Edfu a Kom Ombo, Egipto

Nilo Acima, pelo Alto Egipto Ptolomaico


Forças de Segurança
Polícias de uniformes espartanos durante um período eleitoral, em Edfu.
Polícia à Porta
Guarda de um negócio com pouco para fazer.
Gerações a Remos
Agricultores cruzam o Nilo num pequeno barco a remos carregado de erva.
Transporte do Nilo
Barco de transporte navega ao longo do rio Nilo.
Comboio à beira Nilo
Comboio avança ao longo de uma margem elevada do Nilo.
Pastores e Manada
Vaqueiros conversam junto a uma margem do Nilo, enquanto uma manada pasta.
Ocaso Egípcio
Sol põe-se a oeste do rio Nilo.
Corvos-marinhos
Bando de corvos-marinhos sobrevoa o rio Nilo.
Faluca do Nilo
Faluca prestes a amarar numa margem do rio Nilo.
Moda Jilaba
Vendedor de roupa em frente à sua loja da doca de Kom Ombo.
Ferries no Nilo
Ferries navegam nas águas azuis do rio Nilo.
Faluca num Nilo Verdejante
Faluca numa margem verdejante do Nilo.
O Templo de Edfu
Fachada principal do Templo Ptolomaico de Edfu.
Guardião do Templo de Edfu
Vigilante em frente à fachada do Templo de Edfu.
Vigilante Emoldurado do templo
Guardião requentado numa mancha de sol do templo de Edfu.
Vigilante do Templo Edfu
Guardião do Templo de Edfu trajado de jilaba e turbante.
Guia explica hieroglifos
Guia ajuda visitantes a decifrar inscrições numa parede do templo de Edfu.
Família Egípcia em Kom Ombo
Jovem
Marinheiros do Nilo
Marinheiros na proa de um dos ferries que percorrem o rio Nilo.
Gravuras de Kom Ombo
Pormenor de um das muitas gravuras que ilustram o templo de Kom Ombo.
Cumprida a embaixada incontornável a Luxor, à velha Tebas e ao Vale dos Reis, prosseguimos contra a corrente do Nilo. Em Edfu e Kom Ombo, rendemo-nos à magnificência histórica legada pelos sucessivos monarcas Ptolomeu.

São quase oito da manhã. Há muito que o sol sobe, disparado, para o céu azulão.

O navio atracara durante a noite. Quando despertamos, 110 km a sul de Luxor, temos como vista a zona ribeirinha de Edfu e a estação de charretes que a servem. Instalamo-nos numa delas. Eid, o guia, dá ordem de partida.

Ao ritmo do seu espanhol arabizado e do trote da parelha equina, percorremos as ruelas da cidade.

Polui-a um sortido incaracterístico de faixas e outros formatos eleitorais, de dezenas de rivais esperançosos. Em tempos de ansiedade democrática e do afluxo diminuído de turistas, Edfu protegia-se com medidas especiais.

Passamos por dois grandes camiões-cela, separados por elementos de uma qualquer força de segurança.

Egipto Ptolomaico, Edfu a Kom Ombo, Nilo acima, forças de segurança

Polícias de uniformes espartanos durante um período eleitoral, em Edfu.

Distinguia-os um uniforme coroado de boné, negro dos pés à cabeça, escuro como os niqabs das mulheres islâmicas tradicionalistas que por ali passavam, junto à base de prédios com fachadas gastas, repletos de letreiros de negócios.

Vendedores de citrinos promoviam a sua fruta, essa, de tons naturais bem vivos, junto a uma loja de jilabas, vestidos e restante vestuário, exposto numa montra elevada acima da entrada.

Egipto Ptolomaico, Edfu a Kom Ombo, Nilo acima, moda Jilaba

Vendedor de roupa em frente à sua loja da doca de Kom Ombo.

Edfu entrava, em pleno, na sua azáfama contemporânea quando, umas centenas de metros para poente, o labirinto de ruelas se abre para o reduto milenar e arenoso local da era egípcia Ptolomaica.

Templo de Edfu: a Porta de Entrada Majestosa para a Dinastia Ptolomaica

Mesmo àquela hora, encontramos o Templo de Edfu quase deserto, condizente com o Saara em redor. Intacto, como poucos outros edifícios erguidos no Antigo Egipto e monumental à altura.

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Fachada principal do Templo Ptolomaico de Edfu.

Trinta e seis metros, para sermos mais exactos, a medida impressionante da fachada de adobe que nos deixa embasbacados, com as suas linhas caídas e quebradas, reflexo de uma criatividade e riqueza arquitectónica a que só líderes poderosos podiam almejar.

