Singapura

A Ilha do Sucesso e da Monotonia


Às compras
Mulheres singapurenses de etnia malaia deixam uma loja de roupa do distrito de Kampong Glam.
Balões Chineses
Lampeões vermelhos enfeitam uma rua sobrelotada durante uma época festiva da Chinatown de Singapura.
Clube nocturno
Um bar de Singapura. Até meio da década de 80, a vida nocturna de Singapura era restringida pelo Nanny State da ilha. A partir de então, não parou de aumentar.
Clarke Quay
Família conversa numa margem do rio Singapura, na zona de Clarke Quay.
Cores de Singapura
Bicicleta repousa encostada contra uma fachada viva do bairro malaio de Kampong Glam.
Anoitecer na Chinatown
Crepúsculo apodera-se da Chinatown de Singapura, decorada de forma especial por estar em festa.
Descanso do pedal
Condutor de rickshaw a pedal descansa sobre o seu veículo.
Triunfo da Salsicha
Erich Sollbok ganhou um Prémio Spirit of Enterprise e muitos dólares singapurenses graças ao itinerário asiático que cumpriu com as suas "Wuerstelstand" bancas em que vendia salsichas austríacas.
Damas coloridas
Moradores disputam uma partida de damas num tabuleiro cheio de cor
Esplanade & Theatres on the Bay
O edifício revolucionário da Esplanade & Theatres on the Bay, à esquerda da imagem.
Fast Talk
Amigas põem as novidades em dia numa hamburgueria do Clarke Quay.
Exercício comunal
Ginástica de grupo à sombra de um prédio de escritórios junto ao Clarke Quay.
Sino Néon
Neones da Chinatown anunciam negócios do bairro.
The Merlion and the Esplanades
Estátua de Merlion, a criatura meio peixe meio leão símbolo de Singapura projecta um repuxo sobre o mar da Marina Bay.
Muçulmano vs Moderno
Cúpula dourada de uma mesquita de Kampong Glam contrasta com a arquitectura moderna de um prédio em frente.
Modelos
Uma transeunte passa pela fachada iluminada de uma loja de roupa.
Paragem multiétnica
Paragem de autocarro transformada promove um campeonato de snooker a ter lugar em Singapura
Travessia
Mulher atravessa uma velha ponte de ferro nas imediações do Fullerton Hotel, uma das zonas mais sofisticadas de Singapura.
Prédio em Chinês
Um prédio decorado com caracteres chineses destaca-se do casario típico da Chinatown
The Clinic
Recepcionista à entrada do clube nocturno The Clinic, um dos mais originais de Singapura.
Habituada a planear e a vencer, Singapura seduz e recruta gente ambiciosa de todo o mundo. Ao mesmo tempo, parece aborrecer de morte alguns dos seus habitantes mais criativos.

Ambicioso como era, o fundador da cidade de Singapura, Stamford Raffles, não podia imaginar a visão que tem da sua ex-colónia quem, como nós, chega por mar.

A ilha indonésia de Batam tinha ficado quarenta minutos para trás.

À medida que o ferry serpenteia por entre a vasta frota de petroleiros e cargueiros que percorre o estreito de Singapura, tornava-se mais nítida a silhueta novaiorquina, formada pela linha de arranha-céus do CDB (Central Business District) de Singapura.

Para quem vem de mês e meio no maior país muçulmano do mundo, terminado no interior de Sumatra, aquele horizonte cinzento deixava antever uma espécie de retorno a um mundo não igual, mas do tipo do que conhecemos.

Singapura, ilha Sucesso e Monotonia

O edifício revolucionário da Esplanade & Theatres on the Bay, à esquerda da imagem.

O ferry contorna a ilha de Sentosa. Atraca na doca de Harbour Front. Assim que desembarcamos, deparamo-nos com a sofisticação tecnológica com que se processa o controle fronteiriço. Não restam dúvidas: estamos de volta à modernidade. Vemos caixas de multibanco reluzentes, passadeiras rolantes e balcões de apoio ao turista, repletos de informação.

Sobressaem anúncios a produtos familiares e reconhecemos as empresas multinacionais, dos mais óbvios aos menos populares. Regressamos à esfera capitalista. O MRT – Mass Rapid Transit – de Singapura parte dali com ligações aos recantos mais longínquos da ilha.

É proibido comer, fumar e transportar os malcheirosos duriões no metro. Deixa de haver lugar para o desleixo, tomado pelas proibições.

