Cidade Velha, Cabo Verde

Cidade Velha: a anciã das Cidades Tropico-Coloniais


Um panorama com história
A Cidade Velha vista do cimo do Forte de São Filipe.
Para o almoço
Moradora da Rua da Banana amanha peixe recém-pescado.
Vida de Rua
O dia-a-dia da cidade colonial europeia mais antiga abaixo do deserto do Saara.
Cena rodoviária
Fauna do meio da estrada que conduz à Cidade Velha.
Pelourinho & Praça
Vista da zona central da Cidade Velha, disposta em redor do pelourinho, de frente para o Atlântico.
Senhora do Forte
Secção lateral do forte trapezoidal de São Filipe erguido para proteger a Cidade Velha dos piratas.
Tempo de ir
Morador da Cidade Velha deixa o seu pouso no Pelourinho.
Os esses da Ribeira Grande
Vale verdejante da Ribeira Grande, um fluxo de água perene envolto de vegetação, raro em Cabo Verde.
Cidade Velha, Vista do Forte de São Filipe
Vista da Cidade Velha, disposta abaixo do Forte de São Filipe.

Foi a primeira povoação fundada por europeus abaixo do Trópico de Câncer. Em tempos determinante para expansão portuguesa para África e para a América do Sul e para o tráfico negreiro que a acompanhou, a Cidade Velha tornou-se uma herança pungente mas incontornável da génese cabo-verdiana.

Vencemos uma derradeira ladeira. No cimo, aquele cenário sobranceiro à Cidade Velha mostra-se ainda mais seco e ocre.

Vêmo-lo salpicado de arbustos espinhosos que se agarram ao solo pedregoso e a qualquer resquício de humidade. Ao fundo, as ameias de uma fortaleza dos mesmos tons que a terra recortam o céu azul e só mesmo azul.

Em 1578 e 1585, o corsário inglês Francis Drake ameaçou de tal maneira a recém-fundada povoação de Ribeira Grande e o domínio hispânico do Atlântico que Filipe I, então dono e senhor da Coroa Portuguesa, fartou-se da insolência dos piratas e da Coroa Britânica que os patrocinava.

Mandou reforçar o sistema de defesa que contava já com vários outras fortificações: as de São Lourenço, São Brás, Presídio, São Veríssimo, São João dos Cavaleiros e Santo António. O Forte Real de São Filipe com que nos confrontávamos foi último a chegar. Erguido com incrível solidez com pedra trazida de Portugal, está para durar.

O Vale Verdejante da Ribeira Grande

Damos de caras com a sua frente imponente, paredes meias com o limiar da meseta em que assenta e com o desfiladeiro sinuoso escavado pela Ribeira Grande de Santiago. Uma senhora que toma conta de um barzinhox instalado à sombra de uma acácia frondosa, controla-nos os movimentos, não fossemos precisar dos seus serviços.

Em vez, subimos ao muro que contém o cimo da encosta íngreme e deixamo-nos deslumbrar pelo dramatismo tropical por diante.

Vale da Ribeira Grande, Cidade Velha, Santiago, Cabo Verde

O vale verdejante da Ribeira Grande, o desfiladeiro em que se instalou a primeira povoação de Cabo Verde

Uma enxurrada de vegetação verdejante flui desde os confins norte do canhão até onde se rende ao mar. Nas profundezas logo abaixo, algum casario histórico com velha telha portuguesa, retalhos agrícolas, trilhos e vielas rurais convivem com uma pequena floresta de que se destacam coqueiros hirtos.

Tendo em conta o quão áridos são o arquipélago de Cabo Verde e a sua ilha de Santiago, a visão apanha-nos desprevenidos. Merece uma aturada contemplação e uma atenção fotográfica à altura. Só após, atravessamos a portinhola lateral aberta no aparelho de pedra que servia de entrada e invadimos o forte trapezoidal.

À Conquista do Forte de São Filipe

Batido pelo sol, desprovido da vegetação circundante, o interior prova-se rude e espartano, mesmo se a estrutura contava com uma Casa do Governador e com uma capela, denominada de São Gonçalo. Retalham-no rampas pouco íngremes de acesso aos adarves.

E sobressai, pela sua redondeza, uma cisterna de tijolo que evitava que, mesmo se alvo de cerco, os homens para ali destacados morressem de sede. Como ressalta à vista, a esvoaçar bem acima das muralhas, a bandeira azul-branca-vermelha-amarela de Cabo Verde, a nação insular a que a colonização portuguesa daquelas do oceano Atlântico veio a dar origem.

