Circuito Annapurna: 1º - Pokhara a ChameNepal

Por Fim, a Caminho


Por Chame
Amigos percorrem a rua principal de Chame, uma povoação situada a 2670 metros, de onde se vislumbram os primeiros picos nevados dos Annapurnas.
Paz lacustre
Barcos de recreio no lago Phewa, junto a Pokhara, a base logística dos mochileiros que se embrenham no Annapurna Circuit.
No calor da noite
Carregadores, guias e condutores de jipe convivem na cozinha aquecida do Himalyan Hotel, em Chame.
Talasso descanso
Dois clientes de uma Tea House  de Syange.
Tempo de chá
Cozinheiras do Himalayan Hotel, um de vários que acolhem os caminhantes de passagem por Chame.
Pescaria prateada
Pescadores na margem do lago Phewa, às portas de Pokhara.
Himalaias abaixo
Desfiladeiro apertado do rio Marsyangdi, em pleno trajecto entre Syange e Chame.
Um descanso
Moradora de Chame repousa momentaneamente de cortar a lenha que aquece as noites frias da povoação.
Lugarejo nepalês
Pequena povoação impingida à falésia, a caminho de Chame.
New Sunrise
Rapazes entretem-se a ver os caminhantes passar junto ao hotel New Sunrise de Danaque.
A janta possível
Sopa (de alho) e veg fried rice, uma combinação clássica de refeição durante o percurso. Diz-se que a sopa de alho previne o mal da montanha. Outro mal está em conseguir uma sopa que não seja instantânea.
Moto-paternidade
Pai conduz o filho ainda bebé numa viagem de mota que passa por Chame.
No assento do costume
Ancião repousa e apanha sol à beira da estrada, entre Syange e Chame.
A Tal
Tal, um povoado plantado à beira do rio Marsyangdi e algo vunerável às suas enchentes.
Manas
Irmãs espreitam os forasteiros da porta da sua casa, em Chame.
Depois de vários dias de preparação em Pokhara, partimos em direcção aos Himalaias. O percurso pedestre só o começamos em Chame, a 2670 metros de altitude, com os picos nevados da cordilheira Annapurna já à vista. Até lá, completamos um doloroso mas necessário preâmbulo rodoviário pela sua base subtropical.

Estamos em Pokhara, a capital mochileira do Nepal e do Circuito dos Annapurnas. Para trás, ficaram Kathamandu, Bakhtapur e o vale que os envolve.

Os Annapurnas insinuam-se a norte.

Por algumas horas após cada alvorada, a água imóvel do lago Phewa contempla os forasteiros com o reflexo dos seus cumes nevados. A visão inquieta-nos a dobrar mas não podíamos levar os Himalaias e o Circuito Annapurna de ânimo leve.

Lago Phewa, Pokhara, Nepal

Barcos de recreio no lago Phewa, junto a Pokhara, a base logística dos mochileiros que se embrenham no Annapurna Circuit.

Chegados a Kathmandu, da Índia, sem roupa para o frio, tínhamos muito que planear, os permits necessários por obter e quase todo o equipamento ainda por comprar.

São tantas e tão semelhantes as lojas de trekking e montanhismo que – como acontece com a maior parte dos forasteiros –  depressa nos vimos perdidos no labirinto de montras e interiores atafulhados de vestuário sintético e colorido Made in China e Made in Nepal.

Conscientes de que iríamos estar duas semanas ou mais sem Internet condigna, além das compras, retiveram-nos ainda a criação dos artigos e restantes tarefas computorizadas que, à partida, devíamos deixar resolvidas.

Passámos boa parte do tempo no quarto e na varanda do hotel, com saídas cirúrgicas à baixa comercial da povoação para nos alimentarmos e nos abastecermos da roupa e equipamento na nossa recém-criada lista.

Pokhara, Demasiada Pokhara

“Vocês outra vez? Ainda por cá? Mas, afinal, quando é partem?” Pergunta-nos Binsa, a dona pachorrenta e espirituosa de uma das lojas a que regressámos e voltamos a regressar.

Demasiados dias se sucederam sem que os conseguíssemos evitar, quase todos com meteorologias que evoluíam de um sol matinal radioso a chuvadas e trovoadas furiosas para o fim da tarde e noite.

Tínhamos chegado a Pokhara numa quinta-feira. Não queríamos deixar a seguinte vencer-nos. De acordo, quarta à noite, decididos a sair para a montanha, enchemos as mochilas também lá compradas de tudo o que iríamos carregar. Dormimos atordoados pelo peso da expedição.

