Guwahati a Sela Pass, Índia

Viagem Mundana ao Desfiladeiro Sagrado de Sela


Voltas de fé
Fiéis junto a pagodes budistas na beira da estrada que conduz ao Sela Pass, em Arunachal Pradesh.
Uma Crista militar
Linha de edifícios militares indianos no cimo de uma crista, a uns poucos kms do Desfiladeiro de Sela.
Curvas & Contracurvas
Curvas e contracurvas da estrada de montanha NH13, nas imediações do desfiladeiro de Sela.
Sela a 4
Camião percorre a estrada de montanha, a meros 4 km do Sela Pass.
Recordação sem expressão
Motociclista posa junto ao pórtico budista do desfiladeiro de Sela.
Budismo Tibetano ao vento
Pormenor do pórtico budista do Sela Pass.
Bro: Sela Pass
Sinais nas imediações do pórtico budista do desfiladeiro de Sela
Abrigo com chá
Clientes e dona no interior da tea house à beira do Sela lake.
Durante 25 horas, percorremos a NH13, uma das mais elevadas e perigosas estradas indianas. Viajamos da bacia do rio Bramaputra aos Himalaias disputados da província de Arunachal Pradesh. Neste artigo, descrevemos-lhe o trecho até aos 4170 m de altitude do Sela Pass que nos apontou à cidade budista-tibetana de Tawang.

Vários grupos iam sair de Guwahati, a capital do Nordeste Indiano, para distintos itinerários por diferentes províncias da região. Na noite anterior, John, o guia para o estado de Arunachal Pradesh informou-nos que, devido à exigência do nosso percurso apontado ao Sela Pass, tínhamos que sair do hotel às 5 da manhã, três horas antes das restantes comitivas.

Já andávamos com um bom défice de sono. Contemplámo-nos um ao outro numa partilha de pânico contido mas, à hora marcada, demos entrada no átrio e cumprimentámos pela primeira vez os quatro outros participantes da viagem: Annapurna, inglesa; Stephen e James dos E.U.A. e Peter, canadiano.

Às 6h da manhã continuávamos no lobby à espera não sabíamos bem do quê. Uma vez que o pequeno-almoço ia abrir, aproveitámos para o tomar. Só as 7h é que John deu sinal de vida. Explica que um dos motoristas não tinha aparecido e que tinha ido procurá-lo. Por fim, às 7h15, metemo-nos nos carros e partimos.

Serpenteamos pela vastidão urbana de Guwahati. Por pouco tempo. Todos precisamos de comprar cartões SIM. Nativo de Tawang, John estima que resolveria a questão pelo caminho. Mas, de cada vez que pára, dizem-lhe nas lojas que não conseguem. Paramos mais uma, duas, três, quatro vezes.

A GS Road, de Guwahati, Assam, Índia

Trânsito na GS Road, a estrada mais importante de Guwahati.

À quarta, numa lojinha mal-amanhada enfiada numa quase cave, dois jovens assameses lá aceitam a tarefa. Mas levam o seu tempo. Eram quatro os telefones dos estrangeiros, e quatro as activações necessárias, cada qual com intermináveis procedimentos.

Só nisto, foram-se quarenta minutos. Enquanto esperávamos, fotografámos a acção na barbearia logo ao lado e uma boa série de moradores das casas em redor.

Com os telefones operacionais, voltámos à estrada. Perdemos os arredores de Guwahati de vista e, aos poucos, ingressámos na planura aluvial e tropical do estado de Assam.

Preenchiam-na arrozais sem fim entrecortados por aldeias e lugarejos. Uns, hindus, outros muçulmanos. Muitos deles que as autoridades de Delhi considera habitados por imigrantes bangladeshis de várias gerações e que quer legalizar ou expulsar, uma polémica que sem têm revelado o principal barril de pólvora desta região.

Cruzamos o grande rio Bramaputra. Avançamos paralelos ao Kameng, um afluente vindo dos Himalaias que se entrega ao Bramaputra na perpendicular. Aproximamo-nos mais e mais do sopé tropical da cordilheira.

Os arrozais dão lugar a grandes plantações do famoso chá Assam. Vemos mulheres de saris coloridos trabalharem entre as fileiras do vegetal sob o olhar controlador dos capatazes. Outros funcionários pedalam pasteleiras ao longo da vereda de terra vertebral da plantação.

