O palácio imperial impõe-se à cidade como uma das mais marcantes viagens ao passado de Tóquio.
Quando emergimos da sofisticação tecnológica da estação de metro de Otemashi examinamos a realidade em redor. Deslumbramo-nos.
Para trás, salta à vista um núcleo pouco uniforme mas harmonioso de edifícios de escritórios modernos, dois ou três deles quase arranha-céus, outros, mais baixos.
Ao nível do solo, quase até à base destes prédios, estende-se uma floresta urbana de pinheiros verdejantes que mais parecem ter sido aparados por uma equipa de Eduardos Mãos de Tesoura.

Floresta urbana de pinheiros antecede uma área de quase-arranha-céus de Tóquio.
Entre os pinheiros e o palácio, alonga-se uma vasta área coberta de brita cinzenta só interrompida pelo asfalto mais escuro que dá acesso ao palácio.
Detectamos o muro do antigo castelo de Edo e um estranho alinhamento de pessoas que lhe virou as costas e parece esperar algo.
Ocorre-nos atravessar o asfalto que nos separa delas para verificarmos afinal que se passava. Não vamos longe.
Um polícia grita em nipónico e gesticula para voltarmos para trás.
Fiéis ao objectivo inicial, submetemo-nos a uma volta bem maior. Quando chegamos ao outro lado, a ansiedade tomou conta do grupo que resiste ao frio, de máquinas fotográficas em riste.
Da (E) Iminência à Saudação do Imperador Japonês
Ouvem-se sirenes ao longe. Surgem polícias-batedores em motorizadas volumosas, seguidos por um cortejo composto por sete viaturas negras e uma última, também policial.

Súbditos nipónicos acenam ao imperador prestes a entrar no palácio imperial.
A pequena multidão entra em frenesim, mais ainda as mulheres que trocam exclamações histéricas, acenam e batem palmas tão comovidas como fora de si.
Abre-se a janela traseira de um dos carros, destacado pela configuração de limusine clássica e por uma bandeira vermelha que esvoaça sobre o meio do capô.

Polícia barra o trânsito durante a entrada do Imperador no palácio imperial.
Um homem de fato, ar cândido e cabelo grisalho revela-se do interior, acena de volta aos admiradores e leva-os a um óbvio êxtase. O cortejo não pára mas abranda.
Em três tempos, desaparece para o interior do jardim do palácio. A multidão rejubila. Dezenas de súbditos nipónicos acabavam de ver o seu imperador. Como se não bastasse, o imperador tinha-os saudado.

Imperador Akihito acena aos súbditos de dentro da limousine imperial.
No que nos dizia respeito, sem sabermos muito bem como, tínhamos acabado de ver o imperador do Japão. O imperador do Japão tinha-nos saudado.
À partida, a probabilidade deste encontro era semelhante à de se achar um outro imperador ainda no activo à face da Terra: zero.
A Casa Imperial em Cargo Mais Longeva
A casa imperial nipónica mantém-se como a monarquia hereditária mais antiga do mundo a exercer em continuidade. A sua origem é tão ancestral que cai num vazio de rigor, apesar de constar num livro de história japonesa do século VIII que foi fundada em 660. a.C.
No largo período decorrido, o poder do imperador japonês alternou entre um quase total simbolismo e uma verdadeira regência imperial. Mas, na maior parte do tempo – apesar de nominalmente apontados pelo imperador – os verdadeiros líderes japoneses foram os xóguns.

Guarda Imperial em sentido junto ao seu abrigo.
Estes senhores feudais disputaram o território nipónico até à entrada em cena da Restauração Meiji, que promoveu o imperador à personificação de todo o poder do reino.
Os exploradores portugueses, pioneiros europeus na chegada ao Japão, compararam-no ao Papa: com grande autoridade simbólica mas soberania limitada.
A Capitulação Forçada que Encerrou a 2ª Guerra Mundial
Após estender-se pela Ásia e Pacífico do final do século XIX até 1945, o Império do Sol capitulou em pouco mais que um ano perante os exércitos aliados. Foi reconduzido ao seu arquipélago ponto de partida e dissolvido, em 1947, durante a ocupação dos E.U.A. que estiveram na base da criação da nova constituição nipónica.

Folhas outonais dão mais cor às muralhas sólidas do palácio do imperador, antigo castelo de Edo (a povoação antecessora de Tóquio).
Hirohito foi poupado pelos norte-americanos a condenações por crimes de guerra e preservado no poder com o estatuto de “símbolo do estado e da unidade do povo”. Morreu, em 1989. Akihito ocupou então aquele que é conhecido pelo trono crisântemo.
Este último imperador é venerado da forma que tínhamos acabado de assistir – e de outras bem mais zelosas ou até fanáticas – como descendente directo de Amaterasu, deusa xintoísta do Sol e do Universo, de acordo, a mais alta autoridade terrena desta religião.
Da Capital Imperial de Quioto, o Âmago de Edo e, logo, de Tóquio
Durante onze séculos, os imperadores japoneses residiram em Quioto. A partir do meio do século XIV, a residência oficial – Kokyo – foi mudada para o castelo de Edo, no coração de Tóquio.

Uma das torres do palácio Imperial japonês que recuperou o castelo de Edo.
O seu edifício principal continuava à nossa frente, abrigado sobre muralhas interiores, para diante da ponte Nijubashi, no cimo de uma colina e entre árvores frondosas.
Vemos dezenas de alunos nipónicos vestidos de negro avançarem em fila ao longo da gravilha.
Chegados à ponte, formam com este cenário como fundo e um fotografo, à boa maneira japonesa munido de tripé, regista a imagem dos jovens súbditos para a posteridade.

Fila de alunos de um colégio move-se em direcção da torre Fushimi Yagura do palácio imperial.
A estação central de Tóquio não está longe. Partem dela a toda a hora comboios-bala shinkansen destinados às principais cidades do país e equipados com uma hospedeira para cada carruagem.
Entretanto, um grupo destas trabalhadoras nos seus uniformes elegantes aflui ao lugar com o mesmo propósito dos estudantes.

Hospedeiras de comboios shinkansen discutem planos de trabalho em frente ao palácio imperial.
No início do século XXI, estas e outras japonesas quase foram prendadas com uma revolução na sempre tradicionalista relação de género nipónica.
A Crise Sucessória do Palácio Imperial do Japão
Por essa altura, o Príncipe Akishino (segundo filho de Akihito) mantinha-se o único elemento masculino nascido no seio da família imperial desde 1965.
Com a sucessão em risco, a Casa Imperial decidiu formar um conselho para ponderar a hipótese de uma mulher poder suceder ao Imperador.

Segurança do palácio imperial numa bicicleta clássica.
Mas, em 2006, Akishino e a princesa Kiko geraram um príncipe, Hisahito. Pouco depois, o conselho manteve que a sucessão deveria continuar a fazer-se no masculino.
Acontece que Naruhito – o primogénito e provável sucessor do imperador actual – só tem uma filha. O que decidirão os japoneses quando a sucessão voltar a estar em perigo?