Sirocco, de Tuuli e Kivi Sotamaa, na altura sobre a neve, parte do percurso artístico 'The Treasures of Arabia'.
Sirocco, de Tuuli e Kivi Sotamaa, na altura sobre a neve, parte do percurso artístico 'The Treasures of Arabia'.
‘The Arjen Palasia’ de Anne Siirtola, um painel feito com mosaicos antigos da fábrica Arabia.
Painel que anuncia uma exposição de Design durante o Helsínquia Capital do Mundo do Design.
Nativo de Helsínquia com visual gótico.
Linhas simples mas arrojadas do Museu de Arte Contemporânea Kiasma, criado pelo norte-americano Steven Holl.
Antiga fábrica de Arabia, no coração de um bairro de Design, por excelência.
Compradores e vendedores procuram bons negócios na feira da Ladra de Valtteri, onde são transaccionados inúmeros produtos com design clássico.
Estátuas art deco na fachada da estação de caminho de ferro de Helsínquia.
A obra usa fragmentos de porcelana de Arabia que a autora Anne Siirtola recolheu dos campos de Vanhankaupunginlahti em que eram colocados as sobras da fábrica.
Obra de inspiração histórica destacada desde 1943 da parede emblemática da fábrica de Arabia.
De nome completo, "Walls Speaking Walls, Summer Winters", trata-se de uma parede com inscrições de ciclistas de diferentes idades.
Pormenor das curvas escarlates de Sirocco, da autoria de Tuuli e Kivi Sotamaa e no centro de um bairro habitacional.
Da autoria de Markku Hakuri, esta obra também serve de varanda para os utilizadores da sauna comunal do edifício em que está instalada.
Rikhla é uma obra de arte temporária em destaque sobre uma plataforma de onde se avista o mar em redor do bairro de Arabia.
Sirocco, de Tuuli e Kivi Sotamaa, na altura sobre a neve, parte do percurso artístico 'The Treasures of Arabia'.
Helsínquia, Finlândia
Com parte do território acima do Círculo Polar Árctico, os finlandeses respondem ao clima com soluções eficientes e uma obsessão pela estética e pelo modernismo inspirada pela vizinha Escandinávia.
Marco C. Pereira
(texto)
e
Marco C. Pereira-Sara Wong
(fotos)
Quem chega à capital finlandesa por estes dias Invernais, gélidos e nevosos depressa desenvolve a impressão de que não há mais nada para fazer, de que é a única coisa que a cidade tem para mostrar. Em 2009, o Conselho Internacional das Sociedades de Design Industrial (ICSID) escolheu-a como a 3ª Capital Mundial do Design, após Turim (2008) e Seul (2010) e entre 46 cidades de 27 países. Helsínquia bateu Eindhoven na fase final e, apesar do título garantido, ao longo do ano do certame, manteve intacta a sua competitividade com a cooperação empenhada das 4 cidades parceiras: Espoo, Vantaa, Kauniainen e Lahti.
Já no balcão do turismo do aeroporto Helsinki-Vantaa tínhamos reparado na predominância incontornável de folhetos e brochuras sobre exposições, itinerários e eventos relacionados com o design. Na delegação do centro da capital, o paradigma repete-se reforçado com as indicações que as funcionárias de serviço fazem questão de prestar e desenvolver.
Se não os podes vencer, junta-te a eles. Na manhã seguinte acordamos com as galinhas para espreitar o Emma – Espoo Museum of Modern Art. Uma funcionária da municipalidade espera-nos à saída do autocarro e começa por se mostrar surpreendida “Ah são vocês. Tenho que confessar que não esperava que fossem. Estão vestidos como nós. Por norma, os jornalistas do sul da Europa aparecem-nos muito mal preparados para estas temperaturas, de calças de ganga e a tremer. “Rimo-nos com a honestidade da observação e trocamos mais alguns reparos humorísticos. Entretanto, Hanna Saari lembra-se da exigência da sua missão e atalha para um briefing exaustivo sobre o design finlandês e os seus últimos projectos. Desbobina frases intermináveis repletas de termos como sustentabilidade, integração, natureza, inovação, desenvolvimento e interacção e fá-lo de cor e salteado, fruto de um aturado estudo prévio e da repetição. Não lhe dizemos mas, entre nós, temos que ser tão honestos como ela. Toda aquela conversa soa-nos a nada. A confirmar as suspeitas, logo à terceira questão absolutamente leiga que lhe colocamos já se sente desconfortável. É suposto o design assegurar o oposto: “Sabem, assumi o cargo há pouco tempo. Ainda me estou a familiarizar com estas lógicas e terminologias. Vou ligar a um colega mais informado e já vos respondo a isso” diz-nos sem perder a compostura para logo dar ao dedo no ecrã táctil do terceiro iPhone com que traiu a pátria. Por nós, nem valia a pena. Só por si, as teorias do Design nunca nos levariam a lado nenhum. Queríamos ver soluções reais e peças revolucionárias. Para lá de tanto folheto e lengalenga, Helsínquia e as suas satélites estão cheias delas.