Neste caso, todos eles tiveram origem macedónia. Do primeiro ao oitavo rei da Dinastia, todos eles se intitulavam Ptolomeu.

Admiramos o edifício a partir do início da alameda, algo incrédulos.

Mesmo a essa distância, conseguimos distinguir as figuras inscritas na fachada, perceber a diversidade de personagens e suas acções, adicionadas de ambos os lados do pórtico conhecido como pilão.

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Visitantes tentam decifrar um mapa sob o olhar de um guardião do templo de Edfu.

A Longa e Profícua Dinastia Ptolomaica do Egipto

O templo de Edfu começou a ser erguido no século 237 a.C., em pleno Reino Ptolomaico do Egipto, fundado por Ptolomeu I Sóter na sequência da morte intrigante de Alexandre o Grande.

Com apenas 32 anos, Alexandre pereceu no palácio do rei Nabucodonosor da Babilónia, de malária, febre tifoide, de intoxicação alcoólica ou de envenenamento, continua por apurar um motivo indisputado.

Contra a gradual desintegração do império legado por Alexandre, um dos mais vastos da História, Ptolomeu I Sóter apoderou-se do Egipto, declarou-se o Faraó sucessor e fez expandir os territórios dominados pela sua Dinastia até à longínqua Núbia, a sul de Assuão. A capital do Reino Ptolomaico recaiu em Alexandria.

Com o passar dos anos, os macedónios assimilaram boa parte da etnicidade, da cultura e dos modos egípcios. Passaram a louvar os deuses egípcios de sempre.

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Pormenor de um das muitas gravuras que ilustram o templo de Kom Ombo.

O templo de Edfu foi só um dos vários que lhes dedicaram de forma incondicional e persistente, como o prova o facto de a sua construção se ter arrastado até 57 a.C.

Templo de Edfu. o Grande Santuário Egípcio do deus Hórus

Aproximamo-nos da entrada. Guardam-na duas estátuas de falcões coroados, uma de cada lado, abaixo de outras imagens que exibem versões humanizadas da ave. Em qualquer caso, representam Horus, deus egípcio do céu e da realeza, filho de Osíris e de Isis.

Edfu, ou a cidade antiga de Nekhen que por ali existiu, sempre foi o principal centro de culto de Horus. Coincidência ou não, o templo de Edfu é um dos mais bem conservados de todo o Egipto.

Entramos. A primeira visão que temos é a de um guardião do templo, vestido de jilaba, com um turbante enrolado em volta da cabeça. Encontramo-lo sentado na base de uma coluna, a absorver os raios solares que o destacavam da penumbra.

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Guardião requentado numa mancha de sol do templo de Edfu.

O vigia dá-nos as boas-vindas. Logo, concede-nos uma fotografia. Por cinco libras egípcias, claro está, já nem esperávamos que fosse de outra maneira.

Progredimos para o interior do santuário, pelas capelas que o envolvem, por corredores com iluminação eléctrica e por outros expostos à luz solar, repletos de jogos de sombras, com os hieróglifos que preenchiam as paredes e as grandes colunas com mais ou menos relevo e definição, consoante o ângulo em que a luz neles incidia.

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Guia ajuda visitantes a decifrar inscrições numa parede do templo de Edfu.

Preservadas como se mantêm, estas inscrições prendaram os egiptólogos com pistas e dados cruciais ao conhecimento da civilização egípcia, da linguagem, da religião e mitologia em que assentava, incluindo o Drama Sagrado, o conflito divino entre Horus e Seth, este, o deus do caos, da guerra e da seca.

As inscrições e gravuras também contam episódios relevantes da própria edificação do templo. Prosseguimos à sua descoberta.

Não tarda, numa secção anexa e aberta, dividida por muros e colunas incompletas que não resistiram ao peso da história e à aridez do deserto.

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Vigilante em frente à fachada do Templo de Edfu.

A Navegação Entre Edfu e Kom Ombo

Após o meio-dia, com o sol a pique e inclemente, voltamos a cruzar Edfu, rumo ao Nilo. Reembarcamos.

Pouco depois, retomamos a navegação pela artéria aorta da civilização egípcia, para seu montante.

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Faluca numa margem verdejante do Nilo.

Longe dos tempos das desejadas e profícuas inundações, o caudal do grande rio africano também flui a salvo das sequias geradas por Seth que os camponeses sempre temeram.

Revela-se suficientemente amplo para admitir três ou quatro barcos lado a lado.

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Ferries navegam nas águas azuis do rio Nilo.