Cisterna de água do forte de São Filipe, Cidade Velha, Santiago, Cabo Verde

Visitantes do forte de São Filipe destacados sobre as muralhas e acima da cisterna de água.

São poucos os visitantes do monumento. Temos a companhia de um casal irrequieto de franceses e de duas irmãs gémeas cabo-verdianas, vestidas de igual e com duas cabeleiras afro-encaracoladas idênticas. Estamos só quando nos abeiramos da bateria de canhões apontados ao oceano e espreitamos para diante.

Cerca de cem metros abaixo, a vertente transforma-se numa plataforma alisada, num sopé que recorta o mar logo ao lado de onde a Ribeira Grande se lhe entrega.

Da Ribeira Grande à Cidade Velha

A Ribeira Grande que ali termina, foi o princípio de tudo. Em 1460, António de Noli, um marinheiro genovês ao serviço do Infante D. Henrique e que se crê ter descoberto as primeiras cinco ilhas do arquipélago avistou Santiago. Dois anos depois, de Noli instalou-se na área da Ribeira Grande com a sua família e colonos oriundos do Algarve e do Alentejo.

Malgrado o isolamento, o lugarejo evolui de tal maneira que se tornou a primeira cidade colonial do futuro Império Português – e europeia em geral – a surgir a sul do Saara, nos trópicos.

A Ribeira Grande não tardou também a assumir o papel de entreposto fulcral das rotas marítimas portuguesas de ligação ao sul de África e às Américas.

De tal maneira que, alguns anos mais tarde, Vasco da Gama (em 1497) lá fez escala na viagem em que descobriria o caminho marítimo para a Índia e Cristóvão Colombo (em 1498) lá se deteve e reabasteceu na terceira das suas expedições de descoberta das Américas.

Foram explorados e ocupados mais e mais territórios em África e na América do Sul. A Ribeira Grande ganhou ainda preponderância no tráfico negreiro transatlântico que os portugueses inauguraram no século XV e, até finais do XVI, fizeram intensificarAs ilhas cabo-verdianas viriam a ser colonizadas com recurso à mão-de-obra dos nativos africanos escravizados.

Com o tempo, acolheram uma mixagem étnica e cultural entre escravos e colonos bem mais profunda que noutras partes do Império Português. Essa mixagem salta à vista por todo o arquipélago.

Cidade Velha, não mais a Ribeira Grande

Sem surpresa, está bem patente nas gentes e no dia-a-dia da Cidade Velha, assim foi rebaptizada a ex-colónia, por forma a evitar confusões com a Ribeira Grande da ilha de Santo Antão. Mas, se a povoação a que em breve damos entrada é a anciã de Cabo Verde, não lhe falta vida. Mesmo se o tempo tenha já condenado boa parte dos seus edifícios mais idosos.

Deixamos o forte da Cidade Velha apontados à orla que de lá avistámos. Cumprido um gancho apertado, o asfalto dá lugar a um empedrado robusto de pedra negra bem polida pela borracha dos pneus e pelos anos. Estacionamos  junto a uns paredões em ruínas que resistem acima do casario próximo.

Atravessamos nova moldura amarelada de porta e entramos no que resta da nave da velha Sé Catedral, começada a construir em 1556 com pedra semelhante à do Forte Real de São Filipe, terminada apenas em 1700, quando se tornou o grande templo da Cidade Velha e da primeira diocese da costa ocidental africana.

Pelourinho, a Coluna Colonial da Cidade Velha

Exploramos as ruínas fascinados com a grandiosidade tanto da obra como da sua decadência e intrigados com a vida do bairro vizinho de São Sebastião de onde, de quando em quando, vemos sair moradores da Cidade Velha que atalham, através das ruínas, o caminho para a estrada e para zonas ribeirinhas contíguas.

Acabamos por segui-los. Umas centenas de passos depois pela rua do Calhau, damos com o Largo do Pelourinho, o principal marco histórico do colonialismo do território.

O pelourinho da Cidade Velha, marca do domínio histórico da Coroa Portuguesa mas também do legado pungente do tráfico negreiro desenvolvido pelos portugueses.

