Tataouine, Tunísia

Festival dos Ksour: Castelos de Areia que Não Desmoronam


Dia no ksar
Nativos deixam o ksar Ouled Soultane.
Abraço Ancião
Dois anciãos saúdam-se no ksar Oule Soultane.
Moda berber
Mulheres exibem o folclore berber no ksar Douiret.
Cavalaria do Deserto
Grupo de cavaleiros alinhados em frente à bancada do estádio de Tataouine em que se realizou o Festival dos Ksour.
Jóquei
Jóquei tunisino antes do início de uma prova equestre.
Encenação de batalha
Cavaleiros encenam antigas batalhas no deserto.
Corredores do Deserto
Prémios são entregues aos vencedores e participantes de uma prova de atletismo do Festival dos Ksours.
Tuareg
Guerreiro líbio exibe arte de guerra tuareg.
Cenário do deserto
O deserto visto do ksar Douiret, na iminência de uma tempestade de areia.
Conversa Discreta
Motorista da comitiva de políticos fala ao telefone num recanto do Ksar Ouled Soultane.
De volta a Casa
Mulheres descem do ksar Douiret para a planície em redor, a caminho da sua aldeia.
Vida colorida
Mulher exibe dotes de tecelagem durante exibições culturais levadas a cabo em Tataouine.
Reverência Forçada
Participantes do Festival dos Ksours louvam o então Presidente Tunisino Ben Ali, deposto durante a revolução tunisina Primavera Árabe.
Convívio berber
Nativos da região de Tataouine posam contra uma fachada interior do ksar Ouled Soultane.
Acrobacias a cavalo
Cavaleiro galopa de costas ao som de música berbere.
Tuareg
Guerreiro tuareg, parte de uma comitiva líbia que participou no festival.
Quotidiano simulado
Dois nativos berberes observam o trabalho de um ferreiro figurante, no ksar Ouled Soultane.
Os ksour foram construídos como fortificações pelos berberes do Norte de África. Resistiram às invasões árabes e a séculos de erosão. O Festival dos Ksour presta-lhes, todos os anos, uma devida homenagem.

Tataouine ganhava nova vida.

Milhares de almas do deserto do Sara, provenientes dos quatro cantos do Magrebe e do Egipto, instalavam-se na povoação

Chegavam por terra, em carrinhas cobertas de poeira fina. Ou em voos curtos provenientes das nações vizinhas. Formavam comitivas desorganizadas e barulhentas que se instalavam um pouco por toda a cidade e arredores, de tendas de inspiração beduína aos hotéis mais luxuosos.

Os nativos de Tataouine estão habituados à esta invasão anual dos visitantes. Identificam com facilidade as origens dos visitantes. Saúdam-nos com salamaleques efusivos e apertos de mão repetidos.

O Mundo (Por Essa Altura ainda Mais Extraterreno) de Tataouine

Não estamos assim tão longe da Europa mas estas portas do Sara estabelecem ainda uma fronteira de exotismo que era famosa em tempos coloniais.

Os franceses partiram da Tunísia no terceiro mês de 1956. Por terras gaulesas, “aller à Tataouine” continua a significar perder-se no fim do mundo. Sem saber como nem porquê, George Lucas conseguiu ridicularizar a expressão.

Filmou parte substancial do episódio IV da Guerra das Estrelas na região circundante. Quando teve que baptizar um remoto exoplaneta das areias para a saga, optou por Tatooine.

Cavaleiros, festival dos ksour, tataouine, tunisia

Grupo de cavaleiros alinhados em frente à bancada do estádio de Tataouine em que se realizou o Festival dos Ksour.

Enquanto avançamos do centro da capital de província para o hipódromo que acolheria vários eventos do festival, Tataouine parece-nos realmente de outro mundo.

Uma vasta zona de baixas-pressões resiste sobre o centro e norte de África. Estende-se do interior do Senegal, Mali e Níger até à Sicília e à Sardenha.

