Damos por encerrada uma incursão inaugural ao John Pennekamp State Park, a primeira grande área protegida, situada a leste de onde a Overseas Highway se alinha com a longa alpondra das Florida Keys.
Um vento demasiado forte causa o cancelamento do tour de barco, com snorkeling, que tínhamos programado para essa manhã. Retomamos, assim, a viagem.
Percorremos todo Key Largo, o primeiro dos maiores sub-arquipélagos unidos pelo betão, pelo asfalto de dezenas de viadutos.
Após um bom tempo numa extensão urbanizada, a estrada mete-se num manguezal demasiado alagado e pantanoso para acolher estruturas.
O manguezal, por sua vez, rende-se a um canal sinuoso e amplo que intersecta as Florida Keys.
Chegada Vespertina a Islamorada
Ao cruzarmos o tal de Tavernier Creek, deixamos para trás a região de Tavernier e, em simultâneo, Key Largo. Do lado de lá, já estamos sobre a ilha de Plantation Key e em pleno sub-arquipélago de Islamorada.
Quando mais descemos pela Overseas Highway, mais intrincada se torna a geografia destes fundos inusitados e insulares da Flórida.
O que nos faltava percorrer até ao pouso em que íamos pernoitar, continuou a confirmá-lo.
De Plantation Key, passamos para Windley Key, pouco depois, para Upper Matecumbe Key.
O hotel ficava na ponta oposta dessa outra grande ilha pantanosa, na iminência de nova secção de mar aberto, sulcado por canais desenhados na imensidão de coral e atravessado pela omnipresente Hwy 1.
Outras keys de Islamorada surgiriam.
Depois de quase cinco horas de condução e paragens fotográficas desde Miami, a prioridade estava em darmos entrada no Amara Cay resort, em recuperarmos energias e nos reorganizarmos.
Encontramo-lo encaixado num coqueiral que ocupava uma longa faixa entre a Overseas Highway e a costa atlântica das Keys.
Mais ou menos natural ou imposto pelo paisagismo dos colonos, não o conseguíamos apurar.
O que era óbvio era como se destacava acima da vastidão do mangue do lado oposto da estrada.
Não era tudo.
A Razão Histórica de Ser do Baptismo Islamorada
Quando estudamos o que nos cercava, nuns Maps online, percebemos que, como expectável, o mangue próximo era verdejante. Prenunciava, todavia, uma lagoa de água cor-de-vinho e uma expansão de vegetação anfíbia que despontava de uma superfície com o mesmo tom.
Por ali, uma qualquer reacção química entre o leito, a água e a vegetação parecia encarniçar o manguezal.
Ora sem que o esperássemos, num ápice, descobrimos aquilo em que os descobridores espanhóis pioneiros repararam, o tingido que viria a inspirar o nome da zona: Islamorada, ou seja com cor de “mora”, em português, de amora.
Os primeiros homens a reparar na estranha coloração terão sido os marinheiros de Juan Ponce de León. Em 1513, o explorador castelhano liderou a primeira expedição à península que apelidou de La Florida.
Ponce de León desembarcou na costa oriental. Lá se destacou Saint Augustine, a mais Lôngeva Cidade Colonial das Américas.
Daí, tal e qual estávamos a fazer por terra, prosseguiu para ocidente, ao longo da costa sul das actuais Florida Keys e, logo, para norte, até à costa da península da Florida oposta àquela em que tinha desembarcado.
E, de volta para sul e para fora do Golfo do México, rumo ao Atlântico aberto.
A Incursão de Ponce de León nas Florida Keys
Consolidou-se na mitologia dos Descobrimentos que Ponce de León procurava a milagrosa Fonte da Juventude.
Chegado a estas partes, em vez da água curadeira, deparou-se com uma inesperada paisagem “ensanguentada”.
À data da primeira intrusão europeia, habitavam-nas as tribos Calusa e Tequesta, as mesmas que dominavam a península floridense e os seus Everglades.
Ora, em sintonia com a paisagem, diz-se que estes nativos pareceram, a Ponce de León, homens em sofrimento.
De acordo, o baptismo inaugural que deu ao todo das Florida Keys, incluindo Islamorada, foi Los Martyres.
E, na realidade, ambas vieram a fazer centenas de vítimas, sobretudo entre os marinheiros que erravam ao navegarem os mares repletos de recifes.
Ou que tinham o azar de nelas serem apanhados pelos furacões que, há muito varrem as Antilhas, o Caribe, o Golfo do México e o sudoeste dos Estados Unidos.
O History of Diving Museum e a Obsessão dos Bauer
Para melhor nos imergirmos no âmbito, visitamos o History of Diving Museum, aberto ao público em 2005, com exibições de fatos, aparelhos de mergulho e toda uma panóplia de instrumentos relacionados, coleccionados durante quatro décadas, por Joseph e Sally Bauer.
