Amigos descontraem à beira do canal de Oudezids, em pleno Red Light District de Amesterdão.
Amigos descontraem à beira do canal de Oudezids, em pleno Red Light District de Amesterdão.
As luzes escarlates do Sex Palace um dos estabelecimentos sexuais da Red Light District.
Decoração de um edifício nas imediações do Rijzksmuseum com uma ilustração de "Banquete da Guarda Civil de Amesterdão em Celebração da Paz de Munster" de Bartholomeus van der Helst.
Residente passa junto a uma das famosas assinaturas de design da cidade "I amsterdam".
Transeuntes contornam a Baba coffee shop, uma de muitas em Amesterdão.
Transeuntes aglomerados na base da estátua do Memorial Nacional, na praça Dam.
Vista do casario histórico de Amesterdão a partir do cimo da torre da Oudeskerk, a sua igreja e o seu edifício mais antigo.
Visitante de Amesterdão posa junto dos mosqueteiros na base da estátua do pintor Rembrandt van Rijn, da autoria de Louis Royer que se inspirou numa das obras mais famosas do pintor "A Ronda Nocturna".
Visitantes descem a rampa de um jardim inclinado nas imediações do Museu van Gogh.
Aviso disperso pela cidade alerta para o perigo da droga falsa e potencialmente mortal vendida por dealers enganados ou sem escrúpulos.
Amigos conversam entre um canal e uma sex shop do Red Light District.
Visitantes do Rijksmuseum de Amesterdão trepam as letras de uma das famosas sinaléticas "I amsterdam" da capital holandesa.
Linha de fachadas de casas históricas nas imediações da Grand Central Station de Amesterdão.
Crianças passam em frente de um painel ilustrado com a face de Vincent van Gogh que delimita obras de melhoramento do museu que foi dedicado à sua vida e obra.
Empregada prepara-se para abrir as portas de um bar na zona mais antiga de Amesterdão.
Amigos descontraem à beira do canal de Oudezids, em pleno Red Light District de Amesterdão.
Amesterdão, Holanda
Liberal no que a drogas e sexo diz respeito, Amesterdão acolhe uma multidão de forasteiros. Entre canais, bicicletas, coffee shops e montras de bordéis, procuramos, em vão, pelo seu lado mais pacato.
Marco C. Pereira
(texto)
e
Marco C. Pereira-Sara Wong
(fotos)
Durante um de vários pequenos-almoços à conversa, Michiel van Os, antigo docente universitário conceituado de história responde-nos com comoção contida e algum saudosismo: “eu reformei-me exactamente no famoso 11 de Setembro 2001. Durante o meu discurso de despedida, as pessoas pareciam algo agitadas mas só me contaram o que se tinha passado no fim do dia”. René, a esposa, terminou a carreira de juiz um mês depois. Não que se pudesse comparar ao cataclismo terrorista que arrasou as Torres Gémeas mas, por essa altura, o prédio em que viviam sofria os seus próprios danos estruturais, causados pelo afundamento do solo ensopado em que há muito se instalara Amesterdão.
Cada vez mais afectados também pela exigência das escadarias que tinham que vencer no dia-a-dia, os van Os encontraram uma alternativa mais que condigna no último andar duplex de um prédio do início do séc. XVII. Encantou-os a sua arquitectura histórica e a localização junto ao bairro de Jordaan, em frente à Westerkerk e à casa-museu de Anne Frank. O casal partilhou o privilégio de ali passar a viver, num domicílio elegante com muito de antiquário e de biblioteca, expressões harmoniosas de duas óbvias paixões, a leitura e o antigo. Nós, devido a relações quase familiares, vimo-nos prendados com alguns dias de acolhimento bondoso no seu lar secular. Há muito que não intuíamos o passar do tempo como por lá.
De noite, embalam-nos os tic-tacs de relógios vetustos, de corda e de cuco. Em simultâneo - ou quase - o tocar dos sinos de diversas igrejas em redor. De dia, inspeccionávamos a enorme fila de visitantes da casa de Anne Frank que, como uma espécie de ampulheta humana, víamos fluir do lado de lá do canal de Keisergracht, a partir da janela ampla do piso inferior do domicílio.
