Fernão Magalhães inaugurou aquela que se veio tornar a primeira viagem de circum-navegação ( viagem de volta ao mundo) da Terra de sempre.
Por essa altura, o Mundo era ainda, em grande parte, desconhecido da velha Europa e, como acontecia frequentemente aos navegadores, uma grande porção do percurso do descobridor português em busca de uma rota via Ocidente para as especiarias foi feito sem qualquer referência.
Depois de chegar àquele que baptizou de oceano Pacífico, Magalhães estimava que a navegação para as ilhas das especiarias duraria alguns dias. Acabou por demorar três longos meses.
Nesse período, enquanto avançava para Oeste e “subia” em direcção ao equador, Magalhães falhou praticamente todos os arquipélagos e ilhas disseminados pelo Pacífico, não que isso lhe importasse por aí além mas, muitos deles, hoje considerados paradisíacos.
Ancorou já do lado oposto do oceano, nas Marianas, em Guam e, pouco depois, em Mactan, nas Filipinas. Nesta ilha, abusou ligeiramente da sorte.
Tentou converter ao cristianismo um chefe de nome Lapu Lapu. Acabou morto por uma tribo nativa em fúria.
Nos dias que correm, tem tudo para evitar que uma volta ao mundo seja, em vez de problemática ou dramática, uma vivência altamente recompensadora.
Aqui ficam as primeiras de muitas informações e dicas que lhe iremos dar para que possa concretizar o sonho.
1- Acreditar na Viagem de Volta ao Mundo. Valorizá-la com Determinação
Confrontado com os repetidos nãos do rei Manuel I à sua proposta, Fernão Magalhães não baixou os braços.
Frustrado, decidiu sacrificar o patriotismo que com certeza guardava após meia-vida de batalhas e ferimentos ao serviço da Coroa portuguesa, mudou-se de armas e bagagens para Sevilha.
Só descansou quando convenceu o rei Carlos I a apoiar o seu projecto de prosseguir em busca da Ásia pelo Ocidente, então, a única maneira de chegar às especiarias “portuguesas” sem comprometer o acordado no Tratado de Tordesilhas.
Não encare a ideia de dar uma volta ao mundo como um mero sonho. Existem muitas maneiras de tornar a ideia realidade. Se não puder fazê-lo de uma forma, faça de outra mas não se deixe derrotar pela sua aparente complexidade.
Em Portugal, e em geral, na esfera latino-americana, as viagens continuam a ser demasiado vistas como uma espécie de capricho aventureiro, quase como um luxo de que nos devemos sentir culpados.
Ao invés, como podemos verificar em inúmeros períodos de descoberta, no mundo anglófono e do norte da Europa, em geral, é comum adolescentes ainda menores viajarem em pequenos grupos de amigos com autorização dos pais.
O Mítico Gap Year
Já para não falar do famoso Gap Year. O Gap Year consiste num intervalo entre o término dos estudos secundários e o início da vida universitária que os adolescentes reservam para se valorizarem enquanto pessoas a viajar.
Também se pode aplicar a entre o término da vida universitária e a profissional.
E, fazem-no, com tal convicção e prazer que, muitos passam a viajar sempre que podem e repetem aquela espécie de ano sabático entre o fim dos estudos universitários e o início da vida profissional.
Qualquer um destas distintas formas de Gap Year tem lugar obrigatório nos seus currículos.
Acima de tudo, não despreze o enriquecimento pessoal obtido em qualquer viagem.
Em particular, por uma viagem de volta ao mundo. Não hesite em vê-la como uma experiência que lhe trará um conhecimento e abertura de espírito para sempre.
Rejeite qualquer receio de estar a desperdiçar tempo ou dinheiro.
2- A Liberdade e o Dinheiro Necessários para a Volta ao Mundo
Se já tiver conseguido algum à vontade financeiro
aproveite um intervalo entre empregos ou crie-o e parta à aventura. Uma outra solução é obter autorização para uma licença sem vencimento na sua empresa.
Tem forma de trabalhar por conta d’ outrem, via Internet, respeitando simplesmente prazos de entrega? Então desenvolva e exponha essa hipótese com clarividência e determinação. Lute pelo objectivo.
Se é profissional por conta própria, organize-se ao máximo e prepare todas as soluções tecnológicas possíveis para tele-trabalhar em viagem.
Quantas vezes a sua empresa não angariou já clientes e projectos, detectou problemas e encontrou soluções em equipa, com recurso a videoconferências e afins ?