Hoje, o lugar é o mais turístico da Cidade Velha. Tem esplanadas e lanchonetes a envolverem-no. E quatro ou cinco coqueiros a penderem para cima do largo. Ali, os vendedores de artesanato e de petiscos incitam os forasteiros recém-chegados a gastarem uns cobres e a subsidiarem as suas vidas.

Na origem, o monumento pouco teve de lúdico ou decorativo. Mais que simbólico do poder da Coroa Portuguesa, o pelourinho da Cidade Velha tornou-se o pilar malévolo do tráfico negreiro triangulado que os portugueses implementaram no Atlântico.

No Âmago do Tráfico Negreiro do Atlântico

Os navios vindos da metrópole aportavam em Santiago. Faziam as reparações necessárias, reabasteciam-se de água e víveres.

Após o que os seus capitães os manobravam rumo ao continente africano, sobretudo a Angola e ao Congo. Seguiam com o único fito de encherem os porões de escravos destinados a garantir a mão-de-obra e todo o tipo de serventias em Portugal, nas Canárias, mais tarde, de forma cada vez mais massiva, no Brasil.

E não só. Este tráfico evoluiu de tal maneira que é quase consensual entre os linguistas que foi de Cabo Verde que os mais diversos dialectos crioulos da actualidade irradiaram para as Caraíbas e outras partes das Américas.

O pelourinho foi, sobretudo, símbolo de prisão e de crueldade. Nas suas terras de origem, os nativos habituaram-se a fazer soar os tambores para avisarem da aproximação de negreiros. Os tambores foram assim proibidos na Ribeira Grande, como por todo Cabo Verde.

Os escravos rebeldes que se atreviam a tocá-los eram chicoteados contra a coluna de pedra e, com frequência, os negreiros ou mestres, lá lhes cortavam as mãos. Esse era apenas um entre tantos outros castigos impostos em público, no coração da povoação.

Em frente ao Atlântico que separava as vítimas do passado recente e das vidas abandonadas nas suas terras.

Barcos artesanais ancorados na enseada em frente à Cidade Velha.

Descendentes de Escravos, feitos pescadores

A enseada de areia e pedras negras para sul do pelourinho surge pejada de barcos de pesca artesanais garridos. Um deles, testemunha a ligação profunda à antiga metrópole, por mais severa que se tenha em tempos revelado a história colonial. “Dany Love … e um símbolo do Sport Lisboa e Benfica” sobressai da popa de um barco vermelho e branco, como seria de esperar.

Outros barcos atracam e descarregam a pescaria. Uma peixeira atravessa o areal com um grande caldeiro cheio de peixe à cabeça, de olho nas redes enroladas sobre o chão que a poderiam armadilhar.

Nós, voltamos a cruzar o largo do pelourinho e apontamos ao vale da Ribeira Grande, o mesmo que nos tinha deslumbrado quando o apreciámos do cimo da Fortaleza de São Filipe.

A Igreja Pioneira da Povoação

Passamos junto à câmara municipal, rejeitamos o Caminho do Vale e metemo-nos pela Rua da Banana. Delimita-a uma levada de casas térreas, feitas de pedras brancas de que se destacam arbustos e bananeiras.

No pátio solarengo de uma delas, uma jovem nativa sentada sob um estendal tão folclórico como os barcos na praia, amanha peixe na companhia de um cão pachorrento. Desviamo-nos para uma escadaria e para o átrio da Igreja da Nª Srª do Rosário, de 1495 (o edifício mais antigo da Cidade Velha) uma das poucas com arquitectura gótica em África, mesmo se é agora branca.

Esta igreja foi, durante muito tempo, palco do baptismo dos escravos. A ironia das ironias está em que os colonos a baptizaram em honra da padroeira não dos escravos… mas dos homens negros.

Guardiã da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, a primeira da Cidade Velha.

A porteira e guardiã da igreja mora numa das casas da Rua da Banana. Quando nos vê aproximar, abre a porta de casa e adianta-se-nos de chave em riste.

Em todo o tempo em que examinamos o interior da nave mantém-se, esquiva, sentada no banco mais distante do altar.

Nada tem para nos dizer. Responde-nos com o mínimo palavreado possível, na expectativa de que a visita não demorasse.

Convento de São Francisco da Ribeira Velha e de Regresso ao Pelourinho

Acima no vale, por um caminho partilhado por galinhas, cabras e porcos e ainda entre coqueiros, deparamo-nos com o Convento de São Francisco. É outro dos templos com que a Igreja reforçou a sua presença e influência na nova urbe do Atlântico.

