Era a segunda passagem que fazíamos por Mlilwane.
A primeira, em Abril de 2017, durou menos que um dia.
Deixou-nos frustrados. Integrávamos uma daquelas expedições sul-africanas, a bordo de um camião adaptado para passageiros.
Saímos do PN Kruger tarde.
Pelo caminho, a temperatura desce de forma substancial.
Chegamos à fronteira com a Suazilândia pela hora de almoço, já sob uma bátega.
![Uma das secções de alojamento em cabanas tradicionais colmeia do Santuário de Vida Selvagem Mlilwane](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/11/mlilwane-nyala-village-sanctuario-vida-selvagem-eswatini-1024x637.jpg)
Uma das secções de alojamento em cabanas tradicionais colmeia do Santuário de Vida Selvagem Mlilwane
A Primeira incursão a Mlilwane
Ao Santuário de Vida Selvagem Mlilwane, com a tarde quase no fim, tempo apenas para nos instalarmos numa das suas cabanas colmeia arredondadas e de sairmos para uma curta caminhada.
Os guias servem um jantar, como quase sempre, por eles improvisado.
Seguem-se danças étnicas suazis, exibidas pelos trabalhadores da reserva.
![Mulheres dançam danças tradicionais suazi, no Santuário de Vida Selvagem Mlilwane](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/11/mlilwane-mulheres-dancas-tradicionais-sanctuario-vida-selvagem-eswatini-1024x743.jpg)
Mulheres dançam danças tradicionais suazi, no Santuário de Vida Selvagem Mlilwane
E uma longa conversa com o líder Alberthram TENK Engel, centrada nas peculiaridades do reino da Suazilândia
.Chove a noite toda.
Após um pequeno-almoço madrugador, o grupo ganha coragem.
Mesmo sob uma aborrecedora precipitação molha-tolos, acede ao repto de Tenk de percorrermos os quase 8km do Hippo Trail local.
Os hipopótamos mantiveram-se no lago da reserva. Avistamos sobretudo aves e antílopes diminutos, os cabritos-do-mato.
![Cabrito-do-mato na vegetação densa em redor do Reilly's Rock Hilltop Lodge](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/11/mlilwane-cabrito-mato-vida-selvagem-eswatini-1024x784.jpg)
Cabrito-do-mato na vegetação densa em redor do Reilly’s Rock Hilltop Lodge
Regressamos ao acampamento de Mlilwane. Vagas de névoa mantinham o tempo frio.
Sentamo-nos todos em volta de uma fogueira que os empregados tinham acendido, numa agradável cavaqueira.
Estamos nesse entretém quando, do nada, surge uma família de javalis-africanos.
Mais preocupados com aquecerem-se que com a iminência dos humanos, instalam-se junto à fogueira e por ali ficam.
![Facocheros aquecem-se numa manhã fria e húmida do Santuário de Vida Selvagem Mlilwane](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/11/mlilwane-facocheros-fogueira-sanctuario-vida-selvagem-eswatini-1024x799.jpg)
Facocheros aquecem-se numa manhã fria e húmida do Santuário de Vida Selvagem Mlilwane
Sobre as 10h30, partimos apontados à zona zulu do litoral sul-africano de St. Lucia. Decorridas duas horas, despedimo-nos de vez da Suazilândia.
No ano seguinte, 2018, comemoravam-se os 50 anos da independência do reino.
O rei Mswati III ditou que a Suazilândia se passaria a chamar eSwatini, o termo que os nativos sempre usaram e com que se identificavam, em vez do Suazilândia imposto pelos colonos britânicos e que, alegadamente, irritava os monarcas por, em inglês, se assemelhar a Switzerland.
Em Fevereiro de 2024, regressamos, assim, a eSwatini, em vez de à Suazilândia, desta feita, com “todo o tempo do mundo”.
![Lucky, um dos seguranças do Santuário de Vida Selvagem Mlilwane](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/11/mlilwane-sanctuario-vida-selvagem-eswatini-guarda-lucky-711x1024.jpg)
Lucky, um dos seguranças do Santuário de Vida Selvagem Mlilwane
Decidimos incluir um retorno a Mlilwane que resolvesse o pouco ou nada que tínhamos explorado na passagem inaugural pela reserva.
