Luz solar faz destacar a Fajã dos Vimes da costa sul de São Jorge.
Rosais
Contraste dramático na Ponta Ocidental da longilínea São Jorge.
Fajã do Ouvidor
Luz solar faz destacar o casario da Fajã do Ouvidor.
Manada Ensopada
Manada de vacas frisias sob um dos frequentes aguaceiros da ilha de São Jorge.
Pico da Boa Esperança
Marco C. Pereira e Sara Wong à beira de uma das lagoas do Pico da Boa Esperança.
Abençoado Declive
Torre da igreja da Fajã de São João, a leste da de Vimes.
Capuchinho Azul
Sara Wong caminha entre os cedros da floresta de Sete Fontes, em Rosais.
Ocaso bovino
Vacas pastam contra a derradeira luz do dia.
A Calheta
Casario de Calheta, apertado entre a falésia sul de São Jorge e o oceano.
Ponta de Rosais
Farol da Ponta de Rosais visto da Vigia da Baleia local.
Ocaso sobre o gado
Sol prestes a por-se a ocidente de São Jorge e dos Açores.
Calheta
A vila de Calheta na base de uma fajã estreita.
Vista para o sul do Leste
Um de muitos chafarizes de São Jorge, distrai do cenário grandioso do sul da ilha.
Curto Descanso
António Correia e Luís Azevedo numa curta pausa de trabalho rural num prado inclinado.
O Portão do Mar
Vulto cruza o Portão do Mar na beira-mar de Velas.
Incenseiro de Vimes
Incenso numa plantação da Fajã de Vimes.
À Luz de Velas
Iluminação artificial faz resplandecer o casario de Velas, a capital de São Jorge.
Abundam, nos Açores, faixas de terra habitável no sopé de grandes falésias. Nenhuma outra ilha tem tantas fajãs como as mais de 70 da esguia e elevada São Jorge. Foi nelas que os jorgenses se instalaram. Nelas assentam as suas atarefadas vidas atlânticas.
Texto: Marco C. Pereira
Imagens: Marco C. Pereira-Sara Wong
A primeira vez que sobrevoámos o Grupo Central açoriano, sentados à janela, reparámos em dois atributos.
A montanha cónica do Pico, tecto de Portugal, muito acima do plano médio em que assenta o triângulo insular. Do outro lado do mais longo dos canais, uma ilha longilínea, escarpada como nenhuma outra, uma gigantesca e verdejante nau da Terra por ali ancorada, com 54 km de comprimento por 7km de largura. Sobressaiam ainda várias das fajãs de São Jorge.
Não era esse o caso, mas, sempre que São Jorge é o destino final, ao fazer a sua aproximação à pista, o avião orienta-se a duas delas, a da Queimada e a de Santo Amaro.
A primeira vez que desembarcamos em São Jorge, deixamos o ferry oriundo de São Roque, destinado ao cais da Vila das Velas, a capital, também ela no fundo de um enorme declive.
Os vários dias na ilha, passamo-los sob esta ditadura geológica, entre as alturas da ilha e os seus acrescentos, fossem gerados por colapsos das vertentes ou por escoamentos ancestrais de lava.
Os Tempos de Incerteza da Descoberta e da Colonização
Malgrado a configuração, à primeira vista, desafiante de São Jorge, a Vila de Velas comprova o êxito da colonização local, com mais de meio milénio.
Foi inaugurada trinta anos após o descobrimento da ilha que se crê ter ocorrido por volta de 1439, mesmo que não se saiba ao certo quando se deu o primeiro avistamento e quem foi o marinheiro autor.
Os quase dois mil moradores de Velas habitam um casario prolífico que, com o tempo, ocupou a maior das áreas planas da ilha, na extensão de uma enseada generosa, favorável à ancoragem.
De 1470 em diante, as embarcações não mais pararam de chegar e zarpar, não tarda, incumbidas de carregar, destinados a Portugal Continental e ao norte da Europa, vinho, milho, inhame, pastel-dos-tintureiros e urzela.