O manto de nuvens cúmplice rouba o sol escaldante a grande parte do Sara. Em simultâneo, vendavais revolvem as dunas do deserto e pintam a atmosfera do sul da Tunísia de um tom sépia algo marciano.

ksar guermessa, festival dos ksour, tataouine, tunisia

O deserto visto do ksar Douiret, na iminência de uma tempestade de areia.

Atletismos, Corridas de Cavalos, Acrobacias, Danças e Afins

Zulia, uma anfitriã do evento recebe-nos em frente ao hipódromo. Após os devidos cumprimentos, faz questão de avisar: “Está prestes a começar uma corrida. Andem por aí à vontade mas tenham cuidado com os animais. Alguns sentem a excitação no ar e podem dar coices ou morder”.

Não levamos a coisa demasiado a sério. Circulamos entre camelos e cavalos a que os proprietários e os jóqueis dão os derradeiros cuidados. Um veterinário de serviço inspeciona-os com minúcia e tira notas num bloco com páginas pré-formatadas. Está visto que as provas não são a brincar.

Cavalo, Jokei, festival dos ksour, tataouine, tunisia

Jóquei tunisino antes do início de uma prova equestre.

Passamos para o interior do recinto. Damos com as bancadas repletas de um público agasalhado e curioso que acompanha a chegada à meta dos primeiros classificados de uma meia-maratona. Atrapalham-nos camelos foragidos que teimam em não abandonar a pista.

Os prémios são entregues com pompa e circunstância.

Premiados Atletismo, festival dos ksour, tataouine, tunisia

Prémios são entregues aos vencedores e participantes de uma prova de atletismo do Festival dos Ksours.

Logo após, têm início exibições de acrobacias montadas que entusiasmam a multidão: cavaleiros que galopam virados para trás. Outros que deles se dependuram e apanham terra do chão. Tudo ao som de tambores e flautas do deserto tocados ao vivo. Tudo narrado em directo por uma repórter radiofónica equipada a rigor.

Entretanto, um exército de peões trajados de jilabas toma conta do recinto. Alinham-se no extremo oposto à bancada a empunharem bandeiras vermelhas e brancas, – as cores da Tunísia.

Assistem à acção oferecida por cavaleiros que galopam de um lado para o outro, a simularem antigas batalhas históricas a que Lawrence das Arábias preferia não ter faltado.

Cavaleiros a Galope, festival dos ksour, tataouine, tunisia

Cavaleiros encenam antigas batalhas no deserto.

Sem que o esperássemos, tornamo-nos vítimas do confronto.

Perigosos Disparos de Pólvora Seca e os Tuaregues Líbios

Os cavaleiros haviam recebido ordens para dispararem quando se cruzassem em frente ao centro da bancada.

Alguns fazem-no contra o solo, demasiado próximo dos fotógrafos e do público. Ficamos meio surdos.

Como se não bastasse, somos atingidos por pequenas pedras projectadas do chão que nos provocam feridas ligeiras no pescoço e na face. Esses estilhaços e deixam uma espectadora a chorar, com perda momentânea de visão.

Recuperamos do incómodo. Um comentário sarcástico de um colega inglês devolve-nos o bom-humor: “São assim os guerreiros do deserto! Se os tivessem deixado usar pólvora a sério, por esta altura estávamos todos mortos!”

Pouco depois, entra em cena uma milícia tuaregue líbia. Os seus trajes negros, as bolsas vermelhas a tiracolo e os turbantes e véus que lhes revelam apenas os olhos impressionam-nos.

Guerreiros, Libios, festival dos ksour, tataouine, tunisia

Guerreiro líbio exibe arte de guerra tuareg.

Sentimo-nos intimidados mas, ao mesmo tempo, aliviados. Como armas, usavam apenas punhais. Só com muito azar sofreríamos novos danos.

Uma Já Esperada Apoteose Presidencial

Nos últimos anos e até à revolução tunisina, o grande evento do hipódromo era encerrado em apoteose.

