Singapura

A Ilha do Sucesso e da Monotonia


Às compras
Mulheres singapurenses de etnia malaia deixam uma loja de roupa do distrito de Kampong Glam.
Balões Chineses
Lampeões vermelhos enfeitam uma rua sobrelotada durante uma época festiva da Chinatown de Singapura.
Clube nocturno
Um bar de Singapura. Até meio da década de 80, a vida nocturna de Singapura era restringida pelo Nanny State da ilha. A partir de então, não parou de aumentar.
Clarke Quay
Família conversa numa margem do rio Singapura, na zona de Clarke Quay.
Cores de Singapura
Bicicleta repousa encostada contra uma fachada viva do bairro malaio de Kampong Glam.
Anoitecer na Chinatown
Crepúsculo apodera-se da Chinatown de Singapura, decorada de forma especial por estar em festa.
Descanso do pedal
Condutor de rickshaw a pedal descansa sobre o seu veículo.
Triunfo da Salsicha
Erich Sollbok ganhou um Prémio Spirit of Enterprise e muitos dólares singapurenses graças ao itinerário asiático que cumpriu com as suas "Wuerstelstand" bancas em que vendia salsichas austríacas.
Damas coloridas
Moradores disputam uma partida de damas num tabuleiro cheio de cor
Esplanade & Theatres on the Bay
O edifício revolucionário da Esplanade & Theatres on the Bay, à esquerda da imagem.
Fast Talk
Amigas põem as novidades em dia numa hamburgueria do Clarke Quay.
Exercício comunal
Ginástica de grupo à sombra de um prédio de escritórios junto ao Clarke Quay.
Sino Néon
Neones da Chinatown anunciam negócios do bairro.
The Merlion and the Esplanades
Estátua de Merlion, a criatura meio peixe meio leão símbolo de Singapura projecta um repuxo sobre o mar da Marina Bay.
Muçulmano vs Moderno
Cúpula dourada de uma mesquita de Kampong Glam contrasta com a arquitectura moderna de um prédio em frente.
Modelos
Uma transeunte passa pela fachada iluminada de uma loja de roupa.
Paragem multiétnica
Paragem de autocarro transformada promove um campeonato de snooker a ter lugar em Singapura
Travessia
Mulher atravessa uma velha ponte de ferro nas imediações do Fullerton Hotel, uma das zonas mais sofisticadas de Singapura.
Prédio em Chinês
Um prédio decorado com caracteres chineses destaca-se do casario típico da Chinatown
The Clinic
Recepcionista à entrada do clube nocturno The Clinic, um dos mais originais de Singapura.
Habituada a planear e a vencer, Singapura seduz e recruta gente ambiciosa de todo o mundo. Ao mesmo tempo, parece aborrecer de morte alguns dos seus habitantes mais criativos.

Ambicioso como era, o fundador da cidade de Singapura, Stamford Raffles, não podia imaginar a visão que tem da sua ex-colónia quem, como nós, chega por mar.

A ilha indonésia de Batam tinha ficado quarenta minutos para trás.

À medida que o ferry serpenteia por entre a vasta frota de petroleiros e cargueiros que percorre o estreito de Singapura, tornava-se mais nítida a silhueta novaiorquina, formada pela linha de arranha-céus do CDB (Central Business District) de Singapura.

Para quem vem de mês e meio no maior país muçulmano do mundo, terminado no interior de Sumatra, aquele horizonte cinzento deixava antever uma espécie de retorno a um mundo não igual, mas do tipo do que conhecemos.

Singapura, ilha Sucesso e Monotonia

O edifício revolucionário da Esplanade & Theatres on the Bay, à esquerda da imagem.

O ferry contorna a ilha de Sentosa. Atraca na doca de Harbour Front. Assim que desembarcamos, deparamo-nos com a sofisticação tecnológica com que se processa o controle fronteiriço. Não restam dúvidas: estamos de volta à modernidade. Vemos caixas de multibanco reluzentes, passadeiras rolantes e balcões de apoio ao turista, repletos de informação.

Sobressaem anúncios a produtos familiares e reconhecemos as empresas multinacionais, dos mais óbvios aos menos populares. Regressamos à esfera capitalista. O MRT – Mass Rapid Transit – de Singapura parte dali com ligações aos recantos mais longínquos da ilha.

É proibido comer, fumar e transportar os malcheirosos duriões no metro. Deixa de haver lugar para o desleixo, tomado pelas proibições.

