Ditam as circunstâncias que a nossa base operacional para Inhambane, se situe sobre a ponta noroeste da cidade.
Temos a vista da vastidão salpicada de mangue que as águas do oceano Índico cobrem, sempre que invadem a Baía profunda de Inhambane.
Daquele recanto privilegiado ocupado pelo hotel Casa do Capitão, seja qual for o rumo, passamos por dezenas de vivendas do tempo colonial, com arquitectura e boa parte da sua história portuguesa.
Com frequência, as sucessivas deambulações levam-nos para sul.
Na direcção do pontão longo que serve de embarcadouro, incluindo aos barcos que ligam Inhambane à sua vizinha ainda mais continental, Maxixe.
Por Avenidas e Alamedas Inhambane Adentro
Avançamos por uma marginal reclamada à baía, a Av. 3 de Fevereiro que as autoridades dotaram de palmeiras imperiais mais resistentes aos tufões e geradoras de alguma sombra.
Sem planos de embarcarmos, flectimos para o interior, por uma alameda desafogada e ajardinada, término da estrada N242 que liga a Inhambane cidade às famosas “terras” balneares de Tofo e Barra.
Uma figura já expectável resiste ao tempo, de dedo indicador apontado ao céu sem limites do Moçambique independente, por essa hora, limpo, azulão, percorrido por algumas nuvens alvas diminutas.
Essa mesma alameda revela-nos novos sinais da génese colonial da cidade e da coexistência entre pré e pós-independência moçambicana que Inhambane há muito admite.
Chegados à esquina com a Av. da Vigilância, admiramos um marco do correio, dos antigos, identificado com CTT Moçambique.
A sua forma, o vermelhão em que subsiste, deixam poucas dúvidas quanto a de quando era e de onde provinha.
Faltava-lhe apenas o sopé negro característico das versões originais.
Mesmo atrás, surpreende-nos o restaurante “O Tuga”, fonte de petiscos e pratos típicos portugueses, em comunhão com outros moçambicanos.
Metemo-nos pela Av. da Vigilância. Umas dezenas de metros abaixo, damos com nova alameda ajardinada.
De um dos lados, destaca-se o edifício grandioso do Conselho Municipal, separado de uma longa sequência de arcadas por uma fonte e uma pequena floresta de árvores frondosas.
Encerra-a um dos maiores espaços comerciais de Inhambane.
O supermercado chinês Wangrong assume uma forma de investimento mais ambicioso a que a velha Inhambane se tenta ajustar.
O Mercado Central, Lojas e Negócios Pitorescos
O normal, na cidade, são ainda as vendas de rua e os estabelecimentos fechados comedidos.
Encontramos os dois tipos sempre que passamos pelo seu Mercado Central, lugar de cores fortes e cheiros intensos, de boa parte do peixe e carne que aflui à cidade, das frutas e legumes da província homónima, de incontáveis bugigangas e dispositivos, dos artesanais, à electrónica de bolso e de trazer por casa.
O terminal de autocarros contíguo, esse, concentra a frota local de veículos que serve as viagens, por norma curtas, dos manhambanas.
Partilham-no chapas, txopelas e motos.
A cada fim de tarde, passamos por esta zona do mercado, decididos a nos reabastecermos de maracujás.
“Levem mais!” impinge-nos Vóvó Joana, mesmo se já encheu o saco com mais de 2kg. “Amanhã, tenho papaias maduras.”
Num outro dia, também compramos jambolão, mas a uma vendedora de rua que amamenta um quase recém-nascido.
O negro e brilhante jambalão é conhecido em todo o espectro da Lusofonia, por dezenas de nomes díspares. E, no entanto, tem origem na Índia.
É provável que os mercadores portugueses o tenham de lá levado para Moçambique.
No seguimento de nova caminhada, detectamos comerciantes de lojas bem mais castiças e humildes que o supermercado Wangrong.
Pertencem a migrantes que completaram o mesmo trajecto do jambalão.
Algumas Curiosas Lojas. De Diuenses
Damos connosco à porta de um tal de negócio Minesh Bhadrassene. Uma senhora de idade em trajes indianos diz-nos que não, não era de Goa. “Falem com o meu filho que está lá dentro”.
O filho e proprietário era o Sr. Minesh. Um dos vários diuenses, de famílias que se mudaram para Moçambique antes de Diu e Moçambique terem deixado de ser colónias portuguesas. “Sim, eu estudei lá e ainda lá vou de vez em quando.
A última vez foi em 2011…” A sua loja mantém aquele visual de pequeno, velho grémio, com prateleiras de madeira repletas de tudo um pouco.
Na esquina da Rua Mueda com a Av. Acordos de Lusaka, identificamos outro estabelecimento do género.
Espreitamos. É mais grémio que mercearia. Revela um novo grande balcão e uma estrutura de prateleiras e arrumos de madeira antiga, menos repleta que a da loja Minesh Bhadrassene.
Gerem-na o Sr. Suresh e a Sra. Parur, casal que, vencida alguma desconfiança, tagarela connosco e nos permite, inclusive, fotografá-los. “Já não vou há algum tempo a Portugal” confessa-nos o Sr. Suresh…” mas, do que tenho visto, parece que agora é só crime!”
