A margem do rio em que aguardamos reflecte a realidade climatérica daquelas paragens do sudeste de África.
Num ano de chuvas copiosas, também no sul da Tanzânia e na maior parte do Malawi, o Chire flui inflamado. Só não invade a propriedade ajardinada do Hippo View Lodge porque a protege um muro a sério.
Cruzamo-lo para um pequeno embarcadouro improvisado.
Zarpamos num barco de fundo raso, com tejadilho. Salvo essa cobertura providencial, aberto em redor, panorâmico à altura dos cenários fluviais grandiosos em que nos vemos. Inauguramos a navegação sob um manto de nuvens lilases que mantém o ar pesado.
Avistamos pequenos lugarejos, aglomerações de cabanas tradicionais e de curralejos de pau-a-pique na companhia de embondeiros. Passamos por pescadores dessas aldeolas que recolhem redes para bordo de barcos tradicionais.
Metemo-nos por canais amplos formados por capins e papiros que as chuvas fizeram crescer mais que o esperado. Avançamos por um deles, quando o timoneiro recebe uma chamada.
De Volta ao Hippo Lodge à Mercê da Meteorologia
Faltavam dois passageiros. Tínhamos que voltar ao Hippo View Lodge. Como se não bastasse, as nuvens soltam a já esperada bátega.
![Pescadores num barco, sob uma densa chuvada tropical.](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/09/liwonde-parque-nacional-malawi-pescadores-chuva-1024x663.jpg)
Pescadores num barco, sob uma densa chuvada tropical.
Os pescadores estranham ver-nos de novo. Bem mais que a chuvada densa que os encharca.
Na terceira passagem por eles, com a lancha ainda mais carregada, o sol já dá de si.
Em meros vinte minutos, irrompe.
Faz resplandecer uma imensidão alagada cada vez mais vasta, de visual lacustre exótico.
![Palmeiras-de-leque espalhadas no vasto rio Chire.](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/09/liwonde-parque-nacional-malawi-rio-chire-palmeiras-leque-nuvens-1024x683.jpg)
Palmeiras-de-leque espalhadas no vasto rio Chire.
Grandes caravanas de cumulus nimbus, alguns com quilómetros da base ao cimo estendem-se além e acima de colónias anfíbias de palmeiras-de-leque.
O timoneiro mantem-se de olho na distância. Aqui e ali, recorre a uns binóculos diminutos que se provam acessórios.
![Manada de elefantes deixa uma lagoa em que acabou de beber](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/09/liwonde-parque-nacional-malawi-elefantes-manada-1024x683.jpg)
Manada de elefantes deixa uma lagoa em que acabou de beber
A Fauna Prolífica do PN Liwonde
À medida que subimos no mapa, avistamos inúmeros animais de grande porte. Hipopótamos às dezenas, disseminados entre ilhéus verdejantes.
Tantos ou mais elefantes.
Alguns, em manadas; uns poucos, sós, em incursões balneares a partir da terra firme a leste do rio.
Detemo-nos várias vezes para admirarmos hipopótamos.
Numa delas, na iminência de duas árvores vítimas da inundação, pousos desfolhados de centenas de corvos-marinhos.
![Corvo-marinho seca-se acima do rio Chire](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/09/liwonde-parque-nacional-malawi-corvo-marinho-714x1024.jpg)
Corvo-marinho seca-se acima do rio Chire
Chegada a Chiwambo e ao Mvuu Wilderness Lodge
Por fim, decorridas quase três horas de um estimulante safari fluvial, avistamos o ancoradouro de Mvuu, à entrada do lodge e acampamento que nos ia acolher à descoberta do Parque Nacional Liwonde.
Dois funcionários saúdam os passageiros.
Logo ao seu lado, na base de uma eufórbia portentosa, uma placa de madeira dá-nos as boas-vindas, em inglês.
Um remate no seu fundo clarifica ao que íamos. “Beware of Wild Animals”, ilustrado pela imagem de um hipopótamo.