Durante a nossa estadia em Amesterdão, notícias frescas relataram que Annelies Marie Frank – o seu nome completo – teria sucumbido dois meses antes da data em que a sua morte ficou para a história, vítima de fome e de tifo, no campo de concentração alemão de Bergen Belsen. Hoje, num sacrifício paciente e apenas simbólico, centenas de pessoas esperam ao frio e à chuva para espreitarem o esconderijo que a família Frank construiu por detrás de uma estante no edifício em que o pai de Anne trabalhava. O abrigo serviu os propósitos até que foram atraiçoados, capturados e se juntaram aos milhões de vítimas do Holocausto.
Os bilhetes para visitar aquele esconderijo lúgubre estavam esgotados para vários dias. Como tal, passamos pela porta do edifício, prosseguimos para explorar o coração do bairro em tempos operário de Jordaan: o seu casario funcional e, ao longo dos canais, os barcos-casa elegantes em que muitos amesterdaneses se habituaram a viver.
Andamos pelo limiar do anel histórico e turístico da cidade mas as coffee shops sucedem-se em bom número e conferem às ruas e ruelas um aroma excêntrico com que só as frequentes casas de gaufres concorriam. Muitos moradores queixavam-se de que as primeiras lhes empestavam as casas.
Painéis electrónicos disseminados pela cidade alertavam para o perigo que os dealers de rua representam em Amesterdão: “Heroína Branca Vendida como Cocaína. Novembro passado, morreram três turistas.”
Acabamos por nos cruzar com a morte de forma ainda mais imprevista. Descansávamos na praça Dam, nas imediações de homens-estátua e outros personagens móveis, daqueles que ganham a vida a impingir fotografias com os transeuntes.
Entre eles, destacavam-se três ceifadeiras embrulhadas em túnicas negras, com máscaras de caveiras e munidas de gadanhas de plástico. Acredite-se ou não, estas empresárias macabras recrutavam interessados em grande número.
Um deles, de meia idade, aspecto e postura de rufia, fez a sua foto mas recusou-se a pagá-la. Discussão puxa discussão, eram já três as Mortes que, aliadas, se atiçavam ao homem. Este, mais que em boa saúde, em óptima forma, recuava mas, enquanto respondia verbalmente, também ripostava de punhos erguidos. A cena durou vários minutos, até que a polícia apareceu e pôs fim àquela que rotulámos como a briga mais absurda que alguma vez presenciámos.
Vamos para onde formos, o trânsito é tão organizado quanto possível mas, muitas das ruas estreitas que ladeiam os canais são partilhadas por carros, autocarros, eléctricos, motociclos, bicicletas e pedestres, os residentes e milhares de forasteiros que, pela semana da Páscoa, chegaram de todos os lados. Percorrê-las ou atravessá-las sem incidentes requer uma concentração permanente e uma gestão de movimentos perfeita. Nem assim, a coisa corria sempre bem. René, por exemplo, ainda se queixava de dores por um qualquer veículo todo-terreno lhe ter recentemente passado sobre um pé.
Chegamos ao núcleo histórico de Amesterdão com a noite a cair, meio enregelados, mas a salvo de incidentes. Espreitamos o seu libidinoso Red Light District, como é suposto. Imbuída da democracia pura e dura de que a Holanda tanto se orgulha, a cidade discutia, havia já bastante tempo, a permanência das prostitutas nas montras dos bordéis. Enquanto isso, hordas de turistas, muitos deles só sexuais, avaliavam os seus encantos. Outros, meros curiosos, tentavam fotografar as mulheres expostas mesmo contra a sua expressa vontade. Um aviso numa montra quase a paredes meias com a igreja protestante de Oude Kerk - o edifício e a igreja mais antiga de Amesterdão - com 800 anos alertava, em inglês: “As trabalhadoras do sexo não querem ser fotografadas. Não tire fotografias às janelas.” O website pic-amsterdam.com (PIC de Prostitute Information Center) que, fundado pela meretriz Mariska Majoor, promovia tours pelo Red Light District, workshops e outros negócios e iniciativas, complementava o alerta: ”o desrespeito pode dar origem a situações problemáticas para si e para a sua câmara. Lembre-se que muitas trabalhadoras do sexo levam uma vida dupla. As fotografias representam um perigo já que podem ser vistas por conhecidos ou invadirem a sua privacidade de outras formas”.