Singapura ocupa uma área de 6823 km² e é atravessada por um rio homónimo. Os arranha-céus que vislumbrámos do ferry ficam a sul da foz, contíguos à Marina Bay. Estas duas zonas formam a parte mais imponente da cidade.

Nós, instalamo-nos à pressa na proximidade do bairro de Little India, já bem longe da zona marginal da nação. Nessa mesma tarde, inauguramos a descoberta da ilha.

Modelos, Singapura, ilha Sucesso e Monotonia

Uma transeunte passa pela fachada iluminada de uma loja de roupa.

A Esterilidade Funcional de Singapura

Continuamos a acompanhar o rio Singapura. Seguimos a movimentação dos seus sampans, os barcos típicos de casco com listas garridas e providos de olhos.

Quando não atracados no Clifford Pier, os sampans cruzam o rio rumo à marginal das esplanadas, situada logo ao lado do CBD, por forma, a facilitar a vida dos executivos. Assim que deixam os escritórios, estes, instalam-se em grupos barulhentos, bebem uns copos e depois entregam-se a jantares faustosos.

Clarke Quay, Singapura, ilha Sucesso e Monotonia

Família conversa numa margem do rio Singapura, na zona de Clarke Quay.

Em Singapura, até a vida de rua é programada.

Desta zona de refeições, rio acima, até aos Clarke, Boat e Robertson Quays, onde se concentra a vida nocturna, é só um pulo, ou uma estação de MRT.

Tudo continua organizado e controlado. De tal forma assim é, em Singapura que, para não perturbar em demasia a harmonia da ilha, até há quatro décadas atrás, a vida nocturna era limitada ao mínimo possível. Os poucos estabelecimentos permitidos eram obrigado a fechar tão cedo que mal tinham tempo para lucrar.

Poucos eram os jovens executivos que se queriam mudar para um país sem vida nocturna. Entretanto, também por razões económicas, o panorama alterou-se de forma radical.

Hoje, bares e as discotecas como o The Clinic, o The Cannery ou o Ministry of Sound ostentam imagens de marca fortes e decorações temáticas hiper-criativas. Os clientes, esses, afluem dos quatro cantos do mundo. Transpiram estilo e sofisticação e pagam o que for necessário pela entrada nos clubes da moda.

The Clinic, Singapura, ilha Sucesso e Monotonia

Recepcionista à entrada do clube nocturno The Clinic, um dos mais originais de Singapura.

Para que a chuva frequente não perturbe este festival de glamour, as ruas do Clarke Quay foram dotadas de coberturas de vidro. Até quando os seus filhos e enteados se preparam para entrar num bar com striptease o Nanny State singapurense está presente, a evitar que se constipem.

Como pudemos constatar, alguns dos filhos de Singapura não estão preparados para tanto mimo. Um dos comentários frequentes dos singapurenses mais exigentes, acerca do seu próprio país é: “Isto aqui é tão estéril”.

The Clinic, Singapura, ilha Sucesso e Monotonia

Jovens conversam sobre as camas de hospital instaladas pelo clube nocturno The Clinic.

O Isolamento Civilizacional e Religioso da Ilha do Sucesso

Só são precisos alguns dias para compreendermos a que se referem. Percebemos também que a segunda queixa mais comum se prende com o isolamento. Em termos civilizacionais, a maior parte dos singapurenses – excepção feita para a etnia malaia – e dos ocidentais ali expatriados sentem-se cercados pelo vasto mundo muçulmano em redor.

Mas a questão também não acaba aí. Situada logo acima do equador, Singapura parece viver dentro de uma panela de pressão. O calor e a humidade são opressivos. Quando não há sol, nuvens densas e altas, vindas da Indonésia com o vento de monção, pairam sobre o país, ameaçadoras.

A qualquer momento, descarregam em bátegas diluvianas acompanhadas de trovoadas fulminantes. Se as nuvens abrem um pouco, a luz solar incide tão forte que branqueia um panorama já de si, demasiado dominado pelo aço e pelo o cimento.

Não é que faltem jardins e outros espaços verdes mas, como se queixava um motorista de táxi, demasiados edifícios históricos deram lugar a construções modernas sem alma. “Parece que a ilha está tão preocupada em facturar para triunfar – o espírito singapurense kiasu criticado pelos vizinhos malaios e indonésios – que não se apercebe do seu aspecto pré-fabricado.”

Arquitecturas, Singapura, ilha Sucesso e Monotonia

Cúpula dourada de uma mesquita de Kampong Glam contrasta com a arquitectura moderna de um prédio em frente.

O Exotismo Étnico da Little India

Quando passamos sobre a Elgin Bridge, uma holandesa percebe que também somos estrangeiros e aborda-nos. Pergunta-nos o que estamos a achar. Hesitamos na resposta.