O dos catorze quilos que – devido ao material fotográfico mas não só – contavam as mochilas, em vez dos oito ou nove aconselhados. E o da mera dimensão e duração da caminhada, de longe, a mais longa e desgastante em que nos tínhamos metido.

Como consequência da ansiedade e cansaço acumulados, deixamos o hotel à hora de almoço em vez das oito da manhã planeadas.

Só quase às quatro da tarde, damos com o sítio de que partiria a última ligação do dia para Besishahar, na companhia de um nepalês emigrado no Dubai há catorze anos, expansivo e empreendedor a condizer, que connosco engraçou e fez questão de nos garantir dois assentos na carrinha sobrelotada.

O Abrigo Providencial de Besishahar

Chegamos a Besishahar pouco depois do anoitecer. Uma tempestade trovejante descia das montanhas e apoderava-se da aldeia. Não tardou a descarregar sobre ela a sua fúria e uma torrente assustadora de água.

Descemos da van para uma guesthouse Gangapurna, como toda a povoação, às escuras.

Deixamos as mochilas num quarto claustrofóbico e descemos para jantar à luz de velas. Ao servir-nos a thupka e o veg fried rice, o dono do hotel prometeu-nos lugar num dos jipes que sairia de manhã cedo para Chame.

Sem razões para estendermos o romantismo forçado da ceia, subimos e dormimos tanto quanto podíamos.

Refeição "clássica" do Circuito Annapurna, Nepal

Sopa (de alho) e veg fried rice, uma combinação clássica de refeição durante o percurso. Diz-se que a sopa de alho previne o mal da montanha. Outro mal está em conseguir uma sopa que não seja instantânea.

Às sete e meia da manhã,  a electricidade continuava arredada da povoação. Mesmo assim, os estabelecimentos abriam como se nada se passasse e a caixa automática de um tal de Siddartha Bank abençoou-nos com 25.000 rupias nepalesas, ainda tempo de nos enfiarmos no jipe.

Besishahar estabelecia o limite da rede rodoviária navegável por veículos normais.

Dali, para norte e para cima na cordilheira, só os veículos com tracções poderosas conseguiam vencer a estrada rude que as autoridades do Nepal arrancaram às encostas rochosas e abruptas.

Rio Marsyangdi, Nepal

Desfiladeiro apertado do rio Marsyangdi.

Repleta de trechos apertados entre as vertentes e grandes precipícios sobre o rio Marsyangdi, a secção entre Besishahar e Chame é considerada uma das mais perigosas à face da Terra.

Sobretudo durante as monções, quando enxurradas formadas nas terras mais altas podem causar derrocadas em qualquer momento e varrer os veículos e passageiros azarados do mapa.

povoado plantado à beira do rio Marsyangdi, Nepal

Tal, um povoado plantado à beira do rio Marsyangdi e algo vunerável às suas enchentes.

Aquele dia, no entanto, tinha amanhecido bem disposto. Mesmo se os fortes solavancos do jipe nos massacravam as costas ainda impreparadas, avançámos a bom ritmo e sem percalços.

A Escolha Sinuosa do Início do Circuito

Verdade seja dita que os folhetos do circuito dos Annapurnas  agora exibem Besishahar como o início oficial do percurso. Até há uns anos, o número de trekkers que inaugurava a caminhada em Dumre – bem antes de Besishahar – e a completava mais de vinte dias depois em Pokhara era substancial.

Mas, quando as estradas entre Dumre e Chame, e do outro lado da cordilheira, as que seguiam para Jomson e Muktinah – ficaram prontas e os jipes passaram a servir os trajectos, popularizou-se a decisão de abreviar o percurso e concentrar esforços nos trechos mais elevados, mais próximos dos Annapurnas.

Hoje, só alguns caminhantes fundamentalistas e sem reservas de tempo, continuam a querer cumprir o todo, de Besishahar a Birethanti ou até Pokhara.

A nós, interessava-nos, mais que tudo, o itinerário que serpenteava entre as aldeias nepalesas de cultura tibetana, com vista para os cumes nevados e elevados da cordilheira.

Ora, esse reduto começava em Chame. A segunda noite, se a montanha o concedesse, haveríamos de lá a dormir.

O Improviso Geológico de Syange

Nem tudo correu como esperado. O condutor do jipe não tarda a informar-nos que se dera uma derrocada antes de Syange.

A viagem teria, assim, que ser cumprida em duas etapas e em dois jipes distintos. Contornamos o trecho soterrado, a pé, em meia-hora.

Lugarejo, Circuito Annapurna, Nepal

Pequena povoação impingida à falésia, a caminho de Chame.

