A ligação mais rápida e directa de Whittier para Valdez, no canto oposto do Prince William Sound revelava-se a dos ferries do Alaska Marine Highway System.
Quando consultamos o calendário de partidas e chegadas das embarcações, percebemos que teríamos que esperar mais do que podíamos pela próxima.
Conformados, metemo-nos no carro.
Inauguramos a mais uma extensa e deliciosa viagem pelas estradas alasquenses.
Rumamos a norte.
Passamos junto a Anchorage e Palmer.
Logo, apanhamos a Glenn Highway, a via extrema que contorna as montanhas de Chugach, os seus campos de gelo, glaciares e os muitos lagos a que dão origem.
No entroncamento conhecido por Hub of Alaska, cortamos para sul.
Pelo Alasca Abaixo, Rumo ao Majestoso Prince William Sound
Já sem a barreira intransponível das Chugach pela frente, fazemo-nos ao extremo oriental do Prince William Sound.
Aproximamo-nos pelo interminável Thompson Pass, um desfiladeiro semi-inundado, repleto de troncos e diques naturais, tudo causado pelo degelo inexorável da Primavera.
Vinte e cinco anos após a sua destruição sísmica, Valdez voltou a estar nas bocas do mundo. Pelas piores razões.
Na origem, uma simples povoação piscatória de Prince William Sound, a cidade acolheu a estação terminal do Trans-Alasca Pipeline.
Daí em diante, petroleiros atrás de petroleiros passaram a encher os seus tanques antes de zarparem para as refinarias do Outside.
O pior estava por acontecer.
Um Reduto Monumental do Alasca, apesar da Catástrofe “Exxon Valdez”
Em Março de 1989, o super-petroleiro “Exxon Valdez” abalroou o recife Bligh. Provocou o pior desastre ecológico do Alasca.
A natureza recuperou mais depressa que o esperado.
Na actualidade, de Junho a Agosto, embarcações de recreio fundeadas no porto local quase não param.
Exibem aos visitantes a trajectória que levou ao acidente, os panoramas grandiosos do Prince William Sound e a sua incrível fauna .
O “Exxon Valdez” mantém-se um tema incontornável.
Seguimos a bordo de um dos barcos de Stan Stephens, dono de uma empresa de tours que dão a conhecer a natureza deslumbrante da região aos forasteiros.
Passaram vinte anos.
Vestígios da maré negra perduram abaixo da areia cinzentas e das rochas. Como subsistem nas mentes das gentes da região.
A Natureza, a sua fauna e flora, parecem ter resistido a tudo.
Glaciar Atrás de Glaciar
Passamos por baleias de bossa, por focas e lontras, águias e mergulhões que enriquecem o ecossistema da região.
Sobre o convés, à passagem pelo recife de Bligh, a voz monocórdica do narrador descreve os acontecimentos mas afecta o entusiasmo dos passageiros por avistarem e fotografarem os animais de tão perto..
Avançamos pelo estreito paralelos à pista usada pelos petroleiros a caminho do Pacífico.
Como no fatídico dia, flutuam pedaços de gelo, agora de pequenas dimensões. Não obrigam a cuidados ou a desvios mas deixam-nos antever os glaciares.
Passada uma linha de costa preenchida por coníferas, revelam-se, ao longe, as montanhas Chugach.
E a cobri-las de branco, o campo de gelo imenso de que fluem glaciares como o Columbia e o Mears.
O gigantesco Columbia (um dos maiores glaciares do Alasca) projecta, há muito, uma extensa superfície traiçoeira.
Preenchem-na icebergues consideráveis e fragmentos de gelos em permanente fluxo na direcção da baía homónima e contra a ilha de Heather.
Aliado ao exemplo catastrófico do “Exxon Valdez“, demove os pilotos das embarcações de tours, de se aventurarem no seu domínio.
A Imponência de Gelo do Glaciar Meares
A incursão por que optam é, assim, a do vizinho Meares.
O Meares é bem menos que o Columbia. Para compensar, mantém-se acessível até próximo da parede de gelo.
À medida que nos internamos na sua enseada escondida, os icebergues aumentam.
O frio intensifica-se, soprado das montanhas de Chugach por um vento norte poderoso.
Detemo-nos a duzentos metros.
Observamos o cenário frígido.
Como é habitual em visitas a glaciares, faz-se silêncio absoluto.
Os passageiros sentem a grandiosidade da paisagem, atentos aos sons das imprevisíveis derrocadas de gelo.
No regresso, rumo a Valdez, avistamos colónias de lontras, de leões-marinhos e três baleias de bossa.
Passagem ao Largo de Córdova, a Vizinha menos Turística de Valdez
Com apenas 1000 lares e 2500 habitantes, a terceira grande (leia-se antes principal) povoação do Prince William Sound é Cordova.
Desprovida de acesso por terra, a cidade fica perdida na Floresta Nacional Chugach, estendida entre um braço de mar a que os nativos chamaram de Orca e o lago Eyak.
A autonomia absoluta em que se habituou a viver a comunidade cordovense, apartada da actividade turística que todos os anos se apodera do outro lado do estreito pelos altos custos do ferry e dos raros alojamentos, é tida com um motivo de orgulho.
Estamos num território americano em que a genuinidade continua a valer mais que as aparências.