Mesmo assim, de quando em quando, em vez dos convencionais piscares de olho e outros esquemas mais arrojados de sedução de clientes, vemos e ouvimos mulheres escarlates ou arroxeadas baterem com as mãos com toda a força nos vidros, ou saírem para o exterior e tentarem intimidar os infractores com gritos enfurecidos e uma colecção de impropérios. Também ouvimos narrativas impressionantes de perseguições protagonizadas tanto por elas como pelos proxenetas.
Na tarde seguinte, ascendemos ao cimo torre do campanário da Oude Kerk. Daquele topo, apreciamos a 360º o casario antigo a perder de vista em grande parte poupado durante a 2ª Guerra Mundial – seria o porto de Roterdão a cidade holandesa mais fustigada. Durante a subida da escadaria escura, o guia lembra-nos que a cidade e a Holanda beneficiaram sobremaneira por terem acolhido os judeus expulsos da Ibéria pela Inquisição e que subsistem muitos seus habitantes com apelidos portugueses ou hispânicos. Ainda nos impinge que Portugal só não é parte da Espanha graças à Holanda. “Como é isso?” perguntamos intrigados a dobrar pela falta de contexto histórico da sua premissa. “Se não fosse a luta que nós lhes demos na Guerra dos Oito anos, vocês não se tinham conseguido livrar dos Filipes.” “Ah! Bem visto, bem visto!” apoiamo-lo sem reservas.
A Terra não pára.
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Como ir:
VISTOS E OUTROS PROCEDIMENTOS
Cidadãos da União Europeia necessitam apenas de um cartão de cidadão válido mas podem igualmente usar passaporte válido para entrar na Holanda. Cidadãos de outros países podem necessitar de um visto Schengen para entrarem na Holanda mesmo se apenas com fins turísticos.
CUIDADOS DE SAÚDE
Nenhuma vacina ou reforço são digno de registo para visitas à Holanda. Para mais informações sobre cuidados de saúde em viagens para em FitForTravel (em inglês).
Leve consigo o seu Cartão Europeu de Seguro de Doença para poder usufruir de cuidados de saúde a custo reduzido e com condições especiais, caso tenha algum problema inesperado.
VIAJAR PARA A HOLANDA
A TAP tem vários voos diários directos de Lisboa e do Porto para Amesterdão. Se adquirido com bastante antecedência e em alturas estratégicas, o voo de ida e volta pode ficar-lhe em pouco mais de 100€. Outras companhias com voos directos de Lisboa e/ou Porto para Amesterdão são a Easyjet, a Transavia e a Ryanair que voam de Lisboa e Porto para Eindhoven. Estas últimas têm, por norma, preços inferiores mas cobram extra por bagagem demasiado volumosa ou demasiado pesada que apenas a convencional de mão.
Explorar o destino:
A Holanda tem um sistema de transporte quase-perfeito que chega até às mais ínfimas povoações. Um cartão electrónico recarregável denominado OV Chipkaart pode ser adquirido e usado em diversos tipos de transporte.
VOOS INTERNOS
Devido à área reduzida do país, os voos domésticos comerciais nunca fizeram sentido dentro da Holanda e são, por norma, inexistentes.
COMBOIO
A base deste sistema é a rede ferroviária que é moderna, funcional mas algo dispendiosa, com o km a custar para cima de 0.25€. Os bilhetes devem ser adquiridos antes de entrar no comboio caso contrário podem custar-lhe o seu preço (sem descontos) mais 35€ de multa. Viajar de comboio do extremo norte do país ao sul demora cerca de 4 horas e meia.
Visitantes europeus interessados em explorar o máximo da Holanda (eventualmente também Bélgica e Luxemburgo) podem optar por adquirir o passe Inter Rail para a zona europeia correspondente. Cidadãos não europeus podem comprar o Eurail correspondente.
AUTOCARROS
A rede ferroviária é complementada com serviço de autocarros operados por diversas empresas.
METRO
Amesterdão e Roterdão têm metro. Amesterdão, Roterdão, Haia e Utrecht têm redes de eléctricos.
ALUGUER DE VIATURA
A Holanda também tem excelentes condições para se explorar de carro ou caravana mas tenha em conta que o estacionamento no centro das cidades pode ser escasso e muito dispendioso, 3€ a 8€ ou mais, por hora. Por este motivo, se planeia visitar apenas cidades, o carro nunca será uma boa opção.