O exotismo daquela visão e a fama quase extraplanetária do chá Assam deixam-nos a todos em pulgas. Rogamos a John para pararmos. O cicerone responde-nos que tínhamos começado com duas horas de atraso e que o percurso até Dirang – onde iríamos dormir – era longo e complicado. Não nos fez à vontade então. No regresso, numa reacção algo sindicalista de fotógrafos, obrigámo-lo mesmo a ceder.

Prosseguimos pela Chariduar – Tawang Road, curva contra curva, a seguinte tão ou mais apertada que a anterior. Ascendemos ao longo da margem do Kameng que acompanhamos por incontáveis vertentes selvagens dos Himalaias.

De início, vemo-las forradas de pequenas palmas, ráfias, de sub-florestas de bambu, colónias de bananeiras, de uma bem mais prolífica fauna dos trópicos. Salta-nos à vista como se tornam menos densas, viçosas e luxuriantes à medida que a altitude aumenta.

Numa das inúmeras ladeiras que teve que vencer, um dos Toyotas Innova usados de que a companhia de John (como tantas outras da região) se orgulhava dá de si. Tivemos que que nos deter para que arrefecesse.

A paragem permitiu um convívio espontâneo na natureza por que vínhamos há muito a ansiar.

Meia hora depois, mecânica funcional – não propriamente recuperada – ascendemos mais umas boas centenas de metros dos Himalaias.

Abandonamos as vertentes íngremes tropicais e o Kamenga. Passamos a seguir o caudal amplo e o vale escavado por sucessivos anos e monções e inundações do Tenga, outro colosso fluvial destas paragens na iminência de Bondila.

Atrasos, paragens para Sim Cards e avarias, tudo junto, o tempo perdido tinha feito John esticar a corda da viagem a limites inconcebíveis. Tudo bem que em cada pausa forçada aproveitávamos para beber milktea ou mordiscar um qualquer petisco. Fosse como fosse, às quatro da tarde não tínhamos ainda almoçado.

Casario de Dirang, à beira do rio homónimo, Arunachal Pradesh, Índia

Panorama de Dirang no caminho entre Guwahati e o Sela Pass.

John encostou num nenhures qualquer de beira da estrada entre Bondilla e Dirang, a 2km de Kamalanchan – assim ditava um marco quilométrico. Ali nos concedeu a refeição e descanso por que já desesperávamos.

O estabelecimento revelou-se pitoresco, enfiado num barraco de tarja pintada por dentro em tons de azul, com mesas cobertas de linóleos com design despretensioso.

Uma jovem mãe e uma filha tomavam conta do negócio a partir do balcão à entrada, cercadas de garrafas de refrigerantes, pacotes de aperitivos, de caixas de ovos, de noodles instantâneos e ainda de grandes termos com chá e café. Acima das duas e da mercancia, uma fotografia emoldourada do Dalai Lama abençoava-lhes o negócio e as vidas.

Com a fome com que tínhamos chegado, todos nos limitámos a responder que sim à sugestão meio imposta de John de comermos dal bahts, o mais clássico dos pratos populares indianos, que combina arroz, lentilhas e outros vegetais.

Para Annapurna Mellor, a inglesa loura, branquinha de visual frágil mas muito aventureira que seguia no nosso carro, estava perfeito.

“Bom, chamo-me assim aparentemente porque os meus pais me conceberam durante o Annapurna Circuit, pelo menos foi o que me explicaram”. Pelo seu nome mas também pela atracção e pelo amor que sentia pela Ásia e pelo budismo em particular, Annapurna era vegetariana e uma apreciadora inveterada da gastronomia indiana, como da nepalesa e da tibetana.

Já fazia frio. Enquanto esperávamos, sentámo-nos uns breves minutos à conversa em volta de uma fogueira. Dali, para mal dos pecados de todos os outros, percebemos que Peter e James mantinham a mesma postura de divas ofendidas com que tinham partido de Guwahati. E que pouco mais faziam que se queixarem.

Os dal bhats chegaram. Cada qual coroado com a sua papad dourada e estaladiça. Para gáudio de John, sumiram-se num ápice.

Transeunte junto a pórtico budista-tibetano de Dirang, em Arunachal Pradesh, Índia

Transeunte passa por um pórtico budista-tibetano de Dirang.

Chegamos a Dirang às nove da noite, seis horas mais tarde do que havia sido programado.

Às onze, entramos em modo de recarregamento de baterias. As nossas e as da tralha electrónica toda que nos vemos forçados a transportar nas viagens.

O repouso dura o que dura. Voltamos a despertar antes das galinhas. Após o pequeno-almoço madrugador, John e os dois motoristas tratam de trocar o Toyota Innova problemático por um jipe.