Viajamos de Maputo para Manzini, a bordo de um “chapa” que as mulheres suazi costumam usar, ao fim-de-semana, para ir comprar vestuário e outros itens nos mercados de rua da capital moçambicana.
Começamos por nos dedicar ao Vale “celestial” de Ezulwini, com acolhimento providencial no Mantenga Lodge lá situado.
![Vista do cimo da Execution Rock com o Vale de Ezulwini em fundo](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/11/mlilwane-nyonyane-execution-rock-eswatini-1024x677.jpg)
Vista do cimo da Execution Rock com o Vale de Ezulwini em fundo
Sete Anos Depois, de Volta ao Santuário de Vida Selvagem Mlilwane
Três noites depois, mudamo-nos para Mlilwane. Alojam-nos num dos quartos do Reilly’s Rock Hilltop Lodge.
Afastado do acampamento principal do Mlilwane Wildlife Sanctuary, recolhido nos primórdios e na razão de ser da reserva, este lodge depressa se provaria especial.
O motorista estaciona debaixo dos ramos tentaculares de uma árvore secular imensa.
![Árvore secular e tentacular e a casa do Reilly's Rock Hilltop Lodge](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/11/mlilwane-reillys-rock-lodge-eswatini-1024x683.jpg)
Árvore secular e tentacular e a casa do Reilly’s Rock Hilltop Lodge
O Deslumbrante e Histórico Reilly’s Rock Hilltop Lodge
A uns poucos metros, uma escadaria dá para uma casa desafogada, erguida em pedra empilhada. Duas empregadas vêm-nos ajudar com a bagagem.
Passamos à recepção, um mero balcão ajustado a uma sala de estar repleta de mobiliário, de objectos funcionais e decorativos.
Tudo irradiava uma expectável atmosfera colonial.
![Fogueira ilumina e aquece a noite, junto ao Reilly's Rock Hilltop Lodge,](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/11/mlilwane-fogueira-reillys-hilltop-lodge-eswatini-1024x688.jpg)
Fogueira ilumina e aquece a noite, junto ao Reilly’s Rock Hilltop Lodge,
Estávamos, afinal, no âmago da herdade de Mickey Reilly, um dos primeiros colonos brancos da Suazilândia.
Mickey e Ted. Duas Gerações Influentes de Reillys
Engenhoso, Reilly radicou-se naquela zona da Suazilândia como fazendeiro e responsável pelas minas de estanho McCreedy, durante muitos anos, uma das principais empregadoras da Suazilândia colonial.
![Fachada do Reilly's Rock Hilltop Lodge, no cimo do Santuário de Vida Selvagem Mlilwane](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/11/mlilwane-reillys-rock-hilltop-lodge-eswatini-1024x683.jpg)
Fachada do Reilly’s Rock Hilltop Lodge, no cimo do Santuário de Vida Selvagem Mlilwane
Ficou para a história que, no início do século XX, conseguiu trocar a construção daquela mansão por um carro de bois. Na origem, a casa tinha quatro quartos.
Hoje, são seis, todos com acesso directo a uma longa varanda coberta.
Como indicia o nome do lodge, a herdade fica sobre uma colina.
A leste do rio Mhlangeni que os Reilly, em parte represaram, de maneira a formarem um grande lago.
![Lago formado pela represa do rio Mhlangeni, no Santuário de Vida Selvagem Mlilwane](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/11/mlilwane-lago-mhlangeni-sanctuario-vida-selvagem-eswatini-1024x683.jpg)
Lago formado pela represa do rio Mhlangeni, no Santuário de Vida Selvagem Mlilwane
A residência real de eSwatini dista uns poucos quilómetros para norte.
A herdade de Mlilwane está cercada por bolsas de floresta, de savana e de encosta, vedadas, de maneira a impedir a fuga dos animais e a caça furtiva.
Ted Reilly. O Mentor da Conservação da Vida Selvagem da Suazilândia
Foi neste ambiente que, a partir de 1938, cresceu o filho de Mickey, Ted, já nativo da Suazilândia.
Ted aprendeu a apreciar a flora e fauna circundante.
E, a determinada altura, a preocupar-se com a destruição do ecossistema que se generalizava.
Entre caçadas mais ou menos organizadas dos colonos e as capturas do povo suazi, boa parte das espécies animais do Reino entraram em perigo de extinção ou chegaram a extinguir-se.
