Spitzkoppe, Damaraland, Namíbia

A Montanha Afiada da Namíbia


Amigas Damara
O Arco
Montra artesanato
Condomínio Aviáro
Galinha de Angola em Fuga
Raízes Damara
Damão-do-Cabo
Pequeno Réptil Namibiano
Artesanato & Minerais
Legado do Vento
Lares de Tecelão
O Spitzkoppe Dourado
Pastorícia no Namíbe
Spitzkoppes
spitzkoppe-namibia-montanha-rio
Ao Amanhecer
Vendedora Damara-Himba
Spitzkoppe do Ar
spitzkoppe-namibia-montanha-vista
Com 1728 metros, o “Matterhorn Namibiano” ergue-se abaixo das dez maiores elevações da Namíbia. Nenhuma delas se compara com a escultura granítica, dramática e emblemática de Spitzkoppe.

Usakos impõe um novo “até já” da Namíbia urbanizada.

O seu casario colorido e pitoresco, com óbvia arquitectura colonial, seduz-nos a lhe dedicarmos algum tempo. Percorremos duas ou três das suas ruas centrais, todas com nomes que confirmam a génese germânica da povoação: a Kaiser Wilhem, a Goethe, a Leutwein.

Até que a imponência e importância do verdadeiro destino nos resgata da ilusão e faz retomar a jornada. Regressamos à estrada B2 que nos embalava desde a já longínqua cidade de Okahandja. Pouco depois, como acontece amiúde na Namíbia, essa via de categoria B condena-nos a uma D, a D1918.

O asfalto dá lugar a uma pista de brita fina, escorregadia, geradora de um rasto de poeira que a brisa eleva e dispersa sobre a planície desértica. Cruzamos a região namibiana de Erongo. A partir de então, apontados a norte em vez de ao oceano atlântico.

A pista ondula ao sabor dos caprichos da planície. Sem aviso, de um desses cimos, vislumbramos o alinhamento de picos rochosos que procurávamos, formado, em boa parte, pelas montanhas Pontok.

A luz matinal e lateral, ainda suave, alaranjava o conjunto.

Conscientes de que, em breve, o sol passaria para norte e para as costas da formação, fotografamo-la vezes sem conta, das perspectivas mais interessantes.

Apesar da distância, um dos picos, sobranceiro e aguçado, destacava-se.

Um Matterhorn Granítico da Namíbia

Tratava-se do Spitzkoppe, traduzível do alemão como “cúpula pontiaguda”.

Uma ilha de granito que alcança os 1728m de altitude, o seu cume afiado elevado a uns 670 m acima do deserto amarelo-ocre de Namibe, com a companhia de um Pequeno Spitzkoppe menos aguçado que se fica pelos 1584 metros.

Durante a era colonial da África Ocidental Germânica (1884-1915), os alemães terão provavelmente reparado na semelhança da forma do pico maior com a montanha-símbolo da Suíça.

Não obstante, só mais tarde, em 1946, foram registadas menções ao cognome pomposo de “Matterhorn da Namíbia”.

Daí em diante, a notoriedade da montanha continuou a avolumar-se. Stanley Kubrick e Arthur C. Clarke, por exemplo, prestaram-lhe uma inusitada homenagem.

Em 1968, usaram fotografias de várias perspectivas do Spitzkoppe e montanhas vizinhas como fundos para ficção-científica arrojada de 2001, Odisseia no Espaço: A Aurora do Homem”.

Ainda no mesmo entretém fotográfico, cruzamo-nos com um pastor que conduz uma fila indiana de cabras a paragens com arbustos folhosos comestíveis.

Rebanhos como aquele asseguram a sobrevivência de várias famílias das redondezas.

De Fazenda Criadora de Gado a Povoação Turística do Povo Damara

Têm pouco que ver com a opulência dos tempos pioneiros de Spitzkopje, um entreposto ganadeiro fundado, em 1896, por uma tal de Colonial Society, no âmago de uma fazenda com 120 mil hectares, dotada de estábulos e outras infraestruturas que, à viragem para o século XX, acolhia 1500 cabeças de gado, 4000 ovelhas e cabras e 120 cavalos.