E com que justificou a taxação crescente do cada vez mais lucrativo tráfico negreiro e assim obteve as graças financeiras que lhe permitiram estabelecer-se noutras partes. O convento permanece dissimulado pela vegetação. Encontramo-lo de porta aberta mas com muito menos conteúdo que a igreja anterior.

Com toda a vasta ilha de Santiago por explorar, a nossa história na Cidade Velha estava no ocaso. Regressamos ao Largo do Pelourinho. Instalamo-nos na esplanada de uma das lanchonetes. Apesar de humilde, serve refeições “tanto de carne como de peixe. Tudo feito em frigideira desinfectada” assim nos assegura a senhora ao balcão, com uma preocupação infundada com a nossa exigência.

Deixamos o sol cair para o lado da ilha do Fogo. Quando nos fartamos daquele descanso modesto mas sagrado na Cidade Velha, regressamos ao carro e apontamos a terras bem mais altas de Santiago.

E a outro lugar sensível da história portuguesa, o Tarrafal.

 

A TAP – www.flytap.pt voa diariamente de Lisboa para a cidade da Praia, capital de Cabo Verde, situada a poucos quilómetros da Cidade Velha.

São Nicolau, Cabo Verde

Fotografia dess Nha Terra São Nicolau

A voz da saudosa Cesária Verde cristalizou o sentimento dos cabo-verdianos que se viram forçados a deixar a sua ilha. Quem visita São Nicolau ou, vá lá que seja, admira imagens que a bem ilustrem, percebe porque os seus lhe chamam, para sempre e com orgulho, nha terra.
Elmina, Gana

O Primeiro Jackpot dos Descobrimentos Portugueses

No séc. XVI, Mina gerava à Coroa mais de 310 kg de ouro anuais. Este proveito suscitou a cobiça da Holanda e da Inglaterra que se sucederam no lugar dos portugueses e fomentaram o tráfico de escravos para as Américas. A povoação em redor ainda é conhecida por Elmina mas, hoje, o peixe é a sua mais evidente riqueza.
Chã das Caldeiras, Ilha do Fogo Cabo Verde

Um Clã "Francês" à Mercê do Fogo

Em 1870, um conde nascido em Grenoble a caminho de um exílio brasileiro, fez escala em Cabo Verde onde as beldades nativas o prenderam à ilha do Fogo. Dois dos seus filhos instalaram-se em plena cratera do vulcão e lá continuaram a criar descendência. Nem a destruição causada pelas recentes erupções demove os prolíficos Montrond do “condado” que fundaram na Chã das Caldeiras.    
São Vicente, Cabo Verde

O Deslumbre Árido-Vulcânico de Soncente

Uma volta a São Vicente revela uma aridez tão deslumbrante como inóspita. Quem a visita, surpreende-se com a grandiosidade e excentricidade geológica da quarta menor ilha de Cabo Verde.
São Nicolau, Cabo Verde

São Nicolau: Romaria à Terra di Sodade

Partidas forçadas como as que inspiraram a famosa morna “Sodade” deixaram bem vincada a dor de ter que deixar as ilhas de Cabo Verde. À descoberta de Saninclau, entre o encanto e o deslumbre, perseguimos a génese da canção e da melancolia.
Santo Antão, Cabo Verde

Pela Estrada da Corda Toda

Santo Antão é a mais ocidental das ilhas de Cabo Verde. Lá se situa um limiar Atlântico e rugoso de África, um domínio insular majestoso que começamos por desvendar de uma ponta à outra da sua deslumbrante Estrada da Corda.
Santa Maria, Sal, Cabo Verde

Santa Maria e a Bênção Atlântica do Sal

Santa Maria foi fundada ainda na primeira metade do século XIX, como entreposto de exportação de sal. Hoje, muito graças à providência de Santa Maria, o Sal ilha vale muito que a matéria-prima.
Ilha do Sal, Cabo Verde

O Sal da Ilha do Sal

Na iminência do século XIX, Sal mantinha-se carente de água potável e praticamente inabitada. Até que a extracção e exportação do sal lá abundante incentivou uma progressiva povoação. Hoje, o sal e as salinas dão outro sabor à ilha mais visitada de Cabo Verde.
Ilha do Fogo, Cabo Verde

À Volta do Fogo

Ditaram o tempo e as leis da geomorfologia que a ilha-vulcão do Fogo se arredondasse como nenhuma outra em Cabo Verde. À descoberta deste arquipélago exuberante da Macaronésia, circundamo-la contra os ponteiros do relógio. Deslumbramo-nos no mesmo sentido.