![Um calau gigante na vastidão ervada de Mlilwane](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/11/mlilwane-calau-gigante-sanctuario-vida-selvagem-eswatini-1024x688.jpg)
Um calau gigante na vastidão ervada de Mlilwane
Ora, proprietário das terras vastas de Mlilwane, a partir de 1950, Ted decidiu lá fundar a área protegida pioneira da Suazilândia.
Foi a primeira de várias acções decisivas na conservação dos ecossistemas da Suazilândia e que lhe granjearam o epíteto suazi elogiante de Msholo.
Ted criou outras áreas protegidas que viríamos ainda explorar. A Reserva de Mkhaya e o Parque Nacional Real de Hlane, num trio que conciliou sob o Trust Big Game Parks.
O Reilly’s Rock Hilltop Lodge e o Royal Botanical Garden
Regressemos ao Reilly’s Rock Hilltop Lodge. No imediato, atrai-nos o encanto húmido e verdejante da propriedade.
Ainda antes de nos aventurarmos pelos seus mais de 45km2, concentramo-nos nos Royal Botanic Gardens que envolvem a vivenda.
![Placa descritiva de um Encephalarto, uma espécie de planta em extinção, protegida no Royal Botanic Garden do Reilly's Rock Hilltop Lodge](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/11/encepharto-placa-mlilwane-reillys-rock-hilltop-lodge-eswatin-768x1024.jpg)
Descrição de um Encephalartos Woodii
Tommy e Besh, dois jovens guias suazis, prendam-nos com uma visita guiada em que nos explicam de tudo um pouco, sobre o mundo vegetal rico e complexo do jardim.
A começar pelos espécimes de encephalartos bem destacados a poucos metros da fachada da casa.
Como tantas animais, uma espécie vegetal quase extinta devido ao corte excessivo justificado pela farinha obtida da medula dos seus troncos e de outras partes, com os mais diversos fins medicinais.
![Encephalarto, uma espécie de planta em extinção, protegida no Royal Botanic Garden do Reilly's Rock Hilltop Lodge](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/11/encepharto-mlilwane-reillys-rock-hilltop-lodge-eswatini-768x1024.jpg)
Encephalartos Woodii, uma espécie de planta em extinção, protegida no Royal Botanic Garden do Reilly’s Rock Hilltop Lodge
Os guias mostram-nos ainda aloés e, encosta acima e abaixo, para desagrado de um bando de macacos devorador de goiabas, uma série de outras árvores e arbustos prodigiosos.
De regresso aos encephalartos, a volta termina.
Despedimo-nos.
![Zebras pastam entre cabanas colmeia tradicionais](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/11/mlilwane-zebras-cabanas-sanctuario-vida-selvagem-eswatini-1024x673.jpg)
Zebras pastam entre cabanas colmeia tradicionais
O Acampamento Base e as suas “Aldeias” de Cabanas Colmeia
Dali, seguimos até ao acampamento base, em que tínhamos ficado, em 2017.
Cirandamos entre as cabanas colmeia, por um relvado fresco e tenro que atraía zebras e nialas, pouco intimidadas com as nossas aproximações.
Íbis e macacos-azuis vigiam-nos do cimo de árvores, os símios, atraídos pelo aroma disseminado pela cozinha do acampamento.
Gerava-o a confecção do almoço que, não tarda, saboreamos, com a companhia de uns poucos hóspedes.
![Macacos-vervet em modo de observação](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/11/mlilwane-sanctuario-macacos-eswatini-1024x679.jpg)
Macacos-vervet em modo de observação
Findo o repasto, encontramo-nos com Caro, outro guia dos Big Game Parks. Subimos para um velho jipe, provavelmente do tempo dos colonos britânicos.
E a Descoberta dos Quatro Cantos do Santuário
Uma vez a bordo, inauguramos um longo e aturado périplo pela reserva animal.
Dirigimo-nos ao lago do rio Mhlangeni, que nos lembrávamos que abrigava uns poucos hipopótamos.
“Pois, mas é que já não os temos.” esclarece-nos Caro. “Mesmo com o tamanho que tem, o santuário faz fronteira com plantações e aldeias.