Ela aproveita para acrescentar: “Estou cá há dois dias e até agora só vi lojas e galerias comerciais… não me aconselham nada mais genuíno?“ Enviamo-la para a Little India, no Domingo que se aproxima. Alertamo-la, claro está, para se preparar para mudar de país.

Perante o desapontamento da interlocutora, estava fora de questão aconselharmos o Kampong Glam, o distrito malaio dominado pela Mesquita do Sultão e pelas boutiques caras.

Muito menos a Chinatown, em que vagueiam milhares de visitantes ávidos por gastar e onde, sob a arquitectura típica dos edifícios coloniais coloridos, se escondem mais lojas orientadas para o turista.

Anoitecer na Chinatown, Singapura, ilha Sucesso e Monotonia

Crepúsculo apodera-se da Chinatown de Singapura, decorada de forma especial por estar em festa.

Quando visitamos o distrito chinês, balançam candeeiros de papel vermelhos. Assinalam o aproximar de nova época de celebrações chinesas, a culminar com a inauguração de um novo templo budista, o Tooth Relic Temple.

Investigamos a obra. Reparamos que parte considerável dos trabalhadores são indianos. Como, se não bastasse, alguns metros à frente, mas em pleno coração da Chinatown, achamos o templo dravidiano Sri Mariamman, com o seu gopuram (torre repleta de divindades) sobre a portada.

Atraem-nos trajes garridos e cânticos exóticos. Entramos para observar a cerimónia que se revela fascinante e hipnótica. De um momento para o outro, a estéril e aborrecida Singapura de que se queixavam até os singapurenses surpreende-nos.

Cerimónia Hindu, Little India, Singapura de Sari, Singapura

Sacerdotes hindus conduzem uma cerimónia num templo de Singapura

A noite já se apodera do Sudeste Asiático quando chegamos à majestosa Marina Bay. Os imigrantes trazem as famílias de visita. Partilham com eles a magia do lusco-fusco quando as luzes das ruas e dos escritórios nas alturas se acendem e, a pouco e pouco, e pintam o cenário – durante o dia deslavado – de todas as cores.

O ponto de observação eleito, sempre repleto de moradores e de estrangeiros equipados com máquinas de fotografar e filmar, é o Merlion Park, um cais com plataforma panorâmica sobre a água.

Dele se destaca a estátua enorme do estranho meio-peixe, meio-leão designado, em 1960, como mascote de Singapura.

Singapura, ilha Sucesso e Monotonia

Estátua de Merlion, a criatura meio peixe meio leão símbolo de Singapura projecta um repuxo sobre o mar da Marina Bay.

Aceitam-se estrangeiros em Singapura. Excelente ambiente de Trabalho

A sobrevivência e posterior riqueza asseguradas por Singapura contra todas as probabilidades, após a expulsão da Federação da Malásia, deveu-se aos programas de industrialização e urbanização levado a cabo pelo pai da nação Lee Kuan Yew. 

Por volta dos anos 90, a cidade tinha o maior rácio de posse de casas do mundo. Apesar da ausência total de matérias-primas, o fabrico e exportação de produtos de alta-tecnologia assegurou a Singapura o bem-estar da sua população e um papel de destaque na esfera económica mundial.

Esta bonança foi seriamente ameaçada pela ascensão súbita de países concorrentes com custos de produção muito mais baixos, dos quais a China se tornou o caso óbvio.

De 33% dos seus 2.5 milhões de trabalhadores há vinte anos atrás, a força produtora industrial encolheu para apenas 20%. Como consequência directa, os singapurenses perderam poder de compra. Confrontados com a crise, os habitantes mais novos passaram a procurar emprego no estrangeiro.

Os que ficam têm cada vez menos filhos.

Condutor rickshaw, Singapura, ilha Sucesso e Monotonia

Condutor de rickshaw a pedal descansa sobre o seu veículo.

O Objectivo Ambicioso e o Sucesso da Revolução Populacional

Os números são claros: Singapura debate-se com um grave problema de estagnação. Trabalha na solução faz já algum tempo. Literalmente. Desde 2008, 2009 que as gruas e escavadoras não param de renovar a nação.

O objectivo herculiano então estabelecido foi passar rapidamente de 4.4 para 6 milhões de habitantes, com recurso ao recrutamento de empresas e trabalhadores qualificados de outros países.

O governo chegou à conclusão de que a fama de entreposto comercial próspero mas, aborrecido, era, de certa forma, merecida.