Singapura ocupa uma área de 6823 km² e é atravessada por um rio homónimo. Os arranha-céus que vislumbrámos do ferry ficam a sul da foz, contíguos à Marina Bay. Estas duas zonas formam a parte mais imponente da cidade.

Nós, instalamo-nos à pressa na proximidade do bairro de Little India, já bem longe da zona marginal da nação. Nessa mesma tarde, inauguramos a descoberta da ilha.

Modelos, Singapura, ilha Sucesso e Monotonia

Uma transeunte passa pela fachada iluminada de uma loja de roupa.

A Esterilidade Funcional de Singapura

Continuamos a acompanhar o rio Singapura. Seguimos a movimentação dos seus sampans, os barcos típicos de casco com listas garridas e providos de olhos.

Quando não atracados no Clifford Pier, os sampans cruzam o rio rumo à marginal das esplanadas, situada logo ao lado do CBD, por forma, a facilitar a vida dos executivos. Assim que deixam os escritórios, estes, instalam-se em grupos barulhentos, bebem uns copos e depois entregam-se a jantares faustosos.

Clarke Quay, Singapura, ilha Sucesso e Monotonia

Família conversa numa margem do rio Singapura, na zona de Clarke Quay.

Em Singapura, até a vida de rua é programada.

Desta zona de refeições, rio acima, até aos Clarke, Boat e Robertson Quays, onde se concentra a vida nocturna, é só um pulo, ou uma estação de MRT.

Tudo continua organizado e controlado. De tal forma assim é, em Singapura que, para não perturbar em demasia a harmonia da ilha, até há quatro décadas atrás, a vida nocturna era limitada ao mínimo possível. Os poucos estabelecimentos permitidos eram obrigado a fechar tão cedo que mal tinham tempo para lucrar.

Poucos eram os jovens executivos que se queriam mudar para um país sem vida nocturna. Entretanto, também por razões económicas, o panorama alterou-se de forma radical.

Hoje, bares e as discotecas como o The Clinic, o The Cannery ou o Ministry of Sound ostentam imagens de marca fortes e decorações temáticas hiper-criativas. Os clientes, esses, afluem dos quatro cantos do mundo. Transpiram estilo e sofisticação e pagam o que for necessário pela entrada nos clubes da moda.

The Clinic, Singapura, ilha Sucesso e Monotonia

Recepcionista à entrada do clube nocturno The Clinic, um dos mais originais de Singapura.

Para que a chuva frequente não perturbe este festival de glamour, as ruas do Clarke Quay foram dotadas de coberturas de vidro. Até quando os seus filhos e enteados se preparam para entrar num bar com striptease o Nanny State singapurense está presente, a evitar que se constipem.

Como pudemos constatar, alguns dos filhos de Singapura não estão preparados para tanto mimo. Um dos comentários frequentes dos singapurenses mais exigentes, acerca do seu próprio país é: “Isto aqui é tão estéril”.

The Clinic, Singapura, ilha Sucesso e Monotonia

Jovens conversam sobre as camas de hospital instaladas pelo clube nocturno The Clinic.

O Isolamento Civilizacional e Religioso da Ilha do Sucesso

Só são precisos alguns dias para compreendermos a que se referem. Percebemos também que a segunda queixa mais comum se prende com o isolamento. Em termos civilizacionais, a maior parte dos singapurenses – excepção feita para a etnia malaia – e dos ocidentais ali expatriados sentem-se cercados pelo vasto mundo muçulmano em redor.

Mas a questão também não acaba aí. Situada logo acima do equador, Singapura parece viver dentro de uma panela de pressão. O calor e a humidade são opressivos. Quando não há sol, nuvens densas e altas, vindas da Indonésia com o vento de monção, pairam sobre o país, ameaçadoras.

A qualquer momento, descarregam em bátegas diluvianas acompanhadas de trovoadas fulminantes. Se as nuvens abrem um pouco, a luz solar incide tão forte que branqueia um panorama já de si, demasiado dominado pelo aço e pelo o cimento.

Não é que faltem jardins e outros espaços verdes mas, como se queixava um motorista de táxi, demasiados edifícios históricos deram lugar a construções modernas sem alma. “Parece que a ilha está tão preocupada em facturar para triunfar – o espírito singapurense kiasu criticado pelos vizinhos malaios e indonésios – que não se apercebe do seu aspecto pré-fabricado.”