Ilha de Goreia, Senegal

Uma Ilha Escrava da Escravatura

Foram vários milhões ou apenas milhares os escravos a passar por Goreia a caminho das Américas? Seja qual for a verdade, esta pequena ilha senegalesa nunca se libertará do jugo do seu simbolismo.​

Ilha da Boa Vista, Cabo Verde

Ilha da Boa Vista: Vagas do Atlântico, Dunas do Sara

Boa Vista não é apenas a ilha cabo-verdiana mais próxima do litoral africano e do seu grande deserto. Após umas horas de descoberta, convence-nos de que é um retalho do Sara à deriva no Atlântico do Norte.
Lençois da Bahia, Brasil

A Liberdade Pantanosa do Quilombo do Remanso

Escravos foragidos subsistiram séculos em redor de um pantanal da Chapada Diamantina. Hoje, o quilombo do Remanso é um símbolo da sua união e resistência mas também da exclusão a que foram votados.
Chã das Caldeiras a Mosteiros, Ilha do Fogo, Cabo Verde

Chã das Caldeiras a Mosteiros: descida pelos Confins do Fogo

Com o cimo de Cabo Verde conquistado, dormimos e recuperamos em Chã das Caldeiras, em comunhão com algumas das vidas à mercê do vulcão. Na manhã seguinte, iniciamos o regresso à capital São Filipe, 11 km de caminho para Mosteiros abaixo.
Brava, Cabo Verde

A Ilha Brava de Cabo Verde

Aquando da colonização, os portugueses deparam-se com uma ilha húmida e viçosa, coisa rara, em Cabo Verde. Brava, a menor das ilhas habitadas e uma das menos visitadas do arquipélago preserva uma genuinidade própria da sua natureza atlântica e vulcânica algo esquiva.
Santiago, Cabo Verde

Santiago de Baixo a Cima

Aterrados na capital cabo-verdiana de Praia, exploramos a sua pioneira antecessora. Da Cidade Velha, percorremos a crista montanhosa e deslumbrante de Santiago, até ao topo desafogado de Tarrafal.
Santo Antão, Cabo Verde

Porto Novo a Ribeira Grande pelo Caminho do Mar

Desembarcados e instalados em Porto Novo de Santo Antão, depressa constatamos duas rotas para chegar à segunda maior povoação da ilha. Já rendidos ao sobe-e-desce monumental da Estrada da Corda, deslumbramo-nos com o dramatismo vulcânico e atlântico da alternativa costeira.
Ponta do Sol a Fontainhas, Santo Antão, Cabo Verde

Uma Viagem Vertiginosa a Partir da Ponta do Sol

Atingimos o limiar norte de Santo Antão e de Cabo Verde. Em nova tarde de luz radiosa, acompanhamos a azáfama atlântica dos pescadores e o dia-a-dia menos litoral da vila. Com o ocaso iminente, inauguramos uma demanda sombria e intimidante do povoado das Fontainhas.
Mindelo, São Vicente, Cabo Verde

O Milagre de São Vicente

São Vicente sempre foi árida e inóspita a condizer. A colonização desafiante da ilha submeteu os colonos a sucessivas agruras. Até que, por fim, a sua providencial baía de águas profundas viabilizou o Mindelo, a urbe mais cosmopolita e a capital cultural de Cabo Verde.
Nova Sintra, Brava, Cabo Verde

Uma Sintra Crioula, em Vez de Saloia

Quando os colonos portugueses descobriram a ilha de Brava, repararam no seu clima, muito mais húmido que a maior parte de Cabo Verde. Determinados em manterem ligações com a distante metrópole, chamaram a principal povoação de Nova Sintra.
Tarrafal, Santiago, Cabo Verde

O Tarrafal da Liberdade e da Vida Lenta

A vila de Tarrafal delimita um recanto privilegiado da ilha de Santiago, com as suas poucas praias de areia branca. Quem por lá se encanta tem ainda mais dificuldade em entender a atrocidade colonial do vizinho campo prisional.
Fiéis saúdam-se no registão de Bukhara.
Cidade
Bukhara, Uzbequistão