Encontramos a primeira no WeeGee Exhibition Center – o edifício recuperado de uma velha e gigantesca gráfica - organizada sob o conceito de DesignEspoo!, em redor da maquete urbanística daquela cidade e com um espaço dedicado à participação activa dos moradores que são convidados a deixar sugestões inovadoras num painel já repleto de post-its coloridos. Há imagens da casa-OVNI Futuro, uma habitação desenhada por Matti Suuronen com objectivo de produção em massa, com fé inabalável num porvir tecnológico, aprazível e nómada, também na conquista do Espaço. Até que, a meio da década de 70, a Crise do Petróleo fez os preços dos combustíveis disparar e, com eles o do plástico. A Futuro foi retirada do mercado mas, hoje, cerca de 50 exemplares subsistem um pouco por todo o mundo. A 001 pertence a Espoo.
O céu azul instala-se e o frio intensifica-se com a brisa húmida e veloz que o Golfo da Finlândia lança sobre a cidade. Fazemo-nos fortes e exploramos o epicentro do estilo da capital, Punavuori, um bairro actualmente etiquetado como o seu Design District nem que seja porque concentra mais de 150 bares, cafés, restaurantes e ateliers com decorações, ambientes e objectos originais num grelha de ruas que se estende da avenida central de Mannerheimintie até aos antiquários do porto e à Feira da Ladra de Hietalahti.
Nos anos 70, os criadores finlandeses pegaram no design dinamarquês e no sueco como exemplos e desenvolveram as suas próprias marcas e uma identidade nacional com expoente na figura histórica de Alvar Aalto, autor premiado de dezenas de edifícios revolucionários da Finlândia e do Mundo e de várias peças premiadas.
Os produtos que encontramos um pouco por todo o lado, de cadeiras de pé alto excêntricas até chaleiras minimais têm preços a condizer com esta distinção que aparecem sempre marcados em Euros. Se não se é escandinavo, russo multimilionário ou finlandês, dificilmente se encontra uma pechincha. Felizmente tornámo-nos numa espécie de nómadas modernos. Damos mais valor à descoberta que ao conforto e às soluções domiciliárias e encaramos esta atmosfera helsinquiana como uma de tantas realidades do Mundo, não como uma oportunidade comercial.
Conhecemos, no entanto, os limites da razoabilidade. O pequeno-almoço buffet do hotel Sokos Vaakuna é diversificado, nutritivo, robusto e, claro está, servido em decoração, mobiliário, loiça e utensílios com design finlandês. Mas não disfarça as dores que se formaram durante a noite e nos apoquentam. Estamos habituados a este tipo de problemas nos países menos desenvolvidos e quando o quarto custa uma bagatela. Não é o caso e temos mais 4 noites pela frente. Antes de sairmos para a rua escolhemos o alvo entre os empregados alinhados atrás do balcão e refilamos com a melhor disposição possível: “Desculpe, mas há aqui qualquer coisa que não estamos a perceber. Passamos o dia todo a ver design nesta cidade e o vosso hotel obriga-nos a dormir sobre um colchão que afunda e nos arruína as costas? Faça-nos lá o favor de trocarem a cama ou coisa assim.” O recepcionista alourado sorri e mantém a dignidade. Dá-nos a ideia que já ouviu a queixa centenas de vezes. A resposta deixa-nos desarmados: “Infelizmente todos os nossos colchões são assim. É um modelo novo, americano. Custaram um balúrdio mas reconheço que muitos dos clientes não os apreciam. Acho que não vos posso ajudar.”
Helsínquia tinha borrado ligeiramente a pintura. Ainda assim, deixamos a persistência para mais tarde.
