Batemans Bay a Jervis Bay, Austrália

Nova Gales do Sul, de Baía em Baía


Baía de Jervis Bay
Anderson Mail
Beira Pacífico do Sul
Encruzilhada
Pouso mais Próximo
UTE
Eucaliptal
Estuário de Huskisson
De Praia em Praia
Patrulha de Durras
Pesca Sentada
Águas Rasas
Jervis Bay
Patrulha de Durras
Ilha à Vista
Nova Gales do Sul, Austrália, Jervis Bay, praia
Com Sydney para trás, entregamo-nos à “South Coast” australiana. Ao longo de 150km, na companhia de pelicanos, cangurus e outras peculiares criaturas aussie, deixamo-nos perder num litoral recortado entre praias deslumbrantes e eucaliptais sem fim.

Aterramos, em Sydney, em plena época dos furacões da costa leste da Austrália.

A época pouco tarda a fazer das suas. Esticamos a viagem o mais que conseguimos para os fundos de Nova Gales do Sul.

Às oito e meia da noite, após sete horas de condução com paragens rápidas, rendemo-nos a exaustão e à noite. Estamos às portas de Batemans Bay. Camberra, a misteriosa capital aussie surge quase à mesma latitude, mas para o interior.

O plano original girava em torno da exploração da região de Jervis Bay. Parece-nos boa ideia fazê-lo a partir dali e procuramos alojamento.

Durante o Verão australiano, os preços revelavam-se algo assustadores, ainda mais porque estimávamos continuar a viajar por nove ou dez meses.

Acabamos por alugar uma cabine humilde de um parque de campismo envolto de floresta.

Derreados, preparamo-nos para dormir quando a tempestade gerada por um ciclone que se tinha aventurado até ao sul australiano nos solta um dilúvio em cima.

Uma bátega com tal intensidade que nos parecia que podia rebentar com o tecto da cabine.

Duradoura.

De ritmo marcado por raios e trovões, estes, longos e ribombantes a uma escala que roçava o absurdo. A tempestade tornou-se angustiante a dobrar: mal conseguíamos manter os olhos abertos, de cansaço.

Ao mesmo tempo, a chuvada, os clarões, os estrondos e o receio de dali sermos arrastados por uma expectável enxurrada, tudo junto, impedia que os fechássemos.

Ficamos um bom tempo nesse impasse. Até que o cansaço se sobrepõe e nos resgata da tempestade.

Quando despertamos, o pior tinha passado, mas, mesmo enfraquecida, a chuva arrasta-se manhã fora.

Por Fim, a South Coast Solarenga de Batemans Bay

Deixamos a cabine por volta das 11h. Duas horas depois, as nuvens deram lugar a algum sol.

Já estávamos de volta à estrada, a caminho de uma tal de Surf Bay e, logo, de South Durras.

Por toda esta zona de Nova Gales do Sul sucedem-se as enseadas e praias com paisagens e rebentações idolatradas pelos surfistas.

Estávamos mais vocacionados para lhes apreciarmos os cenários. Sem que o esperássemos, é South Durras que nos retém mais tempo.

Cruzamos o rio Clyde que desagua na Baía de Batemans, rumo a norte.

Durras, um dos muitos Lagos à Beira do Pacífico de Nova Gales do Sul

Em Benandarah, com o lago inusitado de Durras por diante, voltamos ao litoral, a uma enseada desafogada homónima. Nunca nos chegamos a afastar do lago.

A sua água doce quase entrava oceano adentro.

Naquela altura do ano, separava-os apenas uma faixa coberta de gramíneas com quase dois metros de altura.

E, já quase sobre o areal, uma outra, mais ínfima, forrada de erva viçosa.

Essa erva fresca atraía uma comunidade de cangurus que desfrutavam da sua tranquila vida marsupial.

Os cangurus, os primeiros que víamos nessa segunda viagem pela Austrália, atraíam-nos a nós e ao nosso sempre voraz apetite fotográfico.

Começamos a fotografá-los a certa distância.

Sem termos como resistir, aproximamo-nos.

Os animais toleram o que toleram. Às tantas, uma mãe que dormitava ergue-se.

Ao ver-nos dar um passo a mais na direcção de uma sua cria, ensaia primeiro um pontapé, logo seguido de um soco.

Esquivamo-nos a tempo de evitarmos ossos da cara quebrados. Aliviados, devolvemos-lhe o seu espaço sagrado. Entregamo-nos a missões menos arriscadas.

Caminhamos pela praia, de areal amarelado que, malgrado a intempérie, ainda contrastava com um Pacífico do Sul esmeralda-turquesa que nos convidava a trocar tudo por banhos.

O deslumbre pela praia e os eucaliptais que, em boa parte, a envolviam cedo se esgotou.

Cientes de que, para o interior, se estendia um outro mundo lacustre algo labiríntico, regressamos ao carro.

Peixes, Pelicanos e Pescadores

Conduzimos à descoberta.