Nós, aproveitamos a trégua rodoviária para explorar um pouco de Dirang. Acabamos seduzidos sobretudo pelo garrido religioso das suas ruas decoradas com sucessivos estendais de bandeiras tibetanas de oração que o vento faz tremelicar e que reluzem contra o sol já a espreitar sobre as montanhas.

Rua de Dirang, cidade de Arunachal Pradesh, Índia

Rua de Dirang decorada com estandartes budistas esvoaçantes.

Mal John surge com o jipe, voltamos à estrada. Desta feita, para variar, detemo-nos menos de 20km depois.

John planeara uma paragem estratégica no Nyukmadung War Memorial, erguido no local exacto de uma batalha do conflito sino-indiano de 1962, quando forças do exército chinês se infiltraram na Índia, devido a divergências que desde então se arrastam quanto à definição das fronteiras entre os dois países na região.

Durante os anos subsequentes, os nativos preservaram o costume de empilhar pedras em homenagem dos soldados indianos abatidos na batalha. Mais tarde, seria erguido o memorial que presenciávamos, sem qualquer dúvida budista, acessível por um pórtico e uma escadaria que conduzem a uma estupa no centro de uma profusão intrincada e colorida de bandeiras de oração.

Pagodas budistas no Nyukmadung War Memorial, Arunachal Pradesh, Índia

Pagodas budistas no Nyukmadung War Memorial, erguido em homenagem a soldados indianos perecidos naquele local conflito sino-indiano de 1964.

Não seria o último memorial de guerra do trajecto. Muito menos seria a sua única visão com génese bélica.

Estávamos a meros 45km do Sela Pass, ponto mais alto do itinerário, tanto devido aos 4170m cimeiros a que se situa mas também pelo significado religioso do lugar.

Em boa parte dessa distância, a NH13 ascende a bom ritmo e contorce-se em dezenas de meandros, alguns deles tão apertados que nos dão a sensação de estarmos a retroceder. A esta altitude, escasseia já a vegetação. Alguns iaques cruzados com vacas alimentam-se da pouca que encontram.

Iaque à beira da estrada, na iminência do desfiladeiro de Sela

Iaque à beira da estrada, na imediações do desfiladeiro de Sela.

Mas o que mais salta à vista, é a profusão de acampamentos militares e de paióis camuflados e disseminados pelos vales e encostas abaixo e até acima da estrada. E a quantidade de caravanas e camiões militares que nos obrigam a encostar à berma e ultrapassam a grande velocidade.

Casa assaltada, trancas à porta. Tal como testemunha há muito o memorial de Nyukmadung, em Novembro de 1962, foi exactamente pelo desfiladeiro de Sela que as forças chinesas invadiram e surpreenderam as indianas.

Com a fronteira sino-indiana do noroeste dos Himalaias ainda em disputa, a Índia não só não baixou a sua guarda como a reforçou de modo exponencial, tanto aquém como para lá do Sela Pass.

Complexo militar indiano à beira da estrada NH13

Edifícios militares indianos à beira da hipermilitarizada estrada NH13.

Como consequência, este desfiladeiro sagrado para os budistas-tibetanos que acreditam na sacralidade dispersa de mais de cem lagos da zona, permanece há muito cercado de tendas, material militar e soldados camuflados.

E, no entanto, o Sela Pass, em si, mantém-se um cenário à parte. Sopra um vento furibundo quando o alcançamos. Faz esvoaçar e estica sobre a estrada o emaranhado de bandeiras budistas de oração a partir do pórtico de passagem.

Mal sai do carro, John instala lá uma bandeira sua em jeito de agradecimento por a viagem até ali ter sido abençoada.

Motociclista no desfiladeiro de Sela, Arunachal Pradesh, Índia

Motociclista posa junto ao pórtico budista do desfiladeiro de Sela.

O Sela Pass marca uma espécie de linha de vida para boa parte dos habitantes do estado de Arunachal Pradesh, já que é a única passagem entre a região de Tawang ao resto da Índia.

Militares indianos no desfiladeiro de Sela, Arunachal Pradesh, Índia

Soldados indianos de serviço no desfiladeiro de Sela.

A ventania frigida mantém dois soldados para ali destacados no conforto do edifício de acolhimento dos visitantes. Mais que meros soldados, estão de plantão no bar e são eles que nos servem milkteas providenciais. Voltamos ao exterior e apreciamos por mais algum tempo a beleza excêntrica do pórtico fustigado pelo vento e por alguma neve levantada do solo.