Resolveu contra-atacar e transformou a ilha de Sentosa – situada apenas a 500 metros da costa sul de Singapura – num mega-parque de diversões ligado a Harbour Front por uma linha de MRT.

Singapura importou centenas de toneladas de areia para criar praias artificiais. Protegeram-se as novas praias do tráfego marítimo infernal do estreito de Singapura e da vista desagradável das suas refinarias. Para tal, foram erguidos enormes muros de pedra de que brotam coqueiros e palmeiras.

Ilha Sentosa, Singapura, Família em praia artificial de Sentosa

Família de origem chinesa caminha sobre o paredão que separa as praias de Sentosa do Estreito de Singapura.

Além das praias, várias outras atracções surgiram do nada: museus, um Water World com SPA, uma torre e teleférico panorâmicos, cinemas, espectáculos multimédia, campos de golf e pistas de bicicleta, para mencionar apenas uma ínfima parte.

A juntar ao pacote, Singapura construiu condomínios de habitação VIP que os promotores fazem de tudo, (mas mesmo tudo) para vender, incluindo promovê-los em enormes outdoors com imagens dos areais de Sentosa tão pós-produzidas e falsas que mais parecem as Caraíbas.

E uma Revolução Urbanística a Condizer

Mas a batalha contra a estagnação não se ficou por aqui. Obrigou a concessões inesperadas por parte dos senhores das leis. Até 2002, os clubes nocturnos eram proibidos, em Singapura. O jogo mantinha-se tema tabu. De um momento para o outro, tudo mudou.

Na orla leste da Marina Bay, surgiram novos edifícios que a urbanizaram por completo: as torres triplas do complexo Marina Bay Sands, um casino-resort gigantesco construído com arquitectura revolucionária pelo operador Las Vegas Sands.

Singapura, ilha Sucesso e Monotonia

Arranha-céus da Marina Bay vistos do Clarque Quay de Singapura

Quando completo, em 2009, o Marina Bay disponibilizou mais de 2500 quartos de hotel, um centro comercial atravessado por canais, uma pista de patinagem no gelo, dois teatros cada um com 2000 lugares, destinados a espectáculos da Broadway e um museu.

A partir da última torre deste empreendimento para oeste e até à proximidade do CDB surgiram mais arranha-céus destinados a albergar as empresas que empregaram os esperados imigrantes.

Após sacrificar alguns dos seus antigos princípios em nome da sobrevivência da nação, Lee Kuan Yew, transformou-se num dos vendedores mais activos do projecto.

A sua metamorfose foi tal que, no seu discurso anual do Ano Novo Chinês, depois de menções a acordos de comércio livre e fortalecimento de laços políticos na região, passou para referências repetidas a jantares ao ar livre, bandas de jazz, vela, windsurf e pesca.

Tentou assim impingir a qualidade de vida superior com que pensava atrair os trabalhadores especializados estrangeiros. Como resumiu: “Singapura será uma versão tropical de Nova Iorque, Paris e Londres numa só”.

Perante expectativas tão elevadas, há que pensar positivo. Se o plano de Kuan Yew falhar, Singapura será sempre uma cidade-país invulgar, com uma fascinante população multiétnica e uma das gastronomias mais variadas do mundo.

Balões Chineses, Singapura, ilha Sucesso e Monotonia

Lampeões vermelhos enfeitam uma rua sobrelotada durante uma época festiva da Chinatown de Singapura.

Da Vingança de Raffles ao Paternalismo e ao Sucesso de Lee Kuan Yew

Após Napoleão ter invadido a Holanda, em 1795, os Britânicos procuraram a todo o custo evitar uma expansão da França nos territórios do Sudeste Asiático. Ocuparam Malaca e Java.

Com a derrota dos franceses na Europa, decidiram-se pela devolução desses territórios aos holandeses. A medida permitiu evitar um provável conflito e consolidar a cada vez mais rentável presença britânica na Península Malaia.

Não evitou, no entanto, o enorme ressentimento do Tenente-Governante de Java, Stamford Raffles, que viu todo o seu trabalho ser entregue a uma potência concorrente quando sentia que a Grã-Bretanha, a nação mais poderosa da Europa, devia estender a sua influência no Sudeste Asiático.

Humilhado mas não vencido, Raffles persuadiu a East India Company que o estabelecimento de uma colónia na ponta da península malaia era fulcral para lucrar com a rota marítima entre a China e a Índia.

Compras, Singapura, ilha Sucesso e Monotonia

Mulheres singapurenses de etnia malaia deixam uma loja de roupa do distrito de Kampong Glam.