Em Syange, refrescamo-nos e, fazendo fé na sua honestidade budista, pagamos o valor normal do percurso até Chame ao condutor inicial. Este, prometeu-nos que nos colocaria a bordo de um outro jipe que cumpriria o derradeiro trecho. Jipes não faltavam. Ao contrário do condutor que, quando regressamos da casa-de-banho, desaparecera.

Perguntamos a um grupo de nepaleses e de forasteiros se dele sabiam. Dizem-nos que tinha ido almoçar. Depressa percebemos que se fazia de esquecido quanto ao valor total do percurso já pago e ao que prometera.

O casal irlandês-aussie que nos acompanhava a bordo só tinha dez dias para todo o percurso e mostrava-se ansioso.

Ancião entre Syange e Chame, Nepal

Ancião repousa e apanha sol à beira da estrada, entre Syange e Chame.

Confrontados com o desfalque, em vez de tentarem reaver o pagamento perdido, decidiram começar ali a caminhada. Nós, não tardámos a encontrar o condutor trapaceiro a meio da sua refeição.

Bastou-nos ameaçá-lo com uma queixa à polícia e a promessa de que se meteria em sérios problemas para nos devolver o dinheiro de todos.

Do Lado de Lá da Derrocada

Também a negociação do trecho final se veio a provar complicada. O número inesperado de mochileiros a precisarem de jipes em Syange fez com que os seus proprietários tentassem inflacionar o preço para o valor que, por norma, custava o trajecto todo, de Besishahar a Chame.

Como sempre acontece nestas situações, perante a abundância de veículos, a promessa repetida de rejeitarmos os seus serviços resolveu o assunto.

Mais depressa do que esperámos, partimos montanha acima com três novos parceiros de viagem: Arthur, um jovem francês desportista, maratonista e reservado que se dirigia a Manang.

Era suposto lá se encontrar com um guia local que o ajudaria a escalar um pico das imediações com mais de 6.000 metros.

clientes de uma Tea House de Syange, Nepal.

Dois clientes de uma Tea House de Syange.

“Daqui a um ano quero estar no cume do Evereste” informou-nos com a confiança que a sua forma física e juventude lhe emprestava. “Vai ser um bom treino!”

Arthur, seguiu connosco no interior da cabine. Sobre a caixa, iam dois outros mochileiros. Malgrado a violência dos solavancos e o panorama ainda mais assustador sobre os precipícios à direita da estrada, Josua Schmoll, alemão, e Fevsi Kamisoglu, turco, asseguraram-nos que preferiam o ar livre

Quando, pela cinco da tarde, desembarcamos em Chame, quase em cima do ocaso, o duo tremia que nem varas.

Por fim, Chame

A sombra e o frio súbito da montanha tinham-nos apanhado desprevenidos. Com as mochilas soterradas por carga do jipe, vinham há quase uma hora a suportar o sofrimento com muita conversa e ainda mais solidariedade.

Jovens percorrem a rua principal de Chame, Nepal

Amigos percorrem a rua principal de Chame, uma povoação situada a 2670 metros, de onde se vislumbram os primeiros picos nevados dos Annapurnas.

Chegados a Chame, instalamo-nos em guesthouses diferentes deles mas não tardaríamos a reencontrá-los.

Espreitamos o Himalayan Hotel logo em frente, um casarão de dois andares de madeira pintada de azul e rosa. Como aconteceria ao longo de todo o percurso, um letreiro à entrada prometia WiFi e água quente. E, à imagem do que se repetiria vezes sem conta, WiFi nem pensar; água quente, só a aquecida ao fogo, fornecida em balde.

O quarto não tinha fichas eléctricas. Carregar os telefones, powerbanks, baterias das máquinas e de outros dispositivos implicou partilhar com vários outros hóspedes uma torre de fichas instáveis disponível na sala de refeições. Ao menos, a electricidade não faltava como tinha acontecido em Besishahar e se viria a repetir.

Eram lacunas para que já vínhamos avisados e que nada nos incomodaram. Bem mais importante, estávamos no ponto de partida planeado da nossa caminhada, um enorme forno a lenha aquecia a cozinha e uma salamandra amornava a sala de jantar.

Instalamo-nos numa das mesas mais próximas do calor e pedimos o primeiro jantar nas terras altas da cordilheira dos Annapurnas: sopa de vegetais, veg fried rice e uma omelete.  Comemos na companhia de um grupo de japoneses que tinham chegado da direção oposta do percurso.