Alerte os clientes e parceiros de trabalho para a menor disponibilidade de contacto, prepare-se para acordar e trabalhar durante a noite devido às diferenças horárias e ajuste-se o melhor que puder à nova realidade.
No nosso caso particular, fizemos duas viagens deste tipo já a contar com várias pausas de um dia, às vezes dois, para programar, criar e entregar reportagens de viagem que fomos entregando a diversas publicações.
À parte destas pausas, também tratámos sistematicamente de tarefas complementares após o anoitecer e, em contacto com Portugal durante a madrugada, com sacrifício de jantares aprazíveis, de saídas e convívios nocturnos.
Às vezes, não se pode ter tudo.
De qualquer maneira, o privilégio de se dar uma volta ao mundo compensa a maior parte dos sacrifícios.
No caso de não ter reunido dinheiro suficiente para a Volta ao Mundo
pense num plano para o conseguir que vá, o menos possível, contra os seus princípios de vida.
Muitos mochileiros, principalmente do mundo anglófono – com destaque para os viajantes da Austrália – trabalham seis meses ou um ano de seguida em empregos sem responsabilidades de longo termo.
Após este período de esforço – chamemos-lhe assim – gozam a recompensa em viagens de períodos que tentam prolongar ao máximo a manter um equilíbrio saudável entre gastos, e prazer e conforto.
Só em jeito de exemplo, nas nossas viagens, conhecemos alguns que o faziam em bares de Londres. Outros que cumpriam a parte dolorosa desse plano em minas de ouro da Austrália.
Estes últimos, davam mais de si durante períodos curtos mas ganhavam muito mais que os os primeiros, e bem mais depressa.
Durante o cruzeiro NAVIMAG, pelos fiordes do Chile, também conhecemos um casal de guatemaltecos – sim, de guatemaltecos – que investiam e ganhavam dinheiro online na bolsa enquanto viajavam.
Nada é garantido. Mas quem não arrisca não petisca. O segredo mais valioso está em aproveitar ao máximo a riqueza patrimonial, o conhecimento e a experiência profissional que se tem.
Se tem uma casa própria, alugue a casa pelo período em que estiver de viagem.
Em último caso, caso precise, venda algumas posses que não sejam absolutamente necessárias.
Incluindo carro que poderá voltar a comprar uma vez estabelecida ou re-estabelecida uma rotina laboral.
3 – Em Quanto tempo deve fazer uma Volta ao Mundo?
Só depende de si, da sua capacidade financeira e da liberdade profissional que conseguir assegurar.
Em termos técnicos, se optar por fazer a viagem com base em voos e um bilhete específico de volta ao mundo de uma aliança aérea – por exemplo a Star Alliance de que faz parte a TAP – terá um limite máximo de um ano.
Só poderá estender este prazo se adquirir mais do que um bilhete.
Neste caso, estará a “aldrabar” um pouco o conceito de volta ao mundo já que, por norma, o primeiro itinerário tem que perfazer uma volta ao mundo real.
As alianças aéreas também estabelecem tempos mínimos para completar a volta, por exemplo, 10 dias após a partida do seu primeiro voo internacional.
Se tiver disponibilidade financeira e de calendário, claro que o ideal seria sempre fazer esta viagem sonho num ano. Levá-la a cabo com tempo suficiente para explorar cada um dos seus lugares preferidos com calma.
Abundam, na Terra, cenários e formas de vida em tudo distintos do nosso. Matéria-prima arrebatadora para descoberta não lhe irá faltar.
A nosso ver e ainda decorrente das experiências passadas, um ano estabelece uma boa barreira psicológica.
Sobretudo se estiver a viajar só, é muito provável que, ao fim de um ano comece a sentir saudades.
Da família, do país, da casa e das restantes pessoas com quem habitualmente se dá.
Saudades e Desânimo vs Entusiasmo pela Aventura e Descoberta
Claro que esta sensação também vai e vem e oscila ao longo da viagem. Oscila consoante o lugar e as vivências porque for passando e, principalmente as pessoas que vai conhecendo.
Tivemos períodos de absoluto êxtase de descoberta exótica em Vanuatu em que o fascínio abafava qualquer outro sentimento.
Também tivemos fases de maior vazio existencial e nostalgia.
Aconteceu, por exemplo, em certas ilhas da Polinésia Francesa ou na Grande Terre (Nova Caledónia) em que nos foi mais difícil sentir e fazer parte de uma vida local genuína.