante aceitável. Muitas bibliotecas públicas e bares prestam este serviço, os bares cedem passwords a clientes.
Se pretende ter internet a toda a hora e é dono de um smartphone ou tablet desbloqueado ou de portátil e de uma pen (USB Stick), compre um cartão SIM venezuelano com minutos para chamadas e gigabytes para navegação incluídos.