Logo ao lado do hotel, gigantes de granito iluminam e protegem a estação central de comboios desenhada por Eliel Saarinen. Diz-se que inspiraram visuais de Gotham City no primeiro filme da saga Batman. Ali próximo, damos com as formas pouco ortodoxas do museu Kiasma que abriga nova galeria de arte moderna. Segue-se o eloquente Concert Hall e, no extremo oposto do lago central gelado, vislumbramos outra das criações de Aalto, o Estádio Olímpico da capital.
Em 1965, o território soviético era inacessível aos realizadores norte-americanos. Enquanto admiramos o pragmatismo de regra e esquadro da Praça do Senado, percebemos porque serviu para fazer de São Petersburgo no clássico de David Lean, Doutor Jivago. Há muita mais arquitectura divinal para explorar em redor mas, nessa tarde, mudamo-nos para a periferia em busca de uma Arabia local.
Mal saímos do autocarro, detectamos ao fundo a chaminé emblemática do edifício da velha fábrica homónima de porcelana, faiança e barro, inaugurada em 1873 e que, à laia de Vista Alegre, conquistou um lugar especial no coração suomi. Nos dias que correm, o prédio rejuvenescido e alguns edifícios complementares acolheram uma panóplia de pequenas lojas de design, uma biblioteca e a Escola Universitária de Arte e Design de Aalto. O bairro Arabiakeskus e a vizinhança abrigam ainda restaurantes, cafés e alguns dos domicílios mais bem equipados de toda a Finlândia. Ao mesmo tempo, revela-se um museu ao ar livre que nos propõe uma espécie de prova de orientação artística. Munidos de um mapa e ao longo de duas horas, tentamos detectar na paisagem urbana e examinar 24 obras criadas e instaladas por personagens famosas dos vários ramos da arte. Em jeito de confirmação e de recordação, fotografamos cada um dos achados, das Pedras Mágicas à Beira Mar aos pequenos Pássaros Viikki camuflados contra uma parede do mesmo tom, passando pelo parque Tapio Wirkkala desenhado pelo americano Robert Wilson.
A noite põe-se, o frio volta a apertar e a neve cai em abundância. Regressamos da Arabia enregelados e recuperamos a temperatura e as energias num café lounge do centro com estilo irrepreensível. É nestas alturas que o prodigioso design finlandês faz mais sentido.
A Terra não pára.
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VISTOS E OUTROS PROCEDIMENTOS
Cidadãos portugueses só necessitam de mostrar cartão de cidadão para entrar na Finlândia. Cidadãos brasileiros devem estar munidos de passaporte mas não necessitam de visto.
CUIDADOS DE SAÚDE
Nenhuma vacina ou profilaxia é normalmente considerada indispensável para a Finlândia.
Se visitar a Finlândia - e principalmente a Lapónia finlandesa - durante o pino do Inverno, assegure-se de que está fisicamente em condições e leva a roupa e o equipamento necessário. Nos dias mais frios da Lapónia Finlandesa, as temperaturas caem facilmente abaixo dos -30ºC.
Leve consigo o seu Cartão Europeu de Seguro de Doença para poder usufruir de cuidados de saúde a custo reduzido e com condições especiais, caso tenha algum problema inesperado.
Para mais informações sobre saúde em viagem, consulte o Portal da Saúde do Ministério da Saúde e Clínica de Medicina Tropical e do Viajante. Em FitForTravel encontra conselhos de saúde e prevenção de doenças específicas de cada país (em língua inglesa).
VIAGEM PARA A FINLÂNDIA
A TAP (tel.: 707 205 700) voa várias vezes por semana directamente, de Lisboa para Helsínquia, por a partir 200€ ida e volta.
Explorar o destino:
VOOS INTERNOS
A principal companhia dos voos domésticos finlandeses é a Finnair que têm preços normais elevados para os seus percursos. A Finnair também lança Happy Hours em que os voos descem consideravelmente de valor com descontos massivos para as crianças - até 70% - e adolescentes. As Happy Hours têm lugar com bastante antecedência face à data da viagem e duram pouco tempo.
A principal companhia aérea Low Cost é a Blue1. À data deste texto, voava de Helsínquia para Kuopio, Oulu, Rovaniemi e Vaasa.
Com a devida antecedência, em certos períodos, é possível comprar o trecho Helsínquia-Rovaniemi por apenas 50€ ou 60€, mais barato que o bilhete de comboio.