Levava-o a cabo uma multidão de participantes e figurantes que exibiam ao público uma fotografia emoldurada do ex-Presidente Ben Ali, entre bandeiras ondulantes da Tunísia e gritos de apoio incondicional. Isto, enquanto o locutor de serviço assegurava uma longa ovação de pé.

Viva Presidente, festival dos ksour, tataouine, tunisia

Participantes do Festival dos Ksours louvam o então Presidente Tunisino Ben Ali, deposto durante a revolução tunisina Primavera Árabe.

A realização do Festival dos Ksour de 2012 esteve em dúvida. Foi recentemente confirmada pelos representantes da Associación des Diplomés du Superieur, pela primeira vez encarregada de supervisionar a organização. Ben Ali já não esteve presente, nem em pessoa nem em imagens.

No dia seguinte, o Festival dos Ksour passa a itinerante. Afasta-se da cidade e visita os ksour considerados mais importantes da região.

Acrobacias Cavalo, festival dos ksour, tataouine, tunisia

Cavaleiro galopa de costas ao som de música berbere.

A Fascinante Itinerância do Festival dos Ksour

Viajamos quase 20 km. Até que damos com uma multidão de pedestres de beira de estrada.

Como nós, dirigiam-se para o ksar de Guermassa, situado num cenário extraterrestre ainda e cada vez mais alaranjado, entrecortado por mesetas longínquas. A subida para o topo da colina deixa bem claro porque o povo berbere ali instalou a sua fortificação.

Mulheres a sair Ksar, festival dos ksour, tataouine, tunisia

Mulheres descem do ksar Douiret para a planície em redor, a caminho da sua aldeia.

Pelo caminho, informam-nos que está prestes a começar o espectáculo dos aldeãos. Chegamos extenuados mas a tempo de ouvir a música introduzir as danças, protagonizadas por um coro de mulheres trajadas com haiks folclóricos e lenços vermelhos que cobrem as cabeças coroadas por tiaras douradas.

Indiferente à agitação humana, um camelo altivo, também enfeitado, espreita por cima deste grupo.

Grupo Mulheres, festival dos ksour, tataouine, tunisia

Mulheres exibem o folclore berber no ksar Douiret.

Ao nível do solo, dois anciãos de jilabas brancas protagonizam uma estranha dança bélica.

Circulam num sentido e no outro. As velhas espingardas que mantêm em riste fazem-nos lembrar ponteiros de relógio. Da forma que os manuseiam, os guerreiros de idade, renovam provocações dramáticas e perseguições lentas e contidas.

Quando a exibição termina, mudamo-nos para o ksar Ouled Soultane.

Saida Ksar Ouled Soltane, festival dos ksour, tataouine, tunisia

Nativos deixam o ksar Ouled Soultane.

O Castelo de Areia Sumptuoso de Ouled Soultane

Ouled Soultane é um dos castelos de areia mais sumptuosos do Magrebe. Agrupa duas estruturas de ghorfas (células de armazenamento de alimentos) construídas em alturas diferentes (séculos XV e XVIII) e repartidas por quatro ou cinco andares.

Ksar, Ouled, Soltane, festival dos ksour, tataouine, tunisia

Nativos da região de Tataouine posam contra uma fachada interior do ksar Ouled Soultane.

Também aqui os aldeões organizaram uma recepção calorosa aos visitantes. Contempla degustação de comida tradicional, música e danças e uma reconstituição do que se crê ter sido a existência das tribos berberes que habitavam o ksar.

Dois outros anciãos encontram-se. Trocam um abraço interminável que nos parece pôr cobro a uma longa separação.

Abraço, festival dos ksour, tataouine, tunisia

Dois anciães saúdam-se no ksar Oule Soultane.

Perguntamos o porquê de tanta emoção a um organizador que fala francês.

O anfitrião explica-nos com orgulho: “Nunca foi fácil por estes lados. Agora a Tunísia é predominantemente árabe mas já foi berbere. A partir da altura em que os primeiros exércitos islâmicos aqui chegaram, as incursões tornaram-se frequentes e, sempre sob ameaça, as tribos habituaram-se a dar valor à amizade e à solidariedade.

