São quase cinco da tarde quando chegamos à entrada do recém-inaugurado Sajos de Inari. É este o edifício Centro Cultural e sede do parlamento dos sami finlandeses.
O povo sami encara-o como uma obra determinante para o seu desenvolvimento e auto-governo como parte no território suomi.
Por essa hora, reúne-se num anfiteatro interior uma pequena multidão enregelada para assistir à entrega de prémios da Porokuninkuusajot (Kings Cup), a prova mais importante do calendário de corridas de renas nacional.
A sala ao lado, acolhe representantes das municipalidades sami. Todos estão preparados para uma extensa ordem de trabalhos, munidos dos seus computadores portáteis e dossiês.
Todos têm lugares marcados numa mesa redonda.
Antes de a sessão começar, servem-se de chá, leite, sanduíches, bolachas e pastelaria, disponíveis num bufê posicionado abaixo das cabinas dos tradutores.
Nem todos os munícipes se compreendem. O suomi que poderia resolver a dificuldade não é para ali chamado.
Nalguns casos, as diferenças entre regiões ou sub-etnias vão muito para lá da língua e dos trajes coloridos que ostentam.
O Começo de Mais uma Assembleia Sami
A sessão arranca. Acompanhamos as primeiras intervenções tranquilas e pausadas para sentir o pulso à sala mas, se o finlandês é, já de si, ininteligível, que dizer daquelas ainda mais exóticas línguas sami-fínicas.
O parlamento tem uma secretária de serviço que fala inglês. Marja Mannisto é uma mulher ocupada. Mesmo assim, dispensa-nos alguns minutos nos sofás do exterior para nos pôr a par dos temas em debate.
As principais questões estão relacionadas com a convenção ILO (International Labour Organization) para os povos indígenas e tribais em países independentes.
Os sami queixam-se de que, apesar dos progressos, 90% do território Sapmi continua a ser administrado pelo Metshällitus, o Serviço Finlandês para os Parques e Florestas e, como tal, na realidade, não lhes pertence.
A Ingerência do Metshällitus e outras Questões Cruciais
Marja explica-nos num inglês titubeante: “até aqui, os responsáveis finlandeses têm subsidiado a identidade sami de várias maneiras. Só para a edição de materiais de ensino nas línguas autóctones atribuiu este ano 290.000 euros. Ainda assim, quando a questão é territorial, têm tendência a proteger a população não sami que receia sentir-se estrangeira quando viaja para o extremo norte, ou perder o que considera o seus direitos históricos àquelas terras, a ali caçar e pescar. “
Outras disputas regionais não menos importantes concorrem com estas:
“Utsoki quer separar-se da municipalidade predominante de Inari que lhe fica demasiado distante mas, só por si, seria demasiado pobre. Propõe, assim, juntar-se aos congéneres noruegueses com quem partilha uma língua sami distinta, a mesma escola, biblioteca, enfermaria e outros. Inari, por seu lado, tem vindo a perder população para o sul, especialmente Helsínquia (de mais de 7.000 habitantes há uns anos para menos de 7.000 agora).”
Deseja incorporar todas as regiões em redor. Rovaniemi – que, muito graças ao turismo, tem uma economia pujante – não necessita de Inari e defende a sua autonomia face à capital do Norte”.
Ficamos por algum tempo a assistir ao progresso dos trabalhos. Aqueles, eram, no entanto, assuntos políticos sami. Discutidos em dialectos sami. Lá fora, tínhamos toda uma vida sami na natureza deslumbrante do cimo da Lapónia para descobrirmos.
Tiramos algumas fotos mais dos dignitários ali presentes. Agradecemos a atenção. Regressamos ao exterior ainda mais gelado.