De quando em quando, viajantes de carro ou até de mota estacionam e fazem-se fotografar de frente para o portal. Depois, seguem o seu rumo. Uns na direççao de Dirang. Outros, na de Tawang. Foi nesta que continuámos.

Lago de Sela, Arunachal Pradesh, Índia

O lago semi-gelado de Sela, nas imediações do desfiladeiro homónimo.

Cruzamos o pórtico a pé. Do lado de lá, encontramos um dos 100 lagos sagrados do budismo tibetano, coberto de uma camada de gelo fina e envolto de um solo amarelo ensopado e endurecido o Inverno.

John conhecia uma senhora proprietária de uma casa de chá do outro lado da estrada que contornava o lago, Dima, assim se chamava a dona. Entrou, saudou-a com sentimento, pediu um milktea e ficaram uns minutos à conversa.

Interior de Tea House à beira do Sela Lake, desfiladeiro de Sela, Arunachal Pradesh, Índia

Clientes e dona no interior da tea house à beira do Sela lake.

Parecia estar-se melhor naquela teahouse que no carro e milkteas nunca são demais. De acordo, seguimos todos o exemplo do guia. Ao entrar, a Sara e Dima apercebem-se que vestem blusões para o frio praticamente iguais.

A Sara aponta-o e, ao sorrir, deixa a senhora à vontade para a reacção que lhe aprouvesse. Acabam as duas a rir à gargalhada enquanto as fotografo lado a lado.

Estávamos para lá do desfiladeiro de Sela. Quem cruza Sela quer chegar a Tawang. Só nos faltavam 70 km. Umas derradeiras meras três horas de caminho.

 

Os autores agradecem o apoio na realização deste artigo às seguintes entidades: Embaixada da Índia em Lisboa; Ministry of Tourism, Government of India.

Gangtok, Índia

Uma Vida a Meia-Encosta

Gangtok é a capital de Sikkim, um antigo reino da secção dos Himalaias da Rota da Seda tornado província indiana em 1975. A cidade surge equilibrada numa vertente, de frente para a Kanchenjunga, a terceira maior elevação do mundo que muitos nativos crêem abrigar um Vale paradisíaco da Imortalidade. A sua íngreme e esforçada existência budista visa, ali, ou noutra parte, o alcançarem.
Shillong, India

Selfiestão de Natal num Baluarte Cristão da Índia

Chega Dezembro. Com uma população em larga medida cristã, o estado de Meghalaya sincroniza a sua Natividade com a do Ocidente e destoa do sobrelotado subcontinente hindu e muçulmano. Shillong, a capital, resplandece de fé, felicidade, jingle bells e iluminações garridas. Para deslumbre dos veraneantes indianos de outras partes e credos.
Siliguri a Darjeeling, Índia

Ainda Circula a Sério o Comboio Himalaia de Brincar

Nem o forte declive de alguns tramos nem a modernidade o detêm. De Siliguri, no sopé tropical da grande cordilheira asiática, a Darjeeling, já com os seus picos cimeiros à vista, o mais famoso dos Toy Trains indianos assegura há 117 anos, dia após dia, um árduo percurso de sonho. De viagem pela zona, subimos a bordo e deixamo-nos encantar.
Dawki, Índia

Dawki, Dawki, Bangladesh à Vista

Descemos das terras altas e montanhosas de Meghalaya para as planas a sul e abaixo. Ali, o caudal translúcido e verde do Dawki faz de fronteira entre a Índia e o Bangladesh. Sob um calor húmido que há muito não sentíamos, o rio também atrai centenas de indianos e bangladeshianos entregues a uma pitoresca evasão.
Maguri Bill, Índia

Um Pantanal nos Confins do Nordeste Indiano

O Maguri Bill ocupa uma área anfíbia nas imediações assamesas do rio Bramaputra. É louvado como um habitat incrível sobretudo de aves. Quando o navegamos em modo de gôndola, deparamo-nos com muito (mas muito) mais vida que apenas a asada.
Guwahati, India

A Cidade que Venera Kamakhya e a Fertilidade

Guwahati é a maior cidade do estado de Assam e do Nordeste indiano. Também é uma das que mais se desenvolve do mundo. Para os hindus e crentes devotos do Tantra, não será coincidência lá ser venerada Kamakhya, a deusa-mãe da criação.
Dooars, Índia