Foram valores que nunca mais se perderam. Estes cumprimentos são apenas uma das suas expressões. Não pensem que só acontecem nestes dias.”

Acompanhamos o festival até o fim e percebemos melhor a honra porque se rege o evento: malgrado todas as adversidades, os povos indígenas do Sara não salvaram só os ksour.

Tecela, festival dos ksour, tataouine, tunisia

Mulher exibe dotes de tecelagem durante exibições culturais levadas a cabo em Tataouine.

Ao manterem os seus castelos na areia, preservaram as suas identidades.

São João de Acre, Israel

A Fortaleza que Resistiu a Tudo

Foi alvo frequente das Cruzadas e tomada e retomada vezes sem conta. Hoje, israelita, Acre é partilhada por árabes e judeus. Vive tempos bem mais pacíficos e estáveis que aqueles por que passou.
Matmata, Tataouine:  Tunísia

A Base Terrestre da Guerra das Estrelas

Por razões de segurança, o planeta Tatooine de "O Despertar da Força" foi filmado em Abu Dhabi. Recuamos no calendário cósmico e revisitamos alguns dos lugares tunisinos com mais impacto na saga.  
Pirenópolis, Brasil

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Jaisalmer, Índia

A Vida que Resiste no Forte Dourado de Jaisalmer

A fortaleza de Jaisalmer foi erguida a partir de 1156 por ordem de Rawal Jaisal, governante de um clã poderoso dos confins hoje indianos do Deserto do Thar. Mais de oito séculos volvidos, apesar da contínua pressão do turismo, partilham o interior vasto e intrincado do último dos fortes habitados da Índia quase quatro mil descendentes dos habitantes originais.
Sigiriya, Sri Lanka

A Capital Fortaleza de um Rei Parricida

Kashyapa I chegou ao poder após emparedar o monarca seu pai. Receoso de um provável ataque do irmão herdeiro do trono, mudou a principal cidade do reino para o cimo de um pico de granito. Hoje, o seu excêntrico refúgio está mais acessível que nunca e permitiu-nos explorar o enredo maquiavélico deste drama cingalês.
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O Derradeiro Cortejo do Xogum Tokugawa

Em 1600, Ieyasu Tokugawa inaugurou um xogunato que uniu o Japão por 250 anos. Em sua homenagem, Nikko re-encena, todos os anos, a transladação medieval do general para o mausoléu faustoso de Toshogu.
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Numa altura em que a conquista do vizinho do sistema solar se tornou uma obsessão, uma secção do leste do Deserto do Sahara abriga um vasto cenário afim. Em vez dos 150 a 300 dias que se calculam necessários para atingir Marte, descolamos do Cairo e, em pouco mais de três horas, damos os primeiros passos no Oásis de Bahariya. Em redor, quase tudo nos faz sentir sobre o ansiado Planeta Vermelho.
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No século XIX, franceses e britânicos disputaram um arquipélago a leste de Madagáscar antes descoberto pelos portugueses. Os britânicos triunfaram, re-colonizaram as ilhas com cortadores de cana-de-açúcar do subcontinente e ambos admitiram a língua, lei e modos francófonos precedentes. Desta mixagem, surgiu a exótica Maurícia.
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Durante mais de dois séculos, só uma estrada sinuosa e estreita ligava Curitiba ao litoral. Até que, em 1885, uma empresa francesa inaugurou um caminho-de-ferro com 110 km. Percorremo-lo, até Morretes, a estação, hoje, final para passageiros. A 40km do término original e costeiro de Paranaguá.
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26/1 é uma data controversa na Austrália. Enquanto os colonos britânicos o celebram com churrascos e muita cerveja, os aborígenes celebram o facto de não terem sido completamente dizimados.
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O Moçambique Selvagem entre o Rio Maputo e o Índico

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No séc. XVIII, o governo kiwi proclamou uma vila mineira da ilha do Sul "fit for a Queen". Hoje, os cenários e as actividades radicais reforçam o estatuto majestoso da sempre desafiante Queenstown.