Cozinheiras do Himalayan Hotel, Chame, Nepal

Cozinheiras do Himalayan Hotel, um de vários que acolhem os caminhantes de passagem por Chame.

Uma Ceia com Companhia Nipónica

Um deles, Kaito, era apaixonado por línguas. Dominava o inglês e outros doze ou treze dialectos. Visitava o Nepal pela vigésima vez e conhecia os seus quatro cantos. “Quanto mais cá venho, mais gosto de voltar. Mesmo se os podres deste país me deixam deveras decepcionado.“

O guia nepalês do pequeno grupo nipónico aparece vindo da cozinha. Para o poupar ao desabafo, Kaito aborta o discurso. Em vez, apresenta-nos e gaba o seu guia, um jovem montanheiro que tinha subido ao cume do Evereste por duas vezes, conquistado o Annapurna e o K2.

Passamos a dialogar com Kaito e com o guia em simultâneo. Aproveitamos o seu conhecimento para nos esclarecermos sobre o ponto mais delicado do itinerário, Thorong La.

Situado à altitude suprema do percurso de 5400 metros, este desfiladeiro gera ansiedade em todos os caminhantes, conscientes que, mais cedo ou mais tarde, terão de o cruzar por vezes, em condições meteorológicas  complicadas e a sofrerem de mal da montanha.

Cansados da sua jornada, os japoneses e o guia retiram-se. Nós, mudamo-nos para cozinha, ainda animada pelas cozinheiras, pelos jovens empregados do hotel e um grupo de condutores de jipes, guias e carregadores entregues às suas refeições e a uma galhofa desenfreada.

Guias, condutores e carregadores na cozinha do Himalyan Hotel, em Chame, Nepal

Carregadores, guias e condutores de jipe convivem na cozinha aquecida do Himalyan Hotel, em Chame

Terminado o repasto, desejosos de paz e descanso, as cozinheiras e o empregados apressam o fecho da mais quente das divisões.

Desejamos-lhes boas noites, agasalhamo-nos e enfrentamos o frio exterior congelante, quase tão mau dentro do quarto pouco ou nada protegido que nos calhara. Munidos de sacos-cama para 20º negativos, recuperamos energias aconchegados no regaço da cordilheira Annapurna.

Na manhã seguinte, começaríamos a longa peregrinação pelo seu vasto domínio.

Mais informações sobre caminhadas no Nepal no site oficial do Turismo do Nepal.

Circuito Annapurna: 2º - Chame a Upper PisangNepal

(I)Eminentes Annapurnas

Despertamos em Chame, ainda abaixo dos 3000m. Lá  avistamos, pela primeira vez, os picos nevados e mais elevados dos Himalaias. De lá partimos para nova caminhada do Circuito Annapurna pelos sopés e encostas da grande cordilheira. Rumo a Upper Pisang.
Circuito Annapurna: 3º- Upper Pisang, Nepal

Uma Inesperada Aurora Nevada

Aos primeiros laivos de luz, a visão do manto branco que cobrira a povoação durante a noite deslumbra-nos. Com uma das caminhadas mais duras do Circuito Annapurna pela frente, adiamos a partida tanto quanto possível. Contrariados, deixamos Upper Pisang rumo a Ngawal quando a derradeira neve se desvanecia.
Circuito Annapurna: 4º – Upper Pisang a Ngawal, Nepal

Do Pesadelo ao Deslumbre

Sem que estivéssemos avisados, confrontamo-nos com uma subida que nos leva ao desespero. Puxamos ao máximo pelas forças e alcançamos Ghyaru onde nos sentimos mais próximos que nunca dos Annapurnas. O resto do caminho para Ngawal soube como uma espécie de extensão da recompensa.
Circuito Annapurna: 5º - Ngawal a BragaNepal

Rumo a Braga. A Nepalesa.

Passamos nova manhã de meteorologia gloriosa à descoberta de Ngawal. Segue-se um curto trajecto na direcção de Manang, a principal povoação no caminho para o zénite do circuito Annapurna. Ficamo-nos por Braga (Braka). A aldeola não tardaria a provar-se uma das suas mais inolvidáveis escalas.
Circuito Annapurna: 6º – Braga, Nepal

Num Nepal Mais Velho que o Mosteiro de Braga

Quatro dias de caminhada depois, dormimos aos 3.519 metros de Braga (Braka). À chegada, apenas o nome nos é familiar. Confrontados com o encanto místico da povoação, disposta em redor de um dos mosteiros budistas mais antigos e reverenciados do circuito Annapurna, lá prolongamos a aclimatização com subida ao Ice Lake (4620m).
Circuito Annapurna: 7º - Braga - Ice Lake, Nepal