![Guias esperam uma embarcação na pequena doca do Mvuu Lodge](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/09/liwonde-parque-nacional-malawi-doca-mvuu-lodge-1024x683.jpg)
Guias esperam uma embarcação na pequena doca do Mvuu Lodge
Parte dos passageiros, segue para o acampamento. Nós, e outros, para o lodge que ficava mais distante da margem e da doca.
Avançamos até à secção comunal do Mvuu Wilderness lodge, um conjunto de edifícios erguidos em madeira, colmo e outros materiais orgânicos, com uma elegância étnica e tradicional malawiana irrepreensível.
![Sala de convívio do Mvuu Lodge, PN Liwonde](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/09/mvuu-lodge-liwonde-parque-nacional-malawi--1024x768.jpg)
Sala de convívio do Mvuu Lodge, PN Liwonde
Para mais, instalados mesmo à beira do Chire.
Servidos por passadiços sobre a água que o rio extrapolado mantinha, em parte, submersos.
![Passadiços do Mvuu Lodge, acima do rio Chire.](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/09/mvuu-lodge-passadicos-liwonde-parque-nacional-malawi--1024x768.jpg)
Passadiços do Mvuu Lodge, acima do rio Chire.
Uma Vida Selvagem que não Perdoa Desleixos
Refrescamo-nos à sombra da sala de refeições, quando Cláudia, a manager, nos transmite algo crucial.
“Durante o dia, quem vai ficar das tendas 1 a 4, pode deslocar-se a pé, mas sempre escoltado por alguém do lodge. Da 5 à 9, já só transportados de jipe!”
Íamos ficar na 5.
Depressa percebemos o porquê de tais cuidados. A tenda ficava na orla de uma planície aluvial arenosa, pejada de palmeiras-de-leque e de embondeiros.
Nesse mesmo fim de tarde, no início do safari inaugural, reparamos que os funcionários do parque tinham embrulhado a base dos embondeiros com uma rede.
![Um embondeiro nas imediações do rio Chire.](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/09/liwonde-parque-nacional-malawi-embondeiro-683x1024.jpg)
Um embondeiro portentoso nas imediações do rio Chire.
Os responsáveis eram os elefantes que adoravam arrancar e comer as suas cascas, retentoras de água e sais-minerais e fibrosas.
Guiavam-nos os rangers Emmanuel e Jinna. Emmanuel conduz-nos entre inhacosos, cudos, manadas de zebras e de impalas.
Por bandos de babuínos rufias e varas de javalis-africanos.
![Babuína desce de uma árvore com uma cria às costas](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/09/liwonde-parque-nacional-malawi-babuinos-835x1024.jpg)
Babuína desce de uma árvore com uma cria às costas
Um Bando de Leões Surpreendido. E, Logo, Ensonado
Tanto ele como a colega, estavam conscientes da urgência de nos revelarem o máximo de predadores do parque.
Ao chegarmos ao extremo sul da planície, na iminência das árvores da febre, acácias e outras que formam a floresta local, fazem dos predadores a sua prioridade.
Levam-nos ao cimo de uma orla que desvela um caudal que tem areais como margens.
Ao contemplarmos o rio por diante, não vemos sinais de animais.
![Leões juvenis num braço arenoso do rio Chire](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/09/liwonde-parque-nacional-malawi-leoes-1024x698.jpg)
Leões juvenis num braço arenoso do rio Chire
Até que, do nada, três leões juvenis aparecem da base da orla, assustados com o ruído que o jipe fizera a subi-la. Intrigados, cruzam para a margem oposta.
Junta-se-lhes uma progenitora segura do seu poderio.
Os leões percebem que não tinham com que se preocupar. Contemplam-nos, por algum tempo.
Deitam-se na areia e ao sol, num óbvio esforço para se manterem acordados.
![Calaus, uma das espécies de aves mais comuns no PN Liwonde.](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/09/liwonde-parque-nacional-malawi-calaus-1024x675.jpg)
Calaus, uma das espécies de aves mais comuns no PN Liwonde.
Deambulamos pelo interior verde-bílis da floresta, encantados com o esvoaçar e saltitar dos calaus.