Às Portas dos Himalaias

Chegamos ao limiar norte de Bengala Ocidental. O subcontinente entrega-se a uma vasta planície aluvial preenchida por plantações de chá, selva, rios que a monção faz transbordar sobre arrozais sem fim e povoações a rebentar pelas costuras. Na iminência da maior das cordilheiras e do reino montanhoso do Butão, por óbvia influência colonial britânica, a Índia trata esta região deslumbrante por Dooars.
Tawang, Índia

O Vale Místico da Profunda Discórdia

No limiar norte da província indiana de Arunachal Pradesh, Tawang abriga cenários dramáticos de montanha, aldeias de etnia Mompa e mosteiros budistas majestosos. Mesmo se desde 1962 os rivais chineses não o trespassam, Pequim olha para este domínio como parte do seu Tibete. De acordo, há muito que a religiosidade e o espiritualismo ali comungam com um forte militarismo.
Jaisalmer, Índia

Há Festa no Deserto do Thar

Mal o curto Inverno parte, Jaisalmer entrega-se a desfiles, a corridas de camelos e a competições de turbantes e de bigodes. As suas muralhas, ruelas e as dunas em redor ganham mais cor que nunca. Durante os três dias do evento, nativos e forasteiros assistem, deslumbrados, a como o vasto e inóspito Thar resplandece afinal de vida.
Goa, Índia

O Último Estertor da Portugalidade Goesa

A proeminente cidade de Goa já justificava o título de “Roma do Oriente” quando, a meio do século XVI, epidemias de malária e de cólera a votaram ao abandono. A Nova Goa (Pangim) por que foi trocada chegou a sede administrativa da Índia Portuguesa mas viu-se anexada pela União Indiana do pós-independência. Em ambas, o tempo e a negligência são maleitas que agora fazem definhar o legado colonial luso.
Meghalaya, Índia

Pontes de Povos que Criam Raízes

A imprevisibilidade dos rios na região mais chuvosa à face da Terra nunca demoveu os Khasi e os Jaintia. Confrontadas com a abundância de árvores ficus elastica nos seus vales, estas etnias habituaram-se a moldar-lhes os ramos e estirpes. Da sua tradição perdida no tempo, legaram centenas de pontes de raízes deslumbrantes às futuras gerações.
Ooty, Índia

No Cenário Quase Ideal de Bollywood

O conflito com o Paquistão e a ameaça do terrorismo tornaram as filmagens em Caxemira e Uttar Pradesh um drama. Em Ooty, constatamos como esta antiga estação colonial britânica assumia o protagonismo.

Hampi, India

À Descoberta do Antigo Reino de Bisnaga

Em 1565, o império hindu de Vijayanagar sucumbiu a ataques inimigos. 45 anos antes, já tinha sido vítima da aportuguesação do seu nome por dois aventureiros portugueses que o revelaram ao Ocidente.

Goa, Índia

Para Goa, Rapidamente e em Força

Uma súbita ânsia por herança tropical indo-portuguesa faz-nos viajar em vários transportes mas quase sem paragens, de Lisboa à famosa praia de Anjuna. Só ali, a muito custo, conseguimos descansar.
Jaisalmer, Índia

A Vida que Resiste no Forte Dourado de Jaisalmer

A fortaleza de Jaisalmer foi erguida a partir de 1156 por ordem de Rawal Jaisal, governante de um clã poderoso dos confins hoje indianos do Deserto do Thar. Mais de oito séculos volvidos, apesar da contínua pressão do turismo, partilham o interior vasto e intrincado do último dos fortes habitados da Índia quase quatro mil descendentes dos habitantes originais.
PN Kaziranga, Índia

O Baluarte dos Monocerontes Indianos

Situado no estado de Assam, a sul do grande rio Bramaputra, o PN Kaziranga ocupa uma vasta área de pântano aluvial. Lá se concentram dois terços dos rhinocerus unicornis do mundo, entre em redor de 100 tigres, 1200 elefantes e muitos outros animais. Pressionado pela proximidade humana e pela inevitável caça furtiva, este parque precioso só não se tem conseguido proteger das cheias hiperbólicas das monções e de algumas polémicas.
Majuli, Índia

Uma Ilha em Contagem Decrescente

Majuli é a maior ilha fluvial da Índia e seria ainda uma das maiores à face da Terra não fosse a erosão do rio Bramaputra que há séculos a faz diminuir. Se, como se teme, ficar submersa dentro de vinte anos, mais que uma ilha, desaparecerá um reduto cultural e paisagístico realmente místico do Subcontinente.
Chandor, Goa, Índia

