Mesmo se ínfima, quase imperceptível no grande mapa fronteiriço da Namíbia, Angola e Botswana, a faixa de Caprivi depressa nos faz perceber que a devíamos levar à escala de África.
A viagem a partir do Hakusembe Lodge acrescentaria outros 450km aos milhares que já somávamos. Para variar, íamos percorrê-los sobre asfalto.
Tal como dita o bom-senso, em Rundu, voltamos a encher o depósito. Desta povoação, para leste, a estrada B8 alonga-se, recta sem fim atrás de outra, pela savana entre o deserto do Kalahari e o rio Cubango que serpenteava acima.
Contados 200km, atingimos Divundu. Voltamos a abastecer. Por ali, o Cubango curva para sul. Cruzamo-lo por uma ponte moderna. Do lado de lá, ficamos às portas das áreas “Mahango” e “Buffalo” do Parque Nacional Bwabwata, não do sector “Kwando” (Cuando) em que se situava o destino final do dia.
À Entrada do PN Bwabwata, as Desafiantes Popa Falls
Uma vez que por ali passávamos, impunha-se que desviássemos para as famosas Popa Falls. Aproveitamos a abordagem policial do lado de lá da ponte para descobrirmos o caminho que as duas aplicações nos telefones nos davam erróneo. Com a ajuda do agente, cumpridos dez minutos de picada arenosa, registamo-nos numa cabine com cancela.
Cinco adicionais, estamos sobre a margem esquerda (norte) do Cubango, agora já orientado para o Botswana e para o Delta do Okavango a que se entrega sem nunca chegar ao mar.
Contemplamos um trecho do rio repleto de cristas de rocha e cercado de floresta mais alta e mais verde que a savana predominante.
Estas formações ditam um desnível de quatro metros que, por sua vez, acelera o caudal e gera pequenas quedas e rápidos, território de hipopótamos e crocodilos, desaconselhado a devaneios balneares.
Adornada por algumas fotos, a contemplação deixa-nos satisfeitos.
De acordo, retornamos à estrada B8, já com o Okavango (Cubango) a sul. Um grande pórtico confirma a entrada na vastidão do PN Bwabwata.
Transitamo-lo, a boa velocidade. A espaços, entre grandes queimadas realizadas pelas autoridades em modo de prevenção.
Chegados a Chetto, já estamos na região namibiana de Caprivi em vez de na Kavango East.
Os Três Parques agrupados no PN Bwabwata
Ao mesmo tempo, percorremos o Caprivi Game Park, uma das três antigas reservas de vida selvagem que o Parque Nacional Bwabwata congregou, sendo as outras duas a Mahango Game Reserve e o Buffalo Game Park.
Esta reorganização reflectiu a aposta das autoridades namibianas (apoiadas por entidades estrangeiras) na gestão e protecção das suas paisagens e vida selvagem.
Contrasta, em absoluto com o sucedido durante a Guerra de Independência Namibiana, quando as forças armadas coloniais da África do Sul decretaram todo aquele domínio zona militar, expulsaram directores e o pessoal encarregue de as gerir e preservar.
Mesmo tratando-se de área protegida, sucedem-se, ao longo do PN Bwabwata, aldeias tradicionais de beira da estrada. Na maioria, carecem dos seus próprios acessos a água.
Kongola e o acolhedor Namushasha River Lodge
Percebemo-lo pelas filas que caminham pela berma da B8, de baldes nas mãos e à cabeça e que se agrupam a enche-los, em bombas demasiado distantes para o peso da água, mas providenciais.
Quarenta minutos depois, chegamos a Kongola. Voltamos a abastecer. De combustível e de alguns mantimentos. Completamos o pouco que faltava da viagem, já não pela B8 mas por uma estrada que dela flectia para sul, paralela aos meandros do Kwando, um afluente do Okavango, ambos rios volumosos com origem em Angola.
Sobre as 3 da tarde, damos entrada no Namushasha River, um ecolodge situado sobre uma margem elevada, com vista desafogada para uma vastidão de papiro sulcada pelos meandros do rio, tudo isto e muito mais, já integrante do sector Kwando do PN Bwabwata.
Os Meandros e Lagoas do Rio Cuando
Instalamo-nos. Tiramos as medidas ao lodge.
Com atenção especial ao trilho que o percorre de uma ponta à outra, apertado e florestado, entre uma das lagoas fluviais e a ravina que sustinha o lodge.
À nossa passagem, turacos-cinzentos dão o alarme. Alertam as jaçanãs-africanas, os macacos-verdes e não só.
Ao seu sinal, dois hipopótamos submergem, a investigarem que intrusos sondavam o seu território. Eram os primeiros de muitos que admiraríamos.
Incursão ao Pantanal-Canavial Gerado pelo Cuando
Na manhã seguinte, a bordo de um barco apropriado a ziguezaguearmos canavial adentro, o timoneiro e guia Candy revela-nos uma boa parte daquele incrível ecossistema alagado.
De tal maneira especial que foi classificado lugar RAMSAR. Navegamos por colónias de abelharucos ameaçadas por lagartos varanos.