Em 1819, Raffles desembarcou em Singapura, então, parte do sultanato de Johor.

Imiscui-se em conflitos de sucessão e linhagem dos governantes da ilha. Depressa conquistou a protecção de uma das partes e o direito a construir um entreposto comercial. Cinco anos depois, Raffles assinou um segundo tratado que entregava Singapura à Grã-Bretanha em troca de dinheiro. E pensões vitalícias a serem paga ao sultão que apoiara e a um chefe local.

Em apenas cinco anos, o seu novo território surgiu no mapa. O próximo plano de Raffles foi fazer dele um bastião económico do Império Britânico. Para isso, estabeleceu que não seriam cobradas taxas pelas transacções comerciais.

Sir Stamford Raffles, Singapura, ilha Sucesso e Monotonia

Estátua de Sir Stamford Raffles, o inglês ambicioso que, contra todas as probabilidades fundou Singapura em 1819 e fez da ilha um território invejado.

Por essa altura, habitavam Singapura cerca de 150 pescadores malaios e agricultores chineses.

Com a perspectiva da “adopção” britânica e da riqueza anunciada pelo projecto, acorreram à ilha milhares de outros chineses e malaios. Alguns dos primeiros desposaram mulheres malaias. Formaram o povo e a cultura Perakanan (meia-casta) .

Em 1821, a população de Singapura (do malaio Singa=leão + Pura=cidade) contava já 10.000 habitantes. Tal como planeado, o porto atraía cada vez mais comércio e a colónia evoluía a olhos vistos, entretanto com o contributo de milhares de indianos recrutados por Raffles que os considerava mais aptos para a construção de edifícios e dos caminhos de ferro.

Foram erguidas ruas amplas com lojas e passadiços cobertos, docas, igrejas e até um jardim botânico. Toda a obra tinha como fim fazer de Singapura uma colónia imponente e importante do império.

Curiosamente, em termos sociais, a estratégia de Raffles passava por dividir e administrar a população de acordo com a sua origem étnica. À imagem da realidade actual, já nessa altura, boa parte dos europeus, indianos, chineses e malaios viviam nos seus bairros respectivos.

Paragem, Singapura, ilha Sucesso e Monotonia

Paragem de autocarro transformada promove um campeonato de snooker a ter lugar em Singapura

Mais recentemente, passado o susto da invasão japonesa da 2ª Guerra Mundial e a separação forçada pela expulsão da Federação da Malásia (a quem os britânicos haviam já concedido a independência), causada pela recusa da ilha em conceder privilégios institucionais aos malaios residentes, em 1965, Singapura seguiu o seu próprio caminho.

Com a saída dos britânicos da cena política, a gestão do território ficou entregue aos chineses do People Action Party (PAP). Estes, ao longo das vigências paternalísticas de Lee Kuan Yew, um advogado educado em Cambridge que governou mais de 30 anos e de Goh Chok Tong, no poder de 1990 até muito recentemente, elevaram Singapura do terceiro mundo ao primeiro.

Utrapassaram problemas tão graves como a crise cambial asiática de 1997. E conseguiram recuperar o passado  de prosperidade herdado dos britânicos.

Com o avançar dos anos, a estrutura étnica da população de Singapura definiu-se. Hoje, dos seus 3.3 milhões de habitantes fixos, 77% são chineses; 14% malaios e 8% indianos.

Multidão, Singapura, ilha Sucesso e Monotonia

Transeuntes de distintas etnias cruzam-se ao longo da Orchard Rd, uma avenida moderna de Singapura.

Vivem, ainda, permanentemente na ilha, 1.1 milhões de estrangeiros que trabalham nas muitas multinacionais com sedes e sucursais no país.

Valletta, Malta

As Capitais Não se Medem aos Palmos

Por altura da sua fundação, a Ordem dos Cavaleiros Hospitalários apodou-a de "a mais humilde". Com o passar dos séculos, o título deixou de lhe servir. Em 2018, Valletta foi a Capital Europeia da Cultura mais exígua de sempre e uma das mais recheadas de história e deslumbrantes de que há memória.
Singapura

A Capital Asiática da Comida

Eram 4 as etnias condóminas de Singapura, cada qual com a sua tradição culinária. Adicionou-se a influência de milhares de imigrados e expatriados numa ilha com metade da área de Londres. Apurou-se a nação com a maior diversidade gastronómica do Oriente.
Little India, Singapura

