Por mais que nos esforcemos, falhamos em ajustar o panorama balnear por diante à era Maia.
Um mar de turquesa desenrola-se, ao sabor da brisa, sobre o areal coralífero. Não chega a tocar os rochedos calcários cinzentos que delimitam a costa.
Coqueiros e palmeiras vigorosas despontam da areia e do cimo da falésia de Tulum já de si coberta de vegetação tropical.
Tulum: Ruínas Maias Sobre uma Praia Mexicana de Sonho
Dezenas de banhistas deleitam-se naquele afago excêntrico de água e sal. Entretêm-se com flutuações e conversas de trazer por praia. Acima, o templo Maia do Deus do Vento parece louvar a pintura que reverenciávamos e o bem-estar estival irradiante.
Meio milénio passara desde que o templo e a cidade para o interior tinham cessado as suas funções. Grande parte dos veraneantes eram – uns mais outros menos – maias.
A sua estatura baixa, os cabelos lisos e longos das mulheres, os olhos amendoados e os narizes aduncos de bico de pássaro deixavam pouca margem para dúvida.
O lugar que frequentavam chama-se, ainda hoje, Tulum, termo maia iucateca mais tarde inspirado pelos muros de que os seus antepassados dotaram a povoação para precaverem as ameaças vindas do grande desconhecido azul.
Crê-se, todavia, que, na origem, os maias a terão baptizado de Zama, a Cidade da Aurora, numa homenagem ao brilho esotérico que mergulhava todos os dias no oceano e que dele, noite após noite, se reerguia.
Os conquistadores ibéricos também apareceram daqueles lados. A partir de 1502, os maias assistiram, incrédulos, a como grandes torres flutuantes surgiam acima do horizonte e se agigantavam na sua direcção:
seriam as naus ali pioneiras de Cristovão Colombo e os seus marinheiros, que terão ancorado para sul, nas actuais Honduras.
A Inevitável Intrusão dos Conquistadores Espanhóis
Logo em 1517, deram à costa Francisco Hernández de Córdoba e a sua frota. Decorrido apenas um ano, seguiu-se a de Juan de Grijalva. Grijalva desembarcou na ilha de Cozumel. Navegou para sul.
Nessa ocasião, os espanhóis terão pela primeira vez avistado Tulum.
Os recifes ao largo tornavam complicada a aproximação. E o contacto imediato revelava-se ainda incauto. Para os europeus, representava um grande risco apresentarem-se a cidades indígenas tão poderosas, sem terem ideia de que tipo de acolhimento os esperava.
Juan Diaz, um dos membros da expedição de Juan de Grijalva mencionou Tulum nos seus escritos. O testemunho de Diaz viria a contribuir para a invasão inaugurada por Francisco de Montejo.
Este, requereu ao rei de Espanha o direito de conquistar o Iucatão. E concretizou-o em 1521, o mesmo ano em que, apoiado por guerreiros Tlaxcalan,
Hernán Cortéz capturou o imperador azteca Cuauhtemoc e Tenochtitlan, a capital monumental do império Azteca.
Em 1526, Carlos V concedeu a Montejo, o título de Capitão General do Iucatão. Dois anos depois, Montejo regressou à região. Tentou tomá-la a partir da zona de Tulum e Chetumal. A resistência que encontrou foi, todavia, feroz.
Obrigou-o, em vez, a tentar por Oeste, pela província actual de Tabasco.
Viria a ser o filho de Montejo, Francisco de Montejo “El Mozo” a conseguir a conquista da península.
E a materializá-la com a fundação de Campeche e de Mérida, ainda hoje duas das suas mais impressionantes cidades coloniais.
A Função de Tulum no Império Maia
De acordo com os registos históricos, a área de Tulum era povoada desde o século VI d.C.
Prosperou sob a esfera de influência maia a partir de 1200 d.C., enquanto entreposto comercial complementar de Cobá, na confluência de diversos sacbeobs, caminhos reais pavimentados provindos do Centro do México e de outras partes da América Central.
Em Tulum, os maias habituaram-se a trocar entre si alimentos, algodão, instrumentos decorativos, de trabalho e até de guerra, de prata e de ouro, sal, têxteis e penas. A cidade atingiu o auge entre os séculos XIV e XVI. Teve o impulso comercial de uma outra matéria-prima mineral: a obsidiana, a pedra salgada dos maias.
A obsidiana tinha e tem um lugar especial na sua cultura e presença em inúmeras esculturas e expressões também religiosas. Os maias associavam-na a divindade. Consideravam que era criada no submundo infernal de Xibalba, um lugar em que reinavam os deuses da morte.
Por estes e por outros motivos, Tulum prosperou. Durante um bom tempo, passou ao largo da ocupação e destruição disseminada pelos conquistadores. A selva densa da região mexicana actual de Quintana Roo isolava-a de outras zonas de que os espanhóis se apoderaram.
As Razões Polémicas para o Abandono das Cidades Maias
Apesar de o tema suscitar acesa discussão, tem predominado a ideia de que, quando os espanhóis chegaram, uma boa parte das maiores cidades maias tinham sido abandonadas há alguns séculos. Transformavam-se já então em ruínas que a selva engolia.