COMBOIO
Os comboios finlandeses Valtion Rautatiet VR são modernos, funcionais, pontuais e uma excelente alternativa aos aviões. Funcionam com 1ª e 2ª classe, com compartimentos sentados e cama. Um bilhete de ida-e-volta custa em média 20€ e 14€ por 100km respectivamente em 1ª e 2ª classe. Crianças abaixo de 17 anos pagam meio-bilhete e abaixo de 6 anos de graça mas sem lugar próprio.
AUTOCARRO
À imagem dos comboios, os autocarros são rápidos, confortáveis, funcionais e mais convenientes que os comboios para viajar entre pequenas povoações. Os bilhetes dos autocarros de longa-distância e expressos são operados de forma muito funcional pela empresa Matkahuolto.
BARCO
Aplica-se essencialmente para travessia de rios e lagos e basta olhar para o território finlandês no mapa para ver que a Finlândia está repleta deles. Centenas de barcos com percursos a ligar várias povoações nas margens destes lagos permitem, também aos visitantes estrangeiros que o desejarem, percorrer, dessa forma, grande parte do território do país. As rotas mais emblemáticas são Tampere-Hämeenlinna, Savonlinna- Kuopio, Lahti-Jyväskylä e Joensuu- Koli-Nurmes.
Vários tipos de ferries ligam distintas povoações e ilhas - em especial em redor de Turku - e a província de Aland. Outras rotas marítimas importantes são a curtíssima Helsínquia-Suomenlinna, Turku-Naantali e Helsinki-Porvoo.
ALUGUER DE VIATURA
Alugar e conduzir um carro na Finlândia é tão simples como dispendioso. Um pequeno utilitário custa a partir de 60€ por dia com 100km incluídos e, por norma, um valor em cêntimos por cada km extra percorrido ou 80€ a 90€ com km ilimitados. Na Finlândia, compensa sobremaneira partilhar o aluguer com mais viajantes. Mesmo com as estradas completamente geladas, a cada vez maior sofisticação dos pneus para neve e gelo, faz com que - travagens repentinas à parte - conduzir no Inverno finlandês seja mais simples do que parece.
Meteorologia / Quando Ir:
A Finlândia é um destino para quase todo o ano. Excepção terá que ser feita ao período entre fim de Novembro a meio de Março quando o frio está no seu pior - até -40ºC na Lapónia Finlandesa, quase garantidamente abaixo de 0ºC em Helsínquia. O período diário de luz é o mais curto, com a escuridão a instalar-se às 15 horas em Helsínquia e a durar 20 a 22 das 24 horas nas latitudes bem mais elevadas de Rovaniemi e principalmente Inari .
Os meses de equinócio de Setembro e Março são considerados os melhores para admirar as auroras boreais acima do Círculo Polar Árctico mas pode sempre vê-las em Agosto e fim de Abril.
O Outono finlandês inclui outro período - curto e normalmente sem neve - muito interessante para visitar o país, são os dias de folhagem amarelo-dourada a que os finlandeses chamam ruska. Dependendo da latitude no país e das condições meteorológicas pode ter lugar em qualquer altura de Setembro a meio de Outono.
O fim da Primavera e o Verão trazem temperaturas mais acolhedoras. De uma forma bem distinta, são outras boas alturas para explorar a Finlândia.
Mais informações em Finish Meteorological Institute, Auroras Now e Service Aurora
Dinheiro & Custos:
A moeda da Finlândia é o Euro (EUR). A Finlândia é um dos países mais dispendiosos da Europa, mesmo se não tão cara como os vizinhos escandinávos a oeste. São abundantes as caixas ATM e generalizados os pagamentos com cartão de crédito e débito.
ALOJAMENTO
Os hotéis e hostels mais baratos custam 50€ por noite por quarto duplo, os hotéis considerados médios começam nos 100€ por noite, parques de campismo cobram de 10€ a 20€ por tenda, por noite. No polo oposto, os melhores hotéis de gelo da Lapónia Finlandesa cobram muitas centenas de euros por noite.
ALIMENTAÇÃO
A alimentação está a par com o alojamento. Onde quer que seja, terá muita dificuldade em pagar menos de 25€ - 30€ por uma refeição completa. Os alimentos nos supermercados são caros.
INTERNET
Rápida e muito funcional até mesmo nos extremos desolados da Lapónia finlandesa. É muito provável que tenha ligações gratuitas um pouco por todo o lado incluindo quase todas as bibliotecas públicas do país. Os internet cafés não são comuns num país em que os habitantes têm sempre internet em casa, no trabalho e nos seus telefones.