Consumada a derrota da Alemanha na 1ª Guerra Mundial, à imagem de todo o território namibiano, a fazenda ficou sob administração da Liga das Nações.

Em 1964, já sob vigência da África do Sul, a fazenda viu-se abrangida pelo Plano Odendaal, delineado com o fito de garantir territórios que a população nativa pudesse habitar e explorar.

Os proprietários de então foram expropriados. Seis anos decorridos, as autoridades convidaram diversas famílias damara a lá se instalarem.

A realidade económico-social de Spitzkoppe é, hoje, díspar.

Chegamos ao povoado homónimo, gerado pelo magnetismo turístico das montanhas.

Habitam-no, ainda os damara, em lares com visual abarracado.

Subsistem de uns poucos préstimos de serviços, da venda de pedras exuberantes e de algum artesanato elementar.

Encontramos o derradeiro trecho para a recepção do complexo Spitzkoppe ladeado de vendedores que expõem em bancas de pau-a-pique, que seguram e exibem as suas peças o mais próximas possível de quem passa.

Também uma comunidade de Himbas ali se instalou, deslocada da sua região natural de Kaokland,(situada mais para o noroeste da Namíbia), em função do dinheiro pago pelos forasteiros que aproveitam para visitar a aldeia e apreciar o seu modo de vida peculiar.

Do Arco ao Little Bushman Paradise

Inauguramos um périplo em volta da base da montanha Spitzkoppe e de parte das montanhas Pontok que nos revela os pontos geológicos, arqueológicos e históricos imperdíveis.

Cada qual revela a sua vista particular para o pico protagonista.

O primeiro que encontramos é o Arco, uma formação erosiva virtuosa com acesso escorregadio.

Enquadra parte das montanhas Pontok.

Serve de lar a uns poucos damões-do-cabo, habituados a apreciar as ascensões e descidas trapalhonas dos visitantes à varanda panorâmica da sua moradia.

Do buraco de agulha do arco, víamos a base do maciço granítico de Spitzkoppe.

É para lá que avançamos, apontados à entrada vedada e guardada por funcionários do parque, do Small Bushman Paradise (Pequeno Paraíso dos Bosquímanos), um de vários núcleos de pinturas rupestres que os caçadores-recolectores San executaram sobre a rocha há entre 2000 e 4000 anos.

Por comparação, os paredões oxidados que usaram como tela terão, pelo menos, 120 milhões de anos.

Samuel, o guia damara que nos recebe, revela-nos pictogramas tom de sangue de boa parte dos animais com que os bosquímanos conviviam e que se habituaram a caçar:

homenzinhos a perseguir antílopes e, entre outros mais, facilmente identificáveis pela sua forma característica, rinocerontes.

Mais Pinturas Rupestres Bosquímanas no Bushman Paradise

Despedimo-nos e prosseguimos. Desta feita, em busca do Bushman Paradise. Na sua senda, contornamos a vastidão de granito para o seu limiar oriental.

À hora a que chegamos à estação correspondente do complexo, a guia algo gorducha mostra-se assombrada pela nossa aparição. “…só faço isto porque não achei outra coisa. Como veem não sou propriamente atlética. Só hoje já subi e desci quatro vezes!” lamenta-se.

Sentimo-nos solidários, Nem por isso, desarmamos. A guia conforma-se. Segue-nos, vertente acima, a puxar pela corrente de apoio colocada para evitar quedas potencialmente mortais.

Ao atingimos a zona intermédia, mais plana em que se escondiam as pinturas rupestres locais, são os castros naturais de rochedos arredondados e os panoramas namibianos a perder de vista que nos encantam, mais que as obras milenares dos bosquímanos.

No regresso à face sul, espreitamos duas velhas sepulturas militares, da altura em que uma fortaleza defendia a enorme fazenda da Colonial Society.

De volta à saída, distrai-nos um bando sarapintado e ziguezagueante de galinhas de Angola.

Apertados pela exigência de um roteiro com milhares de quilómetros, entre Windhoek e o extremo nordeste da Namíbia, partimos, apressados, rumo a Swakopmund.

Vários Dias depois, o Regresso ao Grande Spitzkoppe

De tal maneira deslumbrados com o majestoso Spitzkoppe que forçamos um fim de dia posterior passado na sua base. Encaixamo-lo no término da viagem de regresso entre o longínquo Parque Nacional Bwabwata (Faixa de Caprivi) e Windhoek.