Circuito Annapurna - A Aclimatização Dolorosa do Ice Lake

Na subida para o povoado de Ghyaru, tivemos uma primeira e inesperada mostra do quão extasiante se pode provar o Circuito Annapurna. Nove quilómetros depois, em Braga, pela necessidade de aclimatizarmos ascendemos dos 3.470m de Braga aos 4.600m do lago de Kicho Tal. Só sentimos algum esperado cansaço e o avolumar do deslumbre pela Cordilheira Annapurna.
Circuito Annapurna: 8º Manang, Nepal

Manang: a Derradeira Aclimatização em Civilização

Seis dias após a partida de Besisahar chegamos por fim a Manang (3519m). Situada no sopé das montanhas Annapurna III e Gangapurna, Manang é a civilização que mima e prepara os caminhantes para a travessia sempre temida do desfiladeiro de Thorong La (5416 m).
Circuito Annapurna: 9º Manang a Milarepa Cave, Nepal

Uma Caminhada entre a Aclimatização e a Peregrinação

Em pleno Circuito Annapurna, chegamos por fim a Manang (3519m). Ainda a precisarmos de aclimatizar para os trechos mais elevados que se seguiam, inauguramos uma jornada também espiritual a uma caverna nepalesa de Milarepa (4000m), o refúgio de um siddha (sábio) e santo budista.
Circuito Annapurna 10º: Manang a Yak Kharka, Nepal

A Caminho das Terras (Mais) Altas dos Annapurnas

Após uma pausa de aclimatização na civilização quase urbana de Manang (3519 m), voltamos a progredir na ascensão para o zénite de Thorong La (5416 m). Nesse dia, atingimos o lugarejo de Yak Kharka, aos 4018 m, um bom ponto de partida para os acampamentos na base do grande desfiladeiro.
Bhaktapur, Nepal

As Máscaras Nepalesas da Vida

O povo indígena Newar do Vale de Katmandu atribui grande importância à religiosidade hindu e budista que os une uns aos outros e à Terra. De acordo, abençoa os seus ritos de passagem com danças newar de homens mascarados de divindades. Mesmo se há muito repetidas do nascimento à reencarnação, estas danças ancestrais não iludem a modernidade e começam a ver um fim.
Wanaka, Nova Zelândia

Que Bem que Se Está no Campo dos Antípodas

Se a Nova Zelândia é conhecida pela sua tranquilidade e intimidade com a Natureza, Wanaka excede qualquer imaginário. Situada num cenário idílico entre o lago homónimo e o místico Mount Aspiring, ascendeu a lugar de culto. Muitos kiwis aspiram a para lá mudar as suas vidas.
Kazbegi, Geórgia

Deus nas Alturas do Cáucaso

No século XIV, religiosos ortodoxos inspiraram-se numa ermida que um monge havia erguido a 4000 m de altitude e empoleiraram uma igreja entre o cume do Monte Kazbek (5047m) e a povoação no sopé. Cada vez mais visitantes acorrem a estas paragens místicas na iminência da Rússia. Como eles, para lá chegarmos, submetemo-nos aos caprichos da temerária Estrada Militar da Geórgia.
Circuito Annapurna 11º: Yak Karkha a Thorong Phedi, Nepal

A Chegada ao Sopé do Desfiladeiro

Num pouco mais de 6km, subimos dos 4018m aos 4450m, na base do desfiladeiro de Thorong La. Pelo caminho, questionamos se o que sentíamos seriam os primeiros problemas de Mal de Altitude. Nunca passou de falso alarme.
Circuito Annapurna: 12º - Thorong Phedi a High Camp

O Prelúdio da Travessia Suprema

Este trecho do Circuito Annapurna só dista 1km mas, em menos de duas horas, leva dos 4450m aos 4850m e à entrada do grande desfiladeiro. Dormir no High Camp é uma prova de resistência ao Mal de Montanha que nem todos passam.
Circuito Annapurna: 13º - High Camp a Thorong La a Muktinath, Nepal

No Auge do Circuito dos Annapurnas

Aos 5416m de altitude, o desfiladeiro de Thorong La é o grande desafio e o principal causador de ansiedade do itinerário. Depois de, em Outubro de 2014, ter vitimado 29 montanhistas, cruzá-lo em segurança gera um alívio digno de dupla celebração.
Circuito Annapurna 14º - Muktinath a Kagbeni, Nepal