Entre Minaretes do Velho Turquestão

Situada sobre a antiga Rota da Seda, Bukhara desenvolveu-se desde há pelo menos, dois mil anos como um entreposto comercial, cultural e religioso incontornável da Ásia Central. Foi budista, passou a muçulmana. Integrou o grande império árabe e o de Gengis Khan, reinos turco-mongois e a União Soviética, até assentar no ainda jovem e peculiar Uzbequistão.
Anfitrião Wezi aponta algo na distância
Praia
Cobué; Nkwichi Lodge, Moçambique

O Moçambique Recôndito das Areias Rangentes

Durante um périplo de baixo a cima do (lago) Malawi, damos connosco na ilha de Likoma, a uma hora de barco do Nkwichi Lodge, o ponto de acolhimento solitário deste litoral interior de Moçambique. Do lado moçambicano, o lago é tratado por Niassa. Seja qual for o seu nome, lá descobrimos alguns dos cenários intocados e mais impressionantes do sudeste africano.
Delta do Okavango, Nem todos os rios Chegam ao Mar, Mokoros
Safari
Delta do Okavango, Botswana

Nem Todos os Rios Chegam ao Mar

Terceiro rio mais longo do sul de África, o Okavango nasce no planalto angolano do Bié e percorre 1600km para sudeste. Perde-se no deserto do Kalahari onde irriga um pantanal deslumbrante repleto de vida selvagem.
Braga ou Braka ou Brakra, no Nepal
Annapurna (circuito)
Circuito Annapurna: 6º – Braga, Nepal

Num Nepal Mais Velho que o Mosteiro de Braga

Quatro dias de caminhada depois, dormimos aos 3.519 metros de Braga (Braka). À chegada, apenas o nome nos é familiar. Confrontados com o encanto místico da povoação, disposta em redor de um dos mosteiros budistas mais antigos e reverenciados do circuito Annapurna, lá prolongamos a aclimatização com subida ao Ice Lake (4620m).
Estátua Mãe-Arménia, Erevan, Arménia
Arquitectura & Design
Erevan, Arménia

Uma Capital entre o Leste e o Ocidente

Herdeira da civilização soviética, alinhada com a grande Rússia, a Arménia deixa-se seduzir pelos modos mais democráticos e sofisticados da Europa Ocidental. Nos últimos tempos, os dois mundos têm colidido nas ruas da sua capital. Da disputa popular e política, Erevan ditará o novo rumo da nação.
Era Susi rebocado por cão, Oulanka, Finlandia
Aventura
PN Oulanka, Finlândia

Um Lobo Pouco Solitário

Jukka “Era-Susi” Nordman criou uma das maiores matilhas de cães de trenó do mundo. Tornou-se numa das personagens mais emblemáticas da Finlândia mas continua fiel ao seu cognome: Wilderness Wolf.
Danca dragao, Moon Festival, Chinatown-Sao Francisco-Estados Unidos da America
Cerimónias e Festividades
São Francisco, E.U.A.

Com a Cabeça na Lua

Chega a Setembro e os chineses de todo o mundo celebram as colheitas, a abundância e a união. A enorme sino-comunidade de São Francisco entrega-se de corpo e alma ao maior Festival da Lua californiano.
Mdina, Malta, Cidade Silenciosa, arquitectura
Cidades
Mdina, Malta

A Cidade Silenciosa e Notável de Malta

Mdina foi capital de Malta até 1530. Mesmo depois de os Cavaleiros Hospitalários a terem despromovido, foi atacada e fortificou-se a condizer. Hoje, é a costeira e sobranceira Valletta que conduz os destinos da ilha. A Mdina coube a tranquilidade da sua monumentalidade.
mercado peixe Tsukiji, toquio, japao
Comida
Tóquio, Japão

O Mercado de Peixe que Perdeu a Frescura

Num ano, cada japonês come mais que o seu peso em peixe e marisco. Desde 1935, que uma parte considerável era processada e vendida no maior mercado piscícola do mundo. Tsukiji foi encerrado em Outubro de 2018, e substituído pelo de Toyosu.
Casal Gótico
Cultura

Matarraña a Alcanar, Espanha

Uma Espanha Medieval

De viagem por terras de Aragão e Valência, damos com torres e ameias destacadas de casarios que preenchem as encostas. Km após km, estas visões vão-se provando tão anacrónicas como fascinantes.