Little Índia. A Singapura de Sari

São uns milhares de habitantes em vez dos 1.3 mil milhões da pátria-mãe mas não falta alma à Little India, um bairro da ínfima Singapura. Nem alma, nem cheiro a caril e música de Bollywood.
Brasília, Brasil

Brasília: da Utopia à Capital e Arena Política do Brasil

Desde os tempos do Marquês de Pombal que se falava da transferência da capital para o interior. Hoje, a cidade quimera continua a parecer surreal mas dita as regras do desenvolvimento brasileiro.
Sentosa, Singapura

A Evasão e a Diversão de Singapura

Foi uma fortaleza em que os japoneses assassinaram prisioneiros aliados e acolheu tropas que perseguiram sabotadores indonésios. Hoje, a ilha de Sentosa combate a monotonia que se apoderava do país.
Oslo, Noruega

Uma Capital (sobre) Capitalizada

Um dos problemas da Noruega tem sido decidir como investir os milhares milhões de euros do seu fundo soberano recordista. Mas nem os recursos desmedidos salvam Oslo das suas incoerências sociais.
Moradores percorrem o trilho que sulca plantações acima da UP4
Cidade
Gurué, Moçambique, Parte 1

Pelas Terras Moçambicanas do Chá

Os portugueses fundaram Gurué, no século XIX e, a partir de 1930, inundaram de camelia sinensis os sopés dos montes Namuli. Mais tarde, renomearam-na Vila Junqueiro, em honra do seu principal impulsionador. Com a independência de Moçambique e a guerra civil, a povoação regrediu. Continua a destacar-se pela imponência verdejante das suas montanhas e cenários teáceos.
Anfitrião Wezi aponta algo na distância
Praia
Cobué; Nkwichi Lodge, Moçambique

O Moçambique Recôndito das Areias Rangentes

Durante um périplo de baixo a cima do (lago) Malawi, damos connosco na ilha de Likoma, a uma hora de barco do Nkwichi Lodge, o ponto de acolhimento solitário deste litoral interior de Moçambique. Do lado moçambicano, o lago é tratado por Niassa. Seja qual for o seu nome, lá descobrimos alguns dos cenários intocados e mais impressionantes do sudeste africano.
savuti, botswana, leões comedores de elefantes
Safari
Savuti, Botswana

Os Leões Comedores de Elefantes de Savuti

Um retalho do deserto do Kalahari seca ou é irrigado consoante caprichos tectónicos da região. No Savuti, os leões habituaram-se a depender deles próprios e predam os maiores animais da savana.
Bandeiras de oração em Ghyaru, Nepal
Annapurna (circuito)
Circuito Annapurna: 4º – Upper Pisang a Ngawal, Nepal

Do Pesadelo ao Deslumbre

Sem que estivéssemos avisados, confrontamo-nos com uma subida que nos leva ao desespero. Puxamos ao máximo pelas forças e alcançamos Ghyaru onde nos sentimos mais próximos que nunca dos Annapurnas. O resto do caminho para Ngawal soube como uma espécie de extensão da recompensa.
Visitantes nas ruínas de Talisay, ilha de Negros, Filipinas
Arquitectura & Design
Talisay City, Filipinas

Monumento a um Amor Luso-Filipino

No final do século XIX, Mariano Lacson, um fazendeiro filipino e Maria Braga, uma portuguesa de Macau, apaixonaram-se e casaram. Durante a gravidez do que seria o seu 11º filho, Maria sucumbiu a uma queda. Destroçado, Mariano ergueu uma mansão em sua honra. Em plena 2ª Guerra Mundial, a mansão foi incendiada mas as ruínas elegantes que resistiram eternizam a sua trágica relação.
Totems, aldeia de Botko, Malekula,Vanuatu
Aventura
Malekula, Vanuatu

Canibalismo de Carne e Osso

Até ao início do século XX, os comedores de homens ainda se banqueteavam no arquipélago de Vanuatu. Na aldeia de Botko descobrimos porque os colonizadores europeus tanto receavam a ilha de Malekula.
Via Conflituosa
Cerimónias e Festividades
Jerusalém, Israel

Pelas Ruas Beliciosas da Via Dolorosa

Em Jerusalém, enquanto percorrem a Via Dolorosa, os crentes mais sensíveis apercebem-se de como a paz do Senhor é difícil de alcançar nas ruelas mais disputadas à face da Terra.
A Crucificação em Helsínquia
Cidades
Helsínquia, Finlândia

Uma Via Crucis Frígido-Erudita

Chegada a Semana Santa, Helsínquia exibe a sua crença. Apesar do frio de congelar, actores pouco vestidos protagonizam uma re-encenação sofisticada da Via Crucis por ruas repletas de espectadores.
Comida
Mercados