À imagem do que aconteceu nas vizinhas ilhas do Pico e do Faial, parte dos colonos de São Jorge chegaram da Flandres. Deles se destacou o nobre Willem van der Haegen, cuja complexidade do nome justificou que o aportuguesassem para Guilherme da Silveira.
As Velas das Naus, e a Vila das Velas
As velas de tais embarcações terão, com forte probabilidade, inspirado o baptismo popular da Vila de Velas, se bem que coexistam diversas outras hipóteses.
São, algumas, a distorção de “belas”, a simples adaptação do nome de uma terra do Continente português ou até origem numa expressão derivada do “velar” sinónimo de vigiar, fosse a passagem de baleias, fosse a actividade vulcânica que, como veremos adiante, se veio a revelar um sério obstáculo à constância e paz do assentamento.
Caminhamos pelas ruas de Velas, do seu Portão do Mar para cima.
Admiramos a elegância açoriana da vila, abençoada como é suposto, por um templo do Senhor condigno, neste caso, a sua Igreja Matriz.
A inclinação do terreno pouco ou nada obstou à harmonia do casario, espaçado, polido, em certos pontos até resplandecente de cor, como em redor do Jardim da Praça da República, com coração no seu coreto escarlate.
Haveríamos de voltar a Velas dia após dia.
Com toda São Jorge por desvendar, fizemo-nos à estrada e à ladeira sinuosa que sobe do limiar da povoação às alturas da ilha.
No tempo que decorrera desde a travessia do Pico, uma tal de tempestade Bárbara afectava o Continente. Como o víamos, ou era outra que sobre nós se intensificava, ou chegava com tal nível de barbaridade que atormentava em simultâneo os Açores.
Quanto mais ascendemos na ilha e perdemos a protecção do seu Sul mais sentimos a força do vento. Avolumava-se em nós a curiosidade quanto à vertente setentrional de São Jorge.
Umas rabanadas invernosas e aguaceiros imprevisíveis, não chegariam para nos intimidar.
Barrados pela passagem de uma manada extensa de vacas frísias, deixamos a estrada N1.
Metemo-nos numa outra que, perdida em pastos e rectângulos agrícolas murados, intersecta a ilha.
A Visão Deslumbrante da Fajã do Ouvidor
Numa quase diagonal sinuosa, contornamos o domínio repleto de caldeiras do Pico da Boa Esperança (1053 m, maior elevação da ilha) e prosseguimos para Norte Grande. No limiar norte desse Norte, damos com o cimo e com o miradouro que procurávamos, o da Fajã do Ouvidor.
Por diante, mas cerca de 400 metros abaixo, destacava-se da ilha uma sua adenda. O nome da fajã advém de, nos tempos idos da colonização, ter sido seu proprietário Valério Lopes de Azevedo, o Ouvidor do Capitão Donatário de então.
Não obstante uma cobertura densa de ervado agrícola, a lava negra e sulcada a descoberto na orla do mar, parecia comprovar uma origem em escoadas lávicas. Uma vez solidificada e erodida, moldaram-se nela diversas piscinas marinhas naturais nessa altura, invadidas e batidas pelas vagas aumentadas pelo vento.
O factor balnear da fajã do Ouvidor faz com que, nos meses de Verão, seja uma das mais concorridas da ilha. As casas mais modernas ameaçam suplantar em número as de construção tradicional.
Por outro lado, malgrado durante quase todo o ano ser usada pelos agricultores da zona, com o Estio, chegam dezenas de famílias de férias.
O Café, o restaurante e, se for caso disso, até a discoteca abrem.
A Ouvidor ganha outra vida.
A Sequência Deslumbrante de Fajãs da Costa Norte
Do cimo do Miradouro, olhando a leste, vislumbrávamos também os contornos da fajã mais próxima, a da Ribeira da Areia. Logo, menos óbvias, a do Mero, a da Penedia, a das Pontas.