Arquitecturas, Singapura, ilha Sucesso e Monotonia

Cúpula dourada de uma mesquita de Kampong Glam contrasta com a arquitectura moderna de um prédio em frente.

O Exotismo Étnico da Little India

Quando passamos sobre a Elgin Bridge, uma holandesa percebe que também somos estrangeiros e aborda-nos. Pergunta-nos o que estamos a achar. Hesitamos na resposta.

Ela aproveita para acrescentar: “Estou cá há dois dias e até agora só vi lojas e galerias comerciais… não me aconselham nada mais genuíno?“ Enviamo-la para a Little India, no Domingo que se aproxima. Alertamo-la, claro está, para se preparar para mudar de país.

Perante o desapontamento da interlocutora, estava fora de questão aconselharmos o Kampong Glam, o distrito malaio dominado pela Mesquita do Sultão e pelas boutiques caras.

Muito menos a Chinatown, em que vagueiam milhares de visitantes ávidos por gastar e onde, sob a arquitectura típica dos edifícios coloniais coloridos, se escondem mais lojas orientadas para o turista.

Anoitecer na Chinatown, Singapura, ilha Sucesso e Monotonia

Crepúsculo apodera-se da Chinatown de Singapura, decorada de forma especial por estar em festa.

Quando visitamos o distrito chinês, balançam candeeiros de papel vermelhos. Assinalam o aproximar de nova época de celebrações chinesas, a culminar com a inauguração de um novo templo budista, o Tooth Relic Temple.

Investigamos a obra. Reparamos que parte considerável dos trabalhadores são indianos. Como, se não bastasse, alguns metros à frente, mas em pleno coração da Chinatown, achamos o templo dravidiano Sri Mariamman, com o seu gopuram (torre repleta de divindades) sobre a portada.

Atraem-nos trajes garridos e cânticos exóticos. Entramos para observar a cerimónia que se revela fascinante e hipnótica. De um momento para o outro, a estéril e aborrecida Singapura de que se queixavam até os singapurenses surpreende-nos.

Cerimónia Hindu, Little India, Singapura de Sari, Singapura

Sacerdotes hindus conduzem uma cerimónia num templo de Singapura

A noite já se apodera do Sudeste Asiático quando chegamos à majestosa Marina Bay. Os imigrantes trazem as famílias de visita. Partilham com eles a magia do lusco-fusco quando as luzes das ruas e dos escritórios nas alturas se acendem e, a pouco e pouco, e pintam o cenário – durante o dia deslavado – de todas as cores.

O ponto de observação eleito, sempre repleto de moradores e de estrangeiros equipados com máquinas de fotografar e filmar, é o Merlion Park, um cais com plataforma panorâmica sobre a água.

Dele se destaca a estátua enorme do estranho meio-peixe, meio-leão designado, em 1960, como mascote de Singapura.

Singapura, ilha Sucesso e Monotonia

Estátua de Merlion, a criatura meio peixe meio leão símbolo de Singapura projecta um repuxo sobre o mar da Marina Bay.

Aceitam-se estrangeiros em Singapura. Excelente ambiente de Trabalho

A sobrevivência e posterior riqueza asseguradas por Singapura contra todas as probabilidades, após a expulsão da Federação da Malásia, deveu-se aos programas de industrialização e urbanização levado a cabo pelo pai da nação Lee Kuan Yew. 

Por volta dos anos 90, a cidade tinha o maior rácio de posse de casas do mundo. Apesar da ausência total de matérias-primas, o fabrico e exportação de produtos de alta-tecnologia assegurou a Singapura o bem-estar da sua população e um papel de destaque na esfera económica mundial.

Esta bonança foi seriamente ameaçada pela ascensão súbita de países concorrentes com custos de produção muito mais baixos, dos quais a China se tornou o caso óbvio.

De 33% dos seus 2.5 milhões de trabalhadores há vinte anos atrás, a força produtora industrial encolheu para apenas 20%. Como consequência directa, os singapurenses perderam poder de compra. Confrontados com a crise, os habitantes mais novos passaram a procurar emprego no estrangeiro.

Os que ficam têm cada vez menos filhos.

Condutor rickshaw, Singapura, ilha Sucesso e Monotonia

Condutor de rickshaw a pedal descansa sobre o seu veículo.

O Objectivo Ambicioso e o Sucesso da Revolução Populacional

Os números são claros: Singapura debate-se com um grave problema de estagnação. Trabalha na solução faz já algum tempo. Literalmente. Desde 2008, 2009 que as gruas e escavadoras não param de renovar a nação.