Uma Economia de Mercado

A lei da oferta e da procura dita a sua proliferação. Genéricos ou específicos, cobertos ou a céu aberto, estes espaços dedicados à compra, à venda e à troca são expressões de vida e saúde financeira.
Capacete capilar
Cultura
Viti Levu, Fiji

Canibalismo e Cabelo, Velhos Passatempos de Viti Levu, ilhas Fiji

Durante 2500 anos, a antropofagia fez parte do quotidiano de Fiji. Nos séculos mais recentes, a prática foi adornada por um fascinante culto capilar. Por sorte, só subsistem vestígios da última moda.
arbitro de combate, luta de galos, filipinas
Desporto
Filipinas

Quando só as Lutas de Galos Despertam as Filipinas

Banidas em grande parte do Primeiro Mundo, as lutas de galos prosperam nas Filipinas onde movem milhões de pessoas e de Pesos. Apesar dos seus eternos problemas é o sabong que mais estimula a nação.
Jipe cruza Damaraland, Namíbia
Em Viagem
Damaraland, Namíbia

Namíbia On the Rocks

Centenas de quilómetros para norte de Swakopmund, muitos mais das dunas emblemáticas de Sossuvlei, Damaraland acolhe desertos entrecortados por colinas de rochas avermelhadas, a maior montanha e a arte rupestre decana da jovem nação. Os colonos sul-africanos baptizaram esta região em função dos Damara, uma das etnias da Namíbia. Só estes e outros habitantes comprovam que fica na Terra.
Cacau, Chocolate, Sao Tome Principe, roça Água Izé
Étnico
São Tomé e Príncipe

Roças de Cacau, Corallo e a Fábrica de Chocolate

No início do séc. XX, São Tomé e Príncipe geravam mais cacau que qualquer outro território. Graças à dedicação de alguns empreendedores, a produção subsiste e as duas ilhas sabem ao melhor chocolate.
portfólio, Got2Globe, fotografia de Viagem, imagens, melhores fotografias, fotos de viagem, mundo, Terra
Portfólio Fotográfico Got2Globe
Porfólio Got2Globe

O Melhor do Mundo – Portfólio Got2Globe

Aloés excelsa junto ao muro do Grande Cercado, Great Zimbabwe
História
Grande Zimbabwe

Grande Zimbabué, Mistério sem Fim

Entre os séculos XI e XIV, povos Bantu ergueram aquela que se tornou a maior cidade medieval da África sub-saariana. De 1500 em diante, à passagem dos primeiros exploradores portugueses chegados de Moçambique, a cidade estava já em declínio. As suas ruínas que inspiraram o nome da actual nação zimbabweana encerram inúmeras questões por responder.  
Banho refrescante no Blue-hole de Matevulu.
Ilhas
Espiritu Santo, Vanuatu

Os Blue Holes Misteriosos de Espiritu Santo

A humanidade rejubilou, há pouco tempo, com a primeira fotografia de um buraco negro. Em jeito de resposta, decidimos celebrar o que de melhor temos cá na Terra. Este artigo é dedicado aos blue holes de uma das ilhas abençoadas de Vanuatu.
Cavalos sob nevão, Islândia Neve Sem Fim Ilha Fogo
Inverno Branco
Husavik a Myvatn, Islândia

Neve sem Fim na Ilha do Fogo

Quando, a meio de Maio, a Islândia já conta com o aconchego do sol mas o frio mas o frio e a neve perduram, os habitantes cedem a uma fascinante ansiedade estival.
Lago Manyara, parque nacional, Ernest Hemingway, girafas
Literatura
PN Lago Manyara, Tanzânia

África Favorita de Hemingway

Situado no limiar ocidental do vale do Rift, o parque nacional lago Manyara é um dos mais diminutos mas encantadores e ricos em vida selvagem da Tanzânia. Em 1933, entre caça e discussões literárias, Ernest Hemingway dedicou-lhe um mês da sua vida atribulada. Narrou esses dias aventureiros de safari em “As Verdes Colinas de África”.
Fajãzinha, Ilha das Flores
Natureza
Ilha das Flores, Açores

Os Confins Atlânticos dos Açores e de Portugal

Onde, para oeste, até no mapa as Américas surgem remotas, a Ilha das Flores abriga o derradeiro domínio idílico-dramático açoriano e quase quatro mil florenses rendidos ao fim-do-mundo deslumbrante que os acolheu.
Menina brinca com folhas na margem do Grande Lago do Palácio de Catarina
Outono
São Petersburgo, Rússia