Uma Casa Goesa-Portuguesa, Com Certeza

Um palacete com influência arquitectónica lusa, a Casa Menezes Bragança, destaca-se do casario de Chandor, em Goa. Forma um legado de uma das famílias mais poderosas da antiga província. Tanto da sua ascensão em aliança estratégica com a administração portuguesa como do posterior nacionalismo goês.
Fiéis saúdam-se no registão de Bukhara.
Cidade
Bukhara, Uzbequistão

Entre Minaretes do Velho Turquestão

Situada sobre a antiga Rota da Seda, Bukhara desenvolveu-se desde há pelo menos, dois mil anos como um entreposto comercial, cultural e religioso incontornável da Ásia Central. Foi budista, passou a muçulmana. Integrou o grande império árabe e o de Gengis Khan, reinos turco-mongois e a União Soviética, até assentar no ainda jovem e peculiar Uzbequistão.
Anfitrião Wezi aponta algo na distância
Praia
Cobué; Nkwichi Lodge, Moçambique

O Moçambique Recôndito das Areias Rangentes

Durante um périplo de baixo a cima do (lago) Malawi, damos connosco na ilha de Likoma, a uma hora de barco do Nkwichi Lodge, o ponto de acolhimento solitário deste litoral interior de Moçambique. Do lado moçambicano, o lago é tratado por Niassa. Seja qual for o seu nome, lá descobrimos alguns dos cenários intocados e mais impressionantes do sudeste africano.
Serengeti, Grande Migração Savana, Tanzania, gnus no rio
Safari
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A Grande Migração da Savana Sem Fim

Nestas pradarias que o povo Masai diz siringet (correrem para sempre), milhões de gnus e outros herbívoros perseguem as chuvas. Para os predadores, a sua chegada e a da monção são uma mesma salvação.
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Bhaktapur, Nepal

As Máscaras Nepalesas da Vida

O povo indígena Newar do Vale de Katmandu atribui grande importância à religiosidade hindu e budista que os une uns aos outros e à Terra. De acordo, abençoa os seus ritos de passagem com danças newar de homens mascarados de divindades. Mesmo se há muito repetidas do nascimento à reencarnação, estas danças ancestrais não iludem a modernidade e começam a ver um fim.
Composição Flam Railway abaixo de uma queda d'água, Noruega
Sobre Carris
Nesbyen a Flam, Noruega

Flam Railway: Noruega Sublime da Primeira à Última Estação

Por estrada e a bordo do Flam Railway, num dos itinerários ferroviários mais íngremes do mundo, chegamos a Flam e à entrada do Sognefjord, o maior, mais profundo e reverenciado dos fiordes da Escandinávia. Do ponto de partida à derradeira estação, confirma-se monumental esta Noruega que desvendamos.
Amaragem, Vida à Moda Alasca, Talkeetna
Sociedade
Talkeetna, Alasca

A Vida à Moda do Alasca de Talkeetna

Em tempos um mero entreposto mineiro, Talkeetna rejuvenesceu, em 1950, para servir os alpinistas do Monte McKinley. A povoação é, de longe, a mais alternativa e cativante entre Anchorage e Fairbanks.
Casario, cidade alta, Fianarantsoa, Madagascar
Vida Quotidiana
Fianarantsoa, Madagáscar

A Cidade Malgaxe da Boa Educação

Fianarantsoa foi fundada em 1831 por Ranavalona Iª, uma rainha da etnia merina então predominante. Ranavalona Iª foi vista pelos contemporâneos europeus como isolacionista, tirana e cruel. Reputação da monarca à parte, quando lá damos entrada, a sua velha capital do sul subsiste como o centro académico, intelectual e religioso de Madagáscar.
Leão, elefantes, PN Hwange, Zimbabwe
Vida Selvagem
PN Hwange, Zimbabwé

O Legado do Saudoso Leão Cecil

No dia 1 de Julho de 2015, Walter Palmer, um dentista e caçador de trofeus do Minnesota matou Cecil, o leão mais famoso do Zimbabué. O abate gerou uma onda viral de indignação. Como constatamos no PN Hwange, quase dois anos volvidos, os descendentes de Cecil prosperam.
Bungee jumping, Queenstown, Nova Zelândia
Voos Panorâmicos
Queenstown, Nova Zelândia

Queenstown, a Rainha dos Desportos Radicais

No séc. XVIII, o governo kiwi proclamou uma vila mineira da ilha do Sul "fit for a Queen". Hoje, os cenários e as actividades radicais reforçam o estatuto majestoso da sempre desafiante Queenstown.