Do Lado de Lá do Desfiladeiro

Após a travessia exigente de Thorong La, recuperamos na aldeia acolhedora de Muktinath. Na manhã seguinte, voltamos a descer. A caminho do antigo reino do Alto Mustang e da aldeia de Kagbeni que lhe serve de entrada.
Circuito Annapurna 15º - Kagbeni, Nepal

Às Portas do ex-Reino do Alto Mustang

Antes do século XII, Kagbeni já era uma encruzilhada de rotas comerciais na confluência de dois rios e duas cordilheiras em que os reis medievais cobravam impostos. Hoje, integra o famoso Circuito dos Annapurnas. Quando lá chegam, os caminhantes sabem que, mais acima, se esconde um domínio que, até 1992, proibia a entrada de forasteiros.
Fiéis saúdam-se no registão de Bukhara.
Cidade
Bukhara, Uzbequistão

Entre Minaretes do Velho Turquestão

Situada sobre a antiga Rota da Seda, Bukhara desenvolveu-se desde há pelo menos, dois mil anos como um entreposto comercial, cultural e religioso incontornável da Ásia Central. Foi budista, passou a muçulmana. Integrou o grande império árabe e o de Gengis Khan, reinos turco-mongois e a União Soviética, até assentar no ainda jovem e peculiar Uzbequistão.
Anfitrião Wezi aponta algo na distância
Praia
Cobué; Nkwichi Lodge, Moçambique

O Moçambique Recôndito das Areias Rangentes

Durante um périplo de baixo a cima do (lago) Malawi, damos connosco na ilha de Likoma, a uma hora de barco do Nkwichi Lodge, o ponto de acolhimento solitário deste litoral interior de Moçambique. Do lado moçambicano, o lago é tratado por Niassa. Seja qual for o seu nome, lá descobrimos alguns dos cenários intocados e mais impressionantes do sudeste africano.
Esteros del Iberá, Pantanal Argentina, Jacaré
Safari
Esteros del Iberá, Argentina

O Pantanal das Pampas

No mapa mundo, para sul do famoso pantanal brasileiro, surge uma região alagada pouco conhecida mas quase tão vasta e rica em biodiversidade. A expressão guarani Y berá define-a como “águas brilhantes”. O adjectivo ajusta-se a mais que à sua forte luminância.
Thorong La, Circuito Annapurna, Nepal, foto para a posteridade
Annapurna (circuito)
Circuito Annapurna: 13º - High Camp a Thorong La a Muktinath, Nepal

No Auge do Circuito dos Annapurnas

Aos 5416m de altitude, o desfiladeiro de Thorong La é o grande desafio e o principal causador de ansiedade do itinerário. Depois de, em Outubro de 2014, ter vitimado 29 montanhistas, cruzá-lo em segurança gera um alívio digno de dupla celebração.
Sombra vs Luz
Arquitectura & Design
Quioto, Japão

O Templo de Quioto que Renasceu das Cinzas

O Pavilhão Dourado foi várias vezes poupado à destruição ao longo da história, incluindo a das bombas largadas pelos EUA mas não resistiu à perturbação mental de Hayashi Yoken. Quando o admirámos, luzia como nunca.
Barcos sobre o gelo, ilha de Hailuoto, Finlândia
Aventura
Hailuoto, Finlândia

Um Refúgio no Golfo de Bótnia

Durante o Inverno, a ilha de Hailuoto está ligada à restante Finlândia pela maior estrada de gelo do país. A maior parte dos seus 986 habitantes estima, acima de tudo, o distanciamento que a ilha lhes concede.
Parada e Pompa
Cerimónias e Festividades
São Petersburgo, Rússia

A Rússia Vai Contra a Maré. Siga a Marinha

A Rússia dedica o último Domingo de Julho às suas forças navais. Nesse dia, uma multidão visita grandes embarcações ancoradas no rio Neva enquanto marinheiros afogados em álcool se apoderam da cidade.
Cavaleiros cruzam a Ponte do Carmo, Pirenópolis, Goiás, Brasil
Cidades
Pirenópolis, Brasil

Uma Pólis nos Pirinéus Sul-Americanos

Minas de Nossa Senhora do Rosário da Meia Ponte foi erguida por bandeirantes portugueses, no auge do Ciclo do Ouro. Por saudosismo, emigrantes provavelmente catalães chamaram à serra em redor de Pireneus. Em 1890, já numa era de independência e de incontáveis helenizações das suas urbes, os brasileiros baptizaram esta cidade colonial de Pirenópolis.
Moradora obesa de Tupola Tapaau, uma pequena ilha de Samoa Ocidental.
Comida
Tonga, Samoa Ocidental, Polinésia