![Termiteira na estrada de acesso ao Reilly's Hilltop Lodge](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/11/mlilwane-termiteira-sanctuario-vida-selvagem-eswatini-768x1024.jpg)
Termiteira na estrada de acesso ao Reilly’s Hilltop Lodge
Os hipopótamos revelaram-se uma carga de trabalhos. Tivemos que nos livrar deles.”
Mlilwane era, por comparação aos dois outros Big Game Parks, uma reserva diminuta, com gestão tão ou mais delicada.
![Guia Caro aproxima-se de um grupo de gnus.](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/11/mlilwane-guia-gnus-sanctuario-vida-selvagem-eswatini-1024x636.jpg)
Guia Caro aproxima-se de um grupo de gnus.
Além dos hipopótamos, também não podia admitir grandes predadores, que exterminariam os herbívoros em três tempos.
Conscientes dessa realidade, mesmo se à conversa com Caro, concentramo-nos em admirarmos os herbívoros e aves que encontramos: impalas, uns poucos gnus, cudos majestosos, zebras e cabritos-do-mato.
![Cudo mãe e uma cria, observam os visitantes que os observam.](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/11/mlilwane-cudos-sanctuario-vida-selvagem-eswatini-1024x685.jpg)
Cudo mãe e uma cria, observam os visitantes que os observam.
Ainda alguns blesboques, reintroduzidos na reserva de Malolotja e noutras partes, após quase terem sido extintos em eSwatini. Também calaus-gigantes, águias-pesqueiras e até grous-azuis.
A tarde ia avançada. Caro reservava um plano para o seu término.
Fim de Dia nas Terras mais Altas de Nyonyane
Conduz-nos encostas acima, até à crista das montanhas de Nyonyane que fechavam a reserva a ocidente.
![Guia Caro conduz passageiros numa das estradas de terra vermelha do Santuário de Vida Selvagem Mlilwane](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/11/mlilwane-jipe-sanctuario-vida-selvagem-eswatini-1024x685.jpg)
Guia Caro conduz passageiros numa das estradas de terra vermelha do Santuário de Vida Selvagem Mlilwane
Durante a subida, cruzamo-nos com alguns gnus retirados.
Uma vez no topo, reconhecemos o vale de Ezulwini e a Mantenga Cultural Village e o Mantenga Lodge dos nossos primeiros dias em eSwatini.
![Caro observa a paisagem, a caminho da crista das montanhas Nyonyane.](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/11/mlilwane-guia-caro-sanctuario-vida-selvagem-eswatini-1024x683.jpg)
Caro observa a paisagem, a caminho da crista das montanhas Nyonyane.
Caro monta um piquenique.
Enquanto isso, caminhamos entre plantas aloés, espécies de sentinelas da montanha, até à famosa Execution Rock, de onde se diz que, em tempos, eram atirados, sem apelo, os condenados à morte.
![Plantas aloé na cista da montanha Nyonyane](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/11/mlilwane-nyonyane-aloes-eswatini-1024x683.jpg)
Plantas aloé na cista da montanha Nyonyane
Sobranceira, a rocha concede-nos vistas panorâmicas sobre o cerne cultural e real do reino.
Nuvens escuras carregam o céu. Em vez de um firmamento fogoso, o ocaso prenda-nos com chuviscos que se intensificam, com ar de tempestade trovejante e que nos obrigam a retirar.
Aquela meteorologia era típica do Estio de eSwatini e, em particular, de Mlilwane, o santuário providencial da vida selvagem.
Dos relâmpagos. E, em dias de trovoada seca, das fogueiras por eles geradas.
![Anoitecer numa das secções de alojamento em cabanas tradicionais colmeia do Santuário de Vida Selvagem Mlilwane](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/11/mlilwane-cabanas-colmeia-sanctuario-vida-selvagem-eswatini-1024x683.jpg)
Anoitecer numa das secções de alojamento em cabanas tradicionais colmeia do Santuário de Vida Selvagem Mlilwane
Como Ir
Voe para Mbabane via Maputo, com a TAP Air Portugal: flytap.com/ e a FlyAirlink.
Onde Ficar
Mlilwane Wildlife Sanctuary:
biggameparks.org/properties/mlilwane-wildlife-sanctuary-2
Email: [email protected]
Tel.: +268 2528 1000 / +268 7677 6772