Mais distante, pronunciada sobre o Atlântico, em forma de vulcão achatado, distinguíamos ainda a dos Cubres, senhora de uma fascinante lagoa de água salobra, vulnerável às marés mais cheias e às vagas fortes das tempestades.
A Fajã dos Cubres é ainda o ponto de partida de uma caminhada deslumbrante à vizinha Fajã da Caldeira do Santo Cristo a que dedicaremos o seu próprio artigo. Até lá, regressemos às terras cimeiras de São Jorge.
Voltamos a atravessar para a costa sul onde descemos para a Calheta, a vizinha de Velas.
Já como vila, continuou a contribuir para a colonização e o desenvolvimento da ilha que não evitou um progressivo decréscimo populacional.
Calheta: há Séculos na Calha da Vila de Velas
Passada a segunda metade do século XIX, a Calheta, em particular, tinha quase 8400 habitantes. Em 2011, contava com 3773.
Como seria de esperar, a vila passou pelas mesmas provações que Velas. Ataques de piratas e corsários, sismos – com destaque para o “Mandado de Deus” de 1757 – derrocadas e maremotos inundantes como o de Outubro de 1945.
Hoje, protege a Calheta do Atlântico o término áspero de uma torrente lávica pré-histórica e um muro que a municipalidade lhe acrescentou como limite extra da marginal.
Chegamos ao limiar leste da sua enseada e porto. Espreitamos a antiga fábrica de conservas Marie d’Anjou, recém-transformada no Museu da Ilha.
Sentimos o pulso ao dia-a-dia da povoação, após o que voltamos a ascender a vertente jorgense.
De Volta ao Cimo, Rumo à Ponta Leste de São Jorge
Retomamos o rumo para o oriente da ilha, sempre atentos ao mapa, em busca das fajãs na sua base. Pelo caminho, deliciamo-nos com a sucessão de chafarizes seculares da ilha, todos marcados com as iniciais O.P. (obras públicas), e o ano da sua construção.
Um deles, de pedra vulcânica dourada pelo tempo, parecia querer distrair-nos da obra de arte natural que se estendia por detrás: o resto verdejante e abrupto da ilha, desdobrado em três grandes recortes de falésias meridionais.
Um meandro da estrada leva-nos à base de uma encosta resplandecente, verdejante e salpicada por pedras de um velho moinho de água. Uns quilómetros para diante, um novo miradouro revela-nos nova fajã, a de Vimes.
O Café Prodigioso da Fajã de Vimes
Ziguezagueamos a favor da gravidade, até desembocarmos no seu litoral humanizado. Mesmo se o dia continuava ventoso e fresco, o cenário acima tinha o seu quê de quase tropical. De tal maneira que em termos vegetais e rurais, o produto estrela da Fajã de Vimes é o café.
Metemo-nos por um trilho pedregoso acima. Não tarda, entre muros e uma quase selva açoriana, identificamos as suas bagas, por essa altura, amareladas de verdes.Tentávamos ainda perceber a configuração caótica da plantação, quando o céu plúmbeo nos soltou um dilúvio em cima. Corremos para a beira-mar.
Logo, desviamos para um estabelecimento. Já encharcados, mas em boa-hora, refugiamo-nos no Café Nunes. Ao balcão, Sr. Nunes, o próprio, dá-nos as boas-vindas. “Mas podiam ter-se metido no carro e traziam-no aqui até à porta.”
Agradecemos-lhe a atenção, pedimos dois cafés e queijadas para acompanhar. “E que tal? É especial, não é?” Expressamos ao Sr. Nunes a nossa concordância.
Ele, retorque com preocupações justificadas com o futuro do seu negócio. “Eu tenho cada vez menos saúde para tratar da plantação e não posso pagar para a manterem. O mato, ali, volta a crescer nuns poucos dias. O meu filho é arquitecto, a minha filha trabalha no turismo. Sobra-lhes pouco tempo. Mesmo assim, o ano passado conseguimos colher uma boa tonelada de café, arábica e do melhor!”