Pacífico XXL

Durante séculos, os nativos das ilhas polinésias subsistiram da terra e do mar. Até que a intrusão das potências coloniais e a posterior introdução de peças de carne gordas, da fast-food e das bebidas açucaradas geraram uma praga de diabetes e de obesidade. Hoje, enquanto boa parte do PIB nacional de Tonga, de Samoa Ocidental e vizinhas é desperdiçado nesses “venenos ocidentais”, os pescadores mal conseguem vender o seu peixe.
Ilha do Norte, Nova Zelândia, Maori, Tempo de surf
Cultura
Ilha do Norte, Nova Zelândia

Viagem pelo Caminho da Maoridade

A Nova Zelândia é um dos países em que descendentes de colonos e nativos mais se respeitam. Ao explorarmos a sua lha do Norte, inteirámo-nos do amadurecimento interétnico desta nação tão da Commonwealth como maori e polinésia.
Desporto
Competições

Homem, uma Espécie Sempre à Prova

Está-nos nos genes. Pelo prazer de participar, por títulos, honra ou dinheiro, as competições dão sentido ao Mundo. Umas são mais excêntricas que outras.
Cavalos sob nevão, Islândia Neve Sem Fim Ilha Fogo
Em Viagem
Husavik a Myvatn, Islândia

Neve sem Fim na Ilha do Fogo

Quando, a meio de Maio, a Islândia já conta com o aconchego do sol mas o frio mas o frio e a neve perduram, os habitantes cedem a uma fascinante ansiedade estival.
Conversa entre fotocópias, Inari, Parlamento Babel da Nação Sami Lapónia, Finlândia
Étnico
Inari, Finlândia

O Parlamento Babel da Nação Sami

A Nação sami integra quatro países, que ingerem nas vidas dos seus povos. No parlamento de Inari, em vários dialectos, os sami governam-se como podem.
Portfólio Fotográfico Got2Globe
Portfólio Got2Globe

A Vida Lá Fora

Igreja arménia, península Sevanavank, Lago Sevan, Arménia
História
Lago Sevan, Arménia

O Grande Lago Agridoce do Cáucaso

Fechado entre montanhas a 1900 metros de altitude, considerado um tesouro natural e histórico da Arménia, o Lago Sevan nunca foi tratado como tal. O nível e a qualidade da sua água deterioram-se décadas a fio e uma recente invasão de algas drena a vida que nele subsiste.
Lago Sorvatsvagn, Vágar, Ilhas Faroé
Ilhas
Vágar, Ilhas Faroé

O Lago que Paira sobre o Atlântico Norte

Por um capricho geológico, Sorvagsvatn é muito mais que o maior lago das ilhas Faroé. Falésias com entre trinta a cento e quarenta metros limitam o extremo sul do seu leito. De determinadas perspectivas, dá a ideia de estar suspenso sobre o oceano.
Corrida de Renas , Kings Cup, Inari, Finlândia
Inverno Branco
Inari, Finlândia

A Corrida Mais Louca do Topo do Mundo

Há séculos que os lapões da Finlândia competem a reboque das suas renas. Na final da Kings Cup - Porokuninkuusajot - , confrontam-se a grande velocidade, bem acima do Círculo Polar Ártico e muito abaixo de zero.
Lago Manyara, parque nacional, Ernest Hemingway, girafas
Literatura
PN Lago Manyara, Tanzânia

África Favorita de Hemingway

Situado no limiar ocidental do vale do Rift, o parque nacional lago Manyara é um dos mais diminutos mas encantadores e ricos em vida selvagem da Tanzânia. Em 1933, entre caça e discussões literárias, Ernest Hemingway dedicou-lhe um mês da sua vida atribulada. Narrou esses dias aventureiros de safari em “As Verdes Colinas de África”.
Walter Peak, Queenstown, Nova Zelandia
Natureza
Nova Zelândia  

Quando Contar Ovelhas Tira o Sono

Há 20 anos, a Nova Zelândia tinha 18 ovinos por cada habitante. Por questões políticas e económicas, a média baixou para metade. Nos antípodas, muitos criadores estão preocupados com o seu futuro.
Menina brinca com folhas na margem do Grande Lago do Palácio de Catarina
Outono
São Petersburgo, Rússia

Dias Dourados que Antecederam a Tempestade

À margem dos acontecimentos políticos e bélicos precipitados pela Rússia, de meio de Setembro em diante, o Outono toma conta do país. Em anos anteriores, de visita a São Petersburgo, testemunhamos como a capital cultural e do Norte se reveste de um amarelo-laranja resplandecente. Num deslumbre pouco condizente com o negrume político e bélico entretanto disseminado.
Namibe, Angola, Gruta, Parque Iona
Parques Naturais
Namibe, Angola