Emmanuel inaugura o regresso à beira do Chire. A oeste, o sol já se insinuava entre as árvores.
Detemo-nos à beira do rio.
Piquenique Sundowner numa Beira Deslumbrante do rio Chire
Os guias asseguram-se de que não andam por ali leões, leopardos, elefantes ou hipopótamos.
![Guias do Mvuu Lodge, PN Liwonde, durante um sundowner](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/09/liwonde-parque-nacional-malawi-emmanuel-jinne-1024x775.jpg)
Guias do Mvuu Lodge, PN Liwonde, durante um sundowner
Enquanto montam a banca do piquenique sundowner sobre o capô do jipe, lembram-nos que só o nosso bom-senso podia evitar que o entusiasmo fotográfico nos levasse à boca dos crocodilos.
![Petiscos e bebidas sobre o capô de um dos jipes do Mvuu Lodge](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/09/liwonde-parque-nacional-malawi-snack-sundowner-1024x768.jpg)
Petiscos e bebidas sobre o capô de um dos jipes do Mvuu Lodge
Tínhamos fortes razões para sermos incautos.
O ocaso fazia da superfície alisada do rio um reflexo do céu fogueado, das formas e silhuetas caprichosas das palmeiras-de-leque e dos braços para o ar dos embondeiros.
![Ocaso sobre o rio Chire e o PN Liwonde.](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/09/liwonde-parque-nacional-malawi-ocaso-1024x768.jpg)
Ocaso sobre o rio Chire e o PN Liwonde.
Sobrevoavam-nos garças e bandos de corvos-marinhos. À distância, o roncar dos hipopótamos enriquecia uma banda sonora a que se juntavam incontáveis rãs e sapos.
Envolve-nos o escuro.
Fora do jipe, deixamos de estar em segurança.
Os guias convocam-nos para um game drive iluminado por um foco potente que Jinne manipula, em busca das criaturas nocturnas do parque.
![Garça sobre a água espelhada do Chire, PN Liwonde](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/09/liwonde-parque-nacional-malawi-garca-reflexo-1024x710.jpg)
Garça sobre a água espelhada do Chire, PN Liwonde
Encerramo-lo de retorno ao lodge. Logo, em volta de uma fogueira comunal que aquece conversas de babel sobre os avistamentos e aventuras.
As do dia.
E as vividas pelos convivas de baixo a cima do Malawi. E vice-versa.
Novo Dia, novo Game Drive
A saída madrugadora prenda-nos com mais leões e manadas de elefantes. E com um pequeno-almoço ensolarado à beira do Chire, sem surpresa, de novo entre hipopótamos e inhacosos em modo anfíbio.
Por aquela altura, estávamos rendidos à profusão e exuberância da fauna do Parque Nacional Liwonde.
Prodigiosa a dobrar, na forma como recuperou, num tempo relativamente curto, de uma quase certa aniquilação.
![Termiteira destacada numa margem do rio Chire.](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/09/liwonde-parque-nacional-malawi-rio-chire-margem-termiteira-1024x683.jpg)
Termiteira destacada numa margem do rio Chire.
À imagem do sucedido na Gorongosa (sem a componente da guerra civil) e em tantas outras partes de África, aquela vastidão banhada pelo Chire tornou-se um território sem rei nem lei.
Parque Nacional Liwonde: da incúria Destructiva à Recuperação Fulminante
As gentes locais e outras vindas de mais longe alvejaram-na.
A certo ponto, tinham sido colocadas mais de 40.000 armadilhas e boa parte dos animais eram considerados como para capturar ou abater, como uma espécie de lucro garantido.
![Elefantes bebem de uma lagoa do PN Liwonde.](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/09/liwonde-parque-nacional-malawi-elefantes-1024x683.jpg)
Elefantes bebem de uma lagoa diminuta
Nalguns casos, os dos rinocerontes, dos elefantes e de alguns predadores, de grande quantidade de dinheiro, mesmo que sujo, encharcado de sangue.
Por volta de 2015, o DNPW (Departamento dos Parques Nacionais e Vida Selvagem) malawiano rendeu-se as evidências de que não conseguia controlar, muito menos recuperar o parque.