O objectivo herculiano então estabelecido foi passar rapidamente de 4.4 para 6 milhões de habitantes, com recurso ao recrutamento de empresas e trabalhadores qualificados de outros países.

O governo chegou à conclusão de que a fama de entreposto comercial próspero mas, aborrecido, era, de certa forma, merecida.

Resolveu contra-atacar e transformou a ilha de Sentosa – situada apenas a 500 metros da costa sul de Singapura – num mega-parque de diversões ligado a Harbour Front por uma linha de MRT.

Singapura importou centenas de toneladas de areia para criar praias artificiais. Protegeram-se as novas praias do tráfego marítimo infernal do estreito de Singapura e da vista desagradável das suas refinarias. Para tal, foram erguidos enormes muros de pedra de que brotam coqueiros e palmeiras.

Ilha Sentosa, Singapura, Família em praia artificial de Sentosa

Família de origem chinesa caminha sobre o paredão que separa as praias de Sentosa do Estreito de Singapura.

Além das praias, várias outras atracções surgiram do nada: museus, um Water World com SPA, uma torre e teleférico panorâmicos, cinemas, espectáculos multimédia, campos de golf e pistas de bicicleta, para mencionar apenas uma ínfima parte.

A juntar ao pacote, Singapura construiu condomínios de habitação VIP que os promotores fazem de tudo, (mas mesmo tudo) para vender, incluindo promovê-los em enormes outdoors com imagens dos areais de Sentosa tão pós-produzidas e falsas que mais parecem as Caraíbas.

E uma Revolução Urbanística a Condizer

Mas a batalha contra a estagnação não se ficou por aqui. Obrigou a concessões inesperadas por parte dos senhores das leis. Até 2002, os clubes nocturnos eram proibidos, em Singapura. O jogo mantinha-se tema tabu. De um momento para o outro, tudo mudou.

Na orla leste da Marina Bay, surgiram novos edifícios que a urbanizaram por completo: as torres triplas do complexo Marina Bay Sands, um casino-resort gigantesco construído com arquitectura revolucionária pelo operador Las Vegas Sands.

Singapura, ilha Sucesso e Monotonia

Arranha-céus da Marina Bay vistos do Clarque Quay de Singapura

Quando completo, em 2009, o Marina Bay disponibilizou mais de 2500 quartos de hotel, um centro comercial atravessado por canais, uma pista de patinagem no gelo, dois teatros cada um com 2000 lugares, destinados a espectáculos da Broadway e um museu.

A partir da última torre deste empreendimento para oeste e até à proximidade do CDB surgiram mais arranha-céus destinados a albergar as empresas que empregaram os esperados imigrantes.

Após sacrificar alguns dos seus antigos princípios em nome da sobrevivência da nação, Lee Kuan Yew, transformou-se num dos vendedores mais activos do projecto.

A sua metamorfose foi tal que, no seu discurso anual do Ano Novo Chinês, depois de menções a acordos de comércio livre e fortalecimento de laços políticos na região, passou para referências repetidas a jantares ao ar livre, bandas de jazz, vela, windsurf e pesca.

Tentou assim impingir a qualidade de vida superior com que pensava atrair os trabalhadores especializados estrangeiros. Como resumiu: “Singapura será uma versão tropical de Nova Iorque, Paris e Londres numa só”.

Perante expectativas tão elevadas, há que pensar positivo. Se o plano de Kuan Yew falhar, Singapura será sempre uma cidade-país invulgar, com uma fascinante população multiétnica e uma das gastronomias mais variadas do mundo.

Balões Chineses, Singapura, ilha Sucesso e Monotonia

Lampeões vermelhos enfeitam uma rua sobrelotada durante uma época festiva da Chinatown de Singapura.

Da Vingança de Raffles ao Paternalismo e ao Sucesso de Lee Kuan Yew

Após Napoleão ter invadido a Holanda, em 1795, os Britânicos procuraram a todo o custo evitar uma expansão da França nos territórios do Sudeste Asiático. Ocuparam Malaca e Java.

Com a derrota dos franceses na Europa, decidiram-se pela devolução desses territórios aos holandeses. A medida permitiu evitar um provável conflito e consolidar a cada vez mais rentável presença britânica na Península Malaia.