A conversa dura bem mais que a chuva. Amornados pelo calor do acolhimento, despedimo-nos.
Em Busca do Topo de São Jorge
Retornamos à estrada principal no cimo da falésia. Da qual, descemos à fajã de São João, onde, por algum tempo, a esplanada da pitoresca taberna Águeda nos serve de pouso.
Logo, visamos o extremo sudeste de São Jorge, ponta que os seus ilhéus chamam de Topo, e povoação senhora de um Império do Espírito Santo amarelo-vermelho dos mais elegantes que encontrámos por terras dos Açores.
Tudo, por estes lados, é conotado com o apogeu. Desviamos para o farol da Ponta do Topo.
Chegados à finisterra jorgense abaixo, ficamos a admirar a fúria com que o Atlântico castigava a costa em redor e, ao largo, o excêntrico Ilhéu do Topo.
Revertemos no itinerário.
Cumpridos 40km opostos da EN2 de São Jorge, chegamos a terras de Urzelina.
Damos com o que sobra da velha igreja local, a sua torre sineira.
Do Evento Vulcânico Inesperado de Urzelina à Vastidão da Ponta dos Rosais
Em 1808, uma inesperada erupção do vulcão de Urzelina arrasou boa parte da povoação, mas não só. A sua lava fluiu encosta abaixo. Só se deteve após acrescentar um V lávico bem aberto ao sopé da ilha.
A erupção fez os moradores fugirem em pânico.
Na narrativa mais fidedigna do evento, o Padre João Ignácio da Silveira, conta que as freiras de Velas se refugiaram na igreja de Rosais. Seguimos-lhe os passos.
Cruzamos a floresta de cedros lúgubre e húmida de Sete Fontes.
Do lado oposto, encaramos a ponta de São Jorge oposta à do Topo e uma imensidão de retalhos agrícolas ainda fustigados pelo vendaval.
O farol abandonado de Rosais e a Vigia da Baleia que também olha pelas suas ruínas foi tanto quanto pudemos explorar do extremo ocidental intrigante de São Jorge.
Por um mero capricho vulcânico, o mais jovem retalho açoriano projecta-se no apogeu de rocha e lava do território português. A ilha do Pico abriga a sua montanha mais elevada e aguçada. Mas não só. É um testemunho da resiliência e do engenho dos açorianos que domaram esta deslumbrante ilha e o oceano em redor.
Uma biosfera imaculada que as entranhas da Terra moldam e amornam exibe-se, em São Miguel, em formato panorâmico. São Miguel é a maior das ilhas portuguesas. E é uma obra de arte da Natureza e do Homem no meio do Atlântico Norte plantada.
Foi a primeira do arquipélago a emergir do fundo dos mares, a primeira a ser descoberta, a primeira e única a receber Cristovão Colombo e um Concorde. Estes são alguns dos atributos que fazem de Santa Maria especial. Quando a visitamos, encontramos muitos mais.
Foi chamada Ilha de Jesus Cristo e irradia, há muito, o culto do Divino Espírito Santo. Abriga Angra do Heroísmo, a cidade mais antiga e esplendorosa do arquipélago. São apenas dois exemplos. Os atributos que fazem da ilha Terceira ímpar não têm conta.
Onde, para oeste, até no mapa as Américas surgem remotas, a Ilha das Flores abriga o derradeiro domínio idílico-dramático açoriano e quase quatro mil florenses rendidos ao fim-do-mundo deslumbrante que os acolheu.
A comunidade mundial de velejadores conhece bem o alívio e a felicidade de vislumbrar a montanha do Pico e, logo, o Faial e o acolhimento da baía da Horta e do Peter Café Sport. O regozijo não se fica por aí. Na cidade e em redor, há um casario alvo e uma efusão verdejante e vulcânica que deslumbra quem chegou tão longe.
De uma costa da ilha à opostoa, pelas névoas, retalhos de pasto e florestas típicos dos Açores, desvendamos o Faial e o Mistério do seu mais imprevisível vulcão.