Vemos gazelas e palancas-negras, um rol de garças, cegonhas-de-bico-amarelo e tantas outras aves.
Avistamos ainda crocodilos e, o ponto alto e momento quente daquela incursão, uma manada de hipopótamos, dessa feita, já mais de dez.
Para nosso espanto, para deles se acercar, Candy faz o barco entrar no braço da lagoa que lhes servia de território.
Com memória de um ataque feroz de um hipopótamo contra uma embarcação cinco vezes maior que aquela, em pleno rio Chobe, perguntamos-lhe se tinha experiência, se devíamos estar a aproximar-nos tanto.
“Sosseguem, à distância a que nos mantenho, estes hipopótamos limitam-se a controlar-nos.
Faço isto há muito tempo. Sei até onde podemos ir e por onde podemos passar.”
Fazemos fé nas suas palavras. Só descontraímos de verdade quando ladeamos os cavalos-do-mar em segurança, para fora daquele trecho da lagoa a que chamavam lar.
Retornamos ao embarcadouro e ao Namushasha River Lodge. Já aborrecidos de um breve descanso, voltamos a sair à descoberta, agora na pick-up que conduzíamos.
O Heritage Center às Portas do Namushasha River Lodge
No caminho para Kongola, espreitamos um Heritage Center dedicado às tribos que partilham àquele extremo norte da Namíbia: a Balozi, BaYeyi, a MaFwe e a HaMbukushu.
Já no interior de uma paliçada que emula a tradicional das aldeias locais, um guia explica-nos o lugar. Apresenta uma sequência de exibições levadas a cabo por dançarinos e músicos, em volta de um enorme embondeiro bipartido que, assim nos afiançam, era usado para detectar caçadores furtivos no rio Kwando.
Os dançarinos e os tocadores de jambés entregam-se às danças das suas tribos de corpo e alma. Um deles, protagonista, chega a trepar ao cimo do embondeiro, de onde exibe uma coreografia mística.
Todos suam a bom suar.
As Raízes Angolanas de Moisés Vicente
A sua entrega faz-nos esquecer quase por completo que a exibição emanava do heritage center em vez de uma cerimónia genuína de uma das suas aldeias.
Quando com eles dialogamos, percebemos que um dos jovens homens, de nome Moisés Vicente, falava português.
“A minha mãe trouxe-me para cá muito novo.” explica-nos. “O meu pai pequeno e o grande (avô) estão em Angola. Vivo cá na Namíbia faz já muito tempo, mas ainda consigo falar um pouco como vocês.”
Deixamos o grupo numa amena cavaqueira, Moisés, um pouco à parte, assolado por inquietudes de vida que provavelmente lhe despertámos.
Vamos até Kongola, entre uma profusão de aldeias paliçadas e reais que o heritage center tinha a função de representar.
Parque Nacional Bwabwata: um Game Drive Frenético
Voltamos ao lodge a tempo de sairmos para uma deambulação de barco e, logo, de jipe pelo PN Bwabwata, em busca da sua vida selvagem.
Ora, devemos sublinhar que, do famoso Big Five animal, só não habitam o parque, rinocerontes, avistáveis mais para o sul da Namíbia, por exemplo, no vasto PN Etosha.
Guia o jipe e guia-nos a nós Lector, de olho na paisagem e, ao mesmo tempo, nas pegadas deixadas pelos animais sobre as pistas arenosas.
Ficamos de caras para manadas de búfalos e de elefantes. No caso dos paquidermes, tão frente a frente, que, responsável pelas nossas vidas, Lector retira em marcha-atrás.
Por diante, correm manadas de zebras, de girafas, de distintos antílopes.
Incluindo, para nosso espanto, de palancas-negras. Lector sugere que paremos, de maneira a recuperarmos os corações de toda aquela agitação.
A Vida Selvagem deslumbrante da Ferradura do Cuando
Detém-se sob uma árvore, num lugar aberto e excepcional do sector que vasculhávamos, a Ferradura do rio Kwando.
Ali, atraídos pela abundância e acessibilidade da água, sucediam-se manadas muito maiores, de elefantes, de zebras, de distintos antílopes e mais algumas girafas.
Bandos de babuínos disputavam frutos silvestres recém-caidos.
A partir da Ferradura, Lector segue pegadas de leões que nos afiançava estarem por perto e justificavam um corrupio de manobras. Para nosso desgosto, a vegetação alta ocultava-os.
O ocaso surpreendeu-nos. Galvanizou o céu, como sempre faz, em África.
Durante o regresso enregelante ao lodge, o escurecer impõe-nos uma cogitação perturbadora:
como era possível tudo aquilo ser apenas uma ínfima parte do imenso Parque Nacional Bwabwata.
FICHA DE DESTINO
1 – Windhoek
2 – PN Bwabwata
COMO IR
TAAG – Linhas Aéreas de Angola: Voo Lisboa – Luanda – Windhoek (Namíbia) em TAAG: www.taag.com por a partir de 750€.
Reserve o seu programa de viagem na Namíbia com a Lark Journeys: www.larkjourneys.com Whats App: +264 81 209 47 83
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