Metemo-nos por uma estrada sinuosa e sombria em que se sucedem losangos amarelos-negros avisadores da presença de cangurus e wallabies.

A estrada deixa-nos sobre uma imensidão de água escura e que nos parecia profunda.

Em redor, sentados em bancos de jardim, outros com os pés de molho, pescadores disputavam os peixes do lago.

Nas imediações, uma placa informa quais os tamanhos que era permitido pescarem consoante cada espécie.

Tinha ilustradas dezenas de espécies. Ao nos acercarmos, percebemos que era um quadro legislativo aplicável ao estado de Nova Gales do Sul, não só a Durras.

De qualquer maneira, depressa confirmamos que o lago estava pejado de peixes. Como o apuramos?

Bom… à parte das dezenas de pescadores, flutuavam nas suas águas, igualmente compenetrados no meio aquático, muitos mais pelicanos-australianos.

Alguns, agrupavam-se junto às rampas embarcadouro que serviam umas poucas vivendas disseminadas em redor.

Rumo ao Norte de Nova Gales do Sul

Os recortes caprichosos do lago e os 44km florestais e litorais do Parque Nacional Murramarang a norte, obrigam-nos a flectir para o interior.

No caminho para a via principal do estado e, aqui e ali, em sua volta, os colonos e seus descendentes tinham desbastado porções da Nova Gales do Sul arborizada em função de fazendas de criação de gado e leiteiras.

Vacas turinas salpicavam pastos infindáveis explorados.

Exploravam aquela agropecuária latifundiária famílias amantes do sossego.

Caixas de correio artísticas perdidas na vastidão verdejante facilitavam o trabalho do carteiro e identificavam-nas: “Anderson. Wickam Hill”.

Estávamos, todavia, a passar demasiado tempo em cada novo lugar em que parávamos e demasiado longe da zona do itinerário que tínhamos estabelecido fulcral. Decidimos por nos acercarmos, sem desvios injustificados, da Baía de Jervis.

Como calculávamos, cumprir tal repto, provou-se complicado.

Até lá, a South Coast ascendia por novos parques nacionais, florestas, praias e lagos sedutores. Contrariados, só paramos em Huskisson, uma pequena vila portuária (menos de 800 habitantes) situada na foz de um tal de rio Currambene.

Huskisson e o Passado Naval de Nova Gales do Sul

Em tempos coloniais do meio do século XIX, Huskisson encontrava-se num marasmo civilizacional para que poucos viam solução.

Decorrida uma década, o investimento criterioso num estaleiro naval mudou o seu destino. Entre 1864 e 1977 (até 1940 sem ter sequer electricidade), a povoação construiu 130 embarcações à vela e a vapor de porte considerável, incluindo quatro barcos que a marinha dos Estados Unidos usou contra o Império Japonês na campanha da Nova Guiné.

Entregou ainda, a privados, muitas mais traineiras, barcaças e pequenas naves, boa parte delas, nem sequer registadas.

Por si só, a localização estuarina de Huskisson pouco ou nada significaria.

Há que acrescentar que, para leste e por diante, se estende a vasta Jervis Bay, tornada famosa quando os habitantes aussies de Sydney e de Melbourne descobriram, de forma precoce, que as suas praias tinham os areais mais alvos e o mar mais cristalino e colorido de toda a South Coast.

A mesma família que desenvolveu os estaleiros, os Dent, abriu o primeiro hotel de Huskisson surgiu em 1893, bem como uma série de pousadas à beira-mar.

Hoje, Huskisson abriga uma espécie de misto temático da sua história.

Encontramos o Currambene repleto de embarcações.

A Famosa e Imaculada Baía de Jervis

De pesca, mas, sobretudo de recreio, sempre prontas a zarparem com visitantes para a Baía de Jervis. Enquanto caminhamos pela sua marginal, damos de cara com um companheiro de um tour ao rochedo Uluru em que participámos dois anos antes, Kevin.

Sul-coreano radicado em Sydney, Kevin tinha tirado uns dias de férias para descontrair em Jervis Bay. Tagarelamos um pouco.

Aconselha-nos a espreitarmos esta e aquela praia. É algo que nos apressamos a fazer.

Estreamos a baía pelo seu areal de Hyams.

Lá nos espantamos com a sua surreal alvura, em vez de coralífera, feita de quartzo, de sílica de grãos quase tão translúcidos como a água e que, exacerbam as dominantes esmeralda e azulada que os raios solares geram de acordo com a profundidade.

Temos que confessar que, na altura, a parte científica da questão não nos passou pela mente.

A intempérie e a obsessão fotográfica tinham-nos feito adiar demasiado os merecidos mergulhos. Ali os recuperámos.

Por ali os renovámos, de quando em quando, durante uma caminhada revigorante até à ponta da Murray Beach.

Depois da tempestade veio a bonança. Recompensados com a South Coast, alongamos a descoberta de Nova Gales do Sul por quase quinze dias.

Seguiram-se as ilhas Salomão.

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