A obsessão levou-os em missões de estudo e aquisição, aos quatro cantos da Terra. Assim, tornaram a sua colecção uma das maiores do Mundo.
Depois de se reformar, o casal Bauer mudou-se de Cleveland, Ohio, para Islamorada. Pouco depois da inauguração, Joseph Bauer faleceu. O legado que deixou a Islamorada subsiste, entre a Overseas Highway e o mar da Baía da Flórida.
Lá nos entretemos a analisar a evolução dos escafandros, robots submergíveis e outros estranhos dispositivos e com uma competição de suster a respiração, medida por um deles. Ditou o passar dos séculos que tais equipamentos fizessem ainda mais sentido, em Islamorada.
Os Furacões, os Naufrágios e os Empresários da Salvagem de Navios
Avancemos até 1733. Um dos frequentes furacões fez que toda uma frota espanhola carregada de tesouros encalhasse nos recifes e, aos poucos, se danificasse e afundasse. Este naufrágio massivo ditou um precedente do negócio de salvagem de embarcações e sua carga.
Nos anos que se seguiram, continuaram a ocorrer naufrágios semelhantes. Ansiosos por se apoderarem dos tesouros, os nativos colocaram mãos à obra. Por norma, os comandantes ou proprietários dos navios enfureciam-se com a sua entrada em cena. Alguns, acabavam por aceitar que, sem eles, pouco ou nada reaveriam.
Outros, esperavam por possíveis reforços. No entretanto, tentavam expulsar os intrusos.
Esta estranha actividade atraiu para as Florida Keys e para Islamorada uma pequena população que se especializava no mergulho, em antiguidades e afins.
Estimou-se que, a meio do século XIX, tinha tornado Key West a cidade mais abastada, per capita, dos Estados Unidos.
E, no entanto, quando os furacões carregavam sobre as Florida Keys, a riqueza pouco ou nada ajudava.
O Indomável do Labor Day Hurricane
Nos derradeiros dias de Agosto de 1935, as autoridades alertaram os moradores de que um furacão perigoso se aproximava. Foi inclusivamente enviado um avião encarregue de o detectar e avaliar.
Quando se percebeu a real ameaça, já sob o evento, foi também enviado um comboio de salvamento.
Ventos de quase 300km/h e ondas de seis metros fizeram a composição descarrilar e cair de lado.
À data, uma empresa encarregue de estender a Overseas Highway mantinha 695 veteranos da 1ª Guerra Mundial acantonados em Islamorada. Ficaram à mercê do ciclone do Labour Day, o primeiro de Categoria 5 a atingir os Estados Unidos, com a terceira pressão atmosférica mais baixa: 892hPa.
O furacão vitimou para cima de 400 operários e moradores. Um memorial situado no cerne de Upper Matecumbe Key louva-os. Fica a pouca distância do History of Diving Museum.
Em Islamorada, ao longo da História, os furacões, os naufrágios, o mergulho e os mergulhadores andaram sempre lado a lado. Em plena 2ª Guerra Mundial, o conflito entre um salvador de naufrágios local ganancioso, a sua equipa e indígenas que se achavam com igual direito de enriquecer desencadeou uma carnificina, no caio Indian Key de Islamorada.
“Robbies”e outros Atractivos de Islamorada Inusitados
Com a Overseas Highway completa e o intensificar do turismo, Islamorada atraiu um número crescente de forasteiros e até moradores célebres. O actor Gene Hackman e desportistas idolatrados dos Estados Unidos têm lá casa.
À margem dos cenários marinhos excêntricos, um outro sério atractivo do sub-arquipélago são uns poucos bares arejados e genuínos que combinam com centro de mergulho, de pesca e de passeios.
Descobrimos o exemplo incontornável do popular “Robbies”. No seu domínio palafítico, os clientes disputam as mesas ao sol e os passadiços.
Num convívio improvável, os pelicanos mantem-se de olho nos seus próprios petiscos.
Nos peixes mais pequenos que evitam os tarpões-do-Atlântico que os clientes pagam para alimentar.
E naqueles que os pescadores recém-chegados descarregam.
A inspiração para o pitoresco “Robbies” foi terem salvo um tarpão-do-Atlântico que detectaram próximo do molhe em que costumavam embarcar, os donos orgulham-se de contar esse inesperado feito.
Mesmo diminuta e algo remota, Islamorada tem muitos mais de que se pode gabar.
COMO IR
Reserve o voo Lisboa – Miami (Flórida), Estados Unidos, com a TAP: flytap.com por a partir de 720€. A partir de Miami poderá viajar em carro alugado até Islamorada, cumprindo cerca de 2h de trajecto.