Por fim, desembarcarmos na Graciosa, a nossa nona ilha dos Açores. Mesmo se menos dramática e verdejante que as suas vizinhas, a Graciosa preserva um encanto atlântico que é só seu. Quem tem o privilégio de o viver, leva desta ilha do grupo central uma estima que fica para sempre.
17 km2 de vulcão afundado numa caldeira verdejante. Uma povoação solitária assente numa fajã. Quatrocentas e trinta almas aconchegadas pela pequenez da sua terra e pelo vislumbre da vizinha Flores. Bem-vindo à mais destemida das ilhas açorianas.
Curva atrás de curva, túnel atrás de túnel, chegamos ao sul solarengo e festivo de Paul do Mar. Arrepiamo-nos com a descida ao retiro vertiginoso das Achadas da Cruz. Voltamos a ascender e deslumbramo-nos com o cabo derradeiro de Ponta do Pargo. Tudo isto, nos confins ocidentais da Madeira.
A jornada começa com uma aurora resplandecente aos 1818 m, bem acima do mar de nuvens que aconchega o Atlântico. Segue-se uma caminhada sinuosa e aos altos e baixos que termina sobre o ápice insular exuberante do Pico Ruivo, a 1861 metros.
Descoberta durante uma volta do mar tempestuosa, Porto Santo mantem-se um abrigo providencial. Inúmeros aviões que a meteorologia desvia da vizinha Madeira garantem lá o seu pouso. Como o fazem, todos os anos, milhares de veraneantes rendidos à suavidade e imensidão da praia dourada e à exuberância dos cenários vulcânicos.
Chegamos à (i) eminência da Galiza, a 1000m de altitude e até mais. Castro Laboreiro e as aldeias em redor impõem-se à monumentalidade granítica das serras e do Planalto da Peneda e de Laboreiro. Como o fazem as suas gentes resilientes que, entregues ora a Brandas ora a Inverneiras, ainda chamam casa a estas paragens deslumbrantes.
Deixamos as fragas da Srª da Peneda, rumo a Arcos de ValdeVez e às povoações que um imaginário erróneo apelidou de Pequeno Tibete Português. Dessas aldeias socalcadas, passamos por outras famosas por guardarem, como tesouros dourados e sagrados, as espigas que colhem. Caprichoso, o percurso revela-nos a natureza resplandecente e a fertilidade verdejante destas terras da Peneda-Gerês.
Prosseguimos num périplo longo e ziguezagueante pelos domínios da Peneda-Gerês e de Bouro, dentro e fora do nosso único Parque Nacional. Nesta que é uma das zonas mais idolatradas do norte português.
Mudamo-nos das Terras de Bouro para as do Barroso. Com base em Montalegre, deambulamos à descoberta de Paredes do Rio, Tourém, Pitões das Júnias e o seu mosteiro, povoações deslumbrantes do cimo raiano de Portugal. Se é verdade que o Barroso já teve mais habitantes, visitantes não lhe deviam faltar.
No seu recanto nordeste, Porto Santo é outra coisa. De costas voltadas para o sul e para a sua grande praia, desvendamos um litoral montanhoso, escarpado e até arborizado, pejado de ilhéus que salpicam um Atlântico ainda mais azul.
A Madeira está situada a menos de 1000km a norte do Trópico de Câncer. E a exuberância luxuriante que lhe granjeou o cognome de ilha jardim do Atlântico desponta em cada recanto da sua íngreme capital.
Inóspita, de tons ocres e de terra crua, a Ponta de São Lourenço surge, com frequência, como a primeira vista da Madeira. Quando a percorremos, deslumbramo-nos, sobretudo, com o que a mais tropical das ilhas portuguesas não é.
Surpreendemo-nos, na maior ilha dos Açores, com uma caldeira retalhada por minifúndios agrícolas, massiva e profunda ao ponto de abrigar dois vulcões, uma enorme lagoa e quase dois mil micaelenses. Poucos lugares do arquipélago são, ao mesmo tempo, tão grandiosos e acolhedores como o verdejante e fumegante Vale das Furnas.