Envolveu os African Parks, uma ONG com base em Joanesburgo, experiente em reabilitar áreas selvagens supostamente protegidas.
As armadilhas foram removidas e colocados rangers a vigiar as fronteiras da reserva, remunerados e recompensados de forma estimulante.
![Guia Emmanuel conduz um jipe por uma estrada alagada do PN Liwonde.](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/09/liwonde-parque-nacional-malawi-game-drive-1024x768.jpg)
Guia Emmanuel conduz um jipe por uma estrada alagada do Parque Nacional Liwonde.
Em conjunto com as autoridades nacionais, os African Parks re-introduziram e protegeram da caça furtiva espécimes das espécies mais ameaçadas, incluindo rinocerontes-negros.
Em menos de dez anos, abastecido de antílopes, o parque acolheu chitas, leões e até mabecos que se juntaram a uma população de elefantes e hipopótamos de novo crescente.
![Manada de impalas numa planície do PN Liwonde](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/09/liwonde-parque-nacional-malawi-gazelas-1024x683.jpg)
Manada de impalas numa planície do Parque Nacional Liwonde
Um Ecossistema beneficiado pela Água Abundante do vasto rio Chire
Este conjunto de animais em particular, a par com os cenários grandiosos das margens do Chire, garantiram o interesse de milhares de visitantes do sul de África.
Nem os dois anos da Pandemia travaram uma recuperação que prossegue a bom ritmo.
![Lagarto monitor recarrega-se ao sol](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/09/liwonde-parque-nacional-malawi-lagarto-monitor-1024x683.jpg)
Lagarto monitor ao sol
Os hipopótamos, em particular, partilham as águas e margens do Parque Nacional Liwonde num número impressionante. São, aliás, a razão de ser do nome xona do lodge: Mvuu.
Nessa tarde, zarpamos da mesma doca em que tínhamos chegado, de volta ao Chire.
Emmanuel toma conta do leme, com a missão de nos deslumbrar com os panoramas do rio a montante do lodge.
![Hipopótamos em modo de protecção do seu território , no rio Chire.](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/09/liwonde-parque-nacional-malawi-hipopotamos-1024x660.jpg)
Hipopótamos em modo de protecção do seu território , no rio Chire.
Ainda e sempre, entre grupos de hipopótamos habituados à navegação de embarcações, que permitiam aproximações que nos deixavam apreensivos.
O fim da tarde gera novo ocaso fogoso. Um esquadrão de martins-pescadores detecta uma profusão de pequenos peixes revelados pelo avanço do barco.
Durante um quarto de hora, admiramo-los compenetrados em focarem os alvos e a sobre eles mergulharem a contento.
![Guarda-rio vigia movimento de peixes nas águas do rio Chire.](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/09/liwonde-parque-nacional-malawi-guarda-rios-1024x643.jpg)
Guarda-rio vigia movimento de peixes nas águas do rio Chire.
Até que o sol se desfaz atrás de uma floresta ribeirinha de palmeiras-de-leque. O escuro tão pouco condizia com a navegação rio abaixo.
Desembarcamos na doca. Apontamos à sala de refeições e ao derradeiro jantar à beira do Chire. Na manhã seguinte, sob um sol do pino do Estio malawiano, retornamos à casa de partida.
Chegados ao Hippo View Lodge, inauguramos uma viagem por estrada até ao corpo de água supremo do Malawi: o seu grande lago homónimo.
![Funcionários do Mvuu Lodge, na doca à beira do rio Chire](https://www.got2globe.com/wp-content/uploads/2024/09/liwonde-parque-nacional-malawi-mvuu-lodge-trabalhadores-anoitecer-1024x768.jpg)
Funcionários do Mvuu Lodge, na doca à beira do rio Chire
Como Ir
Voe para Lilongwe via Maputo, com a TAP Air Portugal: flytap.com/ e a FlyAirlink.
Onde Ficar
Mvuu Lodge: cawsmw.com/mvuu-lodge e-mail: [email protected]
Telf.: +265 888 822 398
Mais Informações
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