Dias Dourados que Antecederam a Tempestade

À margem dos acontecimentos políticos e bélicos precipitados pela Rússia, de meio de Setembro em diante, o Outono toma conta do país. Em anos anteriores, de visita a São Petersburgo, testemunhamos como a capital cultural e do Norte se reveste de um amarelo-laranja resplandecente. Num deslumbre pouco condizente com o negrume político e bélico entretanto disseminado.
Parques Naturais
Glaciares

Planeta Azul-Gelado

Formam-se nas grandes latitudes e/ou altitudes. No Alasca ou na Nova Zelândia, na Argentina ou no Chile, os rios de gelo são sempre visões impressionantes de uma Terra tão frígida quanto inóspita.
Recompensa Kukenam
Património Mundial UNESCO
Monte Roraima, Venezuela

Viagem No Tempo ao Mundo Perdido do Monte Roraima

Perduram no cimo do Monte Roraima cenários extraterrestres que resistiram a milhões de anos de erosão. Conan Doyle criou, em "O Mundo Perdido", uma ficção inspirada no lugar mas nunca o chegou a pisar.
Personagens
Sósias, actores e figurantes

Estrelas do Faz de Conta

Protagonizam eventos ou são empresários de rua. Encarnam personagens incontornáveis, representam classes sociais ou épocas. Mesmo a milhas de Hollywood, sem eles, o Mundo seria mais aborrecido.
Espantoso
Praias

Ambergris Caye, Belize

O Recreio do Belize

Madonna cantou-a como La Isla Bonita e reforçou o mote. Hoje, nem os furacões nem as disputas políticas desencorajam os veraneantes VIPs e endinheirados de se divertirem neste refúgio tropical.

Braga ou Braka ou Brakra, no Nepal
Religião
Circuito Annapurna: 6º – Braga, Nepal

Num Nepal Mais Velho que o Mosteiro de Braga

Quatro dias de caminhada depois, dormimos aos 3.519 metros de Braga (Braka). À chegada, apenas o nome nos é familiar. Confrontados com o encanto místico da povoação, disposta em redor de um dos mosteiros budistas mais antigos e reverenciados do circuito Annapurna, lá prolongamos a aclimatização com subida ao Ice Lake (4620m).
Train Fianarantsoa a Manakara, TGV Malgaxe, locomotiva
Sobre Carris
Fianarantsoa-Manakara, Madagáscar

A Bordo do TGV Malgaxe

Partimos de Fianarantsoa às 7a.m. Só às 3 da madrugada seguinte completámos os 170km para Manakara. Os nativos chamam a este comboio quase secular Train Grandes Vibrations. Durante a longa viagem, sentimos, bem fortes, as do coração de Madagáscar.
Intervenção policial, judeus utraortodoxos, jaffa, Telavive, Israel
Sociedade
Jaffa, Israel

Protestos Pouco Ortodoxos

Uma construção em Jaffa, Telavive, ameaçava profanar o que os judeus ultra-ortodoxos pensavam ser vestígios dos seus antepassados. E nem a revelação de se tratarem de jazigos pagãos os demoveu da contestação.
Vendedores de fruta, Enxame, Moçambique
Vida Quotidiana
Enxame, Moçambique

Área de Serviço à Moda Moçambicana

Repete-se em quase todas as paragens em povoações de Moçambique dignas de aparecer nos mapas. O machimbombo (autocarro) detém-se e é cercado por uma multidão de empresários ansiosos. Os produtos oferecidos podem ser universais como água ou bolachas ou típicos da zona. Nesta região a uns quilómetros de Nampula, as vendas de fruta eram sucediam-se, sempre bastante intensas.
Ovelhas e caminhantes em Mykines, ilhas Faroé
Vida Selvagem
Mykines, Ilhas Faroé

No Faroeste das Faroé

Mykines estabelece o limiar ocidental do arquipélago Faroé. Chegou a albergar 179 pessoas mas a dureza do retiro levou a melhor. Hoje, só lá resistem nove almas. Quando a visitamos, encontramos a ilha entregue aos seus mil ovinos e às colónias irrequietas de papagaios-do-mar.
Bungee jumping, Queenstown, Nova Zelândia
Voos Panorâmicos
Queenstown, Nova Zelândia

Queenstown, a Rainha dos Desportos Radicais

No séc. XVIII, o governo kiwi proclamou uma vila mineira da ilha do Sul "fit for a Queen". Hoje, os cenários e as actividades radicais reforçam o estatuto majestoso da sempre desafiante Queenstown.