Situada sobre a antiga Rota da Seda, Bukhara desenvolveu-se desde há pelo menos, dois mil anos como um entreposto comercial, cultural e religioso incontornável da Ásia Central. Foi budista, passou a muçulmana. Integrou o grande império árabe e o de Gengis Khan, reinos turco-mongois e a União Soviética, até assentar no ainda jovem e peculiar Uzbequistão.
Durante um périplo de baixo a cima do (lago) Malawi, damos connosco na ilha de Likoma, a uma hora de barco do Nkwichi Lodge, o ponto de acolhimento solitário deste litoral interior de Moçambique. Do lado moçambicano, o lago é tratado por Niassa. Seja qual for o seu nome, lá descobrimos alguns dos cenários intocados e mais impressionantes do sudeste africano.
Passada a época das chuvas, o minguar do grande rio na fronteira com a Zâmbia lega uma série de lagoas que hidratam a fauna durante a seca. O Parque Nacional Mana Pools denomina uma região fluviolacustre vasta, exuberante e disputada por incontáveis espécimes selvagens.
Sem que estivéssemos avisados, confrontamo-nos com uma subida que nos leva ao desespero. Puxamos ao máximo pelas forças e alcançamos Ghyaru onde nos sentimos mais próximos que nunca dos Annapurnas. O resto do caminho para Ngawal soube como uma espécie de extensão da recompensa.
Só por si, Lanzarote seria sempre uma Canária à parte mas é quase impossível explorá-la sem descobrir o génio irrequieto e activista de um dos seus filhos pródigos. César Manrique faleceu há quase trinta anos. A obra prolífica que legou resplandece sobre a lava da ilha vulcânica que o viu nascer.
Kalsoy é uma das ilhas mais isoladas do arquipélago das faroés. Também tratada por “a flauta” devido à forma longilínea e aos muitos túneis que a servem, habitam-na meros 75 habitantes. Muitos menos que os forasteiros que a visitam todos os anos atraídos pelo deslumbre boreal do seu farol de Kallur.
Chega a Setembro e os chineses de todo o mundo celebram as colheitas, a abundância e a união. A enorme sino-comunidade de São Francisco entrega-se de corpo e alma ao maior Festival da Lua californiano.
O chanceler Bismarck sempre desdenhou as possessões ultramarinas. Contra a sua vontade e todas as probabilidades, em plena Corrida a África, o mercador Adolf Lüderitz forçou a Alemanha assumir um recanto inóspito do continente. A cidade homónima prosperou e preserva uma das heranças mais excêntricas do império germânico.
Cada povo, suas receitas e iguarias. Em certos casos, as mesmas que deliciam nações inteiras repugnam muitas outras. Para quem viaja pelo mundo, o ingrediente mais importante é uma mente bem aberta.
A lei da oferta e da procura dita a sua proliferação. Genéricos ou específicos, cobertos ou a céu aberto, estes espaços dedicados à compra, à venda e à troca são expressões de vida e saúde financeira.
Está-nos nos genes. Pelo prazer de participar, por títulos, honra ou dinheiro, as competições dão sentido ao Mundo. Umas são mais excêntricas que outras.
O Africa Princess zarpa do porto de Bissau, estuário do rio Geba abaixo. Cumprimos uma primeira escala na ilha de Bolama. Da antiga capital, prosseguimos para o âmago do arquipélago das Bijagós.
De viagem pelo Novo México, deslumbramo-nos com as duas versões de Taos, a da aldeola indígena de adobe do Taos Pueblo, uma das povoações dos E.U.A. habitadas há mais tempo e em contínuo. E a da Taos cidade que os conquistadores espanhóis legaram ao México, o México cedeu aos Estados Unidos e que uma comunidade criativa de descendentes de nativos e artistas migrados aprimoram e continuam a louvar.