Corrida de Renas , Kings Cup, Inari, Finlândia
Desporto
Inari, Finlândia

A Corrida Mais Louca do Topo do Mundo

Há séculos que os lapões da Finlândia competem a reboque das suas renas. Na final da Kings Cup - Porokuninkuusajot - , confrontam-se a grande velocidade, bem acima do Círculo Polar Ártico e muito abaixo de zero.
Train Fianarantsoa a Manakara, TGV Malgaxe, locomotiva
Em Viagem
Fianarantsoa-Manakara, Madagáscar

A Bordo do TGV Malgaxe

Partimos de Fianarantsoa às 7a.m. Só às 3 da madrugada seguinte completámos os 170km para Manakara. Os nativos chamam a este comboio quase secular Train Grandes Vibrations. Durante a longa viagem, sentimos, bem fortes, as do coração de Madagáscar.
Camponesa, Majuli, Assam, India
Étnico
Majuli, Índia

Uma Ilha em Contagem Decrescente

Majuli é a maior ilha fluvial da Índia e seria ainda uma das maiores à face da Terra não fosse a erosão do rio Bramaputra que há séculos a faz diminuir. Se, como se teme, ficar submersa dentro de vinte anos, mais que uma ilha, desaparecerá um reduto cultural e paisagístico realmente místico do Subcontinente.
tunel de gelo, rota ouro negro, Valdez, Alasca, EUA
Portfólio Fotográfico Got2Globe
Portfólio Got2Globe

Sensações vs Impressões

hacienda mucuyche, Iucatão, México, canal
História
Iucatão, México

Entre Haciendas e Cenotes, pela História do Iucatão

Em redor da capital Mérida, para cada velha hacienda henequenera colonial há pelo menos um cenote. Com frequência, coexistem e, como aconteceu com a semi-recuperada Hacienda Mucuyché, em duo, resultam nalguns dos lugares mais sublimes do sudeste mexicano.

aggie grey, Samoa, pacífico do Sul, Marlon Brando Fale
Ilhas
Apia, Samoa Ocidental

A Anfitriã do Pacífico do Sul

Vendeu burgers aos GI’s na 2ª Guerra Mundial e abriu um hotel que recebeu Marlon Brando e Gary Cooper. Aggie Grey faleceu em 1988 mas o seu legado de acolhimento perdura no Pacífico do Sul.
Igreja Sta Trindade, Kazbegi, Geórgia, Cáucaso
Inverno Branco
Kazbegi, Geórgia

Deus nas Alturas do Cáucaso

No século XIV, religiosos ortodoxos inspiraram-se numa ermida que um monge havia erguido a 4000 m de altitude e empoleiraram uma igreja entre o cume do Monte Kazbek (5047m) e a povoação no sopé. Cada vez mais visitantes acorrem a estas paragens místicas na iminência da Rússia. Como eles, para lá chegarmos, submetemo-nos aos caprichos da temerária Estrada Militar da Geórgia.
Enseada, Big Sur, Califórnia, Estados Unidos
Literatura
Big Sur, E.U.A.

A Costa de Todos os Refúgios

Ao longo de 150km, o litoral californiano submete-se a uma vastidão de montanha, oceano e nevoeiro. Neste cenário épico, centenas de almas atormentadas seguem os passos de Jack Kerouac e Henri Miller.
Caminhada Solitária, Deserto do Namibe, Sossusvlei, Namibia, acácia na base de duna
Natureza
Sossusvlei, Namíbia

O Namibe Sem Saída de Sossusvlei

Quando flui, o rio efémero Tsauchab serpenteia 150km, desde as montanhas de Naukluft. Chegado a Sossusvlei, perde-se num mar de montanhas de areia que disputam o céu. Os nativos e os colonos chamaram-lhe pântano sem retorno. Quem descobre estas paragens inverosímeis da Namíbia, pensa sempre em voltar.
Sheki, Outono no Cáucaso, Azerbaijão, Lares de Outono
Outono
Sheki, Azerbaijão

Outono no Cáucaso

Perdida entre as montanhas nevadas que separam a Europa da Ásia, Sheki é uma das povoações mais emblemáticas do Azerbaijão. A sua história em grande parte sedosa inclui períodos de grande aspereza. Quando a visitámos, tons pastéis de Outono davam mais cor a uma peculiar vida pós-soviética e muçulmana.
Hipopótamo move-se na imensidão alagada da Planície dos Elefantes.
Parques Naturais
Parque Nacional de Maputo, Moçambique