Não evitou, no entanto, o enorme ressentimento do Tenente-Governante de Java, Stamford Raffles, que viu todo o seu trabalho ser entregue a uma potência concorrente quando sentia que a Grã-Bretanha, a nação mais poderosa da Europa, devia estender a sua influência no Sudeste Asiático.

Humilhado mas não vencido, Raffles persuadiu a East India Company que o estabelecimento de uma colónia na ponta da península malaia era fulcral para lucrar com a rota marítima entre a China e a Índia.

Compras, Singapura, ilha Sucesso e Monotonia

Mulheres singapurenses de etnia malaia deixam uma loja de roupa do distrito de Kampong Glam.

Em 1819, Raffles desembarcou em Singapura, então, parte do sultanato de Johor.

Imiscui-se em conflitos de sucessão e linhagem dos governantes da ilha. Depressa conquistou a protecção de uma das partes e o direito a construir um entreposto comercial. Cinco anos depois, Raffles assinou um segundo tratado que entregava Singapura à Grã-Bretanha em troca de dinheiro. E pensões vitalícias a serem paga ao sultão que apoiara e a um chefe local.

Em apenas cinco anos, o seu novo território surgiu no mapa. O próximo plano de Raffles foi fazer dele um bastião económico do Império Britânico. Para isso, estabeleceu que não seriam cobradas taxas pelas transacções comerciais.

Sir Stamford Raffles, Singapura, ilha Sucesso e Monotonia

Estátua de Sir Stamford Raffles, o inglês ambicioso que, contra todas as probabilidades fundou Singapura em 1819 e fez da ilha um território invejado.

Por essa altura, habitavam Singapura cerca de 150 pescadores malaios e agricultores chineses.

Com a perspectiva da “adopção” britânica e da riqueza anunciada pelo projecto, acorreram à ilha milhares de outros chineses e malaios. Alguns dos primeiros desposaram mulheres malaias. Formaram o povo e a cultura Perakanan (meia-casta) .

Em 1821, a população de Singapura (do malaio Singa=leão + Pura=cidade) contava já 10.000 habitantes. Tal como planeado, o porto atraía cada vez mais comércio e a colónia evoluía a olhos vistos, entretanto com o contributo de milhares de indianos recrutados por Raffles que os considerava mais aptos para a construção de edifícios e dos caminhos de ferro.

Foram erguidas ruas amplas com lojas e passadiços cobertos, docas, igrejas e até um jardim botânico. Toda a obra tinha como fim fazer de Singapura uma colónia imponente e importante do império.

Curiosamente, em termos sociais, a estratégia de Raffles passava por dividir e administrar a população de acordo com a sua origem étnica. À imagem da realidade actual, já nessa altura, boa parte dos europeus, indianos, chineses e malaios viviam nos seus bairros respectivos.

Paragem, Singapura, ilha Sucesso e Monotonia

Paragem de autocarro transformada promove um campeonato de snooker a ter lugar em Singapura

Mais recentemente, passado o susto da invasão japonesa da 2ª Guerra Mundial e a separação forçada pela expulsão da Federação da Malásia (a quem os britânicos haviam já concedido a independência), causada pela recusa da ilha em conceder privilégios institucionais aos malaios residentes, em 1965, Singapura seguiu o seu próprio caminho.

Com a saída dos britânicos da cena política, a gestão do território ficou entregue aos chineses do People Action Party (PAP). Estes, ao longo das vigências paternalísticas de Lee Kuan Yew, um advogado educado em Cambridge que governou mais de 30 anos e de Goh Chok Tong, no poder de 1990 até muito recentemente, elevaram Singapura do terceiro mundo ao primeiro.

Utrapassaram problemas tão graves como a crise cambial asiática de 1997. E conseguiram recuperar o passado  de prosperidade herdado dos britânicos.

Com o avançar dos anos, a estrutura étnica da população de Singapura definiu-se. Hoje, dos seus 3.3 milhões de habitantes fixos, 77% são chineses; 14% malaios e 8% indianos.

Multidão, Singapura, ilha Sucesso e Monotonia

Transeuntes de distintas etnias cruzam-se ao longo da Orchard Rd, uma avenida moderna de Singapura.

Vivem, ainda, permanentemente na ilha, 1.1 milhões de estrangeiros que trabalham nas muitas multinacionais com sedes e sucursais no país.