Incursão ao Namibe Angolano

À descoberta do sul de Angola, deixamos Moçâmedes para o interior da província desértica. Ao longo de milhares de quilómetros sobre terra e areia, a rudeza dos cenários só reforça o assombro da sua vastidão.
Rinoceronte, PN Kaziranga, Assam, Índia
Património Mundial UNESCO
PN Kaziranga, Índia

O Baluarte dos Monocerontes Indianos

Situado no estado de Assam, a sul do grande rio Bramaputra, o PN Kaziranga ocupa uma vasta área de pântano aluvial. Lá se concentram dois terços dos rhinocerus unicornis do mundo, entre em redor de 100 tigres, 1200 elefantes e muitos outros animais. Pressionado pela proximidade humana e pela inevitável caça furtiva, este parque precioso só não se tem conseguido proteger das cheias hiperbólicas das monções e de algumas polémicas.
ora de cima escadote, feiticeiro da nova zelandia, Christchurch, Nova Zelandia
Personagens
Christchurch, Nova Zelândia

O Feiticeiro Amaldiçoado da Nova Zelândia

Apesar da sua notoriedade nos antípodas, Ian Channell, o feiticeiro da Nova Zelândia não conseguiu prever ou evitar vários sismos que assolaram Christchurch. Com 88 anos de idade, após 23 anos de contrato com a cidade, fez afirmações demasiado polémicas e acabou despedido.
Natação, Austrália Ocidental, Estilo Aussie, Sol nascente nos olhos
Praias
Busselton, Austrália

2000 metros em Estilo Aussie

Em 1853, Busselton foi dotada de um dos pontões então mais longos do Mundo. Quando a estrutura decaiu, os moradores decidiram dar a volta ao problema. Desde 1996 que o fazem, todos os anos. A nadar.
Queima de preces, Festival de Ohitaki, templo de fushimi, quioto, japao
Religião
Quioto, Japão

Uma Fé Combustível

Durante a celebração xintoísta de Ohitaki são reunidas no templo de Fushimi preces inscritas em tabuínhas pelos fiéis nipónicos. Ali, enquanto é consumida por enormes fogueiras, a sua crença renova-se.
Trem do Serra do Mar, Paraná, vista arejada
Sobre Carris
Curitiba a Morretes, Paraná, Brasil

Paraná Abaixo, a Bordo do Trem Serra do Mar

Durante mais de dois séculos, só uma estrada sinuosa e estreita ligava Curitiba ao litoral. Até que, em 1885, uma empresa francesa inaugurou um caminho-de-ferro com 110 km. Percorremo-lo, até Morretes, a estação, hoje, final para passageiros. A 40km do término original e costeiro de Paranaguá.
mercado peixe Tsukiji, toquio, japao
Sociedade
Tóquio, Japão

O Mercado de Peixe que Perdeu a Frescura

Num ano, cada japonês come mais que o seu peso em peixe e marisco. Desde 1935, que uma parte considerável era processada e vendida no maior mercado piscícola do mundo. Tsukiji foi encerrado em Outubro de 2018, e substituído pelo de Toyosu.
Amaragem, Vida à Moda Alasca, Talkeetna
Vida Quotidiana
Talkeetna, Alasca

A Vida à Moda do Alasca de Talkeetna

Em tempos um mero entreposto mineiro, Talkeetna rejuvenesceu, em 1950, para servir os alpinistas do Monte McKinley. A povoação é, de longe, a mais alternativa e cativante entre Anchorage e Fairbanks.
Manada de búfalos asiáticos, Maguri Beel, Assam, Índia
Vida Selvagem
Maguri Bill, Índia

Um Pantanal nos Confins do Nordeste Indiano

O Maguri Bill ocupa uma área anfíbia nas imediações assamesas do rio Bramaputra. É louvado como um habitat incrível sobretudo de aves. Quando o navegamos em modo de gôndola, deparamo-nos com muito (mas muito) mais vida que apenas a asada.
Passageiros, voos panorâmico-Alpes do sul, Nova Zelândia
Voos Panorâmicos
Aoraki Monte Cook, Nova Zelândia

A Conquista Aeronáutica dos Alpes do Sul

Em 1955, o piloto Harry Wigley criou um sistema de descolagem e aterragem sobre asfalto ou neve. Desde então, a sua empresa revela, a partir do ar, alguns dos cenários mais grandiosos da Oceania.