Ora, tínhamos percorrido apenas parte do trecho a partir de Uis e já dávamos a aposta como ganha.

Deixamos esta povoação com atmosfera de Faroeste africano. Pouco depois, a estrada D1930 em que nos metemos revela-se uma montanha-russa deserta. Sulcava uma quase savana pejada de gazelas, babuínos e de abetardas surpresas.

Tal como acontecera na primeira viagem de Windhoek, mas invertido, vemos a formação Spitzkoppe-Pontok aproximar-se, definir-se, rasgar o céu azulão sem pingo de nuvem.

Chegamos ao acampamento em que pernoitaríamos com o sol a mergulhar para trás dos maciços rochosos a oeste da formação.

Cirandamos entre as tendas, por trilhos que conduziam ao seu sopé. Subimos e descemos rochas nas beiras dos trilhos, tudo em função de como o céu se afogueava e fazia das montanhas monumentos efémeros do negrume.

Quando, com a aurora e o nosso despertar, a noite se volta a render, reparamos em pormenores decorativos do acampamento que nos tinham passado: as caldeiras das tendas e a água dos nossos duches, aquecidas sobre fogueiras.

Um velho moinho de vento acima de candeeiros feitos de troncos retorcidos.

Ali mesmo, por diante e acima, o grande Spitzkoppe rosado pelo sol rasante.

Um seu encantador reflexo num espelho-de-água esquivo, de um azul bem mais escuro que o celeste.

 

FICHA DE DESTINO

1 – Windhoek

2 – Usakos

3 – Spitzkoppe

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Damaraland, Namíbia

Namíbia On the Rocks

Centenas de quilómetros para norte de Swakopmund, muitos mais das dunas emblemáticas de Sossuvlei, Damaraland acolhe desertos entrecortados por colinas de rochas avermelhadas, a maior montanha e a arte rupestre decana da jovem nação. Os colonos sul-africanos baptizaram esta região em função dos Damara, uma das etnias da Namíbia. Só estes e outros habitantes comprovam que fica na Terra.
Kolmanskop, Namíbia

Gerada pelos Diamantes do Namibe, Abandonada às suas Areias

Foi a descoberta de um campo diamantífero farto, em 1908, que originou a fundação e a opulência surreal de Kolmanskop. Menos de 50 anos depois, as pedras preciosas esgotaram-se. Os habitantes deixaram a povoação ao deserto.
Fish River Canyon, Namíbia

As Entranhas Namibianas de África

Quando nada o faz prever, uma vasta ravina fluvial esventra o extremo meridional da Namíbia. Com 160km de comprimento, 27km de largura e, a espaços, 550 metros de profundidade, o Fish River Canyon é o Grand Canyon de África. E um dos maiores desfiladeiros à face da Terra.
Sossusvlei, Namíbia

O Namibe Sem Saída de Sossusvlei

Quando flui, o rio efémero Tsauchab serpenteia 150km, desde as montanhas de Naukluft. Chegado a Sossusvlei, perde-se num mar de montanhas de areia que disputam o céu. Os nativos e os colonos chamaram-lhe pântano sem retorno. Quem descobre estas paragens inverosímeis da Namíbia, pensa sempre em voltar.
Twyfelfontein - Ui Aes, Namíbia

À Descoberta da Namíbia Rupestre

Durante a Idade da Pedra, o vale hoje coberto de feno do rio Aba-Huab, concentrava uma fauna diversificada que ali atraía caçadores. Em tempos mais recentes, peripécias da era colonial coloriram esta zona da Namíbia. Não tanto como os mais de 5000 petróglifos que subsistem em Ui Aes / Twyfelfontein.
PN Bwabwata, Namíbia

Um Parque Namibiano que Vale por Três

Consolidada a independência da Namíbia, em 1990, para simplificarem a sua gestão, as autoridades agruparam um trio de parques e reservas da faixa de Caprivi. O PN Bwabwata resultante acolhe uma imensidão deslumbrante de ecossistemas e vida selvagem, às margens dos rios Cubango (Okavango) e Cuando.
Namibe, Angola