Valletta, Malta

As Capitais Não se Medem aos Palmos

Por altura da sua fundação, a Ordem dos Cavaleiros Hospitalários apodou-a de "a mais humilde". Com o passar dos séculos, o título deixou de lhe servir. Em 2018, Valletta foi a Capital Europeia da Cultura mais exígua de sempre e uma das mais recheadas de história e deslumbrantes de que há memória.
Singapura

A Capital Asiática da Comida

Eram 4 as etnias condóminas de Singapura, cada qual com a sua tradição culinária. Adicionou-se a influência de milhares de imigrados e expatriados numa ilha com metade da área de Londres. Apurou-se a nação com a maior diversidade gastronómica do Oriente.
Little India, Singapura

Little Índia. A Singapura de Sari

São uns milhares de habitantes em vez dos 1.3 mil milhões da pátria-mãe mas não falta alma à Little India, um bairro da ínfima Singapura. Nem alma, nem cheiro a caril e música de Bollywood.
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Brasília: da Utopia à Capital e Arena Política do Brasil

Desde os tempos do Marquês de Pombal que se falava da transferência da capital para o interior. Hoje, a cidade quimera continua a parecer surreal mas dita as regras do desenvolvimento brasileiro.
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A Evasão e a Diversão de Singapura

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Uma Capital (sobre) Capitalizada

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Île-des-Pins, Nova Caledónia

A Ilha que se Encostou ao Paraíso

Em 1964, Katsura Morimura deliciou o Japão com um romance-turquesa passado em Ouvéa. Mas a vizinha Île-des-Pins apoderou-se do título "A Ilha mais próxima do Paraíso" e extasia os seus visitantes.
Teleférico de Sanahin, Arménia
Religião
Alaverdi, Arménia

Um Teleférico Chamado Ensejo

O cimo da garganta do rio Debed esconde os mosteiros arménios de Sanahin e Haghpat e blocos de apartamentos soviéticos em socalcos. O seu fundo abriga a mina e fundição de cobre que sustenta a cidade. A ligar estes dois mundos, está uma cabine suspensa providencial em que as gentes de Alaverdi contam viajar na companhia de Deus.
Executivos dormem assento metro, sono, dormir, metro, comboio, Toquio, Japao
Sobre Carris
Tóquio, Japão

Os Hipno-Passageiros de Tóquio

O Japão é servido por milhões de executivos massacrados com ritmos de trabalho infernais e escassas férias. Cada minuto de tréguas a caminho do emprego ou de casa lhes serve para o seu inemuri, dormitar em público.
Kente Festival Agotime, Gana, ouro
Sociedade
Kumasi a Kpetoe, Gana

Uma Viagem-Celebração da Moda Tradicional Ganesa

Após algum tempo na grande capital ganesa ashanti cruzamos o país até junto à fronteira com o Togo. Os motivos para esta longa travessia foram os do kente, um tecido de tal maneira reverenciado no Gana que diversos chefes tribais lhe dedicam todos os anos um faustoso festival.
Retorno na mesma moeda
Vida Quotidiana
Dawki, Índia

Dawki, Dawki, Bangladesh à Vista

Descemos das terras altas e montanhosas de Meghalaya para as planas a sul e abaixo. Ali, o caudal translúcido e verde do Dawki faz de fronteira entre a Índia e o Bangladesh. Sob um calor húmido que há muito não sentíamos, o rio também atrai centenas de indianos e bangladeshianos entregues a uma pitoresca evasão.
Maria Jacarés, Pantanal Brasil
Vida Selvagem
Miranda, Brasil

Maria dos Jacarés: o Pantanal abriga criaturas assim

Eurides Fátima de Barros nasceu no interior da região de Miranda. Há 38 anos, instalou-se e a um pequeno negócio à beira da BR262 que atravessa o Pantanal e ganhou afinidade com os jacarés que viviam à sua porta. Desgostosa por, em tempos, as criaturas ali serem abatidas, passou a tomar conta delas. Hoje conhecida por Maria dos Jacarés, deu nome de jogador ou treinador de futebol a cada um dos bichos. Também garante que reconhecem os seus chamamentos.
Napali Coast e Waimea Canyon, Kauai, Rugas do Havai
Voos Panorâmicos
NaPali Coast, Havai

As Rugas Deslumbrantes do Havai

Kauai é a ilha mais verde e chuvosa do arquipélago havaiano. Também é a mais antiga. Enquanto exploramos a sua Napalo Coast por terra, mar e ar, espantamo-nos ao vermos como a passagem dos milénios só a favoreceu.