As causas mais aceites para esta debandada foram a sobrepopulação de cerca de 15 milhões de súbditos em todo o mundo maia. E a seca, a deflorestação e o extermínio de animais de grandes portes que lhes serviam de alimento .
Cerca de 70 anos após os espanhóis terem começado a liquidar o Império Maia obcecados pela demanda do ouro, Tulum resistia. Até que a varíola e outras doenças trazidas do Velho Mundo pelos marinheiros, guerreiros e missionários lá chegaram.
A Vez de Tulum
No virar do século XVI para o XVII, tocou a Tulum sofrer uma debandada geral e definitiva.
Quando as suas gentes partiram, a estrutura urbana e a arquitectura da cidade foram legadas ao tempo.
Quem, como nós, tem o privilégio de as explorar, depressa percebe que não se tratava de um lugar qualquer.
Os seus 1000 e 1600 habitantes ocupavam uma vasta área mais distante do oceano e externa ao complexo religioso.
Esse reduto era protegido por uma muralha de três a cinco metros de altura, oito de espessura e cerca de 400 metros de comprimento no paralelo à costa.
Em redor de 170 metros nos dois lados oblíquos ao mar.
As vertentes noroeste e sudoeste das muralhas foram dotadas de torres de vigia.
Próximo da face norte, um cenote (dolina de um complexo e vasto sistema aquífero subterrâneo erodido na rocha calcária) fornecia água fresca à cidade.
Outros do mesmo sistema reforçavam o fornecimento em redor: Naharon, Tortuga, Vacaha, Abejas, Nohoch Kin.
Vários deles servem, hoje, de atractivos balneares alternativos à beira-mar do Mar das Caraíbas. Descobriu-se recentemente que alguns continham ossadas humanas preservadas com entre 9.000 a 13.000 anos.
Sabe-se também que os cenotes foram mais tarde usados pelos maias para oferendas sacrificiais.
A Função de Tulum no Império Maia II
No fulcro da área muralhada de Tulum ficava o Castelo, um templo piramidal com 7.5 metros e uma imponência que o destaca dos restantes edifícios, incluindo o Templo dos Frescos e o Templo do Sol, os dois outros mais proeminentes.
Um pequeno santuário do Castelo parece ter sido erguido mais tarde em jeito de farol. Tinha a função de indicar uma entrada natural no recife de coral por que as canoas em aproximação podiam ingressar.
Coincidência ou não, a praia no prolongamento dessa passagem assume a forma de uma enseada rara tanto acima como abaixo na costa.
Esta pequena baía foi dotada do Templo dos Ventos. Crê-se que com o propósito de abençoar a navegação numa área da América Central que, agora como então, continua a ser grassada por ciclones.
De Tulum, os bens trazidos por mar, podiam ser ainda transportados rios Motágua e Usumacincta/Pasión acima. Estas artérias fluviais davam acesso adicional às terras baixas e altas do Iucatão e da Guatemala.
A configuração favorável do litoral pode ter estado na base da fundação de Tulum. A sua relevância depressa justificou que fosse dotada da parafernália religiosa, cerimonial mas também empírica e científica de que os maias sempre revestiam a sua civilização.
O Templo dos Frescos terá sido usado como observatório dos movimentos do sol. Crê-se ser o motivo porque várias figuras do deus do Sol (Kinich Anau) surgem em nichos da sua fachada.
Revestimentos de estuque pintado sugerem que o templo foi, no entanto, dedicado ao deus Itzamnaaj, criador da escrita, patrão das artes e das ciências.
Divinal Monumento (balnear) à Civilização Maia
Dia após dia, o complexo mantém os forasteiros mais interessados em história entretidos com as explicações e suposições da criação e existência de Tulum. Os visitantes aumentam de ano para ano.
A visão do Templo dos Ventos com a orla do Mar das Caraíbas azul-turquesa à direita é a principal imagem de marca de Tulum. E um dos pontos de observação que encontramos mais atulhados de gente.
Muito graças a esta perspectiva, Tulum tornou-se a terceira atracção histórica mais popular do México atrás apenas de Chichen Itza (outra antiga cidade Maia) e de Tenochtitlan (antiga capital Azteca).
Mas, em dias de céu limpo e calor como aquele que nos calhara, as ruínas têm um rival à altura na praia no seu sopé.
O sol já subira ao zénite e descia para o ocaso. Tinha descaído tão pouco no firmamento que o azul do mar se mantinha irresistível. De acordo, o número de banhistas na areia continuava a aumentar.
À entrada do complexo, alguns descendentes dos maias de outros tempos, aproveitavam este influxo e o fascínio pela cultura dos ancestrais para ganharem a vida:
“Señores, los invitamos para sus fotos con los mayas. Vengan, vengan.” apelavam em trajes e cocares de plumas, com joias e pinturas resplandecentes.
Encarnavam, assim, jaguares, aves de rapina e outras figuras tornadas divinais do rico panteão maia.
Apesar dos valores exorbitantes, vários transeuntes faziam-se clientes e registavam, orgulhosos, a sua passagem.
Mais informação sobre Tulum e a Riviera Maia no site Visit Mexico.