Cilaos surge numa das velhas caldeiras verdejantes da ilha de Reunião. Foi inicialmente habitada por escravos foragidos que acreditavam ficar a salvo naquele fim do mundo. Uma vez tornada acessível, nem a localização remota da cratera impediu o abrigo de uma vila hoje peculiar e adulada.
À descoberta do ocidente cretense, deixamos Chania, percorremos a garganta de Topolia e desfiladeiros menos marcados. Alguns quilómetros depois, chegamos a um recanto mediterrânico de aguarela e de sonho, o da ilha de Elafonisi e sua lagoa.
Situada no cimo nordeste do Golfo de Bótnia, Oulu é uma das cidades mais antigas da Finlândia e a sua capital setentrional. A meros 220km do Círculo Polar Árctico, até nos meses mais frígidos concede uma vida ao ar livre prodigiosa.
O Pavilhão Dourado foi várias vezes poupado à destruição ao longo da história, incluindo a das bombas largadas pelos EUA mas não resistiu à perturbação mental de Hayashi Yoken. Quando o admirámos, luzia como nunca.
Rupturas mais ou menos proeminentes da crosta terrestre, os vulcões podem revelar-se tão exuberantes quanto caprichosos. Algumas das suas erupções são gentis, outras provam-se aniquiladoras.
Herdeira da civilização soviética, alinhada com a grande Rússia, a Arménia deixa-se seduzir pelos modos mais democráticos e sofisticados da Europa Ocidental. Nos últimos tempos, os dois mundos têm colidido nas ruas da sua capital. Da disputa popular e política, Erevan ditará o novo rumo da nação.
A maior parte dos visitantes valoriza os cenários vulcânicos da Islândia pela sua beleza. Os islandeses também deles retiram calor e energia cruciais para a vida que levam às portas do Árctico.
El Fuerte é uma cidade colonial do estado mexicano de Sinaloa. Na sua história, estará registado o nascimento de Don Diego de La Vega, diz-se que numa mansão da povoação. Na sua luta contra as injustiças do jugo espanhol, Don Diego transformava-se num mascarado esquivo. Em El Fuerte, o lendário “El Zorro” terá sempre lugar.
Em 1964, Katsura Morimura deliciou o Japão com um romance-turquesa passado em Ouvéa. Mas a vizinha Île-des-Pins apoderou-se do título "A Ilha mais próxima do Paraíso" e extasia os seus visitantes.
A fundação da Indonésia assentou na crença num Deus único. Este princípio ambíguo sempre gerou polémica entre nacionalistas e islamistas mas, em Lombok, os balineses levam a liberdade de culto a peito
Nem o forte declive de alguns tramos nem a modernidade o detêm. De Siliguri, no sopé tropical da grande cordilheira asiática, a Darjeeling, já com os seus picos cimeiros à vista, o mais famoso dos Toy Trains indianos assegura há 117 anos, dia após dia, um árduo percurso de sonho. De viagem pela zona, subimos a bordo e deixamo-nos encantar.
O inconformismo e a criatividade ainda estão presentes no antigo bairro Flower Power. Mas, quase 50 anos depois, a geração hippie deu lugar a uma juventude sem-abrigo, descontrolada e até agressiva.
Em tempos um mero entreposto mineiro, Talkeetna rejuvenesceu, em 1950, para servir os alpinistas do Monte McKinley. A povoação é, de longe, a mais alternativa e cativante entre Anchorage e Fairbanks.
Uma das zonas húmidas mais importantes da Costa Rica e do Mundo, Caño Negro deslumbra pelo seu ecossistema exuberante. Não só. Remota, isolada por rios, pântanos e estradas sofríveis, os seus habitantes encontraram na pesca um meio embarcado de fortalecerem os laços da sua comunidade.
No séc. XVIII, o governo kiwi proclamou uma vila mineira da ilha do Sul "fit for a Queen". Hoje, os cenários e as actividades radicais reforçam o estatuto majestoso da sempre desafiante Queenstown.