Três deles navegam dessa maneira. Sulcam o azul intenso do Nilo, entre florestas de palmeiras, margens e ilhas de papiro, de erva e outros tipos de juncos e de vegetação pastadas por sucessivas manadas de vacas.

Egipto Ptolomaico, Edfu a Kom Ombo, Nilo acima, manada e vaqueiros

Vaqueiros conversam junto a uma margem do Nilo, enquanto uma manada pasta.

Passamos por falucas tradicionais, de convés raso, dois mastros e o mesmo número de velas, brancas.

E por barcos menores, a remos. Num deles, um adolescente toca pífaro, sentado contra um molho de erva recém-cortada, embalado pela ondulação provocada pelos ferries.

Egipto Ptolomaico, Edfu a Kom Ombo, Nilo acima, barco a remos

Agricultores cruzam o Nilo num pequeno barco a remos carregado de erva.

Bandos de corvos-marinhos negros, de bico amarelo, sobrevoam-nos, indiferentes ao trânsito fluvial e ao deleite granfino dos passageiros refastelados em volta das piscinas.

Kom Ombo e o Templo de Hórus e do deus Crocodilo Sobek

Sobre as quatro da tarde, atracamos numa doca escadeada e pejada de lojas, num meandro do Nilo acentuado pela ilha de Nagaa Al Jami.

O Templo de Kom Ombo insinuava-se, sobranceiro, com o seu conjunto de colunas destacado acima das árvores ribeirinhas.

Egipto Ptolomaico, Edfu a Kom Ombo, Nilo acima, casal no Templo de Kom Ombo

Jovem

Ao desembarque segue-se, de imediato, o trajecto pedestre para o monumento. O grande astro estava prestes a sumir-se para baixo do horizonte.

Sob a luz derradeira do dia, Kom Ombo ostentava um encanto redobrado que desejávamos viver tanto quanto possível.

Mesmo se, decorridos dois milénios desde a sua construção durante o reinado de Ptolomeu IV, se havia degradado mais que o de Edfu, danificado pelas enchentes do Nilo, diz-se que também por terramotos e pela imposição dos cristãos Coptas que, em tempos, o adaptaram a igreja e danificaram vários dos seus hieróglifos.

O que se sabe, hoje, é que o templo de Kom Ombo só foi finalizado nos últimos anos da Dinastia Ptolomaica, alguns acrescentos e aperfeiçoamentos levados a cabo já os Romanos eram donos e senhores destas partes do Egipto.

Egipto Ptolomaico, Edfu a Kom Ombo, Nilo acima, vigilante refastelado

Vigilante do templo de Kom Ombo instalado contra uma coluna.

Subsistem, agora, difusos, os seus salões, os dos tribunais, os santuários, os átrios e as câmaras, neste caso, erguidas na sequência de uma entrada dupla, em lados opostos, dispostos em louvor de um duo divino improvável, o formado por Horus e pelo deus crocodilo da fertilidade e da criação, Sobek.

Deambulamos entre as colunas, decididos a decifrarmos, por nossa conta, pelo menos uma ou duas das ilustrações intrincadas.

O Deus Sol Rá e o Ocaso Exuberante sobre o Alto Egipto

Andamos nestes trabalhos quando percebemos que Rá se dissolvia num drama de cor, para trás do Nilo, do palmeiral e do deserto do Saara infindável a oeste.

Visitantes de todas as partes, entre os quais, várias famílias egípcias, pressentem a transição mágica do dia para a noite.

Posicionam-se para a apreciar, dos laicos aos muçulmanos quase salafitas, cada qual nos seus modos e preparos, num vaivém frenético que capturarmos como curiosos arrastos fotográficos.

Egipto Ptolomaico, Edfu a Kom Ombo, Nilo acima,

Visitantes percorrem um corredor dourado do templo de Kom Ombo.

Momentos depois, Rá dá entrada no submundo Duat, a bordo da dupla barca solar Mesektet.

Ainda segundo a mitologia egípcia, já com cabeça de carneiro, na companhia de outras divindades, Sia, Hu e Heka e a salvo dos monstros da penumbra por Enéade e pelo inusitado e rebuscado Seth.

Egipto Ptolomaico, Edfu a Kom Ombo, Nilo acima, ocaso

Sol põe-se a oeste do rio Nilo.

Kom Ombo assumiu um curto turno crepuscular, com o céu a desistir do seu azul. Quando a escuridão raptou, por fim, o Egipto, regressamos à barca terrena em que seguíamos.

Lá recarregamos energias, à espera do transbordo de Rá para a sua embarcação matinal e do renovar da sua aurora divinal.

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