A sua apreensão deixa-nos apreensivos. “É só crime, como? “Olhem… eu tenho a TV ligada aqui na loja e quase só passam crimes.”
“Uhmm, mas e que canais é que vê?” “A maior parte do tempo dá aquela CMTV…” “Ah, já percebemos… Mas olhe que esse canal é assim mesmo. Dá sobretudo destaque às desgraças.”
Casa Oswald Hoffmann, o Edifício mais Colorido de Inhambane
A loja de Suresh e Parur fica mesmo em frente a um dos edifícios mais coloridos e emblemáticos de Inhambane, a Casa Oswald Hoffman que encontramos pintada de tons mais habituais na Índia.
Como indicia o nome, ergueu-a uma tal de família Hoffman, em 1890, que chegou a ter planos de lá instalar um hotel Carlton. O edifício acabou por acolher a casa e a loja dos Hoffman.
Após a derrota da Alemanha na 1ª Guerra Mundial que ditou a perda das colónias germânicas em África, os portugueses apoderaram-se do edifício.
Subsiste com outros edifícios coloniais tão ou mais emblemáticos: o velho Cine-Teatro-Tofo, de óbvio estilo art-deco.
A estação de caminho-de-ferro de Inhambane, o palácio Fornaziny, para mencionarmos uns poucos exemplos.
Cristianismo e Islamismo, uma Convivência com mais de Meio Milénio
Passam por nós levadas de estudantes em uniformes que identificam os seus estabelecimentos de ensino. Inhambane é uma cidade com forte índole académica.
Entre as jovens moças, a maior parte, mantém a cara e o cabelo visível.
Umas poucas, de famílias de fé islâmica mais tradicionalista, cobrem-nos com lenços ajustados a véus hijabs.
Em Inhambane, como na vastidão de Moçambique, o Cristianismo imposto pelos portugueses coexiste com o Islamismo prevalecente à sua chegada.
E a mesquita velha da cidade (erguida a partir de 1835) com a Igreja da Nª Srª da Conceição que demorou de 1854 a 1885 a completar.
Hoje, mesmo se uma catedral homónima moderna e mais imponente a substitui, vemos no templo original outra das máculas na conservação dos edifícios históricos da cidade de que as administrações de Inhambane se veem acusadas.
Entretanto, abordaremos o caso específico de Vasco da Gama.
A Evolução de Inhambane desde a Chegada dos Portugueses
O navegador de Sines foi o primeiro a desvendar a costa leste da África do Sul e de Moçambique para a Europa. Ancorou na baía de Inhambane, em Janeiro de 1498.
Já existia uma povoação fundada por mercadores suailis.
Vasco da Gama tinha como prioridades encontrar populações não hostis que lhe permitissem reabastecer a armada de água e mantimentos, de se inteirar da distância para a Índia e de recrutar um piloto que lá conduzisse a armada.
Ficou para a história que, em Inhambane, Vasco da Gama teve bom acolhimento.
De tal maneira, que o navegador qualificou o lugar de “terra de boa gente”.
Em 1546, os portugueses ergueram uma feitoria fortificada que permitiu inaugurar as primeiras transações comerciais, num lugar distinto do actual.
Entre 1750 e 1758, na sequência de um processo de colonização que já durava há duas décadas, a povoação foi transferida para a península de Inhambane.
Na sua posição actual, dotada do Forte de Nª Srª da Conceição e de outras fortificações, podia ser mais facilmente defendida dos ataques holandeses e franceses, incluindo os dos piratas que operavam a partir da ilha da Reunião. Malgrado os intentos dos rivais coloniais que a chegaram a tomar brevemente, Inhambane proliferou.
Sobretudo das transações de ouro, marfim e escravos – em boa parte fornecidos pelo poderoso império Monomotapa – que financiaram a expansão e desenvolvimento do povoado no espaço da península.
O suficiente para que, em 1956, os portugueses a promovessem a cidade.
A Despromoção do Descobridor Vasco da Gama, às Mãos da Ideologia
Decorrido quase meio século da independência de Moçambique, 530 anos do desembarque pioneiro de Vasco da Gama, as gentes de Inhambane continuam a orgulhar-se do epíteto atribuído pelo descobridor.
Por aversão ideológica, pouco depois de ter assumido o poder, a FRELIMO, removeu a estátua que homenageava o descobridor.
Em seu lugar, colocou uma outra, de bronze em vez de mármore.
A tal do dedo indicador apontado ao céu. Louva Samora Machel, o pai da nação moçambicana.
É idêntica a centenas de outras que a FRELIMO disseminou por Moçambique. Há algum tempo atrás, a de Vasco da Gama, autor do apreciado epíteto de Inhambane, permanecia relegada a um quintal da cidade.
COMO IR
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ONDE FICAR
Casa do Capitão: hotelcasadocapitao.co.mz
e-mail: [email protected]
Telef: +258 29 321 413 ; +258 840262302 ; +258 29321408/9