O Moçambique Selvagem entre o Rio Maputo e o Índico

A abundância de animais, sobretudo de elefantes, deu azo, em 1932, à criação de uma Reserva de Caça. Passadas as agruras da Guerra Civil Moçambicana, o PN de Maputo protege ecossistemas prodigiosos em que a fauna prolifera. Com destaque para os paquidermes que recentemente se tornaram demasiados.
Ao fim da tarde
Património Mundial UNESCO
Ilha de Moçambique, Moçambique  

A Ilha de Ali Musa Bin Bique. Perdão, de Moçambique

Com a chegada de Vasco da Gama ao extremo sudeste de África, os portugueses tomaram uma ilha antes governada por um emir árabe a quem acabaram por adulterar o nome. O emir perdeu o território e o cargo. Moçambique - o nome moldado - perdura na ilha resplandecente em que tudo começou e também baptizou a nação que a colonização lusa acabou por formar.
Ooty, Tamil Nadu, cenário de Bollywood, Olhar de galã
Personagens
Ooty, Índia

No Cenário Quase Ideal de Bollywood

O conflito com o Paquistão e a ameaça do terrorismo tornaram as filmagens em Caxemira e Uttar Pradesh um drama. Em Ooty, constatamos como esta antiga estação colonial britânica assumia o protagonismo.
Montezuma e Malpaís, melhores praias da Costa Rica, Catarata
Praias
Montezuma, Costa Rica

De Volta aos Braços Tropicais de Montezuma

Passaram 18 anos desde que nos deslumbrámos com este que é um dos litorais abençoados da Costa Rica. Há apenas dois meses, reencontrámo-lo. Tão aconchegante como o  tínhamos conhecido.
Pemba, Moçambique, Capital de Cabo Delgado, de Porto Amélia a Porto de Abrigo, Paquitequete
Religião
Pemba, Moçambique

De Porto Amélia ao Porto de Abrigo de Moçambique

Em Julho de 2017, visitámos Pemba. Dois meses depois, deu-se o primeiro ataque a Mocímboa da Praia. Nem então nos atrevemos a imaginar que a capital tropical e solarenga de Cabo Delgado se tornaria a salvação de milhares de moçambicanos em fuga de um jihadismo aterrorizador.
white pass yukon train, Skagway, Rota do ouro, Alasca, EUA
Sobre Carris
Skagway, Alasca

Uma Variante da Febre do Ouro do Klondike

A última grande febre do ouro norte-americana passou há muito. Hoje em dia, centenas de cruzeiros despejam, todos os Verões, milhares de visitantes endinheirados nas ruas repletas de lojas de Skagway.
patpong, bar go go, banguecoque, mil e uma noites, tailandia
Sociedade
Banguecoque, Tailândia

Mil e Uma Noites Perdidas

Em 1984, Murray Head cantou a magia e bipolaridade nocturna da capital tailandesa em "One Night in Bangkok". Vários anos, golpes de estado, e manifestações depois, Banguecoque continua sem sono.
Mulheres com cabelos longos de Huang Luo, Guangxi, China
Vida Quotidiana
Longsheng, China

Huang Luo: a Aldeia Chinesa dos Cabelos mais Longos

Numa região multiétnica coberta de arrozais socalcados, as mulheres de Huang Luo renderam-se a uma mesma obsessão capilar. Deixam crescer os cabelos mais longos do mundo, anos a fio, até um comprimento médio de 170 a 200 cm. Por estranho que pareça, para os manterem belos e lustrosos, usam apenas água e arrôz.
Curieuse Island, Seychelles, tartarugas de Aldabra
Vida Selvagem
Île Felicité e Île Curieuse, Seychelles

De Leprosaria a Lar de Tartarugas Gigantes

A meio do século XVIII, continuava inabitada e ignorada pelos europeus. A expedição francesa do navio “La Curieuse” revelou-a e inspirou-lhe o baptismo. Os britânicos mantiveram-na uma colónia de leprosos até 1968. Hoje, a Île Curieuse acolhe centenas de tartarugas de Aldabra, o mais longevo animal terrestre.
Napali Coast e Waimea Canyon, Kauai, Rugas do Havai
Voos Panorâmicos
NaPali Coast, Havai

As Rugas Deslumbrantes do Havai

Kauai é a ilha mais verde e chuvosa do arquipélago havaiano. Também é a mais antiga. Enquanto exploramos a sua Napalo Coast por terra, mar e ar, espantamo-nos ao vermos como a passagem dos milénios só a favoreceu.