Um carro mini ou económico pode custar tão pouco como 15€ por dia fora da época alta, ainda menos se o aluguer se estender por vários dias. Em época alta, os preços aumentam consideravelmente. Lembre-se ainda que a Holanda tem preços de combustíveis bastante elevados.
OUTROS
A bicicleta é um meio de transporte predominante na sempre plana Holanda com faixas dedicadas que não devem ser ocupadas ou percorridas por peões. O roubo de bicicletas é, todavia, um problema sério, em grande parte agravado pela acção de toxicodependentes. Use mais que um cadeado de tipos diferentes sempre fechados em volta de um poste ou outra estrutura urbana fixa e bem sólida. Caso se ausente por mais que um dia, guarde a sua bicicleta em parques guardados de estações de comboio, autocarro ou dos centros das cidades.
Meteorologia / Quando Ir:
Fim de Abril a fim de Setembro é o intervalo em que pode esperar temperaturas mais elevadas (máximas de 18º a 23º) e - mesmo longe de garantido - dias com sol.
A época alta vai de Junho a fim de Agosto.
A época baixa estende-se entre Novembro e Março quando as temperaturas se podem manter negativas e a chuva ou neve são muito prováveis e se podem revelar duradouras.
Dinheiro & Custos:
A moeda holandesa é o Euro (EUR). São abundantes por todo o país as caixas ATM. Os pagamentos com cartões de crédito são comuns em toda a parte. A Holanda tem um custo de vida bastante superior ao português e que, nas cidades e outras povoações mais turísticas, é grandemente inflacionado pela invasão de visitantes durante os meses de época alta.
ALOJAMENTO
Abunda em todas as formas e feitios principalmente nas cidades e povoações mais turísticas do país. O mais baratos são os Youth Hostels holandeses (conhecidos por Stay Okay) e os Bed & Breakfast. Os primeiros têm preços a começar próximo dos 15€ por noite, por pessoa nos quartos mais espartanos, com casa de banho partilhada. Os Bed & Breakfast são comuns tanto nas cidades como no campo e podem custar de 35€ a 150€ por noite, por pessoa, consoante a localização e a época do ano.
Tem-se popularizado também o aluguer de curta duração de apartamentos ou casas de particulares via sites especializados. Esta prática é muito popular na Holanda e, como tal, contempla todo o tipo de preços e condições. Os ciclistas ou quem explorar a Holanda a pé pode ainda recorrer a uma rede de alojamento em casas privadas com mais de 4000 moradas. Nesta rede chamada Vrienden op de Fiets, cada noite de estada custa a partir de 20€.
ALIMENTAÇÃO
A Holanda não é propriamente conhecida pela excelência da sua gastronomia nacional mas muitos pratos tradicionais são suficientemente interessantes para surpreender os visitantes mais curiosos. Nas maiores cidades e povoações vai encontrar abundância de restaurantes com especialidades europeias e de várias partes do mundo, incluindo indonésios - a Indonésia foi uma colónia holandesa - e dos territórios e ex-territórios holandeses das Caraíbas.
Na base da excelência culinária estão cadeias de snacks pronto a comer automáticos do estilo Febo onde por uns poucos euros pode comer uma refeição frita, quase sempre demasiado oleosa. No polo oposto, estão os melhores restaurantes sofisticados de Amesterdão e das outras principais cidades em que uma refeição pode custar várias centenas de euros.
INTERNET
Como país sempre na dianteira em termos tecnológicos, a Holanda tem uma Internet abundante, fiável e extremamente rápida. Ao contrário de outros países tecnologicamente avançados - por exemplo o Japão - quase todas as redes particulares e de negócios estão fechadas a detentores de passwords. A sua guest-house, pousada, hotel ou apartamento particular terá certamente uma rede para seu uso, caso contrário poderá usar um Smart Phone, Tablet ou portátil num café ou em zonas estratégicas que os municípios dotam de redes públicas. Mesmo assim, ainda resistem vários cibercafés nas cidades com custos de navegação médios de 1€ a 2€ por hora.
Em alternativa, compre um cartão SIM de um dos muitos operadores holandeses de telecomunicações e associe-e a um tarifário indicado para o seu tempo de estadia e território holandês visitado. O SIMs costumam ser gratuitos. Os tarifários são muitos e mudam a toda a hora mas podem considerar-se a par com o que é praticado um pouco por toda a Europa Ocidental.