Incursão ao Namibe Angolano

À descoberta do sul de Angola, deixamos Moçâmedes para o interior da província desértica. Ao longo de milhares de quilómetros sobre terra e areia, a rudeza dos cenários só reforça o assombro da sua vastidão.
Moçamedes ao PN Iona, Namibe, Angola

Entrada em Grande na Angola das Dunas

Ainda com Moçâmedes como ponto de partida, viajamos em busca das areias do Namibe e do Parque Nacional Iona. A meteorologia do cacimbo impede a continuação entre o Atlântico e as dunas para o sul deslumbrante da Baía dos Tigres. Será só uma questão de tempo.
Lubango, Angola

A Cidade no Cimo de Angola

Mesmo barradas da savana e do Atlântico por serras, as terras frescas e férteis de Calubango sempre prendaram os forasteiros. Os madeirenses que fundaram Lubango sobre os 1790m e os povos que se lhes juntaram, fizeram dela a cidade mais elevada e uma das mais cosmopolitas de Angola.
Graaf-Reinet, África do Sul

Uma Lança Bóer na África do Sul

Nos primeiros tempos coloniais, os exploradores e colonos holandeses tinham pavor do Karoo, uma região de grande calor, grande frio, grandes inundações e grandes secas. Até que a Companhia Holandesa das Índias Orientais lá fundou Graaf-Reinet. De então para cá, a quarta cidade mais antiga da nação arco-íris prosperou numa encruzilhada fascinante da sua história.
Cape Cross, Namíbia

A Mais Tumultuosa das Colónias Africanas

Diogo Cão desembarcou neste cabo de África em 1486, instalou um padrão e fez meia-volta. O litoral imediato a norte e a sul, foi alemão, sul-africano e, por fim, namibiano. Indiferente às sucessivas transferências de nacionalidade, uma das maiores colónias de focas do mundo manteve ali o seu domínio e anima-o com latidos marinhos ensurdecedores e intermináveis embirrações.
Walvis Bay, Namíbia

O Litoral Descomunal de Walvis Bay

Da maior cidade costeira da Namíbia ao limiar do deserto do Namibe de Sandwich Harbour, vai um domínio de oceano, dunas, nevoeiro e vida selvagem sem igual. Desde 1790, que a profícua Walvis Bay lhe serve de portal.
Lüderitz, Namibia

Wilkommen in Afrika

O chanceler Bismarck sempre desdenhou as possessões ultramarinas. Contra a sua vontade e todas as probabilidades, em plena Corrida a África, o mercador Adolf Lüderitz forçou a Alemanha assumir um recanto inóspito do continente. A cidade homónima prosperou e preserva uma das heranças mais excêntricas do império germânico.
PN Etosha, Namíbia

A Vida Exuberante da Namíbia Branca

Um salar vasto rasga o norte namibiano. O Parque Nacional Etosha que o envolve revela-se um habitat árido, mas providencial, de incontáveis espécies selvagens africanas.
Palmwag, Namíbia

Em Busca de Rinocerontes

Partimos do âmago do oásis gerado pelo rio Uniab, habitat do maior número de rinocerontes negros do sudoeste africano. Nos passos de um pisteiro bosquímano, seguimos um espécime furtivo, deslumbrados por um cenário com o seu quê de marciano.
Moradores percorrem o trilho que sulca plantações acima da UP4
Cidade
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Anfitrião Wezi aponta algo na distância
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A savana de Mara tornou-se famosa pelo confronto entre os milhões de herbívoros e os seus predadores. Mas, numa comunhão temerária com a vida selvagem, são os humanos Masai que ali mais se destacam.
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Às Portas do ex-Reino do Alto Mustang

Antes do século XII, Kagbeni já era uma encruzilhada de rotas comerciais na confluência de dois rios e duas cordilheiras em que os reis medievais cobravam impostos. Hoje, integra o famoso Circuito dos Annapurnas. Quando lá chegam, os caminhantes sabem que, mais acima, se esconde um domínio que, até 1992, proibia a entrada de forasteiros.
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Do Vietname em diante, as estradas cambojanas desfeitas e os campos de minas remetem-nos para os anos do terror Khmer Vermelho. Sobrevivemos e